terça-feira, 26 de julho de 2016

O sorriso de Diegues - por Mauro Spinola

Coluna do CPDoc julho 2016 - Jornal Abertura - Julho 2016

O sorriso de Diegues

Havia pessoas maduras e jovens naquele grupo, todos espíritas e apaixonados pelo espiritismo. Em suas respectivas cidades, cada um militava pelo aprimoramento do movimento espírita. Antigas e novas batalhas os uniam: por menos igrejismo e evangelização, por mais pesquisa e espiritização, por menos sincretismo, por maior abertura de ideias.  Representavam um grupo pequeno, mas muito ativo, espalhado por todo o Estado de São Paulo e por outros pontos do Brasil. Possuíam conexão com espíritas de outras nações, com visões também libertárias, desvinculadas das amarras do religiosismo dominante no Brasil.

Henrique Diegues aos 89 anos na reinauguração da praça Allan Kardec em Santos, 2012 durante o XXII Congresso Espírita Pan-americano.


Realizavam no início de 1986 várias reuniões, todas muito animadas – ora em São Paulo, ora em Santos – para preparação de uma proposta inovadora para a USE (União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo), da qual todos participavam. As ideias borbulhavam. Era sim possível construir um movimento mais dinâmico, calcado no conhecimento e no debate de ideias, alinhado com o desenvolvimento das ciências e da própria sociedade. Foram desenhados projetos arrojados de transformação: congressos com apresentação de pesquisas e livre expressão do pensamento, cursos centrados na obra completa de Allan Kardec (não só em O Evangelho Segundo o Espiritismo), atividades para a infância baseadas na cultura geral e no espiritismo (não limitadas pelo discurso da evangelização infantil), seminários para análise profunda das questões morais e sociais, livres do moralismo vigente. Uma busca essencial: o foco no ser humano, na existência humana, na liberdade de pensamento e ação, na vida intensamente vivida e não na vida após a morte.

Praça Allan Kardec -Em Santos -iniciativa de Henrique Diegues


O grupo decidiu montar a chapa "Unificação, hoje! Para os novos tempos uma nova USE” e concorrer às eleições da USE, que se aproximavam. Haveria, certamente, muitos questionamentos, pois as ideias que ali se discutiam de forma alguma representavam o pensamento hegemônico entre os que dirigiam o movimento espírita no Estado de São Paulo ou do Brasil. Pelo contrário, algumas das antigas batalhas – como a que propunha a substituição da evangelização infantil por atividades educacionais centradas no espiritismo – já haviam causado anteriormente grande tensão. Não havia faltado acusações de que aquelas pessoas eram contra Jesus e Deus, que pretendiam destruir o espiritismo, e assim por diante.

Ciente das dificuldades que enfrentaria, o grupo se deparou com uma questão delicada. Quem seria o candidato a presidente? Poderia ser o jornalista editor do mais autêntico, polêmico e atacado periódico espírita? Seria melhor que assumisse o arquiteto que articulou a chapa em formação? Teria melhor resultado colocar um dos jovens que participavam do grupo ou mesmo um dos experientes e respeitados dirigentes espíritas de São Paulo? Em meio às várias opções aventadas, alguém propôs o nome de Henrique Diegues, o veterano participante daquele grupo e do Centro Espírita Beneficiente Ângelo Prado, de Santos. Os olhos de todos brilharam. Não poderia haver melhor proposta.
Henrique Diegues estava presente, junto com sua amada e amável Nair, em todas as reuniões. Seu sorriso se destacava (e contrastava) nos momentos de maior preocupação. Suas palavras sóbrias davam cor diferenciada às angústias e dúvidas que apareciam naquele ambiente de grande agitação. Ele aceitou de imediato a indicação.

Começou a campanha e nem tudo foi flores. A chapa concorrente, denominada “Tríplice Aspecto”, que se apresentou depois, colocava-se claramente como o antídoto contra a destruição da religião espírita. A chapa “Unificação, hoje!” viajou por todo o Estado, levando a sua proposta. Hospedagem no local nem sempre havia. Muitas foram as vezes que o grupo se apresentou com exíguo espaço de tempo e depois ouviu do dirigente local que ele e toda a cidade apoiavam a outra chapa. Como numa guerra santa, não faltaram ataques e insinuações sobre as intenções e o caráter dos colegas da chapa inovadora. Henrique Diegues deixou claro em entrevista dada ao jornal "Espiritismo e Unificação" que "o nosso propósito é sobretudo servir à Doutrina, como temos feito ao longo de mais de trinta anos". Esclareceu que não havia nenhuma intenção ideológica, pois as diretrizes para a USE eram estabelecidas pelo Conselho Deliberativo Estadual.

Nos momentos de maior cansaço ou indignação, a palavra madura de Diegues constituía a paz que o grupo necessitava. Ela foi essencial para que não faltasse energia até a reta final.
Chegou o dia da Assembleia e os representantes de todo o Estado se reuniram em São Paulo para a grande decisão. Alguns participantes do grupo diziam que havia chance para uma (improvável) surpresa e a chapa poderia ganhar. Henrique Diegues não se aventurou em prognósticos, mas manteve seu sorriso sóbrio. No momento da apresentação da chapa, ele representou o grupo, sintetizando as principais ideias. Mostrou que nenhum perigo havia, que o progresso proposto se construiria com união e integração.

A Assembleia foi tensa. Calúnias e ataques continuaram correndo nas articulações. O representante de uma cidade do oeste do Estado, que havia viajado de ônibus por mais de 500 Km, foi desautorizado por seus pares no momento que se levantou para votar. Com uma nova e surpreendente procuração, um outro representante votou em favor da outra chapa. A derrota, ao final, foi massacrante: 63 votos a 13 para a chapa concorrente.

Ao término do dia, o grupo avaliou que havia dois legados essenciais. O primeiro foi a oportunidade de debater e dialogar: a discussão e a reavaliação de conceitos que a chapa promoveu deixava marcas para todos os debates que viriam pela frente. O segundo e mais delicioso legado foi a lembrança do sorriso sóbrio de Henrique Diegues. A chapa cumpriu o seu papel e ele estava satisfeito. Fomos para casa com esse presente e a certeza de que aquela caminhada estava apenas começando.

No mês de março de 2016 morreu, aos 93 anos, o amigo, militante e dirigente espírita Henrique Diegues. A lembrança e o registro de seu papel no episódio da eleição de 1986 fica como uma singela, porém muito grata e justa homenagem a esse grande espírita.

A seguir publicamos a proposta da Chapa Unificação:








DIFERENÇA ENTRE SOLIDARIEDADE E GENEROSIDADE - por Roberto Rufo

                                                                       


                SOLIDARIEDADE é um ato de bondade com o próximo, um sentimento de união de simpatias, interesses ou propósitos entre os membros de um grupo. Literalmente, significa:
  • Cooperação mútua entre duas ou mais pessoas.
  • Interdependencia entre seres e coisas.
  • Identidade de sentimentos, de idéias, de doutrinas(1).


                    Na Sociologia existe o conceito de SOLIDARIEDADE SOCIAL, que subentende a idéia de que os seus praticantes se sintam integrantes de uma mesma comunidade, portanto, sintam-se interdependente.
                    
                    GENEROSIDADE é a virtude que a pessoa tem quando acrescenta algo ao próximo. Generosidade se aplica também quando a pessoa que dá algo a alguém tem o suficiente para dividir ou não. Não se limita apenas em bens materiais. Generosos são tanto as pessoas que se sentem bem em dividir um tesouro com mais pessoas porque isso as fará feliz, tanto quanto aquela pessoa que doará um tempo para outros sem a necessidade de receber algo em troca.
       
                    Segundo René Descartes, em Tratado das paixões e também nos Princípios de Filosofia, a generosidade é apresentada como uma despertadora do real valor do eu e ao mesmo tempo como mediadora para que a vontade se disponha a aceitar o concurso do entendimento, acabando assim, a causa do erro. Nesse caso, passa a ser um conceito de mediação entre a vontade e o entendimento (1).


terça-feira, 12 de julho de 2016

Jesus, este mito que me atormentava - por Marco Videira

Texto revisado: O texto original, passou por um processo de revisão e aprofundamento, o manteremos ao final, para aqueles que gostam de comparações. substituímos pelo texto revisado em 2020.

Tema: Jesus, este mito que me atormentava

 

 

Índice

 

 

Tópicos

Página

1

Introdução

2

2

Objetivo e Público Alvo

2

3

Mito: definição

3

4

O motivo para escrever este texto

3

5

Espiritismo  versus  Jesus  versus  Religião

4

6

Fanatismo: sinal da falta de cultura ?

5

7

Experimentos Científicos   versus 

6

8

Escolas que discutiram sobre a natureza de Jesus

7

9

O significado dos nomes: Jesus, Cristo e Jesus Cristo

9

10

Jesus pelo mundo

9

11

Diferentes visões sobre o papel de Jesus

10

12

Jesus: poucas evidências históricas

11

13

Crítica Textual aplicada aos escritos sobre Jesus

13

14

Composição da Bíblia

14

15

A histórica de Jesus é calcada nos deuses da mitologia ?

15

16

Nascimento de Jesus:   data  versus cidade  versus  local

16

17

Jesus dos 13 aos 30 anos

17

18

Pregação de Jesus:   início  versus  término

19

19

Morte de Jesus

20

20

Propagação da doutrina cristã

21

21

Conclusão

23

22

Agradecimentos

25

23

Cronologia

26

24

Bibliografia

29

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jesus, este mito que me atormentava.

 

  • 1-) Introdução

Em 12/07/2016 o blog do ICKS -Instituto Cultural Kardecista de Santos publicou o meu texto, que naquela oportunidade eu intitulei como: Jesus, este mito que me atormenta. Tal texto ainda pode ser encontrado no citado blog.

 

Posteriormente, apresentei este trabalho em alguns eventos: no XV SPBE-Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita, realizado em Santos em 2017; um resumo do mesmo foi publicado no Jornal Abertura – edição 340 – jan/fev-2018; na reunião do CPDOC-Centro de Pesquisas e Documentação da Doutrina Espírita, realizada em Santos em 2019 e nesse mesmo ano no CEAK-Centro Espírita Allan Kardec de Santos.

 

Após as apresentações acima citadas e somado às novas leituras, bem como às diversas contribuições de inestimáveis amigos, decidi reeditar o texto; porém desta vez, com um novo título: Jesus, este mito que me atormentava.

 

  • 2-) Objetivo e Público Alvo:

A pretensão deste texto é levar a comunidade espírita a refletir se o papel de Jesus dentro de tal comunidade deve ser enxergado como uma divindade, semelhante ao que é encontrado nas igrejas cristãs, ou como um espírito que foi criado simples e ignorante e progrediu segundo o seu livre arbítrio, desde que Jesus tenha existido. Desde início faço esta provocação sobre a existência ou não de Jesus, com base nas diferentes literaturas que questionam a existência dele.

 

Particularmente, creio na existência de Jesus, mas em hipótese nenhuma, creio que ele seja uma divindade, pois isso colocaria em cheque a essência do espiritismo, acima já mencionada e citada na resposta à questão nº 115, do Livros dos Espíritos: “Deus criou todos os espíritos simples e ignorantes, isto é, sem saber. A cada um deu determinada missão, com o fim de esclarecê-los e de os fazer chegar progressivamente à perfeição, pelo conhecimento da verdade, para aproximá-lo de si”.

 

Para reforçar a distinção entre a interpretação de Jesus para o Espiritismo e para o Cristianismo, faz-se necessário registrar, com base no Dicionário Enciclopédico das Religiões, o papel de Jesus para os cristãos:

  • Reconhecer a Jesus Cristo como verdadeiro Deus e verdadeiro homem, filho único do Pai Eterno;
  • Proclamar que Ele, o Crucificado e Ressuscitado, é o único Salvador, Mediador entre Deus e os homens;
  • Professar a divindade do Espírito Santo, consubstancial ao Pai e ao Filho;
  • Acreditar que a Bíblia contém a revelação de Deus a seu povo.

 

Com base na definição acima, fica claro que o Espiritismo não pode aceitar esse papel de Jesus, pois violaria princípios basilares.

 

 

  • 3-) Mito: definição

“Uma verdade não é difícil desaparecer e uma mentira, quando bem contada, torna-se imortal” – Mark Twain – 1835-1910 – escritor norte-americano.

 

Mito significa relato fantástico de tradução oral, com conteúdo culturalmente significativo, sendo expressões dos conteúdos psíquicos mais profundos do ser humano. Mitos não se comportam necessariamente como mentiras. Como mostra o antropólogo Claude Lévi-Strauss – 1908-2009, por tratarem de contradições profundas das sociedades a que dizem respeito, eles permanecem vigentes para além dos argumentos racionais ou dos dados e documentos que buscam negá-lo. Afinal, muitas vezes é mais cômodo conviver com uma falsa verdade do que modificar a realidade.

 

  • 4-) O motivo para escrever este texto

Em 1985, o meu amigo Arnaldo mudou-se para os Estados Unidos da América e querendo diminuir a sua bagagem, me ofertou, além de várias bugigangas, o livro A Gênese – os milagres e as predições segundo o espiritismo, escrito em 1868 pelo francês prof. Hippolyte Léon Denizard Rivail, que adotou o pseudônimo de Allan Kardec. Guardo até hoje essas lembranças, bem como o livro, o qual contribuiu para aumentar as minhas dúvidas a respeito da crença católica, que conservava àquela época. Falo em aumentar, pois alguns anos antes desse episódio, trabalhei ao lado do meu amigo Rogério, um profundo estudioso da doutrina das Testemunhas de Jeová, quando pude ouvir dele várias interpretações a respeito das passagens bíblicas, as quais são chamadas pelos TJ’s como Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas, de formas diferentes, ou melhor, conflitantes em relação às interpretações que eu tinha, oriundas do Catolicismo.

 

A jornada do Catolicismo até o Espiritismo foi penosa e longa, pois não foi fácil largar a “segurança” das orações e do clima criado durante as cerimônias religiosas, principalmente aquelas invocadas com canções, criando sons vocálicos inebriantes, como as praticadas nas cerimônias Rosacruz, nas quais também deixei algumas pegadas... Quando me lembro desse ritual de passagem, do Catolicismo ao Espiritismo, penso no ator americano de cinema Woody Allen, sempre em busca de uma resposta para as questões de religião, sem falar da morte e do sexo, que completam a trilogia desse cineasta.

