domingo, 23 de outubro de 2011

Programa do XII SBPE - trabalhos e horários


Vejam a programação do XII SBPE de 11 a 14 de Novembro

Inscrições para participação ainda abertas pelo telefone (13) 32842918 ou pelo email ickardecista @ terra.com.br Inscrição R$ 100,00

domingo, 16 de outubro de 2011

XII SBPE -22 anos fazendo história

Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita 22 anos de história

No momento em que estamos organizando o XII SBPE, ns ocorre relembrar um pouco de sua trajetória, Em 1989 Jaci Régis propõe um novo forum de exposição de idéias para aquele grupo que em 1986 foi expurgado do Movimento Espírita cristão. Na sua primeira edição, a única onde os expositores foram convidados a discorrer sobre temas específicos, teve a presença de muitos pensadores relativamente independentes.

A abertura provocada pelo então chamado Simpósio Nacional do Pensamento espírita acabou criando um mecanismo de geração de idéias que foi replicado em encontros, seminários e outras formas de reunião no Brasil e na Argentina.

Na histórica edição de 1989 estiveram presentes apresentando trabalhos Krishnamurti Carvalho Dias, Ciro Pirondi, Milton Medran, Aylton Paiva, Milton Felipeli, Maria Eli Paiva, Paulo Magalhães Dias, Luis Fuchs, Velentin Lorenzetti, Cristina Helena Sarraf e claro Jaci Régis. Após este primeiro outros 10 Simpósios o sucederam, mais de 1800 participantes, sempre com temas inscritos por seus próprios autores, como é praxe em congressos profissionais.

Hoje o SBPE está na Wikipédia

Você é nosso convidado, venha participar desta idéia vencedora.

Estamos programando o XIV SBPE:

XIV SBPE – Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita

Será realizarado em Santos, na antiga sede do ICKS, hoje colégio Angelus Domus, na avenida Francisco Glicério, 261, Gonzaga – antiga sede do ICKS.

Como se inscrever

Preencha a ficha abaixo e encaminhe ao ICKS pelo correio, endereço Rua Evaristo da Veiga, 211 Santos –SP  - CEP 11075-001 ou escaneie e envie por email, ao ickardecista1@terra.com.br . Ou então ligue no (13) 33247321.

Nome:............................................................................................
Cidade:..........................................................................................
Profissão: .....................................................................................
Instituição de que participa:.......................................................
Tipo de Inscrição: ( ) A vista ou ( )número de parcelas
Vai precisar de Hospedagem: ( ) Sim ou ( ) Não 
E.mail e telefone.


Entre em contato com o  ICKS  por email para ickardecista1@terra.com.br. Precisamos de seu nome, endereço, telefone, email e forma de pagamento de sua escolha, veja detalhes a seguir.


O valor da inscrição até o dia 30 de julho é de R$ 90,00 depois desta data passa para R$ 110,00 que pode ser parcelado em até 3 vezes, com a secretaria do ICKS.

sábado, 15 de outubro de 2011

Entrevista com a psicóloga Cláudia Régis Machado autora dos livros Kadu e o Espírito Imortal e do livro de passatempos Desafios do Kadu


O Jornal Abertura de Junho de 2011 traz nesta edição uma entrevista com Cláudia Régis Machado, psicóloga participante do Gabinete Psico-Mediúnico do ICKS. O Gabinete desenvolve um trabalho filantrópico destinado a pessoas com problemas emocionais, todas as segundas-feiras, às 19h30.


Abertura - Cláudia, o Gabinete Psico-Mediúnico está funcionando desde setembro de 2009. Quais as maiores dificuldades para a realização deste trabalho?

Cláudia -Não colocaria como dificuldades, mas como aspectos próprios de cada trabalho a ser executado. Neste trabalho específico, a busca de colaboradores comprometidos qualificados foi a primeira dificuldade, já superada. Hoje temos uma equipe muito empenhada, tanto no lado físico como no extra-físico.
É um trabalho de grande responsabilidade, pois estamos lidando com problemas psicológicos e espirituais que necessitam de orientação específica e adequada, sempre levando orientações equilibradas que conduzam a atitudes efetivas para uma melhor qualidade de vida.

Abertura -Como é formado este grupo de trabalho? O que exatamente é feito neste trabalho?

Cláudia - O trabalho tem várias etapas. A primeira é a recepção, que é cuidadosa e amigável. Depois, a anamnese, que é uma entrevista inicial onde o entrevistador observa e seleciona se as dificuldades apresentadas pelo paciente se enquadram no trabalho que desenvolvemos, para que nossa ajuda possa ser efetiva. Neste momento, também são explicados o procedimento e o que temos a oferecer. Posteriormente, a pessoa selecionada participa de uma preleção sobre Espiritismo - que consta de noção sobre os princípios básicos da doutrina, um pouco da história do Espiritismo e alguns detalhamentos dos principais temas da Doutrina Kardecista - espírito, médium, mediunidade, reencarnação. Todo este conteúdo é dividido em pequenas aulas. Passamos, em seguida, para o relaxamento físico e mental e, posteriormente, às orientações psicológicas propriamente ditas. Por último, os pacientes recebem energização magnética. A orientação espiritual é dada na primeira, na quinta e na décima reunião, de tal forma que o trabalho desempenhado por cada colaborador soma para o resultado final.

Abertura -Como você considera então os resultados finais deste trabalho? Qual é o feedback dos freqüentadores?

Cláudia - Considero um bom resultado, pois atingimos o objetivo a que nos propusemos. O feedback é positivo e observamos a melhora daqueles que terminam o tratamento, com agradecimentos pelo apoio obtido, pela atenção e força dadas para seguirem na sua jornada. Muitos mudam o seu olhar para o mundo, mudam o seu estilo de vida, assim como os valores que priorizavam. Outros reforçam seu objetivo de vida, suas atitudes e pensamentos esquecidos pelas situações ocorridas. Todos buscando um melhor equilíbrio emocional e espiritual.

Assuntos relacionados:

http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=8190435979242028935#editor/target=post;postID=8454870676877542008


Resposta da atividade da Coluna Brincando com Kadu


A Sobrevivência das Comunidades Espíritas no Século XXI - Junior da Costa Oliveira

Nestes últimos 30 anos, convivendo em instituições espíritas, constatamos que o modelo em vigência é o mesmo do século passado, com raras exceções. Quais as razões do modelo atual estar alicerçado em pilares que nada contribuem para o desenvolvimento da casa espírita, em pleno século 21?

