segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

O MITO DO PROGRESSO por Roberto Rufo e Silva

O MITO DO PROGRESSO

“O progresso roda constantemente sobre duas engrenagens. Faz andar uma coisa esmagando sempre alguém”. (Vitor Hugo).

“O progresso, sendo uma condição da natureza humana, não está ao alcance de ninguém a ele se opor”(Allan Kardec).
 Andrew Jackson foi um advogado e político americano. Foi o sétimo presidente dos Estados Unidos, de 1829 a 1837.  Jackson foi uma figura polarizadora, que dominou a política americana dos anos 1820 aos anos 1830. Sua ambição política, combinada com a ampliação da participação política por mais pessoas moldaram o moderno Partido Democrata. Famoso pela sua dureza, ele era apelidado de”Old Hickory”(Velha Nogueira).Talvez o aspecto mais controverso da presidência de Jackson tenha sido a sua política em relação aos índios americanos. Jackson foi um líder defensor de uma política conhecida como Indian Removal (Remoção Indígena). Enfim, Jackson imprimiu um grande progresso material aos EUA, todavia a um custo elevado de vidas indígenas, cujas terras possuíam riquezas minerais que precisavam ser exploradas.

Há palavras que adquiriram com o tempo um significado totalmente positivo, colocando suas palavras antônimas em situação de desprestígio. Progresso é uma delas. Quando se diz que um sujeito é progressista, logo definimos que”lá vai um cara bom ajudando o mundo”. Quanto ao seu contrário, o sujeito dito conservador, logo afirmamos que “lá vai um cara que não deseja um mundo melhor”. Isso acontece também na relação otimista/pessimista. Dizia um professor que o pessimista só é otimista quanto ao futuro do pessimismo.

Mas será mesmo que todo”progresso”( científico, social ou material ) é realmente um passo a mais na evolução espiritual, ou temos comido muito gato por lebre? 

 A Doutrina Espírita na sua Lei do Progresso nos oferece um balizador interessante quando os espíritos em resposta à pergunta 779 nos falam que o progresso tem que se fazer pelo contato social e que todo progresso intelectual tem que estar embasado num progresso moral, que infelizmente nem sempre o segue imediatamente. É isso que nos interessa conceituar quanto à Lei do Progresso. Outras afirmações, tais como, de que existem povos rebeldes que se colocam contra o progresso (os índios americanos por exemplo) e que por isso serão naturalmente aniquilados de alguma forma são datadas e ultrapassadas. Além disso os espíritos complementam seu pensamento dizendo que nós mesmos, os civilizados, um dia fomos rebeldes. Hoje já não se aceita mais essa relação”civilizados/selvagens”.

Atualmente o ser humano consegue destruir um”campo rebelde”em Alepo na Síria com foguetes teleguiados por satélites com uma margem de erro de aproximadamente três metros do alvo a ser atingido. Será isso um progresso? Mesmo assim às vezes os foguetes erram o alvo e acabam atingindo escolas ou hospitais com consequências dramáticas. Mas não percamos a esperança , novos ”progressos”virão e não erraremos mais o alvo. 

Em seu livro”O Mito do Progresso”, Gilberto Dupas não sem razão nos alerta que esse discurso dominante de que todo progresso é bom, traz também consigo a justificação indevida à exclusão, à concentração de renda e aos graves danos ambientais. A Doutrina Espírita nesse ponto é esclarecedora ao colocar o orgulho e o egoísmo como o maior obstáculo ao progresso. Faço aos leitores a indagação do Professor Gilberto Dupas :”O que significa, afinal, a palavra progresso no imaginário da sociedade global que vive o início do século XXI”?

Para o autor o que definitivamente consolidou a ideia contemporânea de progresso foi a revolução provocada por Darwin com sua Origem das Espécies, publicada em 1859.  A partir daí, nos ensina Dupas, o mundo produziu uma vasta literatura em ciência social em que progresso era sempre suposto como axioma. Ou seja, diz ele, a ideia de progresso permeou a quase totalidade da obra de Hegel, estruturada sobre a dialética, que seria uma fonte propulsora infinita do progresso.
Um dia ainda escreverei um artigo intitulado”O Mito da Dialética”. O Espiritismo dito progressista, a meu ver,abraçou em demasia esse mito como sendo algo intrínseco e inerente ao discurso espírita.  Marx também acreditou profundamente no progresso histórico e inexorável da humanidade.

