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quinta-feira, 1 de agosto de 2013

XIII SBPE no Facebook

XIII  SBPE nas Redes Sociais


O XIII Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita agora está também no Facebook.

Além do blog do ICKS com informações atualizadas sobre o evento, a página do Facebook vem garantir ainda mais interatividade ao evento, proporcionando troca de informações e conteúdos entre aqueles que curtem a página do SBPE.

 Acesse  www.facebook.com/sbpe2013 e curta nossa página.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Doutrina Kardecista – modelo conceitual faz 5 anos - Modelo proposto por Jaci Régis

Doutrina Kardecista – modelo conceitual faz 5 anos




Lançada por Jaci Régis em Maio de 2008, em formato brochura e produzido pelo ICKS, o Modelo Conceitual encontra-se à venda pelo investimento de R$ 10,00.

Hoje já é possível, além de adquirir o exemplar no ICKS baixar o mesmo gratuitamente no site da CEPA - https://cepainternacional.org/site/pt/cepa-downloads/category/32-icks-modelo-conceitual-jaci-regis?download=225:icks-modelo-conceitual
  

O material sacudiu os alicerces do movimento livre-pensador por assumir-se Kardecista e pós-cristão, sendo o marco de lançamento de uma corrente nova, renovadora, apartada do movimento espírita tradicional e, se um dia isto realmente acontecer, este documento terá que ser lembrado como o brado de liberdade. Jaci promoveu diversos debates com pensadores espíritas laicos no ICKS, em Santos, no CCEPA, em Porto Alegre, no CPDoc e também em uma edição do SBPE.



Jaci enviou seu material à CEPA propondo a sua discussão no âmbito da mesma, em um dos congressos organizados por esta instituição, tendo sido prontamente recusado, mas o impacto causado pela brochura foi tão grande que as ideias contidas em sua maioria foram incorporadas ao pensamento do nosso grupo, tendo sido este material usado como uma das bases para a Carta de Princípios da CEPA Brasil em Bento Gonçalves, em 2010. Acontecendo a mesma coisa no ICKS, em 2011, quando da elaboração de seus princípios norteadores, isto após a desencarnação de Jaci Régis, em dezembro de 2010.

O Jornal trimestral espírita catalão, Flama Espírita, vem analisando o texto completo desde 2010, já tendo percorrido 76% de seu conteúdo, e acreditamos que até o fim deste ano, David Santamaría terminará sua análise, e assim que estiver concluída, o blog do ICKS disponibilizará o conteúdo completo. Esta talvez fosse a maior aspiração de Jaci: que o texto fosse debatido, por isso dedicou o espaço deste jornal àqueles que assim o fizessem.

Histórico:

Maio de 2008 – Jaci Régis lança a brochura Doutrina Kardecista – Modelo Conceitual (reescrevendo o modelo espírita)

Junho 2008 – Régis apresenta em Porto Rico seu Modelo Conceitual, com muito sucesso, no XX Congresso Espírita Panamericano

Julho de 2008 – ABERTURA publica um artigo – Novo Modelo Conceitual, com depoimentos de espíritas que o leram – como Mario Horta e Gilberto Guimarães da Silva, de São Paulo (SP), José Aparecido Sanchez, de Jacarezinho, Gisela Régis, de Rio Claro e Ademar Arthur Chioro dos Reis, de Santos.

Novembro 2008 – ABERTURA publica Modelo Conceitual em Análise – após reunião onde foram convidados a debater o material no ICKS, Reinaldo Di Lucia, Alcione Moreno, Ricardo Nunes, Cláudia Régis Machado e Alexandre Machado, com a participação de Antonio Ventura, Arlete, Isabel Tavarez, Palmyra Coimbra Régis e José Alberto.

Dezembro de 2008 – ABERTURA publica a segunda reunião no ICKS para debater o Modelo, Doutrina Kardecista em debate, com a participação de Ademar Chioro dos Reis, Ciro Pirondi, Gilberto Guimarães. José Alberto, Jacira Jacinto da Silva, Jaílson Mendonza, Mauricy Antonio da Silva. Mauro Spínola e Roberto Rufo – neste grupo apenas Gilberto declarou-se religioso mas fez questão de participar da discussão. Neste momento, a grande rejeição estava no nome –doutrina Kardecista, posição que Ademar, Mauro e Jacira não nutriram simpatia. Hoje, passados cinco anos, fica claro que o nome pegou e é usado tranquilamente ainda que não tenha substituído a palavra Espiritismo.