 

Não era agradável ouvir do Jaci Régis - grande pensador espírita radicado em Santos/SP desde a juventude e desencarnado em dez/2010 - durante as suas preleções no Centro Espírita Allan Kardec, localizado em Santos/SP, que o Espiritismo não era cristão. Mas com o passar do tempo e com o aprofundamento das leituras sobre o Espiritismo, pude suportar esse “peso”.

 

Todas essas questões e dúvidas levaram-me a escrever este texto, que possui muitas passagens que são cópias literais da bibliografia citada ao final do mesmo, o qual intitulei: Jesus, este mito que me atormentava. O termo atormentar é só uma força de expressão, pois é um tema que me seduz e procuro ler as várias versões/posições a respeito, pela necessidade que sinto de reforçar a minha crença no Espiritismo, de forma racional, pois como disse Allan Kardec no livro A Gênese – capítulo I – item 55: “O espiritismo, marchando com o progresso, jamais será ultrapassado porque, se novas descobertas demonstrassem estar em erro sobre um certo ponto, ele se modificaria sobre esse ponto; se uma nova verdade se revelar, ele a aceitará”.

 

  • 5-) Espiritismo  versus  Jesus   versus  Religião

“Quando o assunto é religião é muito fácil iludir um homem, e muito difícil desiludi-lo” – Pierre Bayle – 1647-1706 – filósofo e escritor francês.

 

A discussão do tema sobre Jesus, de alguma forma, guarda uma relação com os questionamentos sobre se o Espiritismo é uma religião ou não.

 

O assunto é controverso até hoje e foi debatido por Kardec num discurso, por ocasião do “Dia dos Mortos”, publicado na Revista Espírita de dez/1868.

 

Durante tal discurso, Kardec pergunta e responde: “O Espiritismo é uma religião? Ora, sim, sem dúvida, senhores. No sentido filosófico, o Espiritismo é uma religião”.

Kardec prossegue: “Dissemos que o verdadeiro objetivo das assembleias religiosas deve ser a comunhão de pensamentos. As reuniões espíritas podem, pois, ser feitas religiosamente, isso é, com recolhimento e o respeito que comporta a natureza grave dos assuntos de que se ocupa. Pode-se mesmo, na ocasião, aí fazer preces que, em vez de serem ditas em particular, são ditas em comum, sem que por isto as tomem por assembleias religiosas. Não se pense que isto seja um jogo de palavras: a nuança é perfeitamente clara, e a aparente confusão é devida à falta de um vocábulo para cada ideia”.

 

A despeito da posição de Allan Kardec de que o Espiritismo seria uma religião no sentido filosófico; no que se refere ao Cristianismo, Allan Kardec, através das comunicações mediúnicas recebidas, sustenta que o Espiritismo é cristão.

 

No livro O Evangelho Segundo o Espiritismo – capítulo I – O Espiritismo – item 7, Kardec diz: “O Espiritismo é, pois, obra de Cristo, que preside, conforme igualmente o anunciou, a regeneração que se opera e prepara o reino de Deus na Terra”. Inclusive, existem diversas mensagens presentes no citado livro, assinadas pelo Espírito da Verdade, que segundo Kardec, seria o próprio Jesus, uma delas pode ser encontrada no capítulo VI – Instruções dos Espíritos.  Tais mensagens reforçam o papel de Consolador, que muitos espíritas atribuem ao Espiritismo.

 

Além das posições de Kardec, como acima mencionadas, aqui no Brasil, a primazia do aspecto religioso foi dada pelos primeiros dirigentes, em decorrência de fatores culturais e tendências pessoais. Oriundos do Catolicismo, ao adotarem o Espiritismo procuraram a forma como apresentá-lo ao público. Nos primórdios, falou mais alto o suposto mandato dos Espíritos Superiores que teriam se comunicado através de médiuns confiáveis. No núcleo que tomaria para si o comando doutrinário, surgiu a figura do Anjo Ismael, supostamente governador espiritual do Brasil. O parâmetro foi estabelecido sem qualquer relação com o pensamento kardecista, descartado diante da supremacia do mandato provido do “alto”. Firmada e cristalizada a estrutura religiosa, mais uma vez, se procurou adaptar: “Jesus é a porta, Kardec é a chave”, disse o Espírito Emmanuel, reduzindo a Doutrina a mero braço evangélico.

 

Infelizmente não é uma visão humana de Jesus que vemos hoje na maioria dos centros espíritas, pois a figura de Jesus continua a ser cultuada como uma encarnação de Deus.

 

  • 6-) Fanatismo: sinal da falta de cultura ?

Encontramos nas religiões um verdadeiro fanatismo. O termo latino fanaticus vem de fanus – um altar ou um santuário. Designava o benfeitor de um templo ou um indivíduo diretamente inspirado pelos deuses. Cícero, no século I a.C., talvez tenha sido o primeiro a usar a palavra de forma pejorativa – numa de suas orações, o termo vira sinônimo de supersticioso. Centenas de anos depois, Voltarie - 1694–1778 – escritor e filósofo iluminista francês, chegou a uma definição mais próxima daquela que usamos hoje. Para ele, “O fanatismo é uma doença da mente, que se transmite da mesma forma que a varíola”.

 

Em 2016, a 4ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, promovida pelo Instituto Pró-Livro e realizada pelo Ibope mostrou que o Brasil é, basicamente, um país de leitores de Bíblia. No mesmo ano, outra apuração apontou para a ascensão dos livros religiosos e a queda da literatura no país.

 

Já no ano seguinte, mais um indício da supremacia dos livros sacros, cujas vendas novamente cresciam enquanto o comércio de livros científicos diminuía.

 

É o reflexo perfeito de uma população que se preocupa cada vez menos em ouvir vozes divergentes, que aos poucos vai trocando livros formadores por livros religiosos normalmente interpretados de forma oportuna por algum “líder espiritual”. Provavelmente na mesma linha de quem escreveu o folheto a ser mencionado no parágrafo seguinte:

Em janeiro de 2002, quando eu estava com a minha esposa e filhos, a passeio na cidade do Rio de Janeiro, um jovem trajando um uniforme estilo militar, ostentava no peito um bordado com o título Embaixador de Cristo e me entregou um folheto, que guardo até hoje e nele está escrito: “Por natureza, todos nós somos inimigos de Deus. Mesmo quando alguém não acredita nisso” !!??. Depois, o texto segue com outras “ameaças”, para finalmente apresentar Cristo como a solução para todos os problemas.

 

Com os dados aqui apresentados a respeito do incremento de leitores da Bíblia e a diminuição de leitores de literaturas diversas nos induz a crer que a falta de uma cultura heterogênea, cria um ambiente propício ao fanatismo, ou seja, a crença não raciocinada, a qual vai de encontro ao que Kardec preconiza.

 

O escritor peruano Mario Vargas Llosa disse: “Um público comprometido com a leitura é crítico, rebelde, inquieto, pouco manipulável e não crê em lemas que, alguns, fazem passar por ideias”.

 

 

 

 

  • 7-) Experimentos Científicos  versus  Fé

A falta de uma leitura diversificada, abordada no item anterior, favorece a fé num Jesus divino e se soma à possibilidade da fé possuir algum componente biológico. Para explorar isso, alguns experimentos científicos serão citados a seguir, uma vez que há uma corrente da neurociência que defende que a razão caminha em paralelo com as questões de crenças religiosas, ou seja, é algo impossível de se tentar conciliar. Estes experimentos científicos colocam em dúvida se a fé é algo genuíno ou biológico.

 

O cérebro humano é mais inclinado a acreditar do que a desconfiar. Tanto que, quando cremos em algo, nosso impulso natural é buscar informações para confirmar que estamos certos. Quando do surgimento do método científico em diferentes partes do mundo antigo, pensadores como o filósofo grego Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.) começaram a propor métodos de observação sistematizados, baseados em hipóteses, que deveriam ser submetidas a testes controlados, cujos resultados precisavam ser anotados para que conseguíssemos reproduzi-los. A crença pura e simples, a impressão ou a opinião já não bastavam para sustentar o conhecimento.

 

Ainda na linha da corrente da neurociência, citada anteriormente, o neurocientista Michael Persinger, da Universidade Laurentian, no Canadá, conseguiu reproduzir em laboratório algumas experiências religiosas, utilizando um capacete magnético. Os voluntários recebiam pequenas descargas elétricas no lobo temporal (responsável pelo nosso senso de individualidade), causando micro cisões na região. Em resposta, seus cérebros produziam uma série de sensações estranhas, como a impressão de estar saindo do corpo, ouvindo vozes, ou sentir uma presença inexplicável no local. Ih, será que os nossos médiuns “sofrem” desse tipo de descarga elétrica ?...

 

Outro experimento, foi conduzido pelo psiquiatra americano Philip Corlett, professor da Universidade Yale, nos Estados Unidos, que coordenou um estudo, publicado no início de ago/2017 cujo objetivo era provar como os seres humanos são suscetíveis a alucinações, ou seja, “percepções sem estímulos externos”, quando possuem alguma crença, qualquer crença, de cunho religioso ou não. Nesta pesquisa realizou-se um teste em que voluntários foram divididos em quatro grupos, com cerca de quinze pessoas cada um. Num desses times, incluíram-se somente indivíduos que haviam sido diagnosticados com alguma doença psicótica, circunstância que os levava a ouvir sons inexistentes. Em outro grupo ficaram aqueles que sofriam de algum distúrbio psíquico, porém não escutavam vozes; no terceiro, pessoas completamente saudáveis; e, por fim, apenas indivíduos que não tinham sido clinicamente diagnosticados com nenhum problema de natureza psicológica mas declaravam ter alucinações auditivas e as atribuíam a experiências místicas, espirituais ou religiosas. Durante o experimento, por meio da repetição, os cientistas levavam os voluntários a acreditar que poderiam ouvir estímulos sonoros específicos toda vez que visse uma luz. Ocorre que nem sempre os sons eram ativados. A intenção era detectar se as pessoas iriam notificar que haviam ouvido o barulho, mesmo sem ele existir. Neste teste foi possível analisar, por meio de ressonância magnética, o que ocorria no cérebro das pessoas durante o estudo. Conclusão: as que mais ouviram sons inexistentes estavam no primeiro grupo (dos psicóticos) e no último (dos místicos). O pesquisador definiu que alucinações são mais frequentes entre indivíduos que já possuem crenças.

 

A questão da fé é algo extremamente complexa, pois a Associação Mundial de Psiquiatria declara a importância da espiritualidade nos tratamentos de saúde. Uma das explicações é a atuação do chamado eixo "psiconeurimunoendócrino", em que uma emoção positiva seria capaz de alterar a produção de hormônios que, por exemplo, reduziriam a pressão arterial.

 

A fé, palavra que vem do latim “fides”, significa “fiar-se de”, “ter confiança” parece que pode ter algum componente biológico e de certa forma, impactar em nossas crenças cegas.

 

  • 8-) Escolas que discutiram sobre a natureza de Jesus

Considero válido citar que a discussão sobre a natureza de Jesus foi algo muito debatido por parte de várias escolas, que buscavam determinar qual era a natureza de Jesus. Cito abaixo, algumas delas:

 

  • Adocionismo–(século VIII) - é uma das manifestações do Monarquianismo. Entende que Cristo, como Deus, foi feito Filho de Deus pela geração e pela natureza, mas Cristo, como homem, é o Filho de Deus apenas pela adoção e graça, dispensada no momento de seu batismo.
  • Arianismo-(século III) – doutrina dos primeiros anos da era cristã que crê que Jesus, apesar de um ser superior, seja inferior ao Pai.
  • Basilídios – uma das primeiríssimas seitas cristãs não acreditavam que Cristo tivesse morrido na cruz e que outro indivíduo lhe serviu de substituto.
  • Docetismo–(século II) - defende que Jesus era um mensageiro dos céus e que seu corpo carnal era uma ilusão e sua crucificação teria sido apenas aparente.
  • Ebionismo–(século II) - crê em Jesus como um profeta, nascido de uma relação carnal de Maria e José, que teria se tornado Cristo no ato do batismo.
  • Monarquianismo–(século III) -  série de crenças que enfatizam a Unidade Absoluta de Deus, ou seja, são contrários ao conceito trinitário da Divindade.
  • Monofisismo–(século V) – segundo a qual Jesus teria uma única natureza: divina (o Monofisismo foi elaborado por Eutiques em reação ao Nestorianismo).
  • Nestorianismo–(século V) – segundo a qual Jesus Cristo é, na verdade, duas entidades distintas, vivendo no mesmo corpo: uma humana (Jesus) e uma divina (Cristo).
  • Sabelianismo ou Modalismo–(século III) - é a outra manifestação do Monarquianismo e defendia que Jesus e Deus não eram pessoas distintas, mas sim “aspectos” ou “modos” diferentes do trato da divindade com a humanidade.

 

As diferentes escolas citadas traçam um paralelo junto a outros movimentos religiosos ou filosóficos, como a seguir:

 

Os Testemunhas de Jeová e os Mórmons são os modernos Arianos.

 

A posição dos mulçumanos, com base na 4ª Surata (As mulheres) – versículos 157-158, vai ao encontro dos Basilídios, pois eles também acreditam que Jesus foi substituído por outra pessoa, no momento da crucificação.

 

No tocante ao Nestorianismo, registra-se que a doutrina Rosacruz difunde esta ideia dual da figura de Jesus, mencionada no livro “A Vida Mística de Jesus”, onde há o registro de que a entidade divina de Jesus deixou de existir no momento da crucificação (“No momento da entrega do Espírito Santo, ainda na cruz, Jesus deixou que o poder e a autoridade especial retornassem à Consciência Cósmica.”), mas ele, utilizando-se de seus conhecimentos gnósticos, recuperou-se dos ferimentos sofridos pela crucificação e continuou com a sua vida humana.

 

No meio espírita, encontramos quatro posições a respeito da natureza de Jesus: Kardec, Roustaing,  Ramatís e Emmanuel.