Faz-se necessário um pouco de descrença nesse mito do progresso como algo essencialmente bom. Vamos voltar a ler Schopenhauer, Kierkegaard, pois um pouquinho de”pessimismo”é salutar. Duvidemos do que nos parece óbvio. Após a queda do socialismo real, passou-se acreditar que só existe um tipo de progresso. Alguém preconizou até que seria o fim da história.  
                                              
Faço uma pergunta a vocês : quem pode se dizer otimista e acreditar piamente de que qualquer sociedade complexa só se viabiliza pela auto-regulação da economia de mercado? Uma fábrica nos EUA pagava 20 dólares a hora aos seus empregados. Seguindo as leis do mercado transferiu-se  para o México, onde pagava 5 dólares a hora. Aperfeiçoando-se ainda mais pelas regras do mercado, agora impostas pela China, mudou-se para lá onde paga agora  2 dólares a hora. Podemos falar em progresso? Se sim, como fica o tal avanço moral? Causou desemprego nos EUA, aumentou o”círculo da ferrugem”em seu país (pesquisem), alimentou o trabalho aviltante na China e por tabela ajudou a eleger o Donald Trump, que soube explorar habilmente essa situação. 

Finalizo passando a vocês uma tarefa. Leiam por favor com atenção a resposta dos espíritos e os comentários de Kardec à pergunta 793. (Por quais sinais se pode reconhecer uma civilização completa?). É ótimo.


                                                                                                                                                   Roberto Rufo.


domingo, 12 de fevereiro de 2017

Pau que nasce torto as vezes se endireita - por Alexandre Cardia Machado

Pau  que nasce torto as vezes se endireita

Gostaríamos de falar de uma iniciatva que já conta com 10 anos, trata-se do Prêmio Trip Transformadores – realizado pela Revista Trip, neste ano padrocinada pelo Grupo Boticário junto com outros onze co-patrocinadores. A ideia do prêmio veio de Paulo Lima, Editor – Presidente da revista.

Este Prêmio tem por objetivo identificar, brasileiros capazes de recriar a noção de desenvolvimento humano, transformando a realidade. Isto tem tudo a ver com o Jornal Abertura, onde sempre que possível buscamos chamar a atenção para aqueles que fazem algo de bom pela sociedade, aqules que demonstram o Caráter do Homem (ou Mulher) de Bem.

A revista, em edição especial, impressa em papel reciclado, em seu editorial escreve o que buscamos destacar aqui: “Você acredita no Brasil? Deveria. Por alguns minutos desapegue-se das imagens mal construídas do país que você vive. Esqueça a corrupção de colarinho branco que parece minimizar a honestidade de um povo. Acredite que há mesmo quem tira dinheiro do bolso para ajudar os outros. Conteste com veemência a máxima de que pau que nasce torto nunca se endireita. Quem contou isso para você mentiu.”

Li a revista, num voô entre Porto Alegre e São Paulo, leitura fácil, as pessoas que lá foram reconhecidas são muito diferentes umas das outras, o que elas tem em comum é o fazer acontecer as mudanças, no campo social, na cultura ou na transformação para melhor do mundo ao seu redor.
Escolhi um caso que bem representa o que no Espiritismo chamamos do progresso que o Espírito experimenta em sua encarnação, nunca é tarde para mudar. Ainda que mais raro, é possível sim mudar alguém que está em um presídio, ou que caminhou no mau, por muito tempo, não há uma solução única, mas se oferecermos alternativas, alguns conseguirão melhorar. Jacira Jacinto da Silva, Presidente da CEPA, em seu livro Criminalidade: Educar ou Punir, assim se refere à situações semelhantes a que busco mostrar aqui: “ As lições do espiritismo nos ensinam a enxergar que todas as pessoas, incluíndo as que nasceram e cresceram sem oportunidade, e até mesmo as que cometeram infrações graves à ordem social, têm perspectiva de sucesso, pois fomos criados para aprender e crescer indefinidamente”.

