quinta-feira, 2 de julho de 2020

O criacionismo com novo fôlego - Carolina Regis di Lucia Reinaldo di Lucia

O criacionismo com novo fôlego
 

Ah, esta nossa vida. É engraçado como as coisas são cíclicas, não é? A moda, os costumes ... Até a tecnologia – não é à toa que os discos de vinil, os famosos “bolachões”, estão encontrando novamente o seu lugar ao Sol.

Também é assim com as teorias que buscam explicar o mundo. Desde que Darwin e outros cientistas estabeleceram a Teoria da Evolução como sendo a forma mais provável pela qual a vida e o homem apareceram na Terra, os adeptos do criacionismo (Deus como criador, ao invés da evolução) sentem-se fortemente ameaçados. E, obviamente, reagem. Por exemplo, em 1925, no Estado do Tennessee, nos Estados Unidos, foi promulgada uma lei que estabelecia que o professor que ensinasse qualquer teoria contrária à bíblica, seria preso. Dirão, porém: vivemos novos tempos, o obscurantismo está acabado, a razão e a ciência triunfam. Será?

No final de janeiro passado, foi nomeado um novo presidente da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), Benedito Guimarães Aguiar Neto, ex-reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie. A CAPES é uma das principais agências de fomento à pesquisa no Brasil. Ligada ao Ministério da Educação, teve uma redução orçamentária de quase 50% para 2020 – e olhe que em 2019 já havia reduzido significativamente o número de bolsas. Certamente é um ataque, de dentro, contra tudo o que o Brasil consegue produzir de positivo no âmbito da pesquisa. Em outras palavras, estão acabando, cada vez mais rápido, com o ensino superior.

Ocorre que o sr. Aguiar Neto é um defensor do design inteligente, uma repaginação pseudocientífica do criacionismo. Sendo reitor de uma Universidade religiosa (presbiteriana) isso talvez não surpreenda. E, enquanto se mantiver como opinião pessoal ou, no máximo, com política de sua universidade privada, poderia ser aceitável.

O problema é que, na posição em que agora se encontra, pode interferir na produção científica do país, por exemplo, coordenando a negativa de bolsas para pesquisas que não estejam de acordo com suas opiniões. Ora, dirão, como já ouvi dizerem, não se vai definir a política científica do país por causa de uma opinião pessoal. Mas a opinião não é só pessoal - é a da bancada evangélica, que se torna mais abundante e poderosa a cada eleição.

Mas tudo o que é ruim pode ficar pior. No final do ano passado, Aguiar Neto afirmou, no site da própria universidade, que deseja disseminar esta teoria na educação básica, como um “contraponto” à ideia da evolução.

Fico me perguntando o que os espíritas pensam disto tudo. Afinal, apesar de a evolução ser um dos princípios básicos do Espiritismo, a primeira questão do Livro dos Espíritos afirma que Deus é a causa primária de todas as coisas, ou seja, temos algo de criacionista em nossa doutrina.

Sempre fui a favor da liberdade de pensamento e de expressão. Exatamente por isso é que não se pode permitir que nossas crianças tenham tolhidas o seu direito ao conhecimento. Porque a intolerância, seja ela política, religiosa ou de qualquer outra fonte, não se dá por satisfeita até que só haja uma única forma de pensar.


Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.

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