quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Entrevista com Jaci Régis - Blog Observador Espírita

Texto obtido no blog – Observador Espírita de Delmo Duque dos Santos autor do livro Nova História do Espiritismo. A ele Jaci deu uma entrevista por telefone em 2010, que aqui publicamos inteiramente.

“Para os novos simpatizantes e pesquisadores do Espiritismo, o psicólogo e escritor Jaci Régis realmente não dispensa apresentações. Ativista histórico, começou no movimento espírita liderando a mocidade Estudantes da Verdade, cuja primeira empreitada foi mudar o nome da casa que frequentavam: saiu o Centro Beneficente Evangélico e nasceu o Centro Espírita Allan Kardec, até hoje em funcionamento. Jornalista sindicalizado, editou durante muitos anos o periódico Espiritismo e Unificação, mudado nos anos 1980 para o provocativo nome “Abertura”. Criado na onda da redemocratização do País, o jornal continua ativo e sempre aberto aos novos articulistas. ... Sua trajetória jamais deixará de ser associada ao chamado Grupo de Santos, formado por pensadores de vários lugares do Brasil e da América Latina que enxergam o Espiritismo de uma forma bem diferente daquilo que é praticado pela maioria dos espíritas. É o espiritismo laico, não religioso, voltado para as questões sociais e cotidianas e não somente para os problemas espirituais. Só esses dois adjetivos são suficientes para avaliar as repercussões e o incômodo que ele causa entre os espíritas tradicionais.

Mas Jaci não é nada daquilo que pintam sobre ele, sobretudo o líder radical e intolerante desenhado pelos que se sentem inseguros e impotentes diante de suas idéias e da coragem de divergir da maioria. É uma pessoa fraterna, muito franca, bem-humorada, sensível, enfim, um típico espírita que convence mais pela forma como age do que propriamente pelo que pensa. Ele sua esposa Palmira , com a ajuda dos filhos e de alguns amigos, dirigem há muitos anos o Lar Veneranda e mais recentemente o Instituto Cultural Kardecista , dois espaços muito conhecidos em Santos. O Lar é uma típica obra social espírita, da qual Jaci sempre diz que é simples obrigação de cidadão: “Não me sinto nada caridoso fazendo isso”. Já o ICKS é trabalho de prazer e combate ideológico, espaço de cultura, de agitação e realização de eventos, principalmente o Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita.Também nos concedeu uma interessante entrevista sobre todas essas coisas a seu respeito e também sobre a sua última novidade. ”

OE - A religião continua sendo um equívoco dentro do movimento espírita? 

JR - Sem dúvida. Na medida e que o Espiritismo se torna uma religião, perde a flexibilidade evolutiva que lhe caracteriza a estrutura criada por Allan Kardec. A religião, por definição, apóia-se em verdades absolutas e por afirmações dogmáticas. 

OE- Por que os espíritas têm tanta dificuldade para romper com os laços religiosos e cultivar uma religiosidade mais natural? 

JR - Devemos ter em mente que as estruturas religiosas se sedimentaram em nossa mente através das reencarnações. Romper com elas é tarefa de reflexão, meditação, raciocínio e decisão. Isso acontece quando a pessoa consegue superar o medo de ficar desamparada pelo divino e compreende que o divino se manifesta diariamente na vida de todos. 

OE- Você acredita que Kardec estranharia o atual movimento espírita no Brasil? 

JR -Creio que sim, porque a forma como foi desenvolvido o Espiritismo no Brasil contraria a linha que ele adotou na criação da doutrina. 

OE- Queiram ou não queiram os antipáticos, o chamado Grupo de Santos formou escola e já entrou para a história do movimento espírita. Como você vê tudo isso? 

JR -O “grupo de Santos” do qual eu fui o principal articulador, teve a coragem, no seu tempo, de apresentar uma visão dinâmica da doutrina em contraposição ao esquema montado por pessoas e Espíritos ligados umbilicalmente ao sentido cristão da vida. 

OE- Você sempre foi muito crítico ao perfil doutrinário da FEB e de outras entidades federativas. Houve alguma mudança na sua opinião? 

JR -A FEB é uma instituição respeitável e lidera a maior parte do movimento espírita. A ela estão ligados os representantes dos centros e federações. Entretanto, desde sua fundação ela seguiu um caminho próprio, diferente do preconizado por Kardec. Esse caminho compreendeu um extremo sentido religioso, místico e até aceitando as teses de Roustaing. Ultimamente se tornou menos inflexível, mas prossegue na sua intenção de liderar o movimento espírita mundial, na feição de corrente evangélico-mediúnica. 