Escreveremos sobre Luiz Alberto Mendes, escritor e colunista da revista Trip, autor de 6 livros, esteve preso por 31 anos no presídio do Carandirú, na cidade de São Paulo, tendo o peso sobre si de pelo menos dois assassinatos. Saiu de casa aos 12 anos, para fugir de um pai alcólatra que batia na esposa e nos filhos, vivendo nas ruas até os 19 anos quando foi preso. Não se importava com nada, não via perspectiva na vida. Assim passou um bom tempo na cadeia, até que veio a epidemia de AIDS, nos anos 80 do século passado, que infestou os presídios.

Luiz relata que não havia profissionais de saúde em número suficiente no Carandirú e por um impulso ele resolveu se importar com aquilo e fazer algo no presídio, foi ajudar no cuidado aos pacientes. Foi quando uma conheceu uma enfermeira travesti que gostava muito de ler. Ali surgiu uma amizade.Ela foi a primeira a lhe mostrar a importância da leitura. 

A transformação foi imediata, do não fazer nada o dia inteiro, passou a ser um leitor voraz, passou a ler 10 horas por dia. Em meio a dor e a agonia do presídio conheceu a obra de Jean Paul Sarte, a quem admira, mas a quem se propõe  discordar, Sarte disse “ O inferno são os outros” ele contesta “ O inferno é a ausência dos outros”. Esta reflexão demonstra que ele foi capaz de perceber que a importância da relação com o outro, perceber a importância da outra pessoa nos humaniza.

O conhecimento melhora a vida, desde que não seja ornamental, ou seja apenas para distração. A leitura tem o potencial de ser um transformador de estrutura mental e por consequência fazer com que passemos da ideia à ação.

Pesquisando um pouco mais encontramos uma entrevista de Luiz Mendes, onde ele explica um pouco melhor como iniciou o interesse pela leitura e a explicação para a frase colocada acima.

O contato começa com uma mulher que trocava conversa comigo por cartas. Essa história tem início bem antes, pois quando fui preso eu não sabia escrever carta direito e um amigo me ensinou a escrevê-la, com rascunho e eu passava a limpo para enviar à minha mãe. Então chegou um momento em que comecei a modificar a carta, porque eram relatos íntimos com minha mãe, até que num ponto comecei a escrever sozinho. Fui escrevendo para outras pessoas também até chegar nessa professora, que morava no Rio de Janeiro, estava se formando em Letras, gostava de literatura e me mandava os livros importantes para eu ler. Os primeiros livros que eu me apaixonei foram os de Érico Veríssimo.”
Este relato, lembra um pouco o que descrevem os romances espíritas, onde as palavras de amor, e de esclarecimento, abrem um espaço na mente do espírito, por onde o amor penetra. Não foi bem assim com Luiz, demorou um bom tempo, em suas próprias palavras, já bem mais maduro afirma, “não foram os livros que me salvaram, mas as pessoas que me enviram os livros”. Esta frase denota toda uma perspectiva filosófica e não mítica de Luiz. 

Em algum momento a ação transformadora da leitura, transformou Luiz em um ser moral que se preocupa com o bem estar e os direitos dos outros.

Luiz Mendes hoje dá palestras, ajuda com seus livros outras pessoas a sair da marginalidade, ele não é espírita, o texto não tem nenhuma referência a religião, pela proximidade com Sarte, tudo leva a crer que seja materialista. Mas seja como for o Espírito tem em si mesmo o impulso do progresso e mais uma vez parafrasiando Sarte “ Liberdade é o que você faz com aquilo que aconteceu com você”.

 A lei do progresso é de ação permanente pois sempre queremos, ou almejamos algo a mais para nós mesmos ou para a nossa sociedade.


quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Papel do Perispírito na gestação - II por Jaci Régis

continuando...