 

Para Kardec, Jesus é o modelo de ser humano mais perfeito que Deus ofereceu para servir de guia, conforme resposta à pergunta de nº 625 do Livro dos Espíritos – “Para o homem, Jesus constitui o tipo da perfeição moral a que a humanidade pode aspirar na Terra. Deus no-lo oferece como o mais perfeito modelo e a doutrina que ensinou é a expressão mais pura da Lei do Senhor, porque, sendo Ele o mais puro de quantos têm aparecido na Terra, o Espírito divino o animava”.

 

Uma posição que se coaduna com a escola do Docetismo é a de Jean Baptiste Roustaing (contemporâneo de Kardec), que defendia ter o Cristo um corpo diverso dos demais, de natureza fluídica (agênere). Tal tese é defendida no livro Os Quatro Evangelhos. Esta tese foi refutada por Kardec em artigo da Revista Espírita de 1866, mesmo ano da publicação do citado livro. Registra-se que o livro Os Quatro Evangelhos foi incluído no estatuto da Federação Espírita Brasileira, por Bezerra de Menezes em 1895 e só em 2019, tal livro foi retirado do estatuto.

 

Segundo o médium Hercílio Maes (1913-1993), no seu livro: O Sublime Peregrino, registra as comunicações de um espírito chamado Ramatís, o qual dizia ter sido um filósofo de Alexandria na época de Jesus e foi à Palestina encontrar pessoalmente com ele. Nesta publicação, Ramatís defende que Jesus era um espírito angélico, um sublime médium, o mais qualificado representante da divindade na terra, que teve a plenitude mediúnica alcançada aos 30 anos. Para Ramatís, Jesus é um médium do Cristo Planetário (consciência diretora de um planeta).

 

Entre Roustaing e Ramatís existem alguns pontos em comum, como exemplo: Jesus evoluiu em linha reta sem reencarnar.

Na visão do espírito Emmanuel, que se comunicava através do médium Francisco Cândido Xavier, ele cita no capítulo A Gênese Planetária, do livro A Caminho da Luz, que Jesus quando alcançou o patamar de espírito puro, foi incumbido por Deus para ser o governador do planeta Terra, tendo operado como construtor de tal planeta, desde o início da sua formação, há cerca de 4,5 bilhões de anos

 

Neste tópico do presente texto já podemos tomar conhecimento de como o Cristianismo não teve um início de forma estruturada, com base em dados/fatos suficientemente concretos, uma vez que séculos após a morte de Jesus, ainda se esteja discutindo sobre a natureza dele.

 

Considero que tal discussão só existiu e, ainda existe, pela total falta de documentos originais de inquestionáveis veracidade. Este assunto (documentos verossímeis) será aborda a seguir, nos itens 12 e 13.

 

  • 9-) O significado dos nomes: Jesus, Cristo e  Jesus Cristo

Até o presente momento deste texto, a palavra Jesus foi citada em alguns e em outros a palavra Cristo, para se referir à mesma pessoa. Desta forma, julgo ser necessário expor algo a respeito disso, ou seja, como Jesus (forma grega do seu nome em hebraico – Joshua – “há salvação em Deus”, nome muito comum entre os judeus da época), passou a ser chamado de Jesus Cristo. Cristo vem do latim Christus, que por sua vez vem de Christos, correspondente grego da palavra Messias, e significa literalmente Ungido. O nome Jesus Cristo foi empregado por Paulo de Tarso (missionário de Jesus, nascido em torno de 6 d.C. Paulo não chegou a conhecer Jesus), que também chamava Jesus, só como Cristo, ou seja, Paulo usou a palavra Cristo como se fosse um sobrenome e não como um título: Jesus, o Cristo.

 

  • 10-) Jesus pelo mundo

A ideia de escrever a respeito de um “Jesus histórico” não é nova, pois em 1914, o filósofo e teólogo judeu-alemão Franz Rosenzweig escreveu no seu “Atheistiche Theologie” que uma mudança estava em curso no modo de entendermos a herança religiosa judaica e cristã. No caso específico do Cristianismo, esse viés produziria uma crescente humanização de Jesus, desaguando na obsessão pelo “Jesus histórico”, eliminando, por fim, a ideia de sua divindade.

 

A busca por conhecer Jesus, seja o divino ou o histórico, faz com que no mundo existam mais de 80.000 livros sobre ele.

Segundo a World Christian Encyclopedia, publicação da Oxford University Press (New York) registrou em 2001 a existência de 33.830 denominações cristãs. Dentre elas, encontramos um grupo denominado Jews for Jesus (Judeus para Jesus), que congrega em todo o mundo 1,5 milhão de seguidores. Tal movimento, também chamado de judeus messiânicos não é reconhecido pelos judeus tradicionais, pois estes aguardam um Messias que venha restaurar o Reino de Deus na terra, conforme os preceitos da Torá (livro sagrado do Judaísmo).

 

A divulgação do Cristianismo conta com um exército de missionários espalhado pelo mundo. De acordo com o Centro Global de Estudos sobre Cristianismo, havia cerca de 440 mil missionários atuando pelo mundo em 2018. Só os mórmons possuem cerca de 66 mil missionários. Mas este trabalho dos missionários não é fácil. Por exemplo: no Nepal o proselitismo religioso é ilegal e passível de prisão e deportação.

 

Apesar da figura de Jesus ser extremamente conhecida no Ocidente, faz-se mister registrar que O MUNDO NÃO É CRISTÃO. Segundo o relatório da Pew Research Center em Washington, DC de 2015, através do projeto: Pew – Templeton Global Religious Futures e com o apoio do projeto: Age and Cohort Change da International Institute for Apllied Systems Analysis em Laxenburg, Áustria, o Cristianismo representava 31,2% em relação à população mundial e o Islamismo 24,1%; porém, a continuar o crescimento do Islamismo, na proporção atual, projeções feitas pelo instituto americano Pew Research Center para o ano de 2075 indicam que tal religião superará o Cristianismo, ou seja, em pouco mais de meio século, teremos mais crianças ao redor do mundo sendo ensinadas que o maior e mais importante profeta foi Maomé (Muhammad em árabe, nascido em 570 na cidade de Meca e falecido em 632 na cidade de Medina) e que Jesus foi somente mais um profeta; porém menor do que Maomé, pois segundo a religião Islâmica, Maomé foi o último e o mais importante profeta de Deus (Allah como eles os chamam, que significa Deus Único). Não é só o crescimento do Islamismo que deve contribuir para superar o Cristianismo, mas também a própria diminuição dos adeptos de tal corrente. Entre 2007 e 2014 no EUA, o aumento de ateus e agnósticos foi de 100%, além da perda de 5 milhões de cristãos. No Brasil, em 1980, 2% da população não acreditava em Deus e em 2016  esse percentual era de 9%.

            

  • 11-) Diferentes visões sobre o papel de Jesus

Cada época fez de Jesus o reflexo de suas próprias preocupações. Na França, na época da Revolução (1789), vimos aparecer a figura de um Jesus “sans-culotte” (denominação de trabalhador que participou da Revolução Francesa).

 

Em seguida, por ocasião da Revolução de 1848, a de um Jesus proletário e socialista. No início do século XX, o inglês Houston Stewart Chamberlain, inspirador das teorias nazistas, até retratou um Jesus ariano, que não tinha “uma única gota de sangue judeu”!

 

Não podemos nos esquecer das contendas do povo judeu, com base na proibição de praticar o judaísmo, em 167 a.C., quando do domínio pelos gregos e quando do nascimento de Jesus, pelo governo romano exercido pelo violento e corrupto Herodes. Céfores, capital da Galileia era o símbolo da revolução dos judeus contra os romanos, ou seja, Jesus nasceu num momento onde os judeus clamavam por liberdade, o que leva a alguns historiadores a entenderem que o papel de Jesus foi o de um revolucionário. Estes fatos contribuem para que ao longo dos anos, muitos estudiosos propusessem um papel a Jesus, mais próximo às questões do dia a dia de um ser humano, do que a de um messias divino, que viria resgatar, de forma milagrosa, um povo tão sofrido. Esta visão se coaduna com o Espiritismo, ou seja, a de que Jesus, se existiu, foi uma pessoa qualquer e não um ser divino. Desta forma, abaixo registram-se algumas visões nessa linha:

O alemão Hermann Samuel Reimarus (1694 -1768) foi um dos pioneiros a tentar uma interpretação secular, para entender quem foi Jesus. Ele defendia que os objetivos de Jesus eram basicamente políticos.

 

Uma das visões mais influentes sobre Jesus é a defendida pelo ex-padre irlandês John Dominic Crossan (1934), autor de Quem Matou Jesus?.  Crossan afirma que Jesus teria sido uma versão judaica dos filósofos cínicos gregos. Em outras palavras, um pensador itinerante que atacava as convenções sociais e convidava seus ouvintes a levar uma vida de solidariedade radical.

                                                           

  • 12-) Jesus: poucas evidências históricas

As evidências históricas sobre Jesus são poucas e os religiosos se apoiam na Bíblia para sustentar a existência dele, porém os mais antigos textos completos da Bíblia são o Codex Sinaiticus e o Codex Vaticanus, que remontam ao 4º século (Codex é um texto antigo em forma de livro, em vez de rolo).

 

  • Autores contemporâneos a Jesus  NÃO  o citaram em seus textos:

Seneca o Jovem (Lúcio Aneu Seneca – filósofo estoico – 3 a.C – 65 d.C);

Gálio (Júnio Aneu Gálio – morto em 65 d.C.). Magistrado que, segundo a Bíblia (Atos 18:12-17) teria ouvido o caso de Paulo e expulso-o do tribunal;

Fílon de Alexandria (20 a.C. – 50 d.C.) escritor, cronista político e estadista judeu, considerado o maior filósofo judeu do mundo Greco Romano. Escreveu sobre as religiões marginais e outras seitas judaicas como os Essênios e os Terapeutas. Ele poderia estar literalmente na cena de todos os fatos mais marcantes da vida de Jesus, porém não fez nenhum registro sobre ele.

Com base nos autores contemporâneos de Jesus, seus fiéis são deixados com duas escolhas infelizes: ou os Evangelhos estavam exagerando de forma grosseira a vida e as realizações de Jesus e ele era apenas mais um pregador vagando com uma pequena legião de seguidores, completamente despercebido pela sociedade em geral ou ele era, sem dúvida nenhuma, um personagem mítico.

  • Autores posteriores a Jesus, que citaram o seu nome:

O historiador antigo Flávio Josefo  (37-100) escreveu sobre Jesus no ano de 93 ou 94, quando escreveu suas Antiguidades dos Judeus (capítulo XVIII – página 63), que contém duas passagens controversas que muitos sustentam como evidências históricas para a existência de Jesus. Porém estas passagens estão entre dois textos que se completam, ou seja, tais passagens citando Jesus seriam fraudulentas.

 

A partir do 4º século, o Bispo Eusébio de Cesareia começa a citar as passagens atribuídas a  Flávio Josefo, onde suspostamente, ele menciona Jesus. Na época, o Bispo Eusébio foi criticado pelos seus colegas, por deturpações deliberadas em suas histórias.

O romano Cornélio Tácito (55-120) cita em seu livro: Anais – página 44 do 15º volume “Cristo, de quem o nome cristão teve sua origem, sofreu a extrema penalidade durante o reinado de Tibério, às mãos de um dos nossos procuradores, Pôncio Pilatos” .

 

O romano Suetônio (70-141) cita em seu livro: Vida de Cláudio – capítulo 25 – página 4 -  “O imperador Cláudio expulsou de Roma os judeus que viraram causa permanente de desordem pela pregação de Cristo”.

 

O romano  Plínio, o Jovem (61-114)  cita em seu livro: Carta a Trajano – capítulo X – página 96 -  “Os cristãos têm o hábito de se reunir em um dia fixo para rezar ao Cristo, que consideram Deus, para cantar e jurar não cometer qualquer crime, abstendo-se de roubo, assassinato, adultério e infidelidade” .

 

Há, também, o registro de uma carta, atribuída a Pôncio Pilatos e dirigida ao imperador Tibério Cesar, onde ele faz comentários sobre a figura de Jesus; porém tal carta, a qual possuo uma cópia, cedida gentilmente pelo meu amigo Rogério, faz descrições elogiosas sobre os feitos de Jesus, bem como sobre sua aparência física, que nada se coadunam com a figura perversa que foi Pilatos. Em 35 d.C. Pilatos trucidou muitos samaritanos, o que o levou à Roma para se desculpar com o imperador.

 

Um ponto que gerou muita expectativa quanto às possíveis evidências históricas sobre Jesus, ocorreram com a descoberta dos Manuscritos do Mar Morto (930 documentos escritos entre o século III a.C. e o século I d.C., que foram descobertos entre  1947 e 1956, em 11 cavernas próximas de Qumran, em Israel); porém as traduções desses manuscritos, que foram polêmicas, face às várias mudanças dos profissionais responsáveis, nada revelaram a respeito.

 

Pelo contrário, geraram mais dúvidas, pois nos citados documentos havia menção a um Messias (Mestre da Justiça), líder dos Essênios (“essaioi”, em grego e “esseni”, em latim, que podem ser traduzidos como “aqueles que curam”), mas que historiadores “disputam” diferentes explicações para tal figura. Sem falar na polêmica se tais manuscritos pertenciam aos Essênios, seita que muitos acreditam que Jesus pertencia, ou aos Macabeus.

 

Cabe lembrar que Jesus nada escreveu. A única passagem bíblica que menciona algo é em João 8, 1-11 – “Então Jesus inclinou-se e começou a escrever no chão com o dedo” – esta passagem se refere à mulher flagrada em adultério, a qual para muitos críticos não faz parte do texto original de João, pois foge do estilo dele, mas isto é uma pequena mostra das controvérsias que iremos ver mais adiante. 

 

Há estudiosos que defendem que Jesus era analfabeto. Nenhuma surpresa, pois essa era a realidade daquela época; porém existem passagens bíblicas que mencionam Jesus lendo, como em Lucas 4:16-17... no sábado entrou na sinagoga, e levantou-se para fazer a leitura...