Maio de 2009 – ABERTURA publica reportagem sobre a visita de Jaci Régis ao CCEPA – Centro Cultural Espírita Porto Alegre, onde estiveram presentes 20 pessoas de Porto Alegre, Florianópolis e Pelotas. Os comentários no geral foram muito positivos.

Junho de 2009 – a CEPA rejeita a proposta de Jaci Régis de que o novo modelo conceitual – reescrevendo o modelo espírita seja usado como base para um novo posicionamento da CEPA, nem consideraram necessária a constituição de uma comissão para análise do mesmo em que pese a admiração dos membros do conselho da CEPA pelo autor e pelo ICKS – deixa clara a CEPA que a atualização do pensamento espírita se dá pelos congressos e não por iniciativas individuais.

Julho de 2009 – O ABERTURA publica a resposta de Jaci Régis ao presidente da CEPA onde Jaci defende que “é natural que a atualização seja uma consequência de uma construção coletiva. Mas por que não pode partir de uma sugestão individual? A conclusão da atualização é coletiva, mas a iniciativa pode ser individual. Parece que assim tem sido a história do conhecimento humano ...”. Jaci assim não desiste, apenas muda o foco e prepara o lançamento de seu último livro – O Novo Pensar espírita, que mais tarde seria batizado de “Novo Pensar – Deus, Homem e Mundo”, à venda no ICKS por R$ 25,00.

Novembro de 2009 – O ICKS realiza o XI SBPE – uma mesa redonda é organizada para debater o Novo Modelo e Jaci Régis lança com muito sucesso o livro Novo Pensar – Deus, Homem e Mundo. Com a participação de Roberto Rufo, Cláudia Régis Machado e Eugenio Lara, Rufo afirma ser o Novo Modelo uma nova teoria do conhecimento ou epistemologia.

Respondendo a este desafio, o ICKS apresentará no XIII SBPE em outubro de 2013, uma análise epistemológica do que mais tarde Jaci chamaria de Ciência da Alma, que incorporaria ideias do Novo Modelo e Novo Pensar.

Destacaremos alguns pontos do modelo conceitual que se tornaram de domínio público e aceito pela maioria de nossa comunidade:

1 - Segundo o Espiritismo, não existem o céu, o inferno e o purgatório. Remendar pano velho com pano novo é incompatível, já disse Jesus de Nazaré. Anjo não pode ser sinônimo de Espírito Puro.

Diabo não pode ser justificado como condição de Espírito imperfeito ou obsessor. Purgatório não tem sentido na justiça divina, segundo o Espiritismo.



2 - O novo modelo começará por estabelecer que o universo não é estruturado, mas delineado. Seria, metaforicamente talvez, uma projeção da intenção divina, inteligência suprema e causa primária, centro ordenador e controlador, manifestado através da Lei Natural. Porque onde há Lei existe necessariamente controle.



3 - Neste modelo não existe espaço para a personalização do Ser Supremo, nem cabe o estabelecimento de atributos que o humanizariam, porque o paradigma disponível para pensar as virtudes é o humano.



A palavra delinear é bem clara, significa esboço, linhas gerais, marcos principais, e não um planejamento estrito, um mapa detalhado. É a mistura de determinação do reencarnante e do grupo em que se filia e o livre-arbítrio.

Não creiais, entretanto, que tudo o que sucede esteja escrito, como costumam dizer. (...) Só as grandes dores, os fatos importantes e capazes de influir no moral, Deus o prevê porque são úteis à tua depuração e à tua instrução. (859 a)



4 - Pelo novo entendimento a vida corpórea é um componente natural, desejado e necessário à evolução do Espírito. Numa visão dinâmica, contudo, concebemos a vida humana como um continuum existencial, através da vivência no plano extrafísico e no plano corpóreo, intermitentemente. Isso explica a realidade evolutiva das pessoas, em segmentos reencarnatórios. A pessoa humana possui uma biografia atemporal, em que experimenta uma extraordinária aventura de erro e acerto. Permanentemente inquietante e inquieta, sem correlação estrita com o tempo, mas desenvolvendo-se em seu próprio tempo.



