Afinal, somos livres?
É com este tema que marco o reinício de
minhas palestras no Centro Espírita Allan Kardec, de Santos, em 2020. Tema
instigante, que é debate na Filosofia há séculos. Afinal, o livre-arbítrio
existe ou somos determinados pelas condições que nos rodeiam?
Precisamos, antes de mais nada, definir
liberdade. E, por incrível que pareça, isto não é tão fácil. Vejamos a definição
clássica, do dicionário:
“Conjunto de direitos reconhecidos ao
indivíduo, isoladamente ou em grupo, em face da autoridade política e perante o
Estado; poder que tem o cidadão de exercer a sua vontade dentro dos limites que
lhe faculta a lei”
Ou então, “Liberdade significa
o direito de agir segundo o seu livre arbítrio, de acordo com
a própria vontade, desde que não prejudique outra pessoa.”
Ou ainda, “Nível de independência
absoluto e legal de um indivíduo, de uma cultura, povo ou nação, sendo nomeado
como modelo (padrão ideal).”
Uma questão importante nestas definições
é em relação aos limites da liberdade. Na segunda definição, por exemplo, “agir
segundo o seu livre arbítrio, ou de acordo com sua própria vontade”, poderia
ser entendido como não possuindo limites. Entretanto, complementa-se: desde
que não prejudique outra pessoa. O que é um limitador por si só, originado
de um princípio religioso (“não fazer aos outros o que não desejaria para si”)
ou político (a existência de um pacto social que permite a convivência em
sociedade). Tal como o limitador legal da primeira definição.
Já na terceira, a ideia de liberdade
como um “nível de independência absoluto” implica num homem não limitado em sua
possibilidade de ação. Como afirmava Richard Bach, em Ilusões – a história
de um messias indeciso, cada um de nós é livre para fazer o que quiser.
Independente de prejudicar ou não aos outros.
Ou seja, a resposta à questão do título
depende essencialmente da definição que damos à palavra liberdade. Se
limitarmos essa definição a fazermos somente o que não afeta negativamente os
outros, então nossa liberdade é limitada, e nosso livre-arbítrio está
condicionado a não ultrapassar este limite. Concluímos então que só é possível
a liberdade plena se não houver uma divisa moral que nos impeça de ir além: a
preocupação com aqueles que dividem conosco a existência (e isso, obviamente,
não inclui somente os seres humanos).
Pessoalmente, gosto do conceito de
liberdade de Spinoza: diretamente associada à ideia de liberdade está a noção
de responsabilidade, uma vez que o ato de ser livre implica assumir o conjunto
de nossos atos e saber responder por eles. Ou seja, posso sim prejudicar os
outros se eu quiser, mas na vida em sociedade isto (normalmente) tem
consequências, que devo assumir.
Kardec propõe que só conseguimos a
liberdade absoluta pelo pensamento, pois assim estaríamos livres tanto das
limitações sociais quanto do cerceamento imposto pela matéria. Mas deu a este
tema tanta importância que o colocou como uma das leis morais, que regem o
Espírito.
Precisamos encontrar o equilíbrio entre
nosso livre arbítrio e a vida em sociedade. Para tanto, precisamos assumir
nossa responsabilidade, eliminando os vícios que nos assolam: orgulho, egoísmo
etc.
Simples, não?
Nota: Artigo
originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.
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