terça-feira, 17 de novembro de 2020

Afinal somos livres? por Reinaldo di Lucia

 

Afinal, somos livres?

 

É com este tema que marco o reinício de minhas palestras no Centro Espírita Allan Kardec, de Santos, em 2020. Tema instigante, que é debate na Filosofia há séculos. Afinal, o livre-arbítrio existe ou somos determinados pelas condições que nos rodeiam?

Precisamos, antes de mais nada, definir liberdade. E, por incrível que pareça, isto não é tão fácil. Vejamos a definição clássica, do dicionário:

“Conjunto de direitos reconhecidos ao indivíduo, isoladamente ou em grupo, em face da autoridade política e perante o Estado; poder que tem o cidadão de exercer a sua vontade dentro dos limites que lhe faculta a lei”

Ou então, “Liberdade significa o direito de agir segundo o seu livre arbítrio, de acordo com a própria vontade, desde que não prejudique outra pessoa.”

Ou ainda, “Nível de independência absoluto e legal de um indivíduo, de uma cultura, povo ou nação, sendo nomeado como modelo (padrão ideal).”

Uma questão importante nestas definições é em relação aos limites da liberdade. Na segunda definição, por exemplo, “agir segundo o seu livre arbítrio, ou de acordo com sua própria vontade”, poderia ser entendido como não possuindo limites. Entretanto, complementa-se: desde que não prejudique outra pessoa. O que é um limitador por si só, originado de um princípio religioso (“não fazer aos outros o que não desejaria para si”) ou político (a existência de um pacto social que permite a convivência em sociedade). Tal como o limitador legal da primeira definição.

Já na terceira, a ideia de liberdade como um “nível de independência absoluto” implica num homem não limitado em sua possibilidade de ação. Como afirmava Richard Bach, em Ilusões – a história de um messias indeciso, cada um de nós é livre para fazer o que quiser. Independente de prejudicar ou não aos outros.

Ou seja, a resposta à questão do título depende essencialmente da definição que damos à palavra liberdade. Se limitarmos essa definição a fazermos somente o que não afeta negativamente os outros, então nossa liberdade é limitada, e nosso livre-arbítrio está condicionado a não ultrapassar este limite. Concluímos então que só é possível a liberdade plena se não houver uma divisa moral que nos impeça de ir além: a preocupação com aqueles que dividem conosco a existência (e isso, obviamente, não inclui somente os seres humanos).

Pessoalmente, gosto do conceito de liberdade de Spinoza: diretamente associada à ideia de liberdade está a noção de responsabilidade, uma vez que o ato de ser livre implica assumir o conjunto de nossos atos e saber responder por eles. Ou seja, posso sim prejudicar os outros se eu quiser, mas na vida em sociedade isto (normalmente) tem consequências, que devo assumir.

Kardec propõe que só conseguimos a liberdade absoluta pelo pensamento, pois assim estaríamos livres tanto das limitações sociais quanto do cerceamento imposto pela matéria. Mas deu a este tema tanta importância que o colocou como uma das leis morais, que regem o Espírito.

Precisamos encontrar o equilíbrio entre nosso livre arbítrio e a vida em sociedade. Para tanto, precisamos assumir nossa responsabilidade, eliminando os vícios que nos assolam: orgulho, egoísmo etc.

Simples, não?

Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.

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