OE- A CEPA é realmente uma alternativa crescente no movimento espírita? 

JR- A CEPA pode se tornar uma alternativa positiva ao Espiritismo mundial, na media que se espalha não apenas na América, mas também na Europa. É numericamente pequena, mas reúne um grupo de espíritas que possui gabarito intelectual para disseminar uma forma de entender o Espiritismo adequado ao progresso e à realidade social. Para isso, contudo, é necessário definir claramente seus objetivos e trabalhar por eles. 

OE- E sobre as práticas espíritas, você considera o passe uma autêntica atividade espírita? 

JR - Hoje em dia se diz aplicação ou transmissão energética, por ser mais adequada ao processo de transmissão de energia humana e magnética. Não se trata de uma prática genuinamente espírita, mas oriunda do magnetismo. Penso que é útil e efetiva quando aplicada de forma consciente e fraterna, sem considerá-la uma panacéia. 

OE- Por que você passou a utilizara expressão “kardecista”, não bastava apenas “espírita”?
JR -Entre as muitas deturpações a que o Espiritismo tem sofrido, incluímos a apropriação de desvio do significado dos termos “espiritismo” e “espírita”. Correntes esotéricas e de base dos cultos africanos se auto denominaram espíritas e as ousadias de dirigentes de centros que se intitulam espíritas criando “doutrinas próprias”, tornou o ambiente confuso, de modo que a palavra “espírita” não significa necessariamente o que Allan Kardec criou. Por isso, acreditamos que a palavra “kardecista” oferece uma apropriada denominação ao esforço que temos feito de reescrever o pensamento de Allan Kardec, adequando-o ao processo evolutivo das idéias e da humanidade. Daí crermos que “kardecista” refere-se mais especificamente ao trabalho original de Allan Kardec, delimitando nosso espaço e definindo nossos propósitos. Certamente jamais a palavra “espírita” será substituída por ter sido criada por Kardec, mas “kardecista” está diretamente ligada ao criador da doutrina. 





OE- Ser kardecista hoje significa ser fiel, sectário e até fanático em algumas situações e agremiações espíritas. O que está acontecendo? 

JR - Ser kardecista é ter conseguido livrar-se dos condicionamentos sectários e ter um novo pensar, dinâmico e reflexivo sobre os problemas humanos, a partir dos enunciados iniciais de Allan Kardec.
OE- Finalmente, o que está desatualizado: Kardec ou o Espiritismo? Kardec é necessariamente sempre sinônimo de Espiritismo? 

JR - Kardec é o criador do Espiritismo. Daí ser a raiz do pensamento espírita agora e sempre. Mas ele deixou claro um caminho de evolução e aperfeiçoamento do corpo doutrinário. Sendo como foi um homem atual, moderno e um pensador sábio, ao constatar que o Espiritismo seria ultrapassado se fosse uma religião ou tentasse ter as respostas absolutas para os problemas da pessoa humana com os conhecimentos de sua época. Por isso, deixou claro que o Espiritismo evoluiria ou morreria. A “morte” do Espiritismo não se dará por desaparecer, mas por perder seu significado progressivo e progressista e quando não puder oferecer ao ser humano uma reflexão cabível e atual sobre si mesmo e seu futuro”.

NR1: Para conhecer o blog Observador Espírita digite: http://observadorespirita.blogspot.com.br/

NR2: Se você quiser conhecer quem foi Jaci Régis: http://icksantos.blogspot.com.br/2011/10/jaci-regis-bibliografia.html?_sm_au_=iMH10HsW67SnZngR 


domingo, 9 de outubro de 2016

Força Estranha, paródia espírita - por Alexandre Cardia Machado

Outro dia conversando com um amigo e assinante de nosso jornal, ele me comentava “nossa, como o Abertura ficou político, depois que você assumiu a redação do jornal!” bem, rebati que esta sempre havia sido a conduta do Abertura e que Jaci Régis não deixava passar questões de política que afetassem a todos os brasileiros. Ele sempre buscava dar um enfoque espírita aos fatos, o que normalmente recaía na questão moral.

Meu interlocutor não se deu por satisfeito e reafirmou, “Não. Está mais acalorado!” no que lhe respondi, é que a discussão política está mesmo mais acalorada, em todos os círculos de relacionamento, mas que nosso jornal abre espaço para todos que tratem do assunto, sob a ótica espírita, está no DNA do jornal que, como já afirmamos antes, nasceu na onda da “abertura política” no período final da ditadura militar.