Papel do Perispírito na Gestação

Jaci Régis

(publicado no Caderno Cultural Espírita/outubro 2002)

                   O Espírito




                              Encontramos no Livro dos Espíritos informações vagas sobre a natureza do Espírito. Isso é perfeitamente compreensível porque não há forma gramatical ou explicação cientificamente compreensível sobre a complexa ou, quem sabe, simples constituição do ser.
                              A palavra "espírito" (com letra minúscula) é inicialmente empregada para designar o princípio inteligente do universo em contraposição ao princípio material. O Livro faz uma série de ponderações sobre a interação entre esses dois elementos, cabendo a Kardec dizer que "a matéria é o agente, o intermediário, com a ajuda da qual e sobre a qual o espírito atua".
                              Depois, a palavra "Espírito (com letra maiúscula) foi usada para designar "os seres inteligentes da Criação" ou seja, para a individualização do princípio inteligente.
                              Na tentativa de explicar a forma do Espírito, temos alguns itens de grande significação:
                              ... Os Espíritos são imateriais?
                              - Imaterial não é o termo apropriado, incorpóreo seria mais exato... É uma matéria quintessenciada... Tão eterizada, que nao pode ser percebida pelos vossos sentidos.
                              ... Os Espíritos têm uma forma determinada, limitada e constante?
                              - Eles são, se o quiserdes, uma flama, um clarão, uma centelha etérea.
                              Segundo a Doutrina, esse Espírito ao ser criado é um princípio espiritual, que se tornará um "Espírito" ao desenvolver a inteligência e a efetividade, capaz de perceber-se como um ser, numa espiral evolutiva.
                              Uma das mais significativas e inéditas contribuições do pensamento espírita refere-se a sua teoria da evolução do Espírito. De acordo com essa teoria, "o ser inteligente do universo é criado por Deus, como um princípio espiritual, "simples e ignorante". Isto é, um ser potencial, estruturalmente vazio. A potencialidade está contida na possibilidade de expansão e aquisição de experiências, movida por uma forma de energia oriunda de sua natureza permanente, imortal.
                              Essas informações nos levam a ponderar que, em si mesmo, o Espírito não possui organização, sendo um núcleo incorpóreo, potencialmente expansível, dispondo de uma energia intrínseca, propulsora e determinada, sintetizada no instinto de conservação e de uma capacidade potencial de apreensão e reelaboração de experiências.
                              Dentro desse enfoque, o estudo do ser deverá ser feito em dois momentos:
                              O período pré-humano, como tempo de estruturação básica da individualidade.
                              O período de sua inserção no nível humano, onde estrutura uma personalidade mutante.
                              O período pré-humano caracteriza-se, a partir do instinto de conservação ou agressividade natural, como o da aquisição de conteúdos de experiência. Nele, o princípio espiritual nao tem consciência de si mesmo e não possui nenhuma estrutura básica de percepção ou seleção. Na verdade, parece compreensível que a busca incessante de auto-preservação, como elemento básico de perpetuação, seja o desencadeante do processo evolutivo, pois dentro desse impulso inato do ser embrionário esboça  o esforço de construir condições de manter-se íntegro.
                              Em consequência, desencadeia também um complexo, amplo e infindável processo de relações com o meio ambiente e com semelhantes, estabelecendo as bases futuras da consciência.