 

O emblemático dessa situação é que os historiadores que foram contemporâneos a Jesus não o citaram em seus escritos. Faço lembrar que a narração bíblica a respeito da morte de Jesus, cita acontecimentos extraordinários, tais como os citados em Mateus 27:50-51: a cortina do Santuário do Templo  rasgou-se em duas partes, a terra tremeu, fenderam-se as pedras e os túmulos se abriram e muitos santos falecidos ressuscitaram, ou seja, são narrações fantásticas que requereriam um registro de tais fatos, mas nada é encontrado fora da Bíblia. Por outro lado, os historiadores que citaram Jesus, o fizeram dezenas de anos após a sua morte, ou seja, a doutrina cristã foi calcada na tradução oral.

 

 

  • 13-) Crítica Textual aplicada aos escritos sobre Jesus

Uma área de estudos que tem acumulado pesquisas a respeito de como os copistas foram mudando as escrituras e sobre como se pode reconhecer onde eles fizeram alterações é a chamada Crítica Textual.

 

O pontapé inicial da Crítica Textual foi dado pelo francês Richard Simon com o lançamento da obra “Uma História Crítica do Texto do Novo Testamento”, em 1689.

 

Os registros a seguir irão relatar as passagens bíblicas e/ou conceitos criados a respeito de Jesus, ao longo dos anos, conceitos estes que não se coadunam com as visões dos recentes historiadores.

 

Os estudos mais recentes, que tentam separar o “Jesus histórico” do “Cristo da fé” tem origem no século XIX, em meio ao protestantismo liberal alemão. Os dois primeiros capítulos do Evangelho de Mateus e os dois iniciais de Lucas são bastante distintos um do outro, a ponto de parecerem inconciliáveis. De cara, divergem sobre a genealogia de José: cada um cita pai, avô e bisavô diferentes. Lucas e Mateus querem vincular José à linha ancestral dos patriarcas judeus, mas nenhum deles tem dados confiáveis para comprovar isso.  Por isso, criaram genealogias com esse intuito, que acabaram se tornando conflitantes.

 

Esses dois Evangelhos também exibem contradições com fatos conhecidos da história. Apenas Lucas narra a viagem de Nazaré a Belém feita por José e Maria para se registrar num censo no qual o mundo inteiro deveria ser contado, sob o governo do imperador César Augusto. Há boa documentação sobre o tempo de César, e não houve nenhum censo durante todo o seu reinado. O 1º censo ocorreu em 74 d.C., durante o reinado do imperador Vespasiano.  Sobre a questão do recenseamento, não podemos deixar de registrar o contraditório, pois Sir William Ramsay, historiador inglês, alega nos seus livros que os recenseamentos se davam periodicamente de 14 em 14 anos e que em 746 a.u.c. (Ab urbe condita - da Fundação de Roma) houve um recenseamento que durou até 748 a.u.c., ou seja, próximo à data sustentada para o nascimento de Jesus.

 

O Cristianismo é uma religião cujos textos fundamentais foram mudados e que só sobrevivem em cópias que diferem de uma para outra, em certos momentos de um modo altamente significativo.

Não temos os originais, como não temos as primeiras cópias dos originais, ou as cópias das cópias das cópias dos originais. O que temos são cópias feitas mais tarde, muito mais tarde (séculos depois). Todas elas diferem umas das outras em milhares de passagens.

 

John Mill – membro do Queens College, Oxford, em 1550 examinou cerca de cem manuscritos gregos para descobrir suas 30 mil variantes.  Hoje temos conhecimento de muitas variantes (temos catalogados 5.700 manuscritos gregos, contendo desde pequenos fragmentos até produções bem maiores).

 

Com este número de fragmentos, estudiosos divergem quanto às variantes, podendo ser de 100 mil a 400 mil.

 

Tudo indica que os livros que registravam os mais preciosos dados históricos a respeito da verdadeira figura de Jesus, foram destruídos pelo incêndio da famosa biblioteca de Alexandria, em 646 da nossa era.

 

Como exemplo das variantes das traduções, cito o Códex Vaticanus datado do século IV d.C. que é um dos mais importantes e antigos exemplares da Bíblia em grego. Neste Códex, a famosa cena da mulher adúltera do “atire a primeira pedra quem não tiver pecado”, não consta desse manuscrito.

·         14-) Composição da Bíblia

A seguir registro algumas informações a respeito da composição da Bíblia, pois este livro é o que serve de sustentação para os religiosos, como evidência da existência de Jesus, haja vista que, como já mencionado aqui neste texto (item 12), as evidências históricas a respeito da existência dele são frágeis.

 

Na minha época de catecismo, era ensinado que a Bíblia fora criada sob a inspiração de Deus e nada se questionava sobre a veracidade dos textos, ou seja, tal livro continha a plenitude dos ensinamentos de Jesus; porém como visto no item anterior (Crítica Textual), a inspiração de Deus se esvai, até porque, cada segmento do cristianismo possui a sua própria Bíblia, ou seja, se fosse a palavra de Deus, materializada em texto, não existiriam essas divergências.

 

A Bíblia abriga na contagem dos católicos 73 livros e 66 na versão de protestantes e evangélicos e 78 na versão ortodoxa.

 

A definição dos livros que entrariam no Antigo Testamento ocorreu por volta dos anos 80 a 100 da era cristã em Jâmnia, no sul da Palestina.

 

A escolha dos quatros Evangelhos foi feita pelo bispo Irineu – Bispo de Lyon da Gália (a França moderna), no ano de 185, quando ele escreve Contra as Heresias – 3.11.7  ...”Pois, dado que há 4 regiões no mundo em que vivemos, 4 ventos principais, ... é adequado que a Igreja deva ter 4 colunas”.

 

Coube ao bispo de Alexandria – Atanásio, durante a 2ª metade do século IV, ou seja, 300 anos depois que os livros do Novo Testamento foram escritos, relacionar os 27 livros que deveriam compor o mesmo.

 

No fim do século IV cristão, o papa Dâmaso encomendou ao maior especialista daquela época – Jerônimo, a produção de uma tradução latina “oficial”, que pudesse ser aceita por todos os cristãos que falavam latim, em Roma e em outros lugares, como um texto oficial. A tradução de Jerônimo se tornou conhecida como a Bíblia Vulgata (comum).

 

Com o advento da imprensa no século XV por Johannes Gutemberg foi impressa a 1ª edição da Bíblia (Vulgata), concluída em 1456.

 

A versão mais popular para um idioma que não fosse o latim coube a Martinho Lutero, que traduziu a Bíblia para o alemão, durante a Reforma Protestante.

 

Foi somente em 1546, no Concílio de Trento, que os 73 livros da Bíblia – 39 do cânone hebraico mais os 7 deuterocanônicos (que não constavam do cânone, mas eram lidos pelos judeus de língua grega) e os 27 do Novo Testamento – foram considerados inspirados por Deus e aprovados oficialmente pela Igreja Católica.

 

Somente com o desenvolvimento da imprensa é que as cópias da Bíblia puderam ter uma maior concisão, mas mesmo assim, novas traduções foram feitas, culminando com a de 1979,  promulgada pelo Papa João Paulo II, a qual se tornou a versão oficial da Igreja Católica – denominada de Nova Vulgata.

 

Atualmente a Bíblia está traduzida para 648 línguas. Estima-se que no mundo, só 250 milhões de pessoas não tenham acesso à Bíblia, por falarem dialetos minoritários e por isso não contam nem com traduções parciais.

 

Os relatos sobre a composição da Bíblia visam demonstrar a fragilidade dela, como um documento de reconhecimento histórico, haja vista que diferentes decisões, de cunho personalistas, ao longo dos anos, tiveram influência direta na composição final hoje conhecida. Reforçando que só em 1.546 !! a Bíblia é aprovada oficialmente pela Igreja Católica.

 

  • 15-) A história de Jesus é calcada nos deuses da mitologia  ?

Peter Joseph, americano e diretor de cinema, produziu um documentário intitulado Zeitgeist, no qual faz várias analogias sobre os acontecimentos da vida de Jesus e os acontecimentos nas vidas de outros deuses da mitologia, como:  Krishna (Índia 3.228 a.C.): Hórus (Egito – 3.000 a.C);  Dionísio (Grécia – 1.500 a.C.); Mitra (Grécia 1.250 a.C.) e Átis (Frígia – 1.200 a.C.).

 

Em alguns deles há a coincidência sobre a data de nascimento: 25 de dezembro; a estrela como símbolo de nascimento; a quantidade de 12 discípulos; a morte por crucificação; o nascimento de uma virgem e a ressuscitação após 3 dias.

 

Como um exemplo mais detalhado dessa analogia, cito o que é encontrado na literatura Hindu, através de um livro chamado Bhagavad-Gita, que em seu 3º volume relata a história da encarnação de Vishnu (espírito conservador do universo) em Krishna. Tal livro traz narrativas similares às encontradas na Bíblia, a respeito do nascimento de Jesus. Inclusive no nome do homem, que iria receber a encarnação: Yésu (a personificação de Krishna). Outro ponto a ressaltar é que em tal livro, Yésu nasce numa manjedoura, local sagrado para os hindus, o que não se pode dizer o mesmo para os judeus.  O detalhe é que o livro ora mencionado é datado do século IV a.C.

 

Não podemos nos esquecer de que o cristianismo nasceu no meio dos judeus e este povo acumulava a memória dos seus vários povos dominadores ao longo da história e não seria de se admirar que tenham absorvido um pouco da cultura de cada um desses, o que pode ter contribuído de fato para que a narrativa da história de Jesus tenha correlações com esses deuses.

 

  • 16-) Nascimento de Jesus: data  versus  cidade  versus local

Em momentos simultâneos da história, cristãos comemoravam as diferentes etapas da vida de Jesus, buscando testemunhos do dia exato de seu nascimento, enquanto pagãos celebravam a chegada da luz e dos dias mais longos ao fim do inverno (solstício de inverno – Natalis Solis Invicti – Nascimento do Sol Invencível). Foi somente no ano de 354 d.C. que o Papa Libério, querendo cristianizar as festividades pagãs entre os vários povos europeus, instituiu oficialmente a celebração do Natal no dia de 25 de dezembro, como sendo a data de nascimento de Yeshua ben Yossef (em aramaico) - Jesus, filho de José.

 

Como visto acima, a data de nascimento de Jesus, comemorada pelos cristãos ao redor do mundo, não é verdadeira e, muito menos, o ano, pois não há consenso sobre tal. Estima-se que ele tenha nascido entre 7 e 4 a.C. Alguns estudos precisam melhor entre 7 e 6 a.C.

 

A dúvida sobre o ano de nascimento de Jesus recai sobre o abade Dionisus Exiguus, que em 531 d.C. introduziu o sistema cristão de datas - Anno Domini (AD) em latim ou depois de Cristo (d.C.), pois ele havia errado nos seus cálculos do nascimento de Jesus. Em vez de 754 a.u.c. (Ab urbe condita – da fundação de Roma), Jesus nasceu no ano 749 a.u.c., isto é, em vez de Jesus ter nascido no ano 1 da era Cristã, ele teria nascido no ano 5. a.C. Isto se apoia nos evangelhos que diz que Jesus nasceu nos dias do rei Herodes, o Grande, e Herodes morreu em março de 750 a.u.c.

 

Como pode o nascimento do filho de Deus não ter um dia definido, uma vez que a história registra com precisão alguns acontecimentos mais antigos, como o da erupção do Monte Vesúvio, que destruiu Pompéia em 24/08/79 a.C.

Sobre a cidade de nascimento também há polêmicas, pois por Marcos e João o local é apontado como Nazaré e por Mateus e Lucas como Belém. Acredita-se que Mateus e Lucas optaram por Belém, pois de acordo com uma profecia do livro do profeta Miquéias 5,1 - AT, o salvador viria de lá, uma vez que era a cidade do rei Davi. As recentes pesquisas indicam como local de nascimento, a cidade de Nazaré. Porém para alguns arqueólogos de Israel, Jesus nasceu em Belém, mas numa cidade chamada de Belém da Galileia, que fica a 7 km de Nazaré e não em Belém da Judeia, uma vez  que Belém da Galileia se enquadraria melhor na narração de Mateus, segundo o qual, Maria grávida de nove meses viajou montada em um burro de Nazaré, na Galileia, até Belém da Judeia, onde Jesus nasceu. A distância de quase 100 km era uma enormidade para a época, ou seja, para estes arqueólogos, dentre eles cito Aviram Oshri, faz mais sentido que a Belém de nascimento seja a da Galileia.

 

Ainda sobre o nascimento, existe, talvez, um dos pontos mais questionáveis que seria a virgindade da mãe de Jesus – Maria. Talvez esse caso seja parecido com um do Alcorão (livro sagrado do Islã), onde historiadores acreditam que há um erro na tradução, onde diz que o devoto do Islã, morto em combate terá no céu a companhia de 72 virgens. Esses historiadores acreditam que sejam pérolas, a tradução correta. Para o caso de Maria, há historiadores que também defendem um erro de tradução na Bíblia, da palavra ALMAH, que significa jovem e foi erroneamente traduzida do Hebraico para o Grego, como virgem. Em Isaías – 7,14 – faz menção a uma jovem que dará a luz a um menino e em Mateus – 1,23 usa esta passagem de Isaías, mas muda o termo “jovem” para “virgem” e João – 1,45, por sua vez, afirma que Jesus é o filho de José, ou seja, nem jovem e nem virgem....

 

Mateus escreve que Jesus nasceu em casa e Lucas escreve que Jesus nasceu numa manjedoura.

 

A história de que Jesus nasceu numa manjedoura, não condiz com o que de fato ocorreu, pois para o judaísmo, a maternidade é algo sagrado e nenhum judeu permitiria que Maria desse à luz num estábulo.

 

Mas uma coisa é certa, o Natal é hoje o feriado mais rentável financeiramente em países predominantemente cristãos.

 

  • 17-) Jesus dos 13 aos 30 anos:

A Bíblia é omissa quanto às atividades de Jesus no período dos 13 aos 30 anos e muitas “hipóteses/histórias etc”  tentam preencher essa lacuna de 17 anos, que começa no versículo 52 do Capítulo 2 do Evangelho segundo Lucas: “E crescia Jesus em sabedoria, em estatura e graça, diante de Deus e dos homens” e indo até o versículo 23 do Capítulo 3 do mesmo Evangelho.: “Jesus tinha cerca de trinta anos quando começou sua atividade pública”.