5 - Encarnar e desencarnar é o motor básico da evolução do ser inteligente. A reencarnação é, pois, o instrumento básico da evolução do Espírito, desde as primeiras manifestações como Princípio Inteligente.



6 -No estágio evolutivo médio da humanidade terrena, o ponto de referência é a vida corpórea, onde ele elabora progressivamente sua identidade. Mas, como em todo o Universo, nesse aparente caos, a diretriz da Lei divina se estabelece seja pela hierarquização dos Espíritos, seja pelas pressões da realidade moral e intelectual que cada um desenvolve e vive. Todos seguem os rumos do produto de si mesmos. Embora numa visão genérica, o Plano Extrafísico de modo algum seja um lugar disciplinado, há, certamente, um centro coordenador, uma fonte dirigente que se manifesta sempre que solicitada ou quando necessário. Esse centro diretivo, constituído de Espíritos gabaritados atua, suplementa, buscando promover o equilíbrio pessoal e grupal.

Este modelo descarta totalmente a premissa da vida humana girando em torno da culpa e castigo.

O fluxo organizador e diretivo da Lei está “inscrito na consciência”, isto é, na formação da estrutura do corpo mental. Que significa isso? A Lei não é um discurso. É o conjunto de fatores que atuam sempre procurando a manutenção do equilíbrio. A Lei natural não é moral. O universo não tem propósitos restritos ou punitivos. Embora não haja possibilidade de entender todas as nuances da vida, nada na natureza autoriza o modelo de pecado e punição secular.



7 - Na visão evolucionista deste modelo não há lugar para um salvador. Mas positivamente tem lugar para as lições de Jesus de Nazaré. Nas suas lições Allan Kardec buscou a diretriz segura para o desenvolvimento ético e moral que o Espiritismo propõe.

Caráter, dor, prazer, desvios morais, perversões e santificações que definem o comportamento das pessoas foram desenvolvidos através das vidas sucessivas e por elas serão resolvidos.



8 - A reencarnação é uma aventura existencial.

Deixamos aqui o convite à leitura do Modelo Conceitual - entre em contato com o ICKS para saber como obter a sua cópia - ickardecista1@terra.com.br

quarta-feira, 28 de março de 2012

Entrevista com Eugenio Lara - “O inimigo não está mais lá fora, está aqui dentro”


Este artigo está sendo publicado no jornal Abertura em duas partes, nas edições de Março e Abril, você blogueiro do ICKS tem a oportunidade de acessar todo o artigo com antecipação.

A presente entrevista foi concedida pelo colaborador do Abertura, Eugenio Lara, em fevereiro deste ano à jornalista Flávia Zanforlim para a revista mensal Ser Espírita, publicada pela Sociedade Brasileira de Estudos Espíritas (SBEE), de Curitiba-PR. Com o objetivo de servir como fonte e base para uma ampla reportagem sobre a história do Espiritismo no Brasil, são abordados vários temas como o contexto propício em que ele surgiu em terras brasileiras, os fatos importantes ao longo de sua história e as dificuldades encontradas pelos espíritas para conquistarem o respeito, a aceitação social, hoje um fato evidente com o lançamento de filmes, peças teatrais, reportagens e especiais na televisão sobre a filosofia espírita. Leia a seguir, a íntegra da entrevista. Por entendermos que a entrevista provavelmente não será publicada na integra pela SBEE, estamos propiciando ao leitor do Abertura e ao seguidor do blog do ICKS tê-la em primeira mão.

