domingo, 5 de março de 2017

Livre Pensamento e Livre Consciência - por Egydio Régis

Revista Espírita em foco (LXXV)

Livre pensamento e livre consciência


Abrindo o exemplar de fevereiro de 1867, Kardec escreve um longo e denso artigo com o título acima. Trata-se de uma análise crítica à posição de dois jornais parisienses denominados:  Libre conscience e La libre penseé. Assim começa o mestre: “ Num artigo do nosso último número, sob o título de Olhar retrospectivo sobre o movimento espírita, fizemos duas classes distintas de livres pensadores: os incrédulos e os crentes e dissemos que, para os primeiros, ser livre pensador não é apenas crer no que se quer, mas não crer em nada; é libertar-se de todo o freio, mesmo do temor a Deus e do futuro; para os segundos, é subordinar a crença à razão e libertar-se do jugo da fé cega”. Obviamente o cerne dessas publicações era desacreditar toda e qualquer crença de ordem metafísica ou espiritual, pois sua orientação é absolutamente materialista. Claro que o Espiritismo e suas ideias era um dos alvos preferidos. Kardec argumenta com muita propriedade que não existe livre pensamento quando se pretende limitar seu campo a aspectos puramente materiais e simplesmente ignorar tudo o que está fora da possibilidade de comprovação científica. Diz Kardec: “ Desde que o pensamento é detido por uma convicção qualquer, não é mais livre. Para ser consequente com vossa teoria, a liberdade absoluta consistiria em nada crer, nem mesmo em sua própria existência, porque isto seria ainda uma restrição... Encarado deste ponto de vista, o livre pensamento seria uma insensatez”  E dá uma noção mais ampla do que seria o livre pensamento: “ Em sua concepção mais larga, o livre pensamento significa: livre exame, liberdade de consciência, fé raciocinada: simboliza a emancipação intelectual, a independência moral, complemento da independência física...” Kardec reforça a impossibilidade de livre pensamento quando se restringe sua atividade, escravisando-o  à matéria. Significa dizer: “ Tu és o mais livre dos homens, com a condição de   mais longe do que a ponta da corda a que amarramos”. E em relação ao Espiritismo, o que dizer quanto à sua filosofia de livre pensar e de livre escolha, vejamos o que ensina o mestre: ” É o Espiritismo, como pensam alguns, uma nova fé cega substituída a outra fé cega? Por outras palavras, uma nova escravidão do pensamento sob nova forma? Para o crer, é preciso ignorar os seus primeiros elementos. Com efeito o Espiritismo estabelece como princípio que antes de crer é preciso compreender. Ora, para compreender há que usar o raciocínio... Não se impõe a ninguém; diz a todos: Vede, observai, comparai e vinde a nós livremente, se vos convier”.

Egydio Régis

Artigo publicado no Jornal Abertura de Julho de 2016 

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