Se tirarmos uma fotografia atual das entidades, encontraremos o seguinte esquema de trabalho: reuniões ao longo da semana sem interação entre seus frequentadores que, geralmente, participam de uma ou duas reuniões da casa durante o período semanal, omitindo-se das demais. Observaremos, ainda, reuniões que não privilegiam os estudos espíritas, prevalecendo a experiência prática dos elementos mais velhos para implantação de trabalhos, com resultados pouco produtivos e repetitivos ao longo dos anos. Há também a falta de comprometimento das pessoas em assumir novas tarefas objetivando o fortalecimento do grupo e da própria casa espírita. Na mediunidade, não há avaliações de pessoas e conteúdo, a fim de que o trabalho possa ter melhores resultados. Por fim, há a falta de intercâmbio entre as casas espíritas visando trabalhos em conjunto nas diversas áreas de atuação dos centros.

Pensando sobre o tema proponho estabelecer novos paradigmas na casa espírita, como aproximar todos os frequentadores com seus dirigentes, por meio da apresentação dos trabalhos desenvolvidos na semana, informando coordenação, pauta e horário. Também distribuição de questionários, com a proposta de inserir estas pessoas em algum campo da casa.

No campo doutrinário, no começo de cada ano, sugiro reuniões específicas para elaboração de temas, eleição de coordenadores, apresentação dos trabalhos e seu desenvolvimento. Importante também é a criação de contatos com outras casas espíritas, buscando interação de trabalho e, principalmente, integração de dirigentes, com visitas mútuas. Outro ponto é o marketing e o desenvolvimento de pautas para elaboração de eventos da casa espírita, sejam eles internos ou externos, além da utilização da Internet. Também o trabalho voluntário e o desenvolvimento de uma reunião que englobe Centro/Mocidade/lnfância Espírita.

Ainda neste campo, devem ser estabelecidos critérios para coordenação de trabalhos doutrinários e para ocupação de postos de direção na casa espírita. Para trabalhos de coordenação, vejo a necessidade de, pelo menos, dois anos de estudos doutrinários para que se possa assumir postos de direção.

É importante a troca de experiências (positivas ou negativas) entre as entidades espíritas, inclusive as apresentando em outros centros. Também a criação de um plano de sucessão para coordenadores e membros da diretoria, além da criação de "Planos de Gestão", a fim de qualificar pessoas para dar continuidade aos trabalhos da entidade espírita.

Este é apenas um exercício de pensar positivamente para a melhoria dos nossos centros espíritas.

sábado, 8 de outubro de 2011

Pode o Pensamento deslocar-se acima da velocidade da luz?

Por Alexandre Cardia Machado

Abrindo a Mente

Pode o pensamento se deslocar acima da velocidade da luz?
Esta afirmação é recorrente nas publicações espíritas e, mais recentemente, fui instigado a pensar sobre ela pelo meu amigo Henrique Régis, que me questionou a respeito no seu espiritbook, onde discutíamos sobre Transcomunicação Instrumental (vale conferir no endereço destacado abaixo).
Da introdução do LE retiramos: “Livres da matéria, a linguagem de que usam entre si é rápida como o pensamento, porquanto são os próprios pensamentos que se comunicam sem intermediário”. Além disto, na questão 89, a proposta é mais direta: Os Espíritos gastam algum tempo para percorrer o espaço? – “Sim, mas fazem-no com a rapidez do pensamento (...)”.
Primeiramente será preciso definir o que entendemos por pensamento, para depois avaliar as suas propriedades. Existem duas características amplamente empregadas no LE: uma é o pensamento como ato de pensar, a onde o pensamento é o resultado do ato de pensar. Exemplo: Eu estou pensando neste momento. O resultado dos milhões de pensamentos que passaram pela minha mente é o que está nesta coluna. Os Espíritos se referem, muitas vezes ao “pensei em você” e, com isto, meu Espírito como que alcança aquela pessoa, naquele momento. Este seria o resultado do ato de pensar: uma informação foi passada a outra pessoa. Isto é interessante, porque muitas vezes esta pessoa capta esta informação ou mensagem.
O ponto em discussão seria qual a velocidade que esta informação se desloca no espaço. Se esta informação for constituída de pacotes de informação decodificáveis, semelhantes ao que usamos nos meios de comunicação como rádio e TV, seria absolutamente formada por pacotes de Ondas Eletromagnéticas (OEM) e estaria limitada à velocidade da luz.
No entanto, existem outras interações entre “partículas” que não são OEM, que é o que ocorre nas chamadas partículas de interação. É o caso da famosa experiência dos spins dos elétrons, quando com relógios atômicos muito precisos, em 1982, os físicos Allain Aspect, Philipe Grangier e Gerard Roger, usando um par de fótons emitidos por uma cascata de cálcio radioativo, conseguiram uma proeza fascinante: mediram a correlação da polarização linear dos seus spins, antes e após a alteração de um deles, e verificaram a certeza da predição da mecânica quântica, ou seja, a correlação entre fótons era instantânea, ou pelo menos, com velocidade maior que a da luz. Os fótons com spins iguais a + ½, davam como resultado da sua soma o valor zero, antes e após a alteração de um deles. Estaria Einstein errado? Vamos seguir acompanhando.
Se estes estudos se mostrarem certos, um tipo de informação pode ser passada de elétron a elétron a velocidades maiores que a da luz e, considerando o pensamento um pacote de informações, extrapolando a idéia ainda que hipoteticamente, podemos “pensar” que o pensamento possa também ser transmitido acima da velocidade da luz.
Para abrir mais a sua mente, leia:
1 -http://www.espiritbook.com.br/ - procurar Abrindo a Mente – ectoplasma.
2 -ASPECT,A.; GRANGIER, P.; ROGER, G. (1982) Experimental realization of Einstein-Poldosky-RosenBohm gedankenexperiment: a new violation of Bell’s inequality.PhysicalRev.Lettersv.49,No2.
3- Quem somos nós? William Arntz, Betsy Chasse e Mark Vicente- editora Prestígio - 2005

Rosana Régis de Oliveira -Presidente do ICKS

Entrevista com Rosana Régis e Oliveira – Presidente do ICKS

Rosana Régis e Oliveira é casada com Junior da Costa e Oliveira, segunda filha de Jaci e Palmyra Régis, tem 3 filhos, Fernanda, Juliana e Felipe e uma netinha Maria Clara. É Assistente Social tendo trabalhado 25 anos no Lar Veneranda, foi vice-presidente do ICKS desde a sua fundação e com o desencarne de Jaci Régis em dezembro de 2010, após aprovação por unanimidade do Conselho Deliberativo do Lar Veneranda em fevereiro de 2011, passa a dirigir o ICKS.