O corpo mental

                              Já vimos que o princípio espiritual não possui estrutura, pelo menos inicialmente. Todavia, interagindo com os elementos orgânicos, ele vai desenvolvendo uma estrutura psíquica, que chamo, por analogia, de corpo energético e psíquico que o princípio espiritual vai estruturando um sistema mental flexível.
                              Como diz André Luiz, é nesse espaço que vão sendo inscritos "os princípios ontogenéticos" que a experiência repetitiva e incessante vai consolidando, no processo constante de nascer, viver, morrer e renascer. Aí ele estrutura a memória e seleciona as experiências vividas.
                              Ao longo do tempo, construindo, reconstruindo e armazenando as experiências, o princípio espiritual começa a adquirir consciência crescente de si mesmo. Torna-se um Espírito. O corpo mental é, então, seu instrumento de recriação constante nos processos vivenciais repetitivos de vida e morte física ampliando cada vez mais a conscientização de si mesmo e do usufruto dos resultados acumulados das experiências e vivências. E é no corpo mental que ele inscreve e consolida, refunde e recicla suas impressões e aprendizado.
                              Referindo-se ao corpo mental, assim afirma André Luiz "O corpo mental, assinalado experimentalmente por diversos estudiosos, é o envoltório sutil da mente". Estudando os efeitos do monoideísmo que leva `a perda do perispírito, André Luiz diz o seguinte: "cabendo-nos notar que essa forma (ovóide), segundo a nossa maneira atual de percepção, expressa o corpo mental da individualidade, ao encerrar consigo, conforme os princípios ontogenéticos da Criação Divina, todos os órgãos virtuais de exteriorização da alma, nos círculos terrestres e espirituais, assim como ovo, aparentemente simples, guarda hoje a ave poderosa de amanhã ou como a semente minúscula, que conserva nos tecidos embrionários a árvore vigorosa em que se transformará no porvir (...)" (in Evolução em Dois Mundos, Capitulo II - Corpo Espiritual, pags. 25, 91, primeira edição, FEB, 1959).
                              Temos, pois uma descrição possível do corpo mental, como um corpo sutil, de forma ovóide em torno do Espírito, guardando os órgãos de exteriorização da alma. Nessa conjugação mente-espiritual reside a expressão da individualidade.
                              Embora enfatizando o perispírito como centro virtual da organização física, André Luiz, mostra-o, todavia, precário, transitório, dependendo do desempenho mental para manter-se íntegro após a morte, principalmente nos primórdios da evolução e, depois, devido a processos doentios de concentração emocional.
                              Eis o que ele diz: "Pela compreensão progressiva entre as criaturas, por intermédio da palavra que assegura o pronto intercâmbio, fundamenta-se no cérebro o pensamento contínuo e, por semelhante maravilha  da alma, as idéias-relâmpagos ou as idéias-fragmentos da crisálida de consciência, no reino animal, se transformam em conceitos, inquirições, traduzindo desejos e idéias alentadas, substância íntima". Nesse processo evolutivo, informa ele, "vamos encontrar o homem infraprimitivo, na rusticidade da furna em, que se esconde, surpreendido no fenômeno da morte, ante a glória da vida, como criança tenra e deslumbrada à frente de paisagem maravilhosa, cuja grandeza, nem de leve, pode ainda compreender.
                              O pensamento constante ofereceu-lhe a precisa estabilidade para a metamorfose completa... Entretanto, o homem selvagem, que se reconhece dominador na hierarquia animal, cruel habitante da floresta, que apura a inteligência, através da força e da astúcia, na escravidão dos seres inferiores que se lhe avizinham da caverna, desperta fora do corpo denso, qual menino aterrado que, em se sentindo incapaz da separação para arrostar o desconhecido, permanece tímido, ao pé dos seus, em cuja  companhia passa a viver, noutras condições vibratórias, em processos multifários de simbiose, ansioso por retomar a vida física que lhe sugere a imaginação como sendo a única abordável à própria mente...
                              Ressurgir na própria taba e renascer na carne, cujas exalações lhe magnetizam a alma, constituem aspiração incessante do selvagem desencarnado... Pela oclusão de estímulos outros, os órgãos do corpo espiritual se retraem ou se atrofiam, por ausência de função, e se voltam, instintivamente, para a sede do governo mental, onde se localizam, ocultos e definhados no fulcro de pensamentos em circuito fechado sobre si mesmos, quais implementos potenciais do germe vivo entre as paredes do ovo. Nesse período, afirmamos habitualmente que o desencarnado perdeu o seu corpo espiritual, transubstanciado-se num corpo ovóide..." (in Evolução em Dois Mundos, pág. 76, 88 a 91, primeira edição, FEB, 1959).
                              Fizemos essa longa transcrição, para mostrar que o Espírito André Luiz, nos informa que o corpo mental é o único instrumento organizado aderido ao Espírito, como órgão executor e permanente. Daí ter uma forma ovóide, como sinal de concentração em torno do polo central da Inteligencia Espiritual.
                              Verificamos, por essas informações, que perdendo o perispírito por deficiência do interesse e dificuldade em permanecer consciente, o Espírito concentra-se no seu corpo mental, onde provavelmente se instala a mente ou projeção constitucional do Espírito, sede da memória permanente e reduto de todas as experiências de seu processo evolutivo.

Uma reflexão sobre este texto foi publicada no Jornal Abertura de novembro de 2019.

Baixe aqui:



sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

A poética das vidas intinerantes - Por Ciro Pirondi

A Poética das Vidas Itinerantes


Ciro Pirondi*


O olhar estético sobre a existência comumente é associado à dimensão do desnecessário, do supérfluo. Nosso comprometimento com a lógica, com a razão, ensinou-nos a ver na estética, no belo, seus contrários. “Não precisa ser belo, deve funcionar...”, frase comum de ouvirmos no cotidiano das pessoas.