1. Tem alguma opinião do porquê de o Espiritismo ter dado tão certo no Brasil?

O Espiritismo tinha tudo para dar certo na Argentina, o país mais europeu da América Latina. Até hoje observamos, no comportamento dos argentinos, uma influência muito grande da cultura europeia. No entanto, curiosamente, ele inicialmente se desenvolveu com bastante intensidade em Cuba, antes da Revolução Cubana; se disseminou na Argentina e na Venezuela, onde o caráter filosófico e experimental atraiu muitos adeptos e, posteriormente, no Brasil, sob uma feição cristã, religiosa. O contexto por aqui era bastante propício: a partir de 1860 já existia a benzedura, o curandeirismo indígena, as religiões africanas e o catolicismo, fatores bem marcantes no nosso dia-a-dia. O Brasil, apesar de não ter um único santo canonizado, é um dos maiores países católicos do mundo. O caldo cultural místico, religioso, bem cristão mesmo, mas com o espírito aberto a outras manifestações espiritualistas, serviu de substrato para o desenvolvimento do Espiritismo em nosso País. De início, a Doutrina Espírita, como na França, se disseminou na elite, na Corte, em círculos de estudos formados por pessoas cultas, que dominavam o francês, por filhos da elite que tinham condições econômicas de estudar na Europa. Trouxeram de lá os ideais do positivismo, do iluminismo e, também, do Espiritismo.
O Espiritismo, em sua origem, é uma cultura de postura racional, positivista, cartesiana, iluminista e eurocentrista. Enquanto que nossa cultura é toda analógica, gestual, oral. No dizer do grande poeta modernista Oswald de Andrade, o que ocorreu foi uma espécie de antropofagia, isto como metáfora da assimilação transcultural, de uma antropofagia filosófica, doutrinária. Ao tomar contato com nossa cultura religiosa, mística e supersticiosa, o Espiritismo se mesclou, foi “devorado” e assimilado pelo nosso imaginário. O resultado foi a formação de uma religião peculiar, radicalmente distante da matriz kardequiana. No dizer da antropóloga brasileira Sandra Stoll, criamos um “Espiritismo à Brasileira”, conforme os cânones de nossa cultura.
As condições culturais de nosso País foram propícias para o desenvolvimento do Espiritismo, com uma nova cara, nova feição cultural, um novo formato, determinado e adequado à nossa realidade social.

2. Conseguiria listar nomes de personalidades que foram fundamentais no espiritismo no Brasil?

Começo com Afonso Angeli Torteroli, o grande líder dos científicos no século 19, adversário de Bezerra de Menezes, líder dos místicos e outra grande personalidade da história do Espiritismo Brasileiro. Carlos Imbassahy foi o nosso primeiro grande intelectual espírita, seguido por Herculano Pires, Deolindo Amorim, Hernani Guimarães Andrade e, mais recentemente, Jaci Regis. Todas essas personalidades ajudaram a criar o que hoje podemos denominar de cultura espírita ou pensamento espírita, como alternativa e contraponto à religião espírita dominante, criada pela FEB, Chico Xavier e personalidades místico-católicas.

3. Quais momentos considera mais importantes desta história?

Os momentos foram muitos e corremos o risco de deixar de fora muitos fatos importantes para a história do Espiritismo brasileiro. A vitória dos místicos, sob a liderança de Bezerra de Menezes, no século 19, foi o fator de consolidação do Espiritismo religioso e da Federação Espírita Brasileira, que assumiu a hegemonia e a direção política do movimento espírita com o Pacto Áureo, em 1949.
Como reação a esse acordo de cúpula, de lideranças, o chamado Pacto Áureo, Deolindo Amorim fundou o Instituto de Cultura Espírita do Brasil (ICEB) em 1957, iniciativa que inspirou e tem inspirado muitos grupos espíritas por todo o Brasil, preocupados com o desenvolvimento da cultura espírita. Nesse aspecto, deve ser considerada também a fundação da Sociedade Brasileira de Estudos Espíritas (SBEE), hoje um dos grandes polos de disseminação do pensamento espírita no Paraná e em todo o País, desde os anos 1960.
Cabe lembrar a fundação da USE - União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo, em 1947, sob a orientação de Herculano Pires e Edgar Armond, que tornou-se um modelo para o projeto de unificação do Espiritismo brasileiro. Nos anos 1960, também tivemos o aguerrido Movimento Universitário Espírita (MUE), retomado nos anos 1980 com outro formato e sob o nome de Núcleo Espírita Universitário (NEU); nos anos 1970, o projeto Educação Espírita, graças à liderança de Herculano Pires e a criação do COEM - Centro de Orientação e Educação Mediúnica, estruturado pelo pedagogo Ney Albach e o médico psiquiatra Alexandre Sech. Nos anos 1980, a crise entre religiosos e não-religiosos foi um divisor de águas. Nesse período, destaco o Projeto de Espiritização idealizado por Jaci Regis e José Rodrigues, em Santos-SP, através do periódico Espiritismo & Unificação, sucedido pelo jornal de cultura espírita Abertura. Nesta mesma época é importante também mencionar a Campanha de Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita, projeto idealizado pelos gaúchos Maurice Herbert Jones e Salomão Benchaya, dirigentes do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, que edita o conhecido periódico Opinião. Nos anos 1990 tivemos a penetração mais intensa da Confederação Espírita Pan-Americana (CEPA), sob a liderança do venezuelano Jon Aizpúrua e a consolidação de projetos alternativos no movimento espírita, como o Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita, em Santos-SP, de grupos de estudos espíritas, grupos de pesquisa e, no final e virada do milênio, a penetração maciça do Espiritismo na internet e nas redes sociais.