O jornal Abertura esteve em sua residência com o objetivo de entrevistá-la.

Abertura: Com você se sente dirigindo o ICKS?
Rosana: No momento eu ainda estou me apropriando do que é dirigir o ICKS. Estou aprendendo muito sobre os detalhes, estou começando mas me sinto muito bem por que eu já vinha trabalhando como vice –presidente do Instituto desde a sua fundação.

Abertura: Qual a maior dificuldade para substituir o Jaci Régis?
Rosana: É a grande responsabilidade, porque ele tinha o poder de gerenciar, administrar, ter as idéias e colocá-las em prática. Sei que tenho agora uma responsabilidade muito grande de assumir e fazer o que ele fazia.

Abertura: Quais os planos para 2011?
Rosana: A gente pretende manter o que fizemos em 2010, sem grandes mudanças por que estamos querendo manter o projeto. Uma grande modificação administrativa foi a divisão de tarefas que a diretoria e os colaboradores tiveram que assumir. Com bons resultados até o momento, por que todas as atividades estão mantidas. Agora nosso maior evento em 2011 será o XII Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita em novembro

Abertura:Quais foram as boas experiências que você já passou neste dois primeiros meses ?
Rosana: A experiência melhor foi a continuação do Abertura que segue em boas mãos e que já nos trás uma grande tranquilidade por que mantemos a divulgação das idéias e do trabalho do Instituto. Outra coisa muito boa foi a união da diretoria e dos colaboradores, na manutenção do andamento do ICKS.

Abertura : Como você vê o futuro do ICKS em digamos cinco anos?
Rosana: Não sei se permaneceremos no atual prédio que pertence ao Lar Veneranda, é muito grande, o custo é muito alto, meu pai deixou isto encaminhado com um imóvel que ele e minha mãe, D. Palmyra doaram ao ICKS, claro que se conseguirmos manter as atividades e as receitas em níveis adequados, continuaremos no Prédio Jaci Régis divulgando e defendendo uma idéia renovadora do pensamento espírita.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

O Humanismo Espírita - Eugenio Lara

O Humanismo Espírita

Eugenio Lara

“O homem é a medida de todas as coisas, das que são e das que não são.”
(Frase atribuída ao filósofo grego Protágoras)

Você pode adquirir este livro pelo ickardecista1@terra.com.br - valor R$ 25,00 entregue em sua residência


No final da Idade Média e início do Renascimento, falar e pensar sobre o ser humano, sua consciência, valores, o sentido e a origem, sua ontologia, era algo subversivo, uma atitude de vanguarda frente a um pensamento quase que completamente dominado pelo dogmatismo religioso. Pensar o homem sem a rigidez e os cânones do pensamento cristão era algo descabido para a época. Por sua vez, hoje, ser humanista parece uma atitude reacionária, retrógrada, em meio à vigência do culto ao individualismo, do hedonismo. É como se o ser humano estivesse fora de moda, junto com o Humanismo.
Agir sob a égide de uma postura humanista significa agir em rota de colisão com o culto do ego, do eu sozinho, do culto às celebridades, do espetáculo social, em aparente contradição com os princípios de uma modernidade supostamente ultrapassada, arcaica, anacrônica. E seu contraponto, a chamada pós-modernidade, algo ainda difícil de se definir e de se localizar historicamente de modo claro, é muito mais do que a expressão do individualismo e, longe de legitimá-lo, ela extrapola o hedonismo exacerbado ao questionar as bases da modernidade e, indiretamente, o Humanismo, um de seus filhos mais diletos.
Além da ditadura do dogmatismo egocentrista, observamos hoje a ditadura do cientificismo, do que supostamente a ciência prova, a ponto de identificarmos um certo exagero em seu uso como oposição à religião. Fato observável, por exemplo, na propaganda de bens de consumo onde, amiúde, aparece um sujeito de jaleco no laboratório, com sotaque estrangeiro, numa imagem que serviria para expor a demonstração científica de que o produto “é bom, testado e aprovado”. Isso quando não vemos as práticas mais pseudocientíficas serem legitimadas sob a chancela de adjetivos pomposos, como o termo quântico, que serve para qualificar as práticas mais absurdas e destoantes de um pensar filosófico e científico.
Enquanto isso, o ser humano parece esquecido. Ao mesmo tempo em que nunca se valorizou tanto o individualismo na história da Humanidade, também é difícil crer que essa mesma Humanidade possa se desumanizar ainda mais do que a temos visto fazê-lo, desde o Holocausto e o Apartheid. O individualismo exacerbado desumaniza o ser humano. A espiritualidade, então, torna-se opaca, sem sentido, inútil, incômoda, quando não vira, com frequência, mais um bem de consumo ou uma desprezível fonte de renda. Desumanizado e desalmado, assim parece ser a condição do ser humano de nosso tempo, numa moldura exageradamente tétrica, imersa num “eterno” suplício, mas prenhe de significado.