Ciro Pirondi


A “eficiência” toma conta do mundo, do Homem Máquina, razão, capaz de entender tudo, construir máquinas cada vez mais perfeitas, em uma sociedade comprometida com a produção em série, com o desespero pelo consumo priorizando o crescimento econômico. Tratamos cada vez mais a educação como se seu objetivo principal fosse ensinar os alunos a serem economicamente produtivos, ao invés de ensiná-los a raciocinar criticamente e a se tornarem cidadãos instruídos e compreensivos. A perda dessas capacidades básicas põe em risco a saúde das democracias e a esperança de um mundo decente. Somos uma máquina de ansiedade, ligada no automático, em uma sociedade desorientada.
O homem máquina é consequência de um sistema de valores baseado no lucro e no sucesso individual. O trabalho, via de regra, é punitivo e a insegurança consome nossas energias.
Nesse contexto da máquina como espelho, não podemos admitir o erro com um olhar acolhedor, e entender que falhar nos ajuda a crescer e construir um caminho com múltiplas possibilidades. Difícil pensar assim em uma sociedade na qual a palavra de ordem é eficiência. Somos uma engrenagem constituída para produzir sem reflexão, sem questionar. Esquecemos do velho provérbio indiano sobre a transformação: “A nuvem bebe água salgada e chove água doce”.

Livreto distribuído pelo autor no XIV SBPE


Estamos com o botão da reflexão crítica desligado.

Esse estado de cegueira está nos levando a desconfiar do futuro; no entanto, o mundo só melhorou. A média de longevidade ampliou-se muito; as tecnologias diminuíram o trabalho braçal; os meios de comunicação encurtaram a distância entre os homens; pensamos com muita seriedade na possibilidade de construirmos cidades e civilizações em outros planetas.

Habitar o universo.

Contraditoriamente, no entanto, não diminuímos a distância entre ricos e pobres; marginalizamos as mulheres; praticamos chacinas como as de Osasco; discriminamos as minorias; o poder está nas mãos de incapazes...

A aflição de nossa solidão, como descreve o sublime Garcia Márquez, nos faz continuar buscando nossa Macondo ou com Homero, a eterna travessia de Odisseu (o Ulisses romano), em sua jornada pelos mares revoltos. Vezes em lugares mágicos. Vezes em situações terríveis, a nos mostrar ser mais importante na travessia da vida, não onde vamos chegar ao final, mas a maneira como seguimos por ela.

Se optarmos por seguir como máquinas, talvez “a máquina do Mundo”, como no belo poema de Drummond, nos destrua. Mas se amplificarmos as fronteiras do que ainda temos para
descobrir, inventar novas alternativas, com serenidade e sabedoria e entendermos que todo excesso nega o fim proposto, desenhando os caminhos do meio de Buda, não permitindo que o crescimento econômico sirva apenas para destruir a natureza; criar profundas desigualdades, descontentamento e violência entre os desfavorecidos e marginalizados.

O que importa saber é: quais são os ideais políticos, éticos deste homem máquina? Se ele pretende ou ajuda construir uma sociedade justa, humana e compassível?

Penso ser a possibilidade de vidas itinerantes uma alternativa possível.

Fundamento este raciocínio na dimensão de tempo que esta alternativa possibilita. Tempo onde todo o universo flui e se insere; incluso a vida, as fragilidades e sua rapidez.

Como é possível apenas 80 ou 90 anos para aprendermos os conhecimentos já descobertos? Como podemos educar nossos ouvidos e vistas às belezas da música e das artes em apenas 80 anos?

O Espiritismo, como é natural para o período no qual ele surgiu; apostou todas suas reflexões na lei de causa e efeito de maneira cartesiana, ou seja, a toda ação corresponde uma relação direta e imutável, muito ainda influenciada pelo conceito de punição e pecado. E, em um segundo preceito, o da supremacia da razão. Razão pura, Kantiana, crítica e único caminho possível para evoluirmos e encontrarmos a plenitude da vida.

