segunda-feira, 6 de julho de 2020

Reencarnação, ponto de partida - por Roberto Rufo

Reencarnação, ponto de partida

 

"Se você vivencia sua espiritualidade, só pode esperar o melhor da vida, pois ou usufrui o sucesso ou aprende alguma coisa. É simples assim". (Leila Navarro ) .

 

No Jornal Espiritismo e Unificação, de abril de 1982 o pensador e jornalista espírita José Rodrigues escreveu uma coluna com o mesmo título que assino neste artigo. Esse trabalho foi recentemente reproduzido também no excelente livro "Perspectivas Contemporâneas da Reencarnação" organizado pelos pensadores espíritas Ademar Artur Chioro dos Reis e Ricardo de Morais Nunes.

 

José Rodrigues nos alerta de que ao contrário do que Allan Kardec escreveu colocando a reencarnação como instrumento de progresso e justiça, criou-se no movimento espírita brasileiro um pensamento atávico que coloca a reencarnação como algo punitivo. A meu ver isso se deve principalmente ao relativismo intelectual e moral que contagiou a teoria espírita no Brasil, enfraquecendo os fundamentos da cultura espírita e consequentemente do convívio social, pois nos leva a um fatalismo, uma ideia que o Espiritismo não aceita segundo José Rodrigues.

 

Kardec já havia escrito que "normalmente, a encarnação não é uma punição para o Espírito, conforme pensam alguns, mas uma condição inerente à inferioridade do Espírito e um meio de progredir". Observa José Rodrigues que não se trata de uma expressão pejorativa; apenas identifica o nosso estágio. Desse modo, pode-se identificar que cada nova encarnação é um ponto de partida e não apenas como ponto de chegada.

 

O discurso espírita, constituído de serenidade e equilíbrio, encontra dificuldades para se impor pois os tempos atuais são de polarização ideológica, de materialistas ou de religiosos fanáticos. Esse fenômeno não se restringe ao Brasil, pelo contrário, contamina o debate político em várias partes do mundo. Na minha opinião sucede-se um abandono espiritual e cultural do Ocidente, quando se pretende anular as contribuições espirituais e transcendentais, até mesmo do cristianismo. Um mundo sem Deus. José Rodrigues afirma que "Deus é e Deus está, mas por suas leis, ditas inderrogáveis, sábias e justas, dentro das quais nos situamos, procurando nelas nos aprofundar. em busca da felicidade. que nunca é completa. Isso, a nosso ver, deve fazer com que se veja a encarnação como prova maior da imortalidade, o fator existencial que amplia nossa liberdade". É visível, como escreve o autor Eugenio Lara, que José Rodrigues possuía o dom da palavra escrita. Um texto primoroso.

 

Eu tenho um grande temor atualmente, que o Espiritismo seja levado para caminhos políticos onde por força da maior organização da política oficial ele se torne estéril e se esgote como um solo que não produz frutos. O outro lado que embarcou no aspecto religioso é a prova de que o espiritismo acabou cooptado e se perdeu. Não existe acordo entre desiguais.

 

 Roberto Rufo

Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.

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