Laicismo e Humanismo

Normalmente, aqueles que se opõem à ideia de um Espiritismo de conotação laica associam, de modo ingênuo e equivocado, a laicidade ao antirreligiosismo, ao ateísmo, a ponto de imaginarem uma forma ateia de se pensar/praticar a Doutrina Espírita. Haveria, portanto, um paradoxo curioso: o surgimento de um Espiritismo ateu ou, talvez, um Espiritismo iconoclasta, anticristão, comunista, como se fosse possível conceber a existência de um pensar espírita que não seja deísta. A fim de se evitar esse tipo de equívoco tão comum, é imprescindível compreender que a laicidade no Espiritismo não está exclusivamente associada à separação entre o Estado e a Religião. Mas sim, fundamentalmente, ao seu caráter humanista, ao Humanismo enquanto concepção de mundo, do qual o pensamento espírita é um lídimo representante.
A palavra Humanismo possui dupla acepção. Expressa dois sentidos que não se opõem, mas se complementam. O primeiro caracteriza-se pela extrema valorização do ser humano, situando-o como o centro das atenções, o sentido e a finalidade do conhecimento na construção do que se convencionou chamar de antropocentrismo, em oposição ao teocentrismo medieval. E o segundo sentido, pela formação intelecto-moral fundamentada nos clássicos latinos, nos autores gregos e romanos da Antiguidade, responsáveis pelo desenvolvimento da filosofia, da literatura, da cultura ocidental, das chamadas ciências humanas.
O Humanismo é fruto de uma conquista histórica, filosófica, ética, em todos os sentidos, tanto na preocupação com a humanidade como na formação obtida pelo estudo da cultura greco-romana, latina, na construção de uma paidéia, de um ideal de beleza e sabedoria. Ele representa uma dramática, trágica e longa luta dos intelectuais pela liberdade de pensamento, pelo conhecimento científico, obscurecido pelo dogmatismo religioso, pelo poderio eclesiástico e os poderes firmados no período medieval.


Allan Kardec e o Humanismo

Ao conceber o ser humano como um espírito imortal, livre, perfectível, o Humanismo Espírita situa-se numa via alternativa entre o niilismo da concepção materialista e o dogmatismo da ideologia judaico-cristã. Trata-se de uma visão otimista, enobrecedora, emancipadora, que valoriza e engrandece o ser humano sob um enfoque espiritualista e deísta, não-fatalista, sem os prejuízos do espírito de sistema, do fundamentalismo e do sectarismo religioso, e avesso a qualquer tipo de autoindulgência.
O pensar humanista e a ação humanitária são o apanágio da práxis espírita, cujos atributos e características peculiares acham-se determinados pela liberdade e a alteridade. O Espiritismo é, ao mesmo tempo, humanista e humanitário. Humanista, pelo resgate da dignidade humana, no aqui e agora, sem fixar os olhos no passado palingenético e sem se perder numa visionária e alienante idealização do além-túmulo. E humanitário por tomar a caridade em seu sentido mais amplo, como o componente motivador de sua práxis.
O Espiritismo não admite que o ser humano seja tratado como um objeto, como uma coisa desprovida de humanidade, de dignidade. Essa visão não é propriedade do cristianismo e não se inicia com ele, mas sim na Antiguidade. Todavia, será em Jesus de Nazaré que a natureza humana terá o seu momento maior de compreensão ética e valorativa. Daí que, apesar de não ser cristão, o Espiritismo incorpora em seu ideário humanista os princípios morais ensinados por Jesus de Nazaré. Portanto, não foi à-toa que Allan Kardec afirmou que a moral espírita e a moral cristã são essencialmente semelhantes.
A filosofia espírita se insere no contexto do Humanismo Espiritualista do século 19, anticlerical, secular e de inspiração iluminista, fatores presentes na ação e no pensamento dos socialistas utópicos Robert Owen, Conde de Saint-Simon e Charles Fourier. No entanto, a maior influência no pensamento humanista de Kardec vem do Iluminismo, especialmente Jean-Jacques Rousseau.
Allan Kardec conhecia os clássicos e traduziu obras da literatura clássica francesa para o alemão, como Telêmaco, de Fénelon. Dominava fluentemente o latim, grego, italiano, holandês, inglês, gaulês e o castelhano. Foi um profundo estudioso da filosofia grega, como pode ser observado em sua análise do pensamento filosófico de Sócrates e Platão, os quais considerou, ao lado de Jesus de Nazaré, como precursores do Espiritismo, na magistral introdução de O Evangelho Segundo o Espiritismo.
Educado no Humanismo pestalozziano, de nítida influência do pensamento ético e pedagógico de Rousseau, o fundador do Espiritismo possuía uma formação clássica, enciclopédica, típica dos humanistas de seu tempo. Segundo Deolindo Amorim “é considerado humanista, no sentido antigo, aquele que tem uma cultura geral muito sólida, com fundamentos mais profundos nas ciências básicas, na história, nas línguas. Allan Kardec, por exemplo. Podemos considerá-lo pedagogo, moralista, pensador entre os mais autênticos, mas é bom não esquecer que sua formação, antes de tudo, era de humanista. Pelas questões que levantou, pela segurança com que formulou as teses fundamentais da Doutrina em seus diálogos com os espíritos instrutores e pelas próprias linhas mestras de sua estrutura intelectual, vê-se logo que havia, nele, os recursos culturais de humanista completo”. (Ideias e Reminiscências Espíritas, p. 78. Grifo meu).


Demasiadamente Humano...

A visão do Espiritismo como uma forma de Humanismo entrará inevitavelmente em choque com o “Espiritismo Evangélico”, com o dogmatismo doutrinário, o religiosismo, com a mentalidade cristã e cristrólatra. O caráter humanista do Espiritismo é absolutamente inegável.
Em um simples exercício estatístico, podemos observar que a palavra homem, no sentido de representante do reino hominal, aparece em O Livro dos Espíritos (2ª edição) 679 vezes. A palavra humanidade tem 81 ocorrências e humano, 50. Esses números são suficientes para demonstrar, ao menos em termos quantitativos, que a filosofia espírita tem no homem, no ser humano, o objeto primordial de suas reflexões, conceituações e ensinamentos. O caráter humanista do Espiritismo é parte integrante de sua natureza. Sua filosofia é humanista, assim como sua antropologia, sociologia e psicologia, tanto quanto sua pedagogia, todas elas ciências aplicáveis em estado embrionário, em estado de potência ainda por ser desenvolvido.
O pensamento humanista espírita se expressa não somente pela via filosófica, mas também pela via cultural, na valorização dos clássicos e da cultura humanista de todas as épocas. Mas, sobretudo, pela tomada de posição manifesta em relação ao ser humano, como elemento primordial de qualquer processo de transformação moral, social e política. O Espiritismo, apesar de sua aparência supostamente religiosa, cristã, transcendental, é essencialmente humano, demasiadamente humano...

