Revista Espírita em foco (LXXV)
Livre pensamento e livre consciência
Abrindo
o exemplar de fevereiro de 1867, Kardec escreve um longo e denso artigo com o
título acima. Trata-se de uma análise crítica à posição de dois jornais
parisienses denominados: Libre
conscience e La libre penseé. Assim começa o mestre: “ Num artigo do nosso último número, sob o título de Olhar retrospectivo
sobre o movimento espírita, fizemos duas classes distintas de livres
pensadores: os incrédulos e os crentes e dissemos que, para os primeiros, ser
livre pensador não é apenas crer no que se quer, mas não crer em nada; é
libertar-se de todo o freio, mesmo do temor a Deus e do futuro; para os
segundos, é subordinar a crença à razão e libertar-se do jugo da fé cega”. Obviamente
o cerne dessas publicações era desacreditar toda e qualquer crença de ordem
metafísica ou espiritual, pois sua orientação é absolutamente materialista.
Claro que o Espiritismo e suas ideias era um dos alvos preferidos. Kardec
argumenta com muita propriedade que não existe livre pensamento quando se
pretende limitar seu campo a aspectos puramente materiais e simplesmente
ignorar tudo o que está fora da possibilidade de comprovação científica. Diz
Kardec: “ Desde que o pensamento é
detido por uma convicção qualquer, não é mais livre. Para ser consequente com
vossa teoria, a liberdade absoluta consistiria em nada crer, nem mesmo em sua
própria existência, porque isto seria ainda uma restrição... Encarado deste
ponto de vista, o livre pensamento seria uma insensatez” E dá uma noção mais ampla do que seria o livre
pensamento: “ Em sua concepção mais
larga, o livre pensamento significa: livre exame, liberdade de consciência, fé
raciocinada: simboliza a emancipação intelectual, a independência moral,
complemento da independência física...” Kardec reforça a impossibilidade de
livre pensamento quando se restringe sua atividade, escravisando-o à matéria. Significa dizer: “ Tu és o mais livre dos homens, com a
condição de mais longe do que a ponta
da corda a que amarramos”. E em relação ao Espiritismo, o que dizer quanto
à sua filosofia de livre pensar e de livre escolha, vejamos o que ensina o
mestre: ” É o Espiritismo, como pensam
alguns, uma nova fé cega substituída a outra fé cega? Por outras palavras, uma
nova escravidão do pensamento sob nova forma? Para o crer, é preciso ignorar os
seus primeiros elementos. Com efeito o Espiritismo estabelece como princípio
que antes de crer é preciso compreender. Ora, para compreender há que usar o
raciocínio... Não se impõe a ninguém; diz a todos: Vede, observai, comparai e
vinde a nós livremente, se vos convier”.
Egydio Régis
Artigo publicado no Jornal Abertura de Julho de 2016
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