O século XX e XXI nos inundou de outras possibilidades.

Pierre Lévy em seu texto “Inteligência coletiva” afirma: ‘Hoje, o Homo sapiens enfrenta a rápida modificação de seu meio, da qual ele é o agente coletivo, involuntário’. Sugere a via da inteligência coletiva. Tenho a intuição ser este o caminho capaz de produzir novos sistemas de signos, nova forma de organização social, e regulação que nos permitiriam pensar em conjunto.

Nossas forças intelectuais e espirituais multiplicaram nossas imaginações e experiências.

Aprenderíamos, aos poucos, diz o filósofo, a “nos orientar num cosmo em mutação”.

A razão, por si, como pensávamos no século XIX, não basta. A vida é mais bela e complexa. Não cabe em uma lei que pretendia ser totalitária e completa.

Arthur Conan Doyle, por exemplo, um escritor de inteligência iluminada e com uma imaginação invejável, com seu principal personagem - Sherlock Holmes -, chega a afirmar em seu livro “A História do Espiritismo”, que se a reencarnação não fosse uma verdade, precisaria ser inventada para satisfazer a razão. Mesmo um homem de brilho raro como ele, joga tudo na razão.

As reflexões apresentadas aqui no Simpósio Brasileiro do Pensamento Espirita visam compartilhar e apontar a possibilidade de acrescermos a dimensão poética da existência, conjuntamente à razão, à lógica tão valorizada nos meios acadêmicos e espíritas.

Compreendermos e valorizarmos, de verdade, as descobertas artísticas; educarmos nossos ouvidos para percebermos nas sonatas de Mozart tanto valor para o desenvolvimento humano, quanto nas descobertas de Newton ou Einstein; ele mesmo um exímio violinista que afirmava serem elas, as sonatas de Mozart, a expressão mais próxima de sua concepção de desenho do universo.

Se em alguns milênios o Homo habilis tornou-se sapiens, rompeu uma barreira, lançou-se no desconhecido, inventou a Terra, os deuses e o mundo infinito de significação, o que proponho aqui é inventarmos, uma inteligência coletiva, capaz de associar Razão e poética à dimensão das vidas itinerantes. Criarmos uma nova linguagem para o Espiritismo. Este é o nosso principal desafio para este século, cujo resultado não veremos, pois as mudanças de linguagens são obras de gerações.
Mas devemos intuir algo novo. Podemos e desejamos, por pura alegria, contar aos “outros” o quanto é bom e leve sabermos sermos seres projetados no tempo, termos o Universo como nossa casa, e não apenas este pedaço de Terra.

Entendermos de maneira dialética, sabedores desde futuro, ser o presente, tudo o que temos, o mais importante a ser vivido, experimentado. A felicidade não está fora de nós e eu um outro tempo. Com a dimensão poética das vidas itinerantes nos educaremos, onde, com quem e com o que temos hoje.
Em “Emílio ou da Educação”, Rousseau escreve: ‘Cada um perceberá que a própria felicidade realmente não está em si, mas depende de tudo aquilo que o circunda’. Mais tarde, a propósito da felicidade, Marx irá mais longe: ‘A experiência define como felicíssimo o homem que tornou feliz o maior número de outros homens... Se escolhemos na vida uma posição em que possamos melhor operar pela humanidade, nenhum peso nos pode envergar, porque os sacrifícios são para o benefício da humanidade; então, não provaremos uma alegria mesquinha, limitada, egoísta, mas a nossa felicidade pertencerá a milhões de pessoas, as nossas ações viverão silenciosamente, mas para sempre’. (DE MASI, 2014).

Em uma passagem de Fedro, na qual Platão descreve Sócrates que, já ancião e cansado, durante uma abafada tarde de verão se protege num lugar sombreado e aprecia toda a simples fruição que o local oferece: “Ah! Por Hera, que lugar magnífico para se fazer uma pausa! O plátano oferecendo uma sombra maravilhosa! Em plena floração, como está, o lugar não poderia ser mais perfumado. E o fascínio ímpar desta fonte que corre sob o plátano, a frescura da sua água: basta pôr o pé para me assegurar... E diga-me, por gentileza, se o ar puro por aqui se respira não é desejável e extraordinariamente agradável! Clara melodia do versão que faz eco ao coro das cigarras. Mas a mais saborosa dentre essas belezas é este prado, com a natural doçura da sua inclinação, a qual permite, quando nele se deita, que a cabeça fique numa posição perfeitamente confortável” (DE MASI, 2003).
Não concluo, pois é impossível concluir, apenas intuo ser urgente pensarmos associar à tese das vidas itinerantes, além da necessária exploração científica da razão e dos relacionamentos com novas descobertas da neurociência, das pesquisas sobre o cosmo, a educação com os aspectos da poética na construção do Homem espiritual e eterno.