(*) Eugenio Lara, arquiteto e jornalista, é editor do site PENSE - Pensamento Social Espírita [www.viasantos.com/pense] e membro-fundador do CPDoc - Centro de Pesquisa e Documentação Espírita. E-mail: eugenlara@hotmail.com

Posteriormente à elaboração deste artigo, em 2012, Eugenio Lara publicou um livro denominado " Breve Ensaio sobre o Humanismo Espírita - publicado pelo CPDoc - Santos -SP, 102 páginas. Disponível para venda aqui no nosso site, basta entrar em contato pelo email: ickardecista1@terra.com.br .


sábado, 1 de outubro de 2011

Do Jesus Pré-cristão ao Jesus Cristão - Jaci Régis

DO JESUS PRÉ-CRISTÃO AO JESUS CRISTÃO


Jaci Regis


JESUS DE NAZARÉ
Quando começou sua pregação, Jesus era um homem de 30 anos. Na sua época, um homem de 30 anos era uma pessoa de idade bastante expressiva, diante da expectativa de vida.
Por isso, é natural que fosse casado e que tivesse até filhos. Essa humanização dele foi repelida e continua sendo repelida pois, desde sua morte, seus seguidores dividiram-se sobre a sua natureza.
Jesus baseou-se na Lei Mosaica e não apenas a reformulou, como criou uma revolucionária forma de relacionamento humano, extraordinariamente acima dos preconceitos judaicos.
Na verdade, apenas se apoiou nas bases bíblicas e descortinou um novo cenário para entendimento do ser humano. Esse novo cenário baseou-se no amor e na reciprocidade entre as pessoas, subvertendo o entendimento, fazendo daquele que serve o maior. Usou expressões comuns, parábolas e ensinamentos tirados do dia a dia, criando uma compreensão fácil e concreta da existência humana.
Em apenas três anos ele criou a base para uma revolução moral em meio à mediocridade geral dos fariseus e saduceus.
Os judeus viviam sob o Império Romano e a população desejava a libertação política, e não via qualquer relação histórica entre Jesus de Nazaré e o esperado Messias. Ele não possuía nenhum perfil compatível com a esperança desse Messias libertador e promotor do esplendor de Israel.
Por isso, preferiu-se Barrabás, o revolucionário político, a Jesus de Nazaré, com sua doutrina renovadora e revolucionária.
Podemos dizer, rigorosamente, que Jesus de Nazaré foi uma pessoa pré-cristã.
Não fundou uma religião, nem escreveu seu testamento.
Seus discípulos e primeiros apóstolos eram todos judeus, geralmente de nível social mais elementar.
Criaram a igreja do caminho e teriam levado suas palavras ao esquecimento e se reduzido a uma seita judaica, não fosse a adesão de um intelectual: Saulo de Tarso.
Saulo de Tarso, ao se converter às idéias do Nazareno, iniciou um grande programa de divulgação entre as comunidades judaicas dispersas no Império Romano, até chegar à Roma. Ele foi morto em 64 D.C. e sua pregação indica claramente que acreditava e esperava o retorno do Nazareno, ainda em sua existência, para instalar o Reino de Deus na Terra.

JESUS CRISTO
O cristianismo foi fundado no Concílio de Nicéia, no ano 385 da Era Cristã, sob a firme determinação do Imperador Constantino.
Até ali, várias correntes ou seitas se digladiavam sobre a figura de Jesus, criando divisões, as quais o Imperador determinou o fim.
O Concilio, por ele convocado, decidiu pelo domínio da Igreja de Roma e estabeleceu o credo da Igreja Católica, a divindade de Jesus, englobando todas as correntes existentes de modo esparso e conflitante.
Esse emaranhado de seitas produziu 315 evangelhos que o mesmo Concílio baniu, fixando-se nos quatro evangelhos canônicos.
Segundo J. Herculano Pires, “há um abismo entre o Cristo e o Cristianismo tão grande quanto o abismo existente entre Jesus de Nazaré, filho de José e Maria, nascido em Nazaré, na Galileia, e Jesus Cristo, nascido da Constelação da Virgem, na Cidade do Rei Davi, em Belém da Judéia, segundo mito hebraico do Messias” (Revisão do Cristianismo).
Como o cristianismo, Jesus Cristo nasceu em Nicéia. Nele, Jesus de Nazaré foi transformado em Jesus Cristo, dissolvido na Santíssima Trindade e tornou-se prisioneiro da retórica e da escolástica.
Legitimamente, o Jesus pré-cristão perdeu-se no Jesus cristão, Jesus Cristo, Messias, um judeu rejeitado pelos judeus, mas adorado pelos cristãos.
Com o cristianismo foi iniciado um longo período de negação da verdade, pela imposição de uma verdade final, desmentida ao longo dos séculos.
O cristianismo começou a se desfazer com a renascença.
Quando e Espiritismo surgiu, o cristianismo já estava em decadência. Nos novos tempos, uma consciência pós-cristã recupera da proposta de Jesus de Nazaré sua essência, sob uma linguagem positiva. Esta é a proposta do Espiritismo como a Ciência da Alma, não de um povo, não de uma região, mas de todos os espíritos.


Nota da Redação: Este texto foi encontrado entre os arquivos deixados por Jaci Regis. Talvez tenha sido o último esforço intelectual desse grande pensador, escrito cinco dias antes de sua internação.

Abrindo a Mente - Uma entrevista com Hernani Guimarães de Andrade

Entrevista com Hernani Guimarães de Andrade

Alexandre Cardia Machado

Em 1971 O Clarin publicou um livro de 80 páginas chamada A Matéria Psi, o livro na verdade é uma entrevista com Hernani G. Andrade (HGA), seguido de uma palaestra do autor.

Selecionei algumas perguntas e respostas muito interessantes e atuais referentes ao principal foco de pesquisas deste eminente cientista Brasileiro.

Sobre a “teoria corpuscular do espírito” – HGA - “ Penso que tudo o que existe deve ter um fundamento físico natural . Considero a matérial como um caso particularíssimo de algo substancial e energético muito mais amplo” referindo-se aos limites do conhecimento ele diz “ as barreiras conceituais discriminatórias vem caindo uma a uma. Assim, a barreira entre energia e massa caiu com a Teoria da Relatividade de Einstein.as fronteiras entre vivos e o inanimado praticamente caíram com as experiências de Fraenkel – Conrat e Robbley Willians quando estes sintetizaram o virus mosaico do tabaco”.