Para tentar elucidar este “apagão” da figura de Jesus entre a juventude e a vida adulta, o escritor e espírita Francisco klörs Werneck escreveu o livro intitulado: Jesus dos 13 aos 30 anos – Editora Eco, no qual reuniu várias hipóteses sobre o que aconteceu com Jesus nesse interregno (as histórias aqui mencionadas, estão contidas na 10ª edição do citado livro). A maioria dessas hipóteses se dividem entre a permanência de Jesus na Índia, Ásia ou entre os Essênios, quando pode ter contato com todas as práticas terapêuticas, esotéricas etc necessárias para poder iniciar a sua pregação na Palestina, por volta dos 30 anos, sendo que, em algumas dessas hipóteses, Jesus retorna para o local onde recebeu o seu aprendizado e lá é que morre. Existe, ainda, uma “teoria” de que Jesus esteve na Inglaterra.

Francisco K. Werneck sustenta que procurou atuar da mesma forma que Kardec, ou seja, colhendo todos os elementos, focando unicamente nas transcrições e traduções de forma fiel, dos mais diversos textos encontrados sobre o tema.

Nikolai Aleksandrovich Notovich (1858 – 1916):

Alega ter encontrado em 1887 no mosteiro de nome Himis no Tibete, manuscritos a respeito da vida de Jesus, com o título a Vida do Santo Issa.

Escreveu em 1894 o livro “La Vie Inconnue de Jesus Christ”. Com base nesses manuscritos: “Jesus passou 6 anos com os padres brâmanes, que lhe ensinaram a ler e compreender os Vedas, a curar com o auxílio de preces e a expulsar o espírito maligno do corpo do homem. Depois, Jesus foi para o Nepal e lá permaneceu até aos 26 anos, estudando os livros sagrados do Budismo. Depois retornou para Israel, chegando lá com 29 anos”.

Nicolau Roerich (1874 - 1947)

Ele escreveu o livro “El corazon de Asia”, edição do Museu Roerich, de New York, 1930 e num trecho do livro há uma concordância com o livro acima de Nikolai: “Ouvimos a lenda de como o Cristo, quando jovem, chegou à Índia em uma caravana de mercadores e como foi aprendendo  a suma sabedoria dos Himalayas, que se difundiu amplamente pelo Ladak, Sinkiang e Mongólia”.

Yogi Ramacharak: (1862 – 1932)

Escreveu o livro “Cristianismo Místico”, edição do Círculo Esotérico a Comunhão do Pensamento, 1926, no qual cita: “Membros da organização secreta a que pertenciam os Magos, após ouvi-lo no acontecimento do Templo, convenceram os pais de Jesus a acompanhá-los a fim de receber as instruções. Jesus segue para a Índia, Egito e Pérsia e a outras regiões distantes, vivendo alguns anos em cada centro importante e sendo iniciado nas diversas irmandades, ordens e corporações, para só depois disso, retornar à Palestina”.

Dr. H. Spencer Lewis: (1883 – 1939)

Escreveu o livro The mystical life of Jesus, da Biblioteca Rosacruz nos USA e cita: “Jesus quando estava ainda com 13 anos foi levado pelos Magos para escola monástica de Djaguernat para se familiarizar com os ensinamentos e rituais do budismo. Depois ele foi para o vale do Ganges para estudar ética, física e gramática. Ali Jesus se interessou pelo sistema terapêutico dos hindus. Depois retornou ao mosteiro de Djaguernat, onde se familiarizou com a arte de ensinar por meio de parábolas. Jesus continuou os seus estudos por vários lugares a preparar-se para os graus superiores da Grande Fraternidade Branca, quando então alcançou o título de Mestre e voltou para a Palestina”.

Resposta do espírito Ramatís, a respeito da vida de Jesus no período não mencionado nos Evangelhos, extraída do livro “O Sublime Peregrino”, da Livraria Freitas Bastos:

“Jesus esteve em contato com os Essênios e conheceu-lhes os costumes, as austeras virtudes, assim como teve oportunidade de apreciar-lhes as cerimônias. Apesar de Jesus ter conhecido os Essênios, ele não se filiou à Confraria dos Essênios, mas entreteve relações amistosas. Jesus jamais propalou a sua condição de membro honorário da Confraria dos Essênios, onde o sigilo era um voto de severa responsabilidade moral”.

André Cehesse:

Em artigo: “Teria Jesus vivido na Inglaterra?” – O Globo – 1958, o autor cita: “Jesus acompanhou, de navio, o seu tio José de Arimatéia pois este era um rico mercador cujos navios singravam o Mediterrâneo e numa dessas viagens, chegaram até Cornualha, situada no sudoeste da Inglaterra, onde Jesus teve a oportunidade de instruir-se com os druidas, antes de retornar à Palestina”.

As citações carecem de comprovação científica, mas as mesmas aguçam a curiosidade, pois como mencionado no início deste tópico, a Bíblia é omissa quanto a este período e, provavelmente, jamais teremos confirmações para este hiato na vida de Jesus.

 

  • 18-) Pregação de Jesus: início  versus  término

Muitos consideram que o início da pregação de Jesus foi marcado pela passagem citada em Lucas 2:46-47, onde Jesus, com 12 anos de idade, aparece no meio dos doutores do Templo, escutando e fazendo perguntas e estes ficaram maravilhados com a inteligência de suas respostas; porém, segundo o escritor Moacyr Jaime Scliar (1937 – 2011) esta é a idade que compreende o momento na vida de um judeu onde ele é sabatinado, através da cerimônia chamada Bar Mitzvah (filho do mandamento) e, que marca a maioridade religiosa de um judeu. Fica a dúvida onde Jesus teria aprendido os costumes judaicos, pois Nazaré era uma pequena cidade com 2 hectares e, provavelmente, não deveria ter uma Sinagoga.

 

No tocante ao local de início das pregações de Jesus, a história territorial e a arqueologia conjugam-se com a tradição cristã, indicando que foi em Cafarnaum, cidade situada na parte setentrional do mar da Galileia.

Lucas 3:23 menciona que Jesus inicia sua vida de pregação “por volta de 30 anos”, mas é preciso ter cuidado, já que é possível ver nessa indicação uma aproximação com a entrada do rei Davi na vida pública.

 

No tocante à duração da atividade pública de Jesus; Mateus, Marcos e Lucas não fazem qualquer indicação, mas João (Jo 2:13; Jo 6:4 e Jo 11:55) menciona três páscoas, o que nos leva a concluir, com base nesta posição, que Jesus pregou durante dois ou três anos e meio.

 

 

 

 

  • 19-) Morte de Jesus:

A morte de Jesus é atribuída pelo método da crucificação e esta forma era mais do que uma pena de morte para Roma – era um lembrete público do que acontecia quando se desafiava o Império. Por isso, era reservada exclusivamente para os crimes políticos mais radicais: traição, rebelião, sedição e banditismo (só no ano de nascimento de Jesus, estima-se que ocorreram 2.000 crucificações).

 

A crucificação não ocorreu só durante o início do cristianismo, ela é bem anterior a isso e teria se originado com os assírios e babilônicos e, infelizmente, ainda hoje é praticada em alguns países (em ago/2018 a Arábia Saudita procedeu uma crucificação).

 

O motivo atribuído à tal pena para Jesus foi o de sedição (perturbação da ordem pública), uma vez que as autoridades romanas consideravam isso como uma ofensa capital. E ela foi aplicada face ao ataque de Jesus aos negócios do Templo, quando ele derrubou as mesas dos cambistas, que trocavam várias moedas pelo Shekel, única moeda aceita no Templo e expulsou os vendedores de comida e soltou os animais que seriam vendidos a sacrifícios. O Templo de Jerusalém era a principal instituição cívica e religiosa dos judeus e o ataque de Jesus aos negócios do Templo, além de provocar a reação das autoridades romanas,  indica que houve a participação dos judeus na acusação contra Jesus, porém por uma parte, chamada de Saduceus, facção que apoiava a dominação romana e controlava a nomeação dos sumos sacerdotes. Esta possibilidade da culpabilidade dos judeus pela morte de Jesus produziu uma série de perseguições a este povo e o escritor israelense Amo Oz (1939 – 2018), nos deixou um artigo “Cristãos injustiçaram judeus e árabes”, jornal Folha de S.Paulo, de 19/03/2000, citando a seguinte passagem: “Quando eu era criança, minha sábia avó me explicou a diferença entre judeus e cristãos em termos simples: Os cristãos acreditam que o Messias já esteve aqui uma vez e vai retornar algum dia; os judeus afirmam que o Messias ainda está por vir. Por que todo o mundo não pode simplesmente esperar para ver? Se o Messias chegar dizendo “olá, é bom rever vocês”, então os judeus terão que admitir que estavam errados. Se, por outro lado, Ele chegar perguntando “como vão vocês?”, então o mundo cristão terá que pedir desculpas aos judeus. Enquanto esse dia não chegar, por que não viver e deixar viver, simplesmente?”

 

Para que a pena de crucificação fosse aplicada, houve um julgamento e este é cercado de controvérsias: Haim Herma Cohn ( 1911 – 2002)  ex-ministro da Suprema Corte de Israel alega em seu livro “O julgamento e morte de Jesus”, que tal julgamento é incompatível com várias disposições da antiga lei Judaica, tais como: negligenciando a Páscoa, reunindo-se à noite e em uma propriedade particular, o Sumo Sacerdote agindo como interrogador etc.

 

Além desse ponto, como explicar o seguinte: os evangelhos citam que Jesus, antes de chegar a Jerusalém, passou por várias cidades, sendo seguido por multidões. Como pode num dado momento ser aclamado e em ato contínuo ser julgado?

Durante o julgamento de Jesus, a multidão teria pedido que Barrabás, um assassino, fosse solto em vez de Jesus – já que era “costume” da Páscoa. Esse costume, porém, não é mencionado em nenhum lugar, exceto nos Evangelhos. Para os pesquisadores, Barrabás personificaria os sicários, judeus que saíam armados de punhais para matar romanos na calada da noite. E que por isso mesmo eram assassinos amados pela população.

 

A questão da crucificação de Jesus é assunto controverso, face às diferentes correntes a respeito da natureza dele, já mencionadas no item 8 deste texto. Incluo, ainda, que os Testemunhas de Jeová alegam que Jesus morreu numa estaca ou poste (segundo eles seria a tradução correta da palavra grega stauros e não numa cruz, a despeito do que isto possa significar para as questões de fé).

 

No âmbito arqueológico, uma única prova dos métodos de crucificação foi encontrada em Israel em 1968: um esqueleto com um prego de 11,5 centímetros enterrado em seus pés. Tal esqueleto foi identificado como sendo de Yehohanan ben Hagakol (João, filho de Hagakol), morto durante o século I.

 

No que se refere ao sepultamento de Jesus, há outro ponto contraditório, pois em todo o mundo romano, o costume era abandonar o cadáver na cruz, para ser comido por abutres. Além disso, é suspeita a figura de José de Arimatéia, judeu rico e simpatizante secreto de Jesus que teria obtido seu corpo e organizado seu sepultamento, segundo os Evangelhos. 

 

Camponeses como os seguidores de Jesus não teriam como se dirigir a Pilatos para exigir o corpo. Assim, os evangelistas enfrentam o problema de explicar o sepultamento de Jesus e usam a figura de José de Arimatéia, que praticamente cai de paraquedas na narrativa. Porém não se pode ser taxativo quanto ao não sepultamento de Jesus, pois como mencionado há o registro de sepultamento de um crucificado.

 

Para aqueles que creem num Jesus divino, a discussão sobre a data da morte do mesmo é irrelevante; porém neste texto, discutimos o Jesus histórico e é inconcebível que uma criatura com tantos feitos atribuídos durante a sua vida, não saibamos a data exata da sua morte, enquanto a história nos recheia de informações precisas, mesmo de pessoas que não tiveram o mesmo realce, como, por exemplo: a morte de Cleópatra, que ocorreu em 12/08/30 a.C., vítima de uma picada de serpente.

 

  • 20-) Propagação da Doutrina Cristã:

Após a morte de Jesus não houve um crescimento automático da sua doutrina, pois em Atos 1:15 afirma que havia apenas cerca de 120 seguidores depois de sua morte.  

 

A denominação cristã surgiu pela primeira vez, por volta do ano 44 d.C, pelos habitantes de Antioquia, os quais deram aos seus seguidores, a alcunha de “Khristianoi”, cristãos – Atos 11:26. Alguns afirmam que o termo cristão foi criado como um nome depreciativo, sendo aplicado como um termo de escárnio para aqueles que seguiram os ensinamentos de Jesus.

O início do Cristianismo foi complicado, pois havia duas “forças” que se opunham entre si: um grupo, defendido por Tiago, irmão de Jesus (os Católicos não aceitam que Jesus teve irmãos, pois o termo grego “adelfos” possui um significado mais amplo, incluindo tios, primos etc) e outro promovido pelo ex-fariseu Saulo (nome judaico), que adotou o nome romano de Paulo, após conversão ao Cristianismo.

 

O grupo de Tiago, nitidamente formado por homens contrários à dominação romana, praticamente desapareceu no massacre de Jerusalém pelos romanos na revolta que terminou no ano 70 d.C.

 

O grupo de Tiago tinha Jesus como o Messias, que teria vindo ao mundo para livrar o povo judeu da opressão e era o escolhido para implantar o reino de Deus e governar Israel conforme a Lei. Paulo, porém, apresentava Jesus como o Filho de Deus. Paulo focava a pregação junto aos pagãos e conseguiu convencer Tiago a permitir que os pagãos convertidos fossem dispensados de seguir a Lei judaica.

 

Como mencionado, o grupo de Tiago praticamente foi extinto com o massacre de Jerusalém em 70 d.C. o que, para muitos teólogos, proporcionou a Paulo se transformar num personagem fundamental nos primeiros anos do Cristianismo. Seu trabalho de evangelização foi em grande parte, responsável pelo caráter universal da doutrina cristã. Enquanto a maioria dos apóstolos que conviveram com Jesus restringiram sua pregação à Palestina, Paulo levou a palavra de Cristo para: Grécia e Roma, com a mensagem de um Cristo divino e descomprometido com a política.