4. Quais as facilidades para a entrada e permanência do Espiritismo no Brasil?

O processo de desenvolvimento e consolidação do Espiritismo no Brasil não foi fácil. Foi longo e tortuoso. No início, os espíritas tiveram que enfrentar a Igreja, a classe médica e até o Estado, que sob influência católica, proibiu durante um certo período o funcionamento de centros espíritas, como combate ao “curandeirismo” e às práticas contrárias aos interesses da Igreja. O Espiritismo era um caso de polícia. Possivelmente, não somente pelo espírito de caridade, mas também como uma maneira de ser aceito socialmente, os espíritas desenvolveram um trabalho assistencial muito pujante e respeitadíssimo pela sociedade. Além do fato de personalidades mediúnicas como Chico Xavier, Divaldo Pereira Franco, Yvonne Pereira, Zíbia Gasparetto, Luiz Gasparetto, dentre outras, terem contribuído com seu trabalho, exemplo e carisma para que o Espiritismo fosse cada vez mais aceito pela sociedade.
Quanto à permanência do Espiritismo, isso dependerá dos próprios espíritas, segundo uma frase atribuída a Léon Denis: “o Espiritismo será aquilo que os homens fizerem dele”. E penso que se o Espiritismo seguir o caminho do esclarecimento cultural, ético, procurando demonstrar suas teses através da experimentação e pesquisa sérias, o futuro do Espiritismo estará garantido. O caminho deverá ser, necessariamente, experimental, cultural, filosófico e profundamente ético. A transformação moral deve se impor, sem a qual, seríamos um movimento estéril e improdutivo.

5. Quais as dificuldades que o Espiritismo passou? O que perdemos com elas?

Assim como qualquer movimento de ideias, que aspira pela cidadania e aceitação social, o Espiritismo vem prosseguindo como um movimento bastante respeitado pela sociedade. Primeiramente, as maiores dificuldades enfrentadas, como citamos, foram com agentes externos: a Igreja, o Estado, a classe médica, a imprensa. Hoje, por ser um movimento consolidado, esses fatores externos não são mais tão marcantes assim. As dificuldades maiores encontram-se nos interstícios do Espiritismo. Ou seja, os próprios espíritas tornaram-se, de modo até inconsciente, os maiores inimigos do Espiritismo. O inimigo não está mais lá fora, está aqui dentro.

6. Como avalia o atual momento do Espiritismo no Brasil? Carecemos de um novo líder?

Vejo com otimismo o desenvolvimento do Espiritismo no Brasil. A intensa aceitação social, estimulada por filmes, peças teatrais e minisséries inspiradas na temática espírita, contribui para que haja a curiosidade, uma certa simpatia prévia em relação à filosofia espírita. Não acho que o Espiritismo precise de um líder, nos moldes religiosos. Chico Xavier era chamado, por muitos não-espíritas, de Papa do Espiritismo. No entanto, ele nunca desejou e nem consolidou algum tipo de liderança ideológica. Mesmo quando Bezerra de Menezes presidiu por duas vezes a Federação Espírita Brasileira, ele não era propriamente um líder como se exige de alguém vinculado a um movimento de ideias como o espírita, pois nosso movimento não é, por exemplo, como a Igreja, hierarquizado, com rituais de iniciação etc. Neste sentido, temos que considerar o caráter anárquico do Espiritismo, desde que surgiu por aqui no século 19. Mesmo com todo o processo de unificação, de tentativa de padronização e hierarquização, o que prevalece mesmo é a autonomia das entidades espíritas. A FEB, a USE ou qualquer outra entidade federativa não possuem o “controle” desejado do movimento espírita. Apesar dos “caciques”, o nosso movimento espírita parece ter mais “índio” do que “cacique”. A feição democrática que o fundador do Espiritismo, Allan Kardec, delineou no Projeto 1868, deveria ser uma referência doutrinária para as lideranças espíritas.