Estas expriências foram realizadas em 1955 na Universidade de Berkley na Califórnia – os citados cientistas à partir de proteínas básicas, conseguiram construir um virus sintético – ou seja criaram o tipo de vida mais simples existente à partir do RNA. Em 1960 conseguiram descreve a sequencia completa de 158 aminoácidos que compõe a capa deste virus

Quando perguntado sobre adescoberta da “anti-matéria” – grande xodó dos espiritas atuais vejam a resposta de Hernani. “ A anti-matéria interessa, praticamente, só à Física. Crei que pouca ou nenhuma implicação poderia ter com o Espiritismo.”

Sobre a materialização de espíritos o professor emite a opinião de que materializações de fato não ocorrem, não é um processo energético ou seja que envolva – desmaterializar e rematerializar, pois as energias envolvidas seriam astronômicas, mas sim de ideoplastia, ou seja o corpo energético dos espíritos - comunicante e médium - plasmariam o ectoplasma produzindo o fenômeno com muito menos energia.

Hernani é certamente a maior refência brasileira no campo do estudo do espírito, desenvolvendo um vasto material disponível no IBBP. Sobre a sua importância recorro a Nas palavras de Hermínio de Miranda “Engenheiro Hernani Andrade, especialmente a sua proposta "matéria psi", apoiada basicamente na sua "Teoria Corpuscular do Espírito", lançada em 1958. Este livro propunha "uma extensão dos conceitos quânticos a atômicos à idéia do espírito", imaginando um átomo tetradimensional capaz de aceitar os "encaixes" da matéria física de forma a possibilitar a interação espírito/matéria.
As dificuldades de convencer os céticos e os acomodados de uma realidade espiritual, que salta aos olhos e grita, não é minimizada pelo autor. Até mesmo os mais bem intencionados pesquisadores freqüentemente se perdem pelos caminhos, dado que, por excesso de cautelas, parecem "paralisados de medo ante a idéia de descobrir realmente algo novo"
Pensar sobre o novo – abrir a mente este é o nosso objetivo, assim fica o convite à pesquisa.

Para abrir mais a sua mente leia: A Matéria Psi – Hernani Guimarães Andrade – O Clarim; Uma avaliação do Espiritismo no Brasil -

Jaci Régis biografia e vida - por Ademar Arthur Chioro dos Reis

Jaci Regis Um Radical Discípulo de Kardec 




 O espaço destinado a Jaci Regis na história do Espiritismo depende de quem conta a história. O que não se pode negar, entretanto, é que ele é uma das personalidades mais marcantes da história contemporânea do Espiritismo. Um homem que conseguiu questionar e abalar as estruturas do movimento espírita oficial, introduzindo a crítica fundamentada, numa obra profunda, contundente, consistente, contra-hegemônica e..., portanto, profundamente polêmica. Polêmico por natureza, personificou a contradição em toda sua essência. Era, ao mesmo tempo, um homem sensível, culto, repleto de ternura, explosivo, ríspido e autoritário. Acessível às novas idéias, progressista, estimulou e defendeu a adoção de comportamentos responsáveis e livres de preconceitos no que diz respeito à sexualidade e à liberdade, fundamentais para a construção da felicidade humana, que compreendia como diretamente ligada à busca do prazer. 

Por outro lado, era politicamente conservador, um liberal clássico na acepção da palavra, que nutria exagerada antipatia ao socialismo e a esquerda em geral. Filho de Octávio Regis e Izolina Adriano Regis, espíritas praticantes, nasceu em Florianópolis, em 30 de outubro de 1932, sendo o sexto filho de uma prole composta por oito irmãos: Otávio, Arnaldo, Francisco, Albertina, Mariazinha (já falecidos), além de Ivon, Luci e Egydio. Fez o curso primário nesta cidade catarinense, onde começou a frequentar o Catecismo Espírita e, mais tarde, a Mocidade Espírita. No início de 1947 veio para Santos com a família e em novembro deste ano entrou para a Juventude Espírita de Santos, recém-fundada pelo Centro Espírita Manoel Gonçalves.

 A partir daí começa a sua exitosa trajetória de líder, divulgador e pensador espírita, destacando-se pela sua inteligência, impulsividade e criatividade. Em 1949, quando a Juventude, já então denominada Mocidade Espírita Estudantes da Verdade (MEEV), mudou-se para o Centro Beneficente Evangélico, assumiu a liderança da mesma (tinha então 17 anos) com a transferência de Alexandre Soares Barbosa, fundador e grande polarizador dos jovens, para a cidade de Araraquara. Em 1952 liderou o movimento que assumiu a direção do Centro Beneficente Evangélico. A partir daí esse centro tomaria um rumo diferenciado dos demais. 

Por sua sugestão, a casa mudou o nome para Centro Espírita Allan Kardec (CEAK). Em 1962 liderou outro movimento composto por um grupo de jovens que assumiu a direção da Comunidade Assistencial Espírita Lar Veneranda, fundada em 1954, da qual foi presidente por 32 anos. Sua gestão foi marcada por grandes realizações, culminando com a construção de um belo prédio, sede da creche que atende hoje 130 crianças e 80 mães, e outro para a escola (posteriormente vendido) que continua atendendo 60 crianças. Participou destacadamente do movimento juvenil no Estado de São Paulo, sempre combativo e inovador. Foi um dos fundadores da União Municipal Espírita de Santos (UMES), em 1951, sendo seu primeiro vice-presidente. Foi idealizador e presidente da Divulgação Cultural Espírita (Dicesp), órgão da UMES, desenvolvendo um grande trabalho de divulgação. Jovens da MEEV, editavam o jornal Espiritismo, que posteriormente fundiu-se com o jornal Mensageiro da União, órgão da UMES, surgindo o "Espiritismo e Unificação", do qual foi diretor e editor por mais de 23 anos, em companhia de José Rodrigues, que faleceu também em 2010. 