BIBLIOGRAFIA

 DE MASI, Domenico. O futuro chegou – Modelos de vida para uma sociedade desorientada. [tradução Marcelo Costa Sievers]. 1ed. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2014.
 DE MASI, Domenico. Criatividade e grupos criativos. [tradução Léa Manzi e Yadyr Figueiredo]. Rio de Janeiro: Sextante, 2003.


* Ciro Pirondi é Arquiteto e Urbanista. Graduado em Arquitetura e Urbanismo (1980), possui doutorado (1980/1982), pela Escola Técnica Superior de Arquitetura – Universidade Politécnica de Catalunya – Barcelona – Espanha. Diretor da Escola da Cidade – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (SP), desde 2002 até o momento. Conselheiro da Fundação Oscar Niemeyer, Casa de Lúcio Costa, Instituto de Arquitetos do Brasil e do IBAC (Instituto Brasileiro de Arte e Cultura). Escritório próprio desde 1983 (Ciro Pirondi Arquitetos Associados).

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

15° SBPE - INCRIÇÕES ENCERRADAS

15° SBPE – Simpósio Brasilerio do Pensamento Espírita.

Inscreva-se no 15° SBPE

2 de novembro  a 4 de novembro de 2017

Santos – SP


ICKS – Instituto Cultural Kardecista de Santos

INSCRIÇÕES ENCERRADAS


15° SBPE – Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita

Será realizarado em Santos, na antiga sede do ICKS, hoje Colégio Angelus Domus, na avenida Francisco Glicério, 261, Bairro do Gonzaga em frente ao Mendes Convention Center.

Como se inscrever

Preencha a ficha abaixo e encaminhe ao ICKS pelo correio, endereço Rua Evaristo da Veiga, 211 Santos –SP  - CEP 11075-001 ou escaneie e envie por email, ao ickardecista1@terra.com.br. Ou então ligue no (13) 33247321.

Nome:............................................................................................
Cidade:..........................................................................................
Tipo de Inscrição: ( ) A vista ou ( ) Número de parcelas
E.mail e telefone...........................................................................


Entre em contato com o  ICKS  por email para ickardecista1@terra.com.br .

O valor dé R$ 120,00 que pode ser parcelado em até 3 vezes, desde que inicie o parcelamento até 15 de agosto de 2017, com a secretaria do ICKS.

  
Hospedagem 

Não estaremos provendo este serviço, Santos possui uma grande malha hoteleira e a contratação de hospedagem por aplicativos hoje se mostra muito mais vantajosa, conforme opinião externada por nossos frequentadores nos eventos anteriores.

Atenção: o evento ocorrerá num feriado prolongado, assim antecipem as suas ações de hospedagem.

Trabalhos:
Para apresentar o seu trabalho, você precisa primeiro enviar uma sinópse, de no máximo 1 página, descrevendo o trabalho a ser apresentado e também um pequeno currículo seu. A sinópse deverá ser enviada por email até o dia 30 de Junho de 2017, para apresentar o trabalho você deverá se inscrever no Simpósio.

Até o dia 15 de Julho a Comissão Organizadora, confirmará a aceitação dos trabalhos. 

Você terá então, até o dia 15 de setembro de 2017 para enviar o trabalho completo, com no máximo 20 páginas, letra Arial, tamanho 12. Seu trabalho fará parte do CD do 15° SBPE que é distribuído aos incritos.

Apresentação:

Todos os trabalhos selecionados, deverão ser apresentados por seu autor, sendo considerado 30 minutos para apresentação, seguido de um período de perguntas de 10 minutos. Prepare já o seu trabalho e venha apresentá-lo no 15° SBPE.


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