7. Como a homeopatia, maçonaria, religiões africanas e ideologia política progressista liberal podem ter colaborado com o Espiritismo no Brasil?

A história da homeopatia está imbricada com a história do Espiritismo. Os primeiros homeopatas brasileiros eram quase todos espíritas. O passe, muito comum hoje nos centros espíritas brasileiros, surgiu com os homeopatas, especialmente Bento Mure e Vicente Martins, pioneiros da homeopatia no Brasil. O primeiro Prolegômenos, em O Livro dos Espíritos (1857), tinha como um de seus autores Samuel Hahnemann, o fundador da Homeopatia.
O mesmo pode-se dizer da Maçonaria. Muitos líderes espíritas foram maçons. Há quem sustente que Kardec teria sido maçom, como foi Léon Denis. No Brasil, a Maçonaria e o Espiritismo foram parceiros em muitas oportunidades, como na Coligação Nacional Pró-Estado Leigo, com ampla participação dos espíritas, o que resultou na criação da Liga Espírita do Brasil, no Rio de Janeiro.
Sobre a questão da religião africana, não há como ignorar a Umbanda, surgida no movimento espírita carioca, na década de 20 do século passado, num meio kardecista. Pode-se dizer que a Umbanda é uma das filhas bastardas do Espiritismo. Apesar da confusão doutrinária que existe até hoje entre ambos, a Umbanda contribui bastante com a prática mediúnica e o ensino da reencarnação, da imortalidade da alma, da mediunidade, dentre outros princípios doutrinários, por influência determinante do Kardecismo nessa religião sincrética, genuinamente brasileira. A seu modo, contribui para divulgar as ideias espíritas. A Umbanda não deve ser vista como inimiga, mas como aliada. A Umbanda é a filha rejeitada devido ao preconceito social dos espíritas e a influência ainda muito marcante do eurocentrismo no estudo do Espiritismo.
Quanto à questão da “ideologia política progressista liberal”, não sei bem o que vc quer dizer com isso. O que é uma ideologia progressista liberal? É o PSDB, o PL, o antigo PFL, atual DEM? É uma ideologia de direita, antissocialista? Seria o Partido dos Trabalhadores uma nova ideologia progressista, depois do sucesso do governo Lula? São questões ainda em aberto...
O que importa ressaltar é que o Espiritismo não é de direita nem de esquerda: ele é humanista, a favor do ser humano, encarnado ou desencarnado, é partidário da liberdade, da igualdade e da fraternidade. Tem características libertárias, democráticas e socialistas. Como afirmou Allan Kardec na Revista Espírita (julho/agosto 1868), ele até poderia ser visto como um partido político: “A palavra partido, aliás, não implica sempre a ideia de luta, de sentimentos hostis. Não se diz: o partido da paz? o partido das criaturas honestas? O Espiritismo já provou, e provará, que pertence a esta categoria.”

8. Se quiser comentar mais alguma coisa, fique à vontade.

A História do Espiritismo no Brasil precisa ser reescrita de modo crítico e contextualizado para que não fiquemos reféns de ideologias que consideram somente a ação de supostos “vultos do Espiritismo”, quando sabemos que essa história é uma construção coletiva, não depende somente de alguns “grandes vultos”, normalmente eleitos por segmentos sectários e autoritários. O Espiritismo é uma obra aberta, uma construção coletiva, da alçada de nós, seres humanos, os verdadeiros elaboradores da Doutrina Espírita. Como afirmou Kardec: “Numa palavra, o que caracteriza a revelação espírita é o ser divina a sua origem e da iniciativa dos Espíritos, sendo a sua elaboração fruto do trabalho do homem.” (A Gênese, cap. I – grifo meu).

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Sobre o Pseudônimo de Rivail - Eugenio Lara


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