 

A penetração de Paulo em lugares aonde só ele chegou, faz com que uma corrente de historiadores e teólogos considerem que Paulo deturpou os ensinamentos de Jesus – a ponto de a mensagem cristã que sobrevive até hoje, ter origem não em Jesus, mas em Paulo, uma vez que a sua tese central é a da salvação somente pela fé em Cristo morto e ressuscitado. Sobre Paulo recai a acusação de ser o responsável na transformação do “Jesus histórico” no “Jesus mítico”.

 

Esses historiadores e teólogos julgam ser mais correto dizer que o que existe hoje é um “paulinismo”, não um Cristianismo. Esta posição é corroborada por Friedrich Nietzsche (1844 – 1990), filósofo alemão, em Aurora: “Paulo é o primeiro cristão, o inventor do Cristianismo. Até então havia apenas alguns sectários judeus”.

 

Ainda sobre o crescimento do Cristianismo ou melhor, sobre o desconhecimento do mesmo após a morte de Jesus, há o registro de uma carta de Plínio, o Jovem endereçada ao Imperador Trajano, datada de 111 d.C., onde ele está para julgar um caso de um cristão e alega nunca ter julgado um caso sobre um seguidor de tal doutrina, apesar dele ter atuado em vários cargos importantes em Roma. Tal carta é o 1º exemplo registrado pelos romanos, reconhecendo o Cristianismo como uma nova doutrina religiosa.   

 

A ascensão do Cristianismo foi graças ao colapso do Império Romano, que estava “encharcado” de corrupção e que teve início com o assassinato do  imperador Pertinax (193 d.C.) e proporcionou décadas de guerra civil (no curso de 50 anos se alternaram 26 imperadores, dos quais apenas um teve morte natural).

Como sempre acontece por todo o mundo, quando os tempos são bons, poucos se preocupam com questões religiosas, mas em tempos ruins a religião se torna algo relevante e como o Cristianismo possuía um bem organizado serviço social, foi importante para atingir os pobres e marginalizados que crescia a cada dia.

 

Os fatos marcantes para o crescimento do Cristianismo são basicamente: o Édito de Tolerância, assinado pelo imperador Galério em 311 d.C. que termina com a perseguição aos cristãos; o Édito de Milão, assinado pelo imperador Constantino em 313 d.C., que declara o Império Romano neutro nas questões religiosas e oficializa o fim das perseguições aos membros de crenças fora do paganismo, em especial aos cristãos, o que propiciou aos mesmos um período de tolerância. Constantino adotou o Cristianismo para si, mas não o instituiu como religião oficial de Roma e, finalmente, a decisão do imperador Flávio Teodósio, que em 380 d.C. torna o Cristianismo como religião oficial do Império Romano, através do Édito de Tessalônica, abolindo todas as práticas politeístas. O Alto Clero romano modifica o nome de Igreja Cristã para Igreja Católica e adota a cruz como símbolo do Cristianismo. Tal símbolo é atribuído ao imperador Constantino, pois ele teria sonhado com esse símbolo com a inscrição In hoc signo vinces – “sob este símbolo vencerás”, porém os primeiros cristãos identificavam a sua doutrina por um peixe estilizado, criando, inclusive, um acrônimo para ichthys, peixe em grego: Iesus Christus Theou Yicus Soter – “Jesus Cristo filho de Deus Salvador”. A cabeça do peixe indicava o lugar onde o grupo cristão local faria suas reuniões clandestinas, os cristãos se viam forçados a usar símbolos mais crípticos do que a cruz e o peixe era um dos seus favoritos.

 

  • 21-) Conclusão:

O questionamento maior que fica é: os ensinamentos atribuídos à Jesus são os únicos modelos de ética do mundo ? Como resposta a esta indagação, registro o comentário do amigo Ricardo de Morais Nunes, quando da minha apresentação do presente tema no CPDOC: “obviamente que não, pois a diversidade de crenças em Jesus, na atualidade, deve ser interpretada não como um único modelo de conduta ética, mas como um modelo que fala especialmente para nós que vivemos no ocidente. E que para outras partes do mundo, outras inspirações e outros modelos existem”.

 

Aproveitando essa observação do Ricardo, menciono que a passagem em Mateus: 7,12, chamada de Regra de Ouro -  “Tudo o que vocês desejam que os outros façam a vocês, façam vocês também a eles” é encontrada em várias religiões/filosofias, sendo muitas delas, bem anterior à citada passagem. Como exemplos, cito:

  • Hinduísmo (1.700 – 1.100 a.C.) “Esta é a suma do dever: não faças aos demais aquilo que, se a ti for feito, te causará dor”.
  • Zoroastrismo (680 - 583 a.C.) “Um caráter só é bom quando não faz a outros aquilo que não é bom para ele mesmo”. 
  • Budismo (563 – 483 a.C.) “Não atormentes o próximo com aquilo que te aflige”.
  • Confucionismo (551 - 479 a.C.) “Não façais aos outros aquilo que não quereis que vos façam”.

 

No ano de 2020, quando reescrevo este texto, o mundo sofre com a pandemia do Covid 19. O noticiário informa que as palavras mais pesquisadas na internet são: Deus, Fé e Oração. Isto só alimenta que, principalmente, nos momentos difíceis a humanidade busca por consolo nas questões religiosas, que por sua vez, alimenta a crença em um “Jesus divino”, obviamente, no mundo Ocidental. Isto posto, torna-se impossível prever quando, ou melhor, se um dia o “Jesus histórico” se sobreporá ao “Jesus divino”.

 

Como esse texto visa “confrontar” a comunidade espírita sobre o papel de Jesus no Espiritismo, remeto à pergunta 798 do “Livro dos Espíritos”, onde Kardec pergunta: se o Espiritismo se tornará crença comum e os espíritos respondem: “a marcha do Espiritismo será mais célere que a do Cristianismo”. Como o Cristianismo demorou mais de 2.000 anos para atingir só 31,2% da população da Terra e se considerarmos o início do Espiritismo a partir de Kardec, o mesmo completa 163 anos neste ano (2020), ou seja, o Espiritismo, como uma doutrina filosófica, demorará uma “eternidade” para atingir a “profecia” dos espíritos que responderam à citada questão.

 

Parece que a “profecia” do teólogo Franz Rosenzweig, citada no item 10 - Jesus pelo mundo, de que a busca pelo “Jesus histórico” eliminaria a ideia de sua divindade, está muito longe de ocorrer.

 

Em resumo, o ser humano possui uma necessidade de se apoderar da figura de Jesus ou de qualquer outro mito, como se fosse uma propriedade exclusiva e aceitar as “verdades” oriundas deste, mesmo sem um questionamento filosófico e científico. Tal fato é corroborado pelo provérbio Iraniano que diz: A verdade é um espelho que caiu das mãos de Deus e se quebrou. Cada um recolhe o pedaço e diz que toda a verdade está naquele caco.

 

Encerro este texto com duas passagens do livro “O Evangelho Segundo o Espiritismo” de Allan Kardec :

 

  • ...não há fé inabalável senão aquela que pode encarar a razão face a face, em todas as épocas da Humanidade. (capítulo XIX – item 7)
  • Desconfiai daqueles que pretendem ter o único monopólio da verdade. (capítulo XXI – item 8)

 


 

  • 22-) Agradecimentos:

Agradeço os comentários/críticas/sugestões recebidas dos amigos membros do CPDOC - Centro de Pesquisas e Documentação da Doutrina Espírita e do ICKS-Instituto Cultural Kardecista de Santos, o que me proporcionou instrumentos para poder rever o texto e reescrevê-lo na atual versão: Jesus, este mito que me atormentava.

 

 

  • 23-) CRONOLOGIA:

 

a.C.

753 - Fundação do reino de Roma

509 - Fundação da República Romana

451 - Primeiro código escrito de leis romanas

206 - Romanos dominam a Península Ibérica

167 – A religião judaica é proibida oficialmente com pena de morte pelo Império Selêucida. O Templo de Jerusalém é transformado num santuário do deus grego Zeus

166 – Com o apoio de todos os partidos judeus tradicionais, Judas Macabeu lidera revolta vitoriosa contra os selêucidas

150 – Os essênios se fixam em Qumran. Liderados pelo Mestre da Virtude, rejeitam as autoridades de Jerusalém.

146 - Corinto, na Grécia, é invadida e queimada; término das Guerras Púnicas, com a destruição de Cartago e a consolidação da supremacia romana sobre as antigas áreas helenistas

89 - Toda a Península Itálica recebe a cidadania romana

63 - O triúnviro romano Pompeu conquista Jerusalém

20 - Herodes inicia a reconstrução do Templo de Jerusalém

06 - Nasce Jesus

 

d.C.

26 – Pôncio Pilatos assume como governador de Jerusalém

27 - Jesus é crucificado

36 - Paulo, perseguidor dos cristãos, converte-se aos ensinamentos de Jesus

44 – Os habitantes de Antioquia deram aos adeptos de Jesus a alcunha de cristãos

46 - Paulo inicia viagens missionárias a Chipre, à Ásia Menor e à Grécia.

58 – Em Jerusalém, Paulo é censurado por Tiago por incitar os judeus a não seguir mais a Lei Judaica.

62 - Morre Tiago, irmão de Jesus

66 - Morre Paulo

70 - Acaba a guerra dos judeus com os romanos e o Templo é destruído e milhares de judeus estão mortos

117 O império Romano alcança, sob o governo de Trajano (sucedido, nesse ano, por Adriano), a máxima extensão territorial.

144 – Marcião propõe um cânone com apenas o Evangelho de Lucas e dez cartas de Paulo

185 - Bispo Irineu (Bispo de Lyon) escolhe os 4 evangelhos

269 - A tese da Divindade de Jesus é rejeita em Antioquia (foi rejeitada em 3 concílios)

311 – O imperador Galério assina o Édito da Tolerância, terminando com a perseguição aos cristãos.

313 – Durante o governo de Constantino 1º, que durou de 312 até 337, é concedida aos cristãos liberdade de culto, através do Édito de Milão e a capital é transferida, em 330, para Constantinopla (atual Istambul).

325 - Concílio na cidade bizantina de Nicéia  (atual região da Turquia). Foi o 1º Concílio ecumênico e organizado por Constantino. Aprova a tese da Divindade de Jesus (a questão da Divindade de Jesus durou 3 séculos e só terminou com a expulsão dos Bispos Arianos); a virgindade de Maria e faz uma primeira separação de Evangelhos canônicos e apócrifos. Ainda, durante tal Concílio, a Europa Cristã adotou o calendário de Júlio Cesar.

354 - Papa Libério institui oficialmente a celebração do Natal, no dia 25 de dezembro, como sendo a data de nascimento de Jesus.

363 – O Concílio de Laodiceia (atual Turquia) determina que apenas os textos confirmados como escritura podem ser usados em cultos. Decreta que o Novo Testamento conteria 26 livros, excluindo o Livro do Apocalipse e o Antigo Testamento conteria 22 livros.

381 - O Cristianismo se torna religião oficial do Estado por ato do Imperador Teodósio (o Alto Clero romano modifica o nome de Igreja Cristã para Igreja Católica).

397 – O Concílio de Cartago decide a reincorporação do Apocalipse.

476 – Queda de Rômulo Augusto, após invasão germânica, precipitando a dissolução da parte ocidental do império Romano: o lado oriental (Império Bizantino) persistiria até 1453, quando Constantinopla é então tomada pelos turcos otomanos.

531 – O Abade Dionísiu Exigus calculou o nascimento de Jesus como o ano 1, criando a expressão Anno Domini (AD), no latim ou depois de Cristo (d.C.).

607 - O imperador Foca favorece a Criação do Papado, sendo que essa decisão imperial faculta aos Bispos de Roma prerrogativas e direitos até então inimagináveis.

622 – A fuga de Maomé de Meca para Medina, marca o início do Islamismo.

1054 – Surge a Igreja Ortodoxa em função do cisma entre Oriente e Ocidente, decorrente das disputas de poder entre o papa de Roma e o patriarca de Constantinopla.

1229 – Durante o Sínodo de Toulouse são definidas as diretrizes que nortearam o funcionamento da Inquisição.

1231 – A Inquisição é oficialmente instalada pelo Papa Gregório IX

1453 – Queda de Constantinopla que fica em poder dos Turcos (os historiadores consideram o fim da era Medieval e o início da Renascença).

1456 - Impressão da 1ª Bíblia

1517 – Nasce o Protestantismo, movimento reformador iniciado na Alemanha pelo monge Martinho Lutero

1518 – O Papa Leão X cria o célebre “Livro das Taxas da Sagrada Chancelaria e da Sagrada Peninteciaria Apostólica”, onde estipula os preços da absolvição de todos pecados, desde o adultério até os crimes mais hediondos.

1521 – Martinho Lutero é condenado como herege

1522 – Martinho Lutero traduz o Novo Testamento para o alemão

1534 – Martinho Lutero traduz o Velho Testamento para o alemão.

1546 - O Concílio de Trento considera que os livros da Bíblia foram inspirados por Deus e aprovados oficialmente pela Igreja Católica.

1555- Após longa luta, Carlos V reconhece a existência do luteranismo e o direito dos nobres em escolher a sua religião (2/3 da Alemanha adota a Religião Luterana)

1582 – O Papa Gregório XIII estabelece um novo calendário, aperfeiçoando o de Júlio Cesar

1609 – Surge a Igreja Batista na Holanda

1611 – O rei britânico James I encomenda uma tradução da Bíblia para o inglês

1739 – Surge a Igreja Metodista na Inglaterra

1781 – Ocorre a última sentença de morte proferida pela Inquisição Espanhola.

1830 – Surge a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, mais conhecida como Mórmons, nos EUA

1844 – Em 22 de outubro deste ano, ocorre o chamado: Dia do Grande Desapontamento. Foi nesse dia que religiosos do EUA esperavam a 2ª vinda de Jesus, com base numa passagem bíblica.

1857 - Kardec escreve O Livro dos Espíritos

1863 – Surge a igreja Adventista do 7º Dia nos EUA, tendo como uma das fundadoras a Srª Ellen White, cujos escritos são considerados pelos adventistas como inspirados por Deus

1865 – Surge nos EUA a religião evangélica Exército de Salvação, que inicialmente utilizou o nome de Missão Cristã (o Exército de Salvação é uma dissidência da Igreja Metodista).