A partir das divergências e disputas encetadas com o segmento religioso da UMES, fundou a Livraria Cultural Espírita (Licespe), vinculada ao Lar Veneranda. E o Jornal ABERTURA, em 1987, do qual foi presidente e redator até o seu desencarne. Por cinco décadas foi membro do Conselho Diretor e participou de atividades doutrinárias no CEAK, do qual foi presidente por 12 anos. Em 1999, afastou-se do CEAK e fundou o Instituto Cultural Kardecista de Santos (ICKS), entidade ligada ao Lar Veneranda, que presidiu até o seu desencarne. Também presidia, desde 1994, o Conselho Deliberativo do Lar Veneranda. 

Sempre empreendedor, criou em 2009 uma OCIP, denominada Lar Ven, para cuidar dos cursos profissionalizantes ministrados no Edifício Jaci Régis, pertencente ao Lar Veneranda e sede do ICKS e do Lar Ven. 

 Escreveu as seguintes obras: A Mulher na Dimensão Espírita, em parceria com Nancy Puhlmann Di Girolamo e Marlene Rossi Severino Nobre (1975), Amor, Casamento & Família (1977), Comportamento Espírita (1981), O Poder no Movimento Espírita (1981), Uma Nova Visão do Homem e do Mundo (1984), Caminhos da Liberdade (1990), o romance As Muralhas do Passado (1993) Introdução À Doutrina Kardecista (1997), A Delicada Questão do Sexo e do Amor (1999), Doutrina Kardecista - Uma releitura da Obra de Allan Kardec (2005), Novas Idéias - Textos Reescritos (2007), Doutrina Kardecista - Modelo conceitual (2008) e Novo Pensar - Deus, Homem e Mundo (2009). 

Dirigente, orador, divulgador do Espiritismo, escritor, jornalista, por décadas dedicou-se à causa espírita, desempenhando inúmeros e relevantes papéis. Poucos, entretanto, sabem que Jaci, muito embora tenha cedo iniciado seu contato com a mediunidade, dirigindo reuniões por muitos anos, tardiamente desenvolveu faculdades mediúnicas, tendo contribuído por muitos anos como médium em reuniões de desobsessão, assistência espiritual e de pesquisa mediúnica no CEAK. Por 17 anos interrompeu suas atividades mediúnicas, mas há pouco mais de um ano as tinha retomando nas reuniões do Gabinete Psico-Mediúnico do ICKS. 

Era casado com Palmyra há 57 anos, companheira dedicada que conheceu na época de mocidade espírita e com a qual teve 6 filhos: Valéria (pedagoga), Rosana (assistente social), Gisela (bióloga), Cláudia (psicóloga), Fernando Augusto (médico) e Marcelo (engenheiro). Seus genros, Junior Oliveira, Roberto Rufo e Alexandre Machado, inspirados em seu exemplo e dedicação, tornaram-se militantes espíritas muito valorosos. A maioria dos seus 11 netos participa ativamente da MEEV. Atualmente o Lar Veneranda é dirigido por sua filha, Valéria Regis Silva, e sua numerosa e devotada família participa ativamente na gestão desta entidade, bem como do Jornal Abertura, do Lar Ven e do ICKS. Trabalhou durante 30 anos, até aposentar-se, na Refinaria Presidente Bernardes - Petrobrás, chegando a cargos de chefia de departamentos. Formou-se em Economia, Jornalismo e Psicologia. Freudiano assumido, era psicólogo clínico e até o seu desencarne exercia intensa atividade profissional, que influiu decisivamente para que se dedicasse a abordagem de temas relacionados ao comportamento humano, a sexualidade, a família, a personalidade humana e suas relações com os problemas afetivos e psíquicos. 

Desenvolveu, ao longo da década de 90 do século passado, uma teoria a que denominou Espiritossomática, procurando estabelecer pontos de confluência e a construção de uma práxis terapêutica a partir das contribuições doutrinárias do Espiritismo e de outras áreas da Psicologia, em particular a psicanálise. 

Era expositor e autor que fazia (e continuará fazendo) muito sucesso entre os jovens e espíritas livre-pensadores, desprovidos de preconceitos, tocados pelos argumentos e pela abordagem moderna, aberta, fundamentada e consistente com quem lidava com os mais diversos temas doutrinários e problemas humanos. Um autor que possuía um estilo peculiar, de reconhecida competência. Sua pena produzia há décadas ensaios e crônicas, publicadas em jornais e livros, de rara sensibilidade e ternura, que tocam as mais profundas fímbrias de nossos corações e mentes. Um texto sensível e criativo, sem que recorresse à mesmice que caracteriza a literatura espírita. Ao mesmo tempo, era capaz de produzir artigos, trabalhos, textos e livros de cunho doutrinários que se constituíram em verdadeiros clássicos da literatura espírita contemporânea, indispensáveis aos estudiosos da Doutrina Espírita. Desenvolveu uma linha de raciocínio e argumentação extremamente fundamentada e consistente, a partir dos postulados de Kardec – que conhecia como poucos. 

Era um líder nato e grande realizador. Não há dúvidas de que o Lar Veneranda foi a grande obra de sua vida, pois embora tenha tido inúmeros e valorosos colaboradores, sua obstinação, competência e liderança foram fundamentais para erguer e consolidar esta instituição modelar. Sua contribuição intelectual ao pensamento espírita, por outro lado, foi sendo desenvolvida e aperfeiçoada num processo no qual se destacam três fatos de fundamental importância na definição de sua obra: a "descoberta" de Freud e sua formação psicanalítica, no curso de Psicologia; o acesso às informações contidas na Revista Espírita, o que lhe permitiu um aprofundamento e a contextualização do pensamento de Kardec; e, por fim, a elaboração de uma proposta de re-leitura de Kardec, uma reconceituação das atividades doutrinárias, de modo a adequá-las aos princípios e objetivos do Espiritismo, num movimento criado e difundido a partir de 1978, ao qual denominou "Espiritização", que alcançou grande repercussão no movimento espírita. Constituiu-se, sem dúvida, no mais contundente e consistente crítico do Espiritismo evangélico/cristão e do não assumido roustanguismo da Federação Espírita Brasileira.