Resolvi, pesquisar e tomei como base as últimas 12 edições do jornal e comparei com as últimas 12 publicações feitas por Régis. O placar foi 18 x 10, ou seja, realmente estamos dando mais importância às questões políticas seis anos depois, contra fatos não há argumentos. Mas qual o porquê disto é que importa? 

Creio que a resposta passa pela mudança que o país sofreu nestes 5 a 6 anos, saímos da “marolinha” e entramos num “tsunami”  econômico, evidentemente que num ambiente deste questões econômicas, políticas e eleitorais ficaram mais acirradas. Nestes seis anos passamos pelo julgamento do mensalão e mais recentemente atingiu a todos a Lava Jato, como exemplo de uma série de operações em andamento pela Polícia Federal. Culminou com a conclusão do Impeachment da Presidente Dilma Rousseff às 13:35 horas do dia 31 de agosto.

Esta é a função de um jornal, interagir com a sociedade, mantendo-se afastado do partidarismo, como deve ser um jornal independente, buscamos ter credibilidade naquilo que é editoriado no jornal, claro que um redator tem pensamento próprio, mas tem o dever de moderá-lo abrindo o espaço ao diálogo, como deve ser a característica do “Homem de Bem” como bem nos ensinaram Kardec e os espíritos que lhe responderam para a elaboração do Livro dos Espíritos.

Kardec, ao tratar das perfeições morais acrescenta uma importante contribuição que cabe bem ao momento, que de certa forma explica a luta pelo quê cada um acredita, e que muitas vezes não paramos para pensar no que realmente nos motiva:

 “ O homem deseja ser feliz e natural é o sentimento que dá orígem a esse desejo. Por isso é que trabalha incessantemente para melhorar a sua posição na Terra, que pesquisa as causas de seus males, para remediá-los. Quando compreender bem que no egoísmo reside uma dessas causas, a que gera o orgulho, a ambição, a cupidez, a inveja, o ódio, o ciúme, que cada momento o magoam, a que perturba todas as relações socias, provoca dissensões, aniqulia a confiança, a que o obriga a se manter constantemente na defensiva contra o seu vizinho, enfim a que do amigo faz inimigo, ele compreenderá também que esse vício é incompatível com a sua felicidadee, podemos mesmo acrescentar, com a sua própria segurança.”

No período mais calmo que vivíamos há 6 anos, contávamos com a presença física de Jaci Régis que produzía combativos editoriais contra os desvios do movimento espírita religioso. Nosso grupo de articulistas não tem buscado esta confrontação, pois se foca mais no rumo que tomamos enquanto sociedade e como espíritas livre-pensadores. É nossa função discutir aspectos da vida social que a tantos afeta.

Por isso uma força nos leva a escrever, por isso uma força nos leva a tratar mais de política, por isso uma força estranha nos mobiliza, por isso é que escrevemos, mas é também por isso que, mesmo tratando disso, deste tereno árido, buscamos manter a harmonia, pois todos nós pensamos de maneira diferente,  como articulistas temos posições distintas. Por isso é que mostramos várias abordagens.
Por isso que completo este artigo publicando a letra da música de Caetano Veloso, que certamente não tem a mesma visão de mundo que eu, mas que busca pelo caminho da poesia atingir o coração de todos nós, por isso é que todos nós buscamos o Sol sobre a estrada.

  • ·         Eu vi um menino correndo /Eu vi o tempo brincando ao redor /Do caminho daquele menino /
  • ·         Eu pus os meus pés no riacho /E acho que nunca os tirei /O sol ainda brilha na estrada e eu nunca passei
  • ·         Eu vi a mulher preparando outra pessoa / O tempo parou pra eu olhar para aquela barriga / A vida é amiga da arte / É a parte que o sol me ensinou /O sol que atravessa essa estrada que nunca passou
  • ·         Por isso uma força me leva a cantar /Por isso essa força estranha /Por isso é que eu canto, não posso parar /Por isso essa voz tamanha
  • ·         Eu vi muitos cabelos brancos na fronte do artista / O tempo não para e no entanto ele nunca envelhece /Aquele que conhece o jogo, do fogo das coisas que são / É o sol, é a estrada, é o tempo, é o pé e é o chão
  • ·         Eu vi muitos homens brigando, ouvi seus gritos / Estive no fundo de cada vontade encoberta /E a coisa mais certa de todas as coisas /Não vale um caminho sob o sol / E o sol sobre a estrada, é o sol sobre a estrada, é o sol


É isso, e por isso que escrevemos.