O MITO DO PROGRESSO
“O progresso roda constantemente sobre duas
engrenagens. Faz andar uma coisa esmagando sempre alguém”. (Vitor Hugo).
“O progresso, sendo uma condição da natureza
humana, não está ao alcance de ninguém a ele se opor”(Allan Kardec).
Andrew Jackson foi um advogado e político americano.
Foi o sétimo presidente dos Estados Unidos, de 1829 a 1837. Jackson foi uma figura polarizadora, que dominou a
política americana dos anos 1820 aos anos 1830. Sua ambição política,
combinada com a ampliação da participação política por mais pessoas
moldaram o moderno Partido Democrata. Famoso pela sua dureza, ele era apelidado
de”Old Hickory”(Velha Nogueira).Talvez o aspecto mais controverso
da presidência de Jackson tenha sido a sua política em relação aos índios
americanos. Jackson foi um líder defensor de uma política conhecida como Indian
Removal (Remoção Indígena). Enfim, Jackson imprimiu um grande
progresso material aos EUA, todavia a um custo elevado de vidas indígenas,
cujas terras possuíam riquezas minerais que precisavam ser exploradas.
Há palavras que adquiriram com o tempo um significado totalmente
positivo, colocando suas palavras antônimas em situação de desprestígio.
Progresso é uma delas. Quando se diz que um sujeito é progressista, logo
definimos que”lá vai um cara bom ajudando o mundo”. Quanto ao seu contrário, o
sujeito dito conservador, logo afirmamos que “lá vai um cara que não deseja um
mundo melhor”. Isso acontece também na relação otimista/pessimista. Dizia um
professor que o pessimista só é otimista quanto ao futuro do pessimismo.
Mas será mesmo que todo”progresso”(
científico, social ou material ) é realmente um passo a mais na evolução
espiritual, ou temos comido muito gato por lebre?
A Doutrina Espírita na sua
Lei do Progresso nos oferece um balizador interessante quando os espíritos em
resposta à pergunta 779 nos falam que o progresso tem que se fazer pelo contato
social e que todo progresso intelectual tem que estar embasado num progresso
moral, que infelizmente nem sempre o segue imediatamente. É isso que nos
interessa conceituar quanto à Lei do Progresso. Outras afirmações, tais como,
de que existem povos rebeldes que se colocam contra o progresso (os índios
americanos por exemplo) e que por isso serão naturalmente aniquilados de alguma
forma são datadas e ultrapassadas. Além disso os espíritos complementam seu
pensamento dizendo que nós mesmos, os civilizados, um dia fomos rebeldes. Hoje
já não se aceita mais essa relação”civilizados/selvagens”.
Atualmente o ser humano consegue
destruir um”campo rebelde”em Alepo na Síria com foguetes teleguiados por
satélites com uma margem de erro de aproximadamente três metros do alvo a ser
atingido. Será isso um progresso? Mesmo assim às vezes os foguetes erram o alvo
e acabam atingindo escolas ou hospitais com consequências dramáticas. Mas não
percamos a esperança , novos ”progressos”virão e não erraremos mais o alvo.
Em seu livro”O Mito do Progresso”,
Gilberto Dupas não sem razão nos alerta que esse discurso dominante de que todo
progresso é bom, traz também consigo a justificação indevida à exclusão, à
concentração de renda e aos graves danos ambientais. A Doutrina Espírita nesse
ponto é esclarecedora ao colocar o orgulho e o egoísmo como o maior obstáculo
ao progresso. Faço aos leitores a indagação do Professor Gilberto Dupas :”O que
significa, afinal, a palavra progresso no imaginário da sociedade global
que vive o início do século XXI”?
Para o autor o que definitivamente
consolidou a ideia contemporânea de progresso foi a revolução provocada por
Darwin com sua Origem das Espécies, publicada em 1859. A partir
daí, nos ensina Dupas, o mundo produziu uma vasta literatura em ciência social
em que progresso era sempre suposto como axioma. Ou seja, diz ele, a
ideia de progresso permeou a quase totalidade da obra de Hegel, estruturada
sobre a dialética, que seria uma fonte propulsora infinita do progresso.
Um dia ainda escreverei um artigo
intitulado”O Mito da Dialética”. O Espiritismo dito progressista, a meu ver,abraçou
em demasia esse mito como sendo algo intrínseco e inerente ao discurso espírita.
Marx também acreditou profundamente no progresso histórico e inexorável da
humanidade.
Faz-se necessário um pouco de
descrença nesse mito do progresso como algo essencialmente bom. Vamos voltar a
ler Schopenhauer, Kierkegaard, pois um pouquinho de”pessimismo”é salutar.
Duvidemos do que nos parece óbvio. Após a queda do socialismo real, passou-se
acreditar que só existe um tipo de progresso. Alguém preconizou até que seria o
fim da história.
Faço uma pergunta a vocês : quem
pode se dizer otimista e acreditar piamente de que qualquer sociedade complexa
só se viabiliza pela auto-regulação da economia de mercado? Uma fábrica nos EUA
pagava 20 dólares a hora aos seus empregados. Seguindo as leis do mercado
transferiu-se para o México, onde pagava 5 dólares a hora.
Aperfeiçoando-se ainda mais pelas regras do mercado, agora impostas pela China,
mudou-se para lá onde paga agora 2 dólares a hora. Podemos falar em
progresso? Se sim, como fica o tal avanço moral? Causou desemprego nos EUA,
aumentou o”círculo da ferrugem”em seu país (pesquisem), alimentou o trabalho
aviltante na China e por tabela ajudou a eleger o Donald Trump, que soube
explorar habilmente essa situação.
Finalizo passando a vocês uma
tarefa. Leiam por favor com atenção a resposta dos espíritos e os comentários
de Kardec à pergunta 793. (Por quais sinais se pode reconhecer uma civilização
completa?). É ótimo.
Roberto
Rufo.
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