Denunciou a concentração de poder nas mãos dos conservadores dirigentes das federativas e suas nefastas consequências. Impulsionou, a partir de meados da década de 80, a discussão em torno do caráter religioso do espiritismo, defendendo vigorosamente que o espiritismo não é uma religião, combatendo a incorporação de práticas e rituais religiosos pelo movimento e as distorções no uso e prática da mediunidade. Foi um dos líderes, em 1986, da chapa de oposição à USE-SP, que terminou amplamente derrotada. A este processo seguiu-se uma verdadeira caça às bruxas, que objetivava isolar todos aqueles que de alguma forma estavam próximos ao "Grupo de Santos", ou seja, os influenciados e/ou liderados por Jaci Regis. Foi deliberadamente satanizado, rotulado de obsedado por seus "fraternos" inimigos. A divulgação do jornal por ele dirigido e de seus livros foram proibidos. 

Deixou de ser convidado para proferir palestras e conferências. As entidades do movimento de unificação do Espiritismo brasileiro procuraram isolá-lo, crentes que desta forma conseguiriam sufocar a crítica à deturpação do Espiritismo por eles transformado em uma religião conservadora e assim sufocar a retomada de um movimento genuinamente kardecista, progressista e laico. Buscando construir uma estratégia que pudesse romper o isolamento dos espíritas kardecistas que haviam sido excluídos e marginalizados (ou que se auto-excluíram por não suportarem mais as condições impostas pelo movimento oficial), idealizou e realizou em 1989 o I Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita (SBPE), bianual, destinado a estimular a produção doutrinária de espíritas encarnados, que este ano atingirá a sua 12a edição ininterrupta. Jaci Regis proporcionou com o SBPE um reencontro de antigos líderes espíritas e o surgimento de uma nova e promissora geração de dirigentes espíritas. Com isto, houve um grande fortalecimento e a definitiva capilarização da CEPA em todo o território nacional, que culminou com a criação da CEPABrasil, que tradicionalmente realiza suas assembléias durante esse evento. Proferiu palestras e conferências em vários eventos internacionais realizados pela CEPA.

Assim, tornou-se conhecido (e suas idéias reconhecidas) na Argentina, Venezuela, Espanha, etc., bem como seus livros e artigos traduzidos para o espanhol. Inicialmente manteve uma posição de autonomia em relação à entidade, mas aos poucos foi se aproximando, culminando com a adesão do ICKS à CEPA e a sua participação, em parceria com Milton Medran, da Secretaria Editorial do Conselho Executivo da CEPA, eleito em Porto Rico, para a gestão 2008-2012. Embora tenha participado ativamente de seus eventos e seja responsável por vasta contribuição intelectual ao debate de ideias no seio desta instituição, manteve sempre uma relação extremamente tensionada, quase conflituosa. Na última década “sacudiu” o movimento espírita laico dirigido pela CEPA, a quem prioritariamente procurava estabelecer um diálogo, ao propor novos rumos para o espiritismo a partir de algumas ideias que sintetizam parte dos consensos construídos no interior deste movimento nos últimos anos com outros conceitos e propostas instigantes e polêmicas. 

Concebeu um Novo Modelo Conceitual, com o qual se propunha a reescrever o modelo espírita, e a Doutrina Kardecista, que finalmente vinha denominando Ciência da Alma. Em setembro de 2010 esteve presente no II Encontro Nacional da CEPABrasil, em Bento Gonçalves, discutindo em toda a radicalidade o seu Modelo Conceitual e a Ciência da Alma. Tratam-se de contribuições fundamentais que devem ser amplamente debatidas e aprofundadas, dado o alcance e repercussões das proposituras ali contidas. Era sem dúvida um espírito complexo e profundamente polêmico: íntegro, direto, inquieto, impulsivo, autoritário, muitas vezes ríspido. 

Ao mesmo tempo era um homem sensível, sereno, amável, carinhoso e profundamente benemerente. Entre os adeptos do Espiritismo e dirigentes espíritas, é admirado por muitos, odiado por tantos outros, mas respeitado por todos. Um espírita que ousou romper a mediocridade reinante. Alguém que contribuiu como poucos (e ainda contribuirá por muito tempo) com o estudo e a divulgação do Espiritismo, comprometido de fato com o pensamento de Kardec, numa dinâmica libertária, capaz de produzir uma nova visão do homem e do mundo. 

Um dirigente espírita influenciou profundamente a cada um dos que com ele conviveu ou teve acesso a suas ideias e pensamentos. Um líder na essência da palavra, com seus erros e acertos, defeitos e virtudes. Uma vida dedicada com amor e paixão ao Espiritismo. Inquestionavelmente, uma das grandes personalidades espíritas do século 20 e da primeira década do 21. Até a véspera de sua internação na Santa Casa de Santos, em decorrência de insuficiência renal crônica, vinha trabalhando normalmente em seu consultório e em suas atividades doutrinárias. Mas o corpo cansado, embora tenha deixado a UTI por 2 dias, não mais resistiu. Jaci Regis desencarnou no dia 13 de dezembro de 2010, aos 78 anos de vida, em Santos, após 45 dias de hospitalização. Retornou ao mundo dos espíritos, onde queridos companheiros devem (em festa) tê-lo recebido. 

Deixa-nos, entretanto, com a firme convicção de que a partir desta data o clima de contemplação e tranquilidade idealizado por muitos para caracterizar o mundo dos espíritos estará com os dias contados. Em breve, o mais radical discípulo de Kardec estará de volta, com toda a sua genialidade e inquietude, produzindo entre encarnados e desencarnados novas reflexões, desmobilizando o conservadorismo reinante, instigando a todos a dar continuidade à permanente atualização do pensamento espírita, a buscar incansavelmente o conhecimento e o crescimento espiritual. E, ao mesmo tempo, envolvido nas tarefas de acolhimento aos que padecem de sofrimentos psíquicos e morais e que necessitarem de sua ajuda qualificada e amorosa. 

O desencarne de Jaci Regis, por tudo que ele representa para incontáveis espíritas em todo o mundo, não será o fim de uma história. Não extinguirá a trincheira libertária que ele abriu nas mentes de várias gerações de espíritas. O movimento emancipatório que ele liderou terá continuidade. Caberá a cada um de nós, que ao longo de nossas vidas nos iluminamos a partir de suas ideias, dar continuidade, de alguma forma, às diversas frentes que esse homem (insubstituível) plantou, cultivou e viu florescer. Cuidar desse imenso jardim não é tarefa para poucos, mas terá continuidade. 

 Ademar Arthur Chioro dos Reis

Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.

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