1868 - Kardec escreve A Gênese – os milagres e as predições segundo o espiritismo.

1870 – O Papa é definido como pessoa infalível (Infabilidade Papal)

1870 – Surge a Igreja Testemunha de Jeová, nos EUA (inicialmente a denominação adotada era de Estudantes da Bíblia e o nome Testemunhas de Jeová só foi adotado em 1931)

1908 – O termo Inquisição é abolido pelo papa Pio X.

1947 - Descoberta dos Manuscritos do Mar Morto

2001 - World Christian Encyclopedia divulga a existência de 33.830 denominações cristãs.

2010 - Jaci Régis, um dos maiores pensadores do espiritismo contemporâneo, desencarna na cidade de Santos-SP.

2017 – Ocorre em Santos-SP a edição do XV Seminário do Pensamento Espírita Brasileiro, onde o presente texto, na sua versão original, é apresentado.

2019 – Ocorre em Santos-SP a reunião do CPDOC-Centro de Pesquisa e Documentação Espírita, onde o presente texto, na sua versão original, é apresentado e discutido, surgindo daí a versão presente.

  • 24-) Bibliografia:

 

  • “Belém vs Belém” (24/12/2011) – Jornal Folha de S.Paulo.

·         Aslan, Reza “Zelota – “A vida e a época de Jesus de Nazaré” – editora   Zahar – (2013).

  • Bíblia  – Edição Pastoral – (nov/1991)
  • Dawkins, Richard – “Deus um delírio” – Companhia das Letras (2006).
  • Duncan, Anthony “Jesus Ensinamentos Essenciais” – Editora Cultrix – (1986).
  • Ehrman, Bart D. “O que Jesus Disse? O que Jesus não disse? – Quem mudou a Bíblia e por quê”– Agir Editora Ltda – (2005).
  • Fizgerald, David “NAILED: Dez mitos Cristãos que mostram que Jesus nunca sequer existiu”– Published by Create Space – Portuguese Edition – (2017)
  • Flusser, David “O Judaísmo e as Origens do Cristianismo” – volume I – Imago Editora – (2.000).
  • Hayek, Samir El “O significado dos versículos do Alcorão Sagrado com comentários” – Narsan Editora Jornalística - 14ª edição – (2009)
  • Imbassahy, Carlos de Brito  (nov/1993 a fev/1994)  - “Na Hora da Verdade I, II, III e IV”- Jornal Abertura.
  • Lewis, H. Spencer “A Vida Mística de Jesus” – Biblioteca da Ordem Rosacruz  - (1985).
  • Petitfils, Jean-Christian “Jesus, a  Biografia” – Editora Benvirá – (2015).
  • Regis, Jaci  – (dez/1999)  “O Terceiro Aspecto” – Jornal Abertura .
  • Werneck, Francisco Klörs “Jesus dos 13 aos 30 anos” – Editora Eco – 10ª edição


Texto Original de 2016:

Em 1985, quando o meu amigo Arnaldo mudou-se para os Estados Unidos da América e querendo diminuir a sua bagagem, me ofertou, além de várias bugigangas, o livro A Gênese – os milagres e as predições segundo o espiritismo, escrito em 1868 pelo francês prof. Hippolyte Léon Denizard Rivail, que posteriormente adotou o pseudônimo de Allan Kardec. Guardo até hoje essas lembranças, bem como o livro, o qual contribuiu para aumentar as minhas dúvidas a respeito da crença católica, que conservava àquela época. Falo em aumentar, pois após ter trabalhado ao lado do amigo Rogério, um profundo estudioso da doutrina das Testemunhas de Jeová, quando pude ouvir várias interpretações a respeito das passagens bíblicas, as quais são chamadas pelos TJ’s como Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas, de formas diferentes, ou melhor, conflitantes em relação às interpretações que eu tinha, oriundas do catolicismo.



Marco Videira

A jornada do catolicismo até o espiritismo foi penosa e longa, pois não foi fácil largar a “segurança” das orações e do clima criado durante as cerimônias religiosas, principalmente aquelas invocadas com canções, criando sons vocálicos meio inebriantes, como as praticadas nas cerimônias Rosacruz, nas quais também deixei algumas pegadas... Quando me lembro desse ritual de passagem (do catolicismo ao espiritismo), penso no ator e diretor americano de cinema Allan Stewart Königsberg (nome artístico: Woody Allen), sempre em busca de uma resposta para as questões de religião, sem falar da morte e do sexo, que completam a trilogia desse cineasta.

Não era fácil ouvir do Jáci Régis - grande pensador espírita erradicado em Santos e desencarnado em dez/2010, durante as suas preleções no Centro Espírita Allan Kardec, localizado em Santos/SP, que o espiritismo não era cristão. Mas com o passar do tempo e com o aprofundamento das leituras, pude suportar esse “peso”. Todas essas questões e dúvidas levaram-me a escrever este texto, que possui muitas passagens (cópias literais da bibliografia abaixo citada), o qual intitulei: Jesus, este mito que me atormenta. O termo atormentar é só uma força de expressão, pois é um tema que me seduz e procuro ler sempre a respeito, pela necessidade que sinto de reforçar a minha crença na Doutrina Espírita, de forma racional, pois como disse Kardec: “Se a ciência em algum momento contradisser alguma premissa do Espiritismo, não cabe ao espírita rever esse ponto equivocado e seguir a orientação da ciência?”.

Antes de continuar o texto, acho válido citar que a discussão sobre a natureza de Jesus foi algo muito debatido por parte de várias escolas, que buscavam determinar qual era a natureza de Jesus. Cito abaixo, algumas delas:

  • Arianismo – doutrina dos primeiros anos da era cristã que crê que Jesus, apesar de um ser superior, seja inferior ao Pai.
  • Docetismo – século II, defende que Jesus era um mensageiro dos céus e que seu corpo carnal era uma ilusão e sua crucificação teria sido apenas aparente.
  • Ebionismo – crê em Jesus como um profeta, nascido de Maria e José, que teria se tornado Cristo no ato do batismo.
  • Monofisismo – século V – segundo a qual Jesus teria uma única natureza: divina (o Monofisismo foi elaborado por Eutiques em reação ao Nestorianismo).
  • Nestorianismo – século V – segundo a qual Jesus Cristo é, na verdade, duas entidades distintas, vivendo no mesmo corpo: uma humana (Jesus) e uma divina (Cristo).
  • Monarquianismo – série de crenças que enfatizam a Unidade Absoluta de Deus, ou seja, são contrários à divindade de Jesus.
  • Sabelianismo ou Modalismo – século III – defendia que Jesus e Deus não eram pessoas distintas, mas sim “aspectos” ou “modos” diferentes do trato da divindade com a humanidade.
  • Adocionismo – entende que Deus é um ser superior a tudo e completamente indivisível, defendendo a ideia de que o filho não foi coautor com o Pai.
 
No tocante ao Nestorianismo, registra-se que a doutrina Rosacruz difunde esta ideia dual da figura de Jesus.

No livro “A Vida Mística de Jesus”, há o registro de que a entidade divina de Jesus deixou de existir no momento da crucificação (“No momento da entrega do Espírito Santo, ainda na cruz, Jesus deixou que o poder e a autoridade especial retornassem à Consciência Cósmica.”), mas ele, utilizando-se de seus conhecimentos gnósticos, recuperou-se dos ferimentos sofridos pela crucificação e continuou com a sua vida humana.

Como visto acima, a discussão sobre a natureza de Jesus não é nova e longe de mim, querer com este modesto texto criar uma visão nova, mas sim expor o resultado das minhas leituras acerca do tema e trazer uma reflexão sobre o mesmo.

Cada época fez de Jesus o reflexo de suas próprias preocupações. Na França, na época da Revolução (1789), vimos aparecer a figura de um Jesus “sans-culotte” (denominação de trabalhador que participou da Revolução Francesa), em seguida, por ocasião da Revolução de 1848, a de um Jesus proletário e socialista. No início do século XX, o inglês Houston Stewart Chamberlain, inspirador das teorias nazistas, até retratou um Jesus ariano, que não tinha “uma única gota de sangue judeu”!

Apesar da figura de Jesus ser extremamente conhecida no mundo ocidental, faz-se mister registrar que o Cristianismo representa 28% em relação à população mundial e o Islamismo 22% (dados de 2012); porém, a continuar o crescimento do Islamismo, na proporção atual, projeções para o ano de 2020 indicam que tal religião superará o Cristianismo, ou seja, em pouco tempo, teremos crianças ao redor do mundo, sendo ensinadas que o maior e mais importante profeta foi Maomé (Muhammad em árabe, nascido em 570 na cidade de Meca e falecido em 632 na cidade de Medina) e que Jesus foi somente mais um profeta; porém menor do que Maomé, pois segundo a religião Islâmica, Maomé foi o último e o mais importante profeta de Deus (Allah como eles os chamam, que significa Deus Único).

Em janeiro de 2002, quando estava com a minha esposa e filhos, a passeio na cidade do Rio de Janeiro, um jovem trajando um uniforme estilo militar, ostentava no peito um bordado com o título Embaixador de Cristo e me entregou um folheto, que guardo até hoje e nele está escrito: “Por natureza, todos nós somos inimigos de Deus. Mesmo quando alguém não acredita nisso” !!??. Depois o texto segue com outras aberrações, para finalmente apresentar Cristo como a solução para todos os problemas.

Fiz o comentário acima, para registrar que dentro da neurociência, há uma corrente que defende que a razão caminha em paralelo com as questões de crenças religiosas, ou seja, é algo impossível de você tentar conciliar. Ainda nessa linha, registra-se um recente estudo conduzido pela Universidade Harvard, nos Estados Unidos, que chegou a uma conclusão bem mais instigante: as pessoas intuitivas são naturalmente mais religiosas do que as reflexivas. Registro, ainda, os estudos do biólogo americano Dean Hamer, que descobriu uma coincidência: aqueles que tinham sentimentos religiosos compartilhavam o gene VMAT2, responsável pela regulação das chamadas monoaminas, grupo de compostos que incluem a adrenalina (substância excitante) e a serotonina (sensação de prazer).

A questão da fé é algo extremamente complexa, pois a Associação Mundial de Psiquiatria declara a importância da espiritualidade nos tratamentos de saúde. Uma das explicações é a atuação do chamado eixo "psiconeurimunoendócrino", em que uma emoção positiva seria capaz de alterar a produção de hormônios que, por exemplo, reduziriam a pressão arterial.

A fé parece ser algo biológico...

Como o relato do jovem Embaixador de Cristo, na cidade do Rio de Janeiro, menciona a palavra Cristo, julgo ser necessário expor algo a respeito disso, ou seja, como Jesus (forma grega do seu nome em hebraico – Joshua – “há salvação em Deus”, nome muito comum entre os judeus da época), passou a ser chamado de Jesus Cristo. Cristo vem do latim Christus, que por sua vez vem de Christos, correspondente grego da palavra Messias, e significa literalmente ungido. O nome Jesus Cristo foi empregado por Paulo (missionário de Jesus, nascido em torno de 6 d.C. Paulo não chegou a conhecer Jesus), que também chamava Jesus, só como Cristo, ou seja, Paulo usou a palavra Cristo como se fosse um sobrenome e não como um título: Jesus, o Cristo.

O livro O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec apresenta uma série de milagres citados na Bíblia e atribuídos a Jesus, os quais são desmistificados.  Este livro, publicado há mais de 150 anos, nos proporciona uma visão humana de Jesus, em detrimento da figura divina, que fomos acostumados a conhecer.

Infelizmente não é o que vemos hoje na maioria dos centros espíritas (nem falar no âmbito das igrejas evangélicas neopentecostais), pois a figura de Jesus continua a ser cultuada como uma encarnação de Deus.

Quando da descoberta dos Manuscritos do Mar Morto (930 documentos escritos entre o século III a.C. e o 1º século depois de Cristo, que foram descobertos entre  1947 e 1956, em 11 cavernas próximas de Qumran, em Israel), havia a expectativa de se encontrar evidências da figura de Jesus; porém as traduções desses manuscritos,  nada revelaram a respeito. Pelo contrário, geraram mais dúvidas, pois nos citados documentos havia menção a um Messias (Mestre da Justiça), líder dos Essênios, mas que historiadores “disputam” diferentes explicações para tal figura. Sem falar na polêmica se tais manuscritos pertenciam aos Essênios, seita que muitos acreditam que Jesus pertencia, ou se os Manuscritos pertenciam aos Macabeus. A hipótese de que Jesus pertencia aos Essênios era porque ele tecia críticas aos Fariseus (aqueles que se consideravam a verdadeira comunidade de Israel – “santos”) e aos Saduceus (aristocratas que colaboravam com Roma), mas não aos Essênios. 


Cabe lembrar que Jesus nada escreveu (a única passagem bíblica que menciona algo é em João 8, 1-11 – “Então Jesus inclinou-se e começou a escrever no chão com o dedo” – esta passagem se refere à mulher flagrada em adultério, a qual para muitos críticos não faz parte do texto original de João, pois foge do estilo dele, mas isto é uma pequena mostra das controvérsias que iremos ver mais adiante. 

Há estudiosos que defendem que Jesus era analfabeto. Nenhuma surpresa, pois essa era a realidade daquela época.
Tudo o que foi escrito sobre ele, ocorreu entre 40 a 90 anos após a sua morte, incluindo pessoas que nem o conheceram, como Paulo.

Em resumo, estamos falando de uma doutrina, calcada na tradução oral.

O 1º evangelho foi escrito por Marcos em 70 d.C., em Roma. - Mateus escreveu em Damasco, por volta de 90 d.C.- Lucas escreveu na cidade grega de Antioquia, por volta do mesmo período que Mateus. - João é o último dos quatros evangelhos, escrito entre 100 e 120 d.C., em Éfeso.

Muito provavelmente, a exceção de Lucas-Atos, os Evangelhos não foram escritos pelas pessoas, segundo as quais foram nomeadas.

Isso me faz lembrar a história do chinês Confúcio - Kung Fu-Tse, (551 a.C. a 479 a.C.), professor preparado para lecionar história, poesia, matemática, música etc, por meio do método de ensino socrático e que após a sua morte foi glorificado pelos seus discípulos.

