Pau que nasce torto as vezes se endireita
Gostaríamos de
falar de uma iniciatva que já conta com 10 anos, trata-se do Prêmio Trip
Transformadores – realizado pela Revista Trip, neste ano padrocinada pelo Grupo
Boticário junto com outros onze co-patrocinadores. A ideia do prêmio veio de Paulo
Lima, Editor – Presidente da revista.
Este Prêmio tem
por objetivo identificar, brasileiros capazes de recriar a noção de
desenvolvimento humano, transformando a realidade. Isto tem tudo a ver com o
Jornal Abertura, onde sempre que possível buscamos chamar a atenção para
aqueles que fazem algo de bom pela sociedade, aqules que demonstram o Caráter
do Homem (ou Mulher) de Bem.
A revista, em
edição especial, impressa em papel reciclado, em seu editorial escreve o que
buscamos destacar aqui: “Você acredita no Brasil? Deveria. Por alguns minutos
desapegue-se das imagens mal construídas do país que você vive. Esqueça a
corrupção de colarinho branco que parece minimizar a honestidade de um povo.
Acredite que há mesmo quem tira dinheiro do bolso para ajudar os outros.
Conteste com veemência a máxima de que pau que nasce torto nunca se endireita.
Quem contou isso para você mentiu.”
Li a revista, num
voô entre Porto Alegre e São Paulo, leitura fácil, as pessoas que lá foram
reconhecidas são muito diferentes umas das outras, o que elas tem em comum é o
fazer acontecer as mudanças, no campo social, na cultura ou na transformação
para melhor do mundo ao seu redor.
Escolhi um caso
que bem representa o que no Espiritismo chamamos do progresso que o Espírito
experimenta em sua encarnação, nunca é tarde para mudar. Ainda que mais raro, é
possível sim mudar alguém que está em um presídio, ou que caminhou no mau, por
muito tempo, não há uma solução única, mas se oferecermos alternativas, alguns
conseguirão melhorar. Jacira Jacinto da Silva, Presidente da CEPA, em seu livro
Criminalidade: Educar ou Punir, assim se refere à situações semelhantes a que
busco mostrar aqui: “ As lições do espiritismo nos ensinam a enxergar que todas
as pessoas, incluíndo as que nasceram e cresceram sem oportunidade, e até mesmo
as que cometeram infrações graves à ordem social, têm perspectiva de sucesso,
pois fomos criados para aprender e crescer indefinidamente”.
Escreveremos sobre
Luiz Alberto Mendes, escritor e colunista da revista Trip, autor de 6 livros,
esteve preso por 31 anos no presídio do Carandirú, na cidade de São Paulo,
tendo o peso sobre si de pelo menos dois assassinatos. Saiu de casa aos 12
anos, para fugir de um pai alcólatra que batia na esposa e nos filhos, vivendo
nas ruas até os 19 anos quando foi preso. Não se importava com nada, não via
perspectiva na vida. Assim passou um bom tempo na cadeia, até que veio a
epidemia de AIDS, nos anos 80 do século passado, que infestou os presídios.
Luiz relata que não
havia profissionais de saúde em número suficiente no Carandirú e por um impulso
ele resolveu se importar com aquilo e fazer algo no presídio, foi ajudar no
cuidado aos pacientes. Foi quando uma conheceu uma enfermeira travesti que gostava
muito de ler. Ali surgiu uma amizade.Ela foi a primeira a lhe mostrar a
importância da leitura.
A transformação
foi imediata, do não fazer nada o dia inteiro, passou a ser um leitor voraz, passou
a ler 10 horas por dia. Em meio a dor e a agonia do presídio conheceu a obra de
Jean Paul Sarte, a quem admira, mas a quem se propõe discordar, Sarte disse “ O inferno são os
outros” ele contesta “ O inferno é a ausência dos outros”. Esta reflexão
demonstra que ele foi capaz de perceber que a importância da relação com o
outro, perceber a importância da outra pessoa nos humaniza.
O conhecimento
melhora a vida, desde que não seja ornamental, ou seja apenas para distração. A
leitura tem o potencial de ser um transformador de estrutura mental e por
consequência fazer com que passemos da ideia à ação.
Pesquisando um
pouco mais encontramos uma entrevista de Luiz Mendes, onde ele explica um pouco
melhor como iniciou o interesse pela leitura e a explicação para a frase
colocada acima.
“O contato começa com uma mulher que
trocava conversa comigo por cartas. Essa história tem início bem antes, pois
quando fui preso eu não sabia escrever carta direito e um amigo me ensinou a
escrevê-la, com rascunho e eu passava a limpo para enviar à minha mãe. Então
chegou um momento em que comecei a modificar a carta, porque eram relatos
íntimos com minha mãe, até que num ponto comecei a escrever sozinho. Fui
escrevendo para outras pessoas também até chegar nessa professora, que morava
no Rio de Janeiro, estava se formando em Letras, gostava de literatura e me
mandava os livros importantes para eu ler. Os primeiros livros que eu me
apaixonei foram os de Érico Veríssimo.”
Este relato,
lembra um pouco o que descrevem os romances espíritas, onde as palavras de
amor, e de esclarecimento, abrem um espaço na mente do espírito, por onde o
amor penetra. Não foi bem assim com Luiz, demorou um bom tempo, em suas próprias
palavras, já bem mais maduro afirma, “não foram os livros que me salvaram, mas
as pessoas que me enviram os livros”. Esta frase denota toda uma perspectiva
filosófica e não mítica de Luiz.
Em algum momento a ação transformadora da
leitura, transformou Luiz em um ser moral que se preocupa com o bem estar e os
direitos dos outros.
Luiz Mendes hoje
dá palestras, ajuda com seus livros outras pessoas a sair da marginalidade, ele
não é espírita, o texto não tem nenhuma referência a religião, pela proximidade
com Sarte, tudo leva a crer que seja materialista. Mas seja como for o Espírito
tem em si mesmo o impulso do progresso e mais uma vez parafrasiando Sarte “
Liberdade é o que você faz com aquilo que aconteceu com você”.
A lei do
progresso é de ação permanente pois sempre queremos, ou almejamos algo a mais
para nós mesmos ou para a nossa sociedade.
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