O Confucionismo se tornou a ideologia de estado na China, mesmo que nenhum texto seja demonstrável ser de autoria de Confúcio, e as ideias que mais chegadas lhe eram, foram elaboradas em escritos acumulados durante o período entre a sua morte e a fundação do primeiro império chinês em 221 a.C.

Confúcio tinha um provérbio: “Não faças aos outros, o que não queres que te façam.” Lembram-se de algo similar na bíblia? Só reforço que Confúcio morreu em 479 a.C.

A transformação de algo que não é naquilo que gostariam que fosse, também é típica no caso do nosso Tiradentes, pois a imagem do mesmo foi criada durante a República, juntando a imagem de um herói cívico e de religioso, por isso ele tem uma imagem similar a imagem que é atribuída a Jesus; porém não se tem registro da verdadeira imagem de Tiradentes e nem de Jesus.

O leitor já deve ter percebido que o presente texto está direcionado para enquadrar a figura de Jesus num plano humano e sem a áurea de um Deus ou de um espírito sobrenatural, por isso introduzi a palavra “mito”, que significa – “relato fantástico de tradução oral”.

Para não restar dúvidas, os registros a seguir irão relatar as passagens bíblicas e/ou conceitos criados a respeito de Jesus, ao longo dos anos, que não se coadunam com as visões dos recentes historiadores:

O alemão Hermann Samuel Reimarus (1694 -1768) foi um dos pioneiros a tentar uma interpretação secular, para entender quem foi Jesus. Ele defendia que os objetivos de Jesus eram basicamente políticos.
Uma das visões mais influentes sobre Jesus é a defendida pelo ex-padre irlandês John Dominic Crossan, autor de Quem Matou Jesus?.  Crossan afirma que Jesus teria sido uma versão judaica dos filósofos cínicos gregos. Em outras palavras, um pensador itinerante que atacava as convenções sociais e convidava seus ouvintes a levar uma vida de solidariedade radical.
Bem antes dos escritores acima citados, podemos citar quatro autores que versaram sobre Jesus, entre o fim do século I e o início do século II: o judeu Flávio Josefo e os romanos Tácito, Suetônio e Plínio. Dentre eles, as narrações de Flávio Josefo são as mais complexas e abordam o caráter messiânico de Jesus.
  • Composição da Bíblia
O Cristianismo é uma religião textualmente orientada cujos textos fundamentais foram mudados e que só sobrevivem em cópias que diferem de uma para outra, em certos momentos de um modo altamente significativo.

Não temos os originais, como não temos as primeiras cópias dos originais, ou as cópias das cópias das cópias dos originais. O que temos são cópias feitas mais tarde, muito mais tarde (séculos depois). Todas elas diferem umas das outras em milhares de passagens.

A Crítica Textual é uma área de estudos em que há mais de 300 anos tem acumulado pesquisas a respeito de como os copistas foram mudando as escrituras e sobre como se pode reconhecer onde eles fizeram alterações.

John Mill – membro do Queens College, Oxford, em 1550 examinou cerca de cem manuscritos gregos para descobrir suas 30 mil variantes.  Hoje temos conhecimento de muitas variantes (temos catalogados 5.700 manuscritos gregos, contendo desde pequenos fragmentos até produções bem maiores). Com este número de fragmentos, estudiosos divergem quanto às variantes, podendo ser de 100 a 400 mil.

Coube ao bispo de Alexandria – Atanásio, durante a 2ª metade do século IV, ou seja, 300 anos depois que os livros do Novo Testamento foram escritos, relacionar os 27 livros que deveriam compor o mesmo.

No fim do século IV cristão, o papa Dâmaso encomendou ao maior especialista daquela época – Jerônimo, a produção de uma tradução latina “oficial”, que pudesse ser aceita por todos os cristãos que falavam latim, em Roma e em outros lugares, como um texto oficial. A tradução de Jerônimo se tornou conhecida como a Bíblia Vulgata (comum).

Com o advento da imprensa no século XV por Johannes Gutemberg foi impressa a 1ª edição da Bíblia (Vulgata), concluída em 1456. Por volta de 1550, cerca de 50 edições da Vulgata foram produzidas.
Somente com o advento da imprensa é que as cópias da Bíblia puderam ter uma maior concisão, mas mesmo assim, novas traduções foram feitas, culminando com a de 1979,  promulgada pelo Papa João Paulo II, a qual se tornou a versão oficial da Igreja Católica – denominada de Nova Vulgata.

A escolha dos quatros Evangelhos foi feita pelo bispo Irineu – Bispo de Lyon da Gália (a França moderna), no ano de 185, quando ele escreve Contra as Heresias – 3.11.7  ...”Pois, dado que há 4 regiões do mundo em que vivemos, 4 ventos principais, ... é adequado que a Igreja deva ter 4 colunas”.

Como exemplo das variantes das traduções, cito o Códex Vaticano datado do século IV d.C. que é um dos mais importantes e antigos exemplares da Bíblia em grego. Neste Códex, a famosa cena da mulher adúltera e do “atire a primeira pedra quem não tiver pecado”, não constam desse manuscrito.

  • Nascimento:

Começando do começo: O dia 25 de dezembro era a grande festividade romana que comemorava o solstício de inverno. Em momentos simultâneos da história, cristãos comemoravam as diferentes etapas da vida de Cristo, buscando testemunhos do dia exato de seu nascimento, enquanto pagãos celebravam a chegada da luz e dos dias mais longos ao fim do inverno. Foi somente no ano de 354 d.C que o Papa Libério, querendo cristianizar as festividades pagãs entre os vários povos europeus, instituiu oficialmente a celebração do Natal - a data de nascimento de Jesus.

A palavra Natal deriva do latim Natale - grafada com a inicial maiúscula quando se refere ao nascimento de Jesus, cujo aniversário teria sido escolhido, segundo boa parte dos estudiosos, para coincidir com a festividade romana do deus Sol.

Como visto acima, a data de nascimento de Jesus não é verdadeira e, muito menos, o ano, pois não há consenso sobre tal. Estima-se que ele tenha nascido entre 6 e 4 a.C.

Sobre o local de nascimento também há polêmicas, pois por Marcos e João o local é apontado como Nazaré e por Mateus e Lucas como Belém. Acredita-se que Mateus e Lucas optaram por Belém, pois de acordo com uma profecia do livro de Miquéias, do Antigo Testamento, o salvador viria de lá, uma vez que era a cidade do rei Davi. As recentes pesquisas indicam como local de nascimento, a cidade de Nazaré.

Ainda sobre o nascimento, existe, talvez, um dos pontos mais questionáveis que seria a virgindade da mãe de Jesus – Maria. Talvez esse caso seja parecido com um do Alcorão (livro sagrado do Islã), onde historiadores acreditam que há um erro na tradução, onde diz que o devoto do Islã, morto em combate terá no céu a companhia de 72 virgens, esses historiadores acreditam que sejam pérolas, a tradução correta. Para o caso de Jesus, há historiadores que também defendem um erro de tradução na Bíblia, da palavra ALMAH, que significa jovem e foi erroneamente traduzida do Hebraico para o Grego, como virgem. Em Isaías – 7,14 – faz menção a uma jovem que dará a luz a um menino e em Mateus – 1,23 usa esta passagem de Isaías, mas muda o termo “jovem” para “virgem”.

Mateus e Lucas não são levados a sério pelos historiadores, a respeito da natividade de Jesus. Mateus escreve que Jesus nasceu em casa e Lucas escreve que Jesus nasceu numa manjedoura.

A história de que Jesus nasceu numa manjedoura, não condiz com o que de fato ocorreu, pois para o judaísmo, a maternidade é algo sagrado e nenhum judeu permitiria que Maria desse à luz num estábulo. Mais uma contradição a respeito do local de nascimento de Jesus.

Independente da data exata e do local exato de nascimento de Jesus, o que é real é que a época em que Jesus nasceu a Galiléia era palco da opressão de Roma contra os judeus. Céfores, capital da Galiléia, era o símbolo da revolução dos judeus contra os romanos, ou seja, Jesus nasceu num momento onde os judeus clamavam por liberdade, o que leva a alguns historiadores a entenderem que o papel de Jesus foi o de um revolucionário.

Mas uma coisa é certa, o Natal é hoje o feriado mais rentável financeiramente em países predominantemente cristãos.



  • Pregação:

Sobre o debate de Jesus com os sábios, quando tinha 12 anos,  segundo o escritor Moacir Scliar esta é a idade que compreende o momento na vida de um judeu onde ele é sabatinado. Fica a dúvida onde Jesus teria aprendido os costumes judaicos, pois Nazaré era uma pequena cidade com 2 hectares e, provavelmente, não deveria ter uma Sinagoga.

No tocante ao local de início das pregações de Jesus, a história territorial e a arqueologia conjugam-se com a tradição cristã, indicando que foi em Cafarnaum, cidade situada na parte setentrional do mar da Galiléia.

Lucas 3,23 menciona que Jesus inicia sua vida de pregação “por volta de 30 anos”, mas é preciso ter cuidado, já que é possível ver nessa indicação uma aproximação com a entrada do rei Davi na vida pública.

No tocante à duração da atividade pública de Jesus, Mateus, Marcos e Lucas não fazem qualquer indicação, mas João menciona três páscoas, o que nos leva a concluir que Jesus pregou durante 2 ou três anos.


  • Morte:

O Templo de Jerusalém era a principal instituição cívica e religiosa dos judeus. As autoridades romanas teriam considerado uma ofensa capital: sedição, punível por crucificação, o ataque de Jesus aos negócios do Templo, quando ele derrubou as mesas dos cambistas e expulsou os vendedores de comida e soltou os animais que seriam vendidos a sacrifício.

A crucificação era mais do que uma pena de morte para Roma – era um lembrete público do que acontecia quando se desafiava o Império. Por isso, era reservada exclusivamente para os crimes políticos mais radicais: traição, rebelião, sedição e banditismo.

Jesus foi condenado por crime de sedição. O julgamento, se existiu, foi ilegal, uma vez que ocorreu na noite que antecede a Páscoa.

Como Jesus morreu horas antes do sabat, o seu corpo não podia ser movido, pelas leis judaicas. Isto pode ter provocado as histórias sobre o sumiço do corpo e a sua ressurreição.

Durante o julgamento de Jesus, a multidão teria pedido que Barrabás, um assassino, fosse solto em vez de Jesus – já que era “costume” da Páscoa. Esse costume, porém, não é mencionado em nenhum lugar, exceto nos Evangelhos. Para os pesquisadores, Barrabás personificaria os sicários, judeus que saíam armados de punhais para matar romanos na calada da noite, como uma forma de vingança pela destruição do Templo. E que por isso mesmo eram assassinos amados pela população.


  • Propagação da Doutrina Cristã:

Por volta do ano 110, os habitantes de Antioquia deram aos adeptos de Jesus uma alcunha que permanece até hoje, Christianoi, cristãos – Atos 11:27.

Em 313 d.C., o imperador Constantino assinou o Edito de Milão, que iniciou um período de tolerância aos cristãos. Constantino adotou o cristianismo para si, mas não o instituiu como religião oficial de Roma. Só em 380 d.C. foi que o imperador Flávio Teodósio tornaria o cristianismo como religião oficial do Império Romano.

A assimilação do cristianismo foi facilitada pelo medo de represálias romanas ao judaísmo.

Os seguidores de Jesus, de língua aramaica, abertamente se confrontaram com os judeus de língua grega da diáspora em relação à correta compreensão da mensagem de Jesus. Um grupo, defendido pelo irmão de Jesus, Tiago e outro promovido pelo ex-fariseu Paulo.

Por falar em Paulo, registra-se que para muitos teólogos, ele foi um personagem fundamental nos primeiros anos do cristianismo. Seu trabalho de evangelização foi em grande parte, responsável pelo caráter universal da doutrina cristã. Enquanto que a maioria dos apóstolos que conviveram com Jesus restringiram sua pregação à Palestina, Paulo levou a palavra de Cristo para: Grécia e Roma.

A penetração de Paulo em lugares aonde só ele chegou, faz com que uma corrente de historiadores e teólogos considerem que Paulo deturpou os ensinamentos de Jesus – a ponto de a mensagem cristã que sobrevive até hoje, ter origem não em Jesus, mas em Paulo.

Esses historiadores e teólogos julgam ser mais correto dizer que o que existe hoje é um “paulinismo”, não um cristianismo.


Encerro este texto com uma passagem do livro O Evangelho Segundo o Espiritismo de Allan Kardec:

"não há fé inabalável senão aquela que pode encarar a razão face a face, em todas as épocas da humanidade" – capítulo XIX – item 7.



Bibliografia:



  • A Vida Mística de Jesus – Biblioteca Rosacruz  - 1985.
  • Bíblia Sagrada – Edição Pastoral – nov-1991
  • Deus um delírio – Richard Dawkins – Companhia das Letras- 2006.
  • Folha de S.Paulo – online – Como tudo funciona - “Nascimento do Deus Sol Invencível” .
  • Jesus A Biografia – Jean-Christian Petitfils – Editora Benvirá – 2015.
  • Jesus Ensinamentos Essenciais – Anthony Duncan – Editora Cultrix – 1986.
  • O Judaísmo e as Origens do Cristianismo – volume I – David Flusser – Imago Editora – 2.000.
  • O que Jesus Disse ? O que Jesus não disse ? – Quem mudou a Bíblia e por quê – Bart D. Ehrman – Agir Editora Ltda – 2005.
  • Revista Galileu – nº 208 – set/2008 – Editora Globo
  • Revista História Viva – Grandes Temas – Duetto Editorial
  • Revista Super Interessante – edição 293 – Editora Abril jul/2011.
  • Revista VEJA – Editora Abril – edição 2.449 – 28/10/2015.
  • TV Canal Discovery – programa exibido em: 25/12/2013.
  • TV Canal History – programas exibidos em: 1º, 15, 22 e 29/03/2014.
  • Zelota – A Vida e a época de Jesus de Nazaré – Reza Aslan – editora Zahar – 2013

Marco Videira é Conselheiro da Comunidade Assistencial Espírita Lar Veneranda e assinante do Jornal Abertura - Reside em Santos, SP

Quer ler o primeiro texto sobre o tema, escrito por Marcus videira, baixe aqui: