O PERISPíRITO e a ATUALIDADE
Marcelo Coimbra Régis
- Conceito do Perispírito nas Obras dos Clássicos Espíritas
Analisaremos a evolução e transformação do conceito espírita de Perispírito presente nas obras de G. Dellane, Ernesto Bozzano e nas de André Luiz.
- Conceitos Clássicos
Definição: O Perispírito é um invólucro da Alma, estando à ela ligado indissociavelmente. Definido como indestrutível, invisível, intangível e imponderável. Alma e Perispírito fundam-se num só complexo, sendo a alma a parte ativa e inteligente e o perispírito o seu meio de ação. Perispírito é também conceituado como modelo organizador do corpo físico.
Outro conceito introduzido nesse período seria que o perispírito sofre um processo evolutivo semelhante ao darwiniano. Passando pelos reinos mineral, vegetal e animal adquirindo através de sua experiencia vivencial sua forma interna, seu papel de diretor funcional do corpo e aprendendo as funções biológicas que mais tarde coordenará o Homem (reprodução, respiração, locomoção, inteligencia, etc.). Tais informações são armazenadas em camadas vibratórias superpostas, que representam cada etapa evolutiva vivida.
Constituição: Matéria no seu estado mais primordial e portanto não sujeita a divisões ou reduções. Não sujeito a interferencias físicas externa como calor, frio, eletricidade, etc. Sendo o modelo organizador do corpo físico, possui toda uma estrutura morfológica, com orgãos, tecidos, etc.
Propriedades: Moldável sob a ação da vontade, o Perispírito anima a matéria, provendo a vida à mesma.. Além disso, é intangível, imponderável e flexivel.
Papel Biológico: O Perispírito é o desenho prévio, a regra inflexível no qual a matéria se amolda quando se dá a formação de um novo ser. É o organizador biológico e o coordenador das funções corporais como digestão, respiração e reprodução.
Para esses autores, seria ainda o responsável pela manutenção da estabilidade organica ao manter as células coesas e garantindo que uma nova célula substitua uma célula morta, realizando as mesmas funções que esta, pois detem a memória organica e celular.
Podemos considerar, segundo essa concepção, que o complexo Alma/Perispírito seria o maestro das funções organicas, sendo o corpo a orquestra composta por milhões de componentes (células, tecidos e orgãos)
Papel Espiritual: Neste ponto os clássicos nao diferem muito de Allan Kardec, acrescentando apenas que o perispírito é a sede da memória, gravando todas as impressões vividas pelo Espírito em sua evolução.
Papel Fenomenológico: Também aqui os clássicos não diferem de Kardec, apenas em estudos mais detalhados do processo de comunicação corpo/perispírito, através de manifestações físicas, como materializações e bilocações.
Partindo de Kardec, os clássicos avançaram na explicação do papel do perispírito na reencarnação. Suas teorias estabeleceram que o perispírito se liga ao ovo já no momento da fecundação, dirigindo a formação do embrião e do ser. Ressaltam também que, apesar da ligação desde a fecundação, a mesma só é definitiva após o nascimento.
Conclusão: Ernesto Bozzano e principalmente Gabriel Dellane transferem para o perispírito atribuições antes reputadas ao Espírito, bem como todas as funções organicas não explicáveis até sua época.
Enquanto Allan Kardec posicionava o perispírito mais do ponto de vista de sua necessidade filosófica, seus seguidores europeus viram no mesmo, a chave para a explicação de muitos fenomenos materiais não explicados. Além disso, materializaram em demasia o foco de atenção da ciência espírita.
- Contribuição de André Luiz
Passaremos a analisar agora as contribuições deixadas por André Luiz em período de intensa comunicação através do médium Francisco Candido Xavier.
Como os clássicos, A. Luiz, atribui ao perispírito, a cooordenação do corpo físico. Como inovação, ele admite que o perispírito tenha duração variável, sofrendo transformações em sua constituição de acordo com as variáveis como tempo, encarne e desencarne, evolução e nutrição.
Aqui encontramos mais aprofundado o conceito de evolução darwiniana, sofrida pelo perispírito. Diz A. L. que através da reencarnação nos diversos reinos (iniciando pelo animal) e através da repetição, adquire sua forma morfológica e o automatismo que governará as funções organicas na etapa hominal. Por exemplo, o tato seria desenvolvido na fase evolutiva até serem formados todos os recursos necessários ao governo das bilhões de células do corpo humano.
A. Luiz, numa referencia as teorias esotéricas, agrega ao corpo espiritual (perispírito) a noção dos centros-energéticos (similares aos chacras). Segundo esse autor, o perispírito possue 5 centros, cada qual reponsável pelo controle e organização de sua área de influencia. São eles:
- Centro Coronário: sede da Mente e supervisor dos outros centros energéticos. Esse centro possui duas subdivisões:
- Sub-centro Cerebral, que governa o cortéx, o sistema nervoso e as glândulas endócrinas.
- Sub-centro laríngeo, que governa a respiração e a fonação.
- Cardíaco, governa circulação e emoção.
- Esplênico, governa a síntese sanguínea.
- Gástrico, governa a digestão e a absorção dos alimentos.
- Genésico, governo o sexo e os órgãos reprodutores.
Constituição: Composto de matéria sutil em dimensão diferenciada (além do Urânio e aquém do Hidrogênio, nas palavras de A.L.). O autor introduz também o conceito de células espirituais que, em analogia ao corpo físico, formariam o corpo espiritual (perispírito). Tal estrutura seria coordenada pela mente, hierarquicamente superior ao perispírito. Novamente o autor ressalta que o corpo físico espelha o corpo espiritual e que o perispírito possui órgãos semelhantes aos encontrados no corpo humano. Após o desencarne, o perispírito mantém sua estrutura de órgãos com algumas modificações no que tange aos sistemas gástricos e reprodutivo.
Propriedades: A. Luiz repete as propriedades enunciadas pelos clássicos: moldável, flexível, exteriorizável. etc.
Papel Biológico: Estando presente no mineral, vegetal e animal o perispírito, além de vitalizar e animar a matéria, é o coordenador do funcionamento dos bilhões de células presentes no corpo humano. Sua atuação se dá através dos centros vitais já descritos, cuidando de todos os detalhes e funções para o perfeito funcionamento corporal.
Quanto ao papel das leis da genética, A. Luiz, destaca que o perispírito atua no fenótipo, sendo o genótipo determinado pela herança genética. Porém o perispírito tem papel ativo na divisão celular, podendo determinar qual a carga genética será transferida a nova célula nascente.
Outro detalhe importante é que André Luiz cita textualmente no livro Evolução em Dois Mundos (pag. 46), a questão dos transplantes de tecidos entre vivos, explicando seus resultados negativos devido à orientação energética divergente entre os tecidos provenientes de corpos diferentes e, portanto, animados por perispíritos diversos.
Papel Espiritual: Um ponto novo introduzido nesse item é a Histogênese Espiritual, ou seja, a metamorfose sofrida pelo perispírito no desencarne. Aqui os tecidos perispiriticos perderiam algumas características, principalmente no sistema muscular e nos órgãos relacionados à nutrição.
A. Luiz aprofunda-se também nos mecanismos de sustentação da forma perispiritual após a morte, citando a existência de Espíritos tão concentrados em um único pensamento/sofrimento, que perdem a condição de manter a estrutura do perispírito. Assim, esse se retrai ou atrofia-se, dando origem aos Espíritos Ovoídes.
Papel Fenomenológico: A. Luiz explica os fenômenos Espíritas através do conceito da aura ou a emanação energética das células perispirituais. A exteriorização da aura e do corpo espiritual (perispírito) possibilitaria a mediunidade.
Na reencarnação o perispírito perderia o material dispensável, tornando-se uma forma diminuta (somente contendo a matéria indispensável) e então se ligaria a mãe e ao óvulo fecundado coordenando o processo reencarnatório.
CONCLUSÃO: André Luiz avança ainda mais na valorização do perispírito, como coordenador de todas as funções e processos corporais. Para ele, o Corpo Espiritual é a sede da evolução física do Homem, tanto encarnado quanto desencarnado.
Destaca-se aqui o papel ativo e detalhista nas atividades orgânicas e psíquicas do Homem, relegando ao corpo físico um papel de menor importância, passando ao perispírito todas as funções superiores.
No geral, A. Luiz e os Clássicos marcam a fase áurea do perispírito, enquanto teoria no corpo doutrinário Espírita. Após A. Luiz, pouco ou quase nada de novo foi acrescentado a teoria do Perispírito, sendo que, ainda hoje, os espíritas consideram essas teorias (às vezes absurdas como veremos) como válidas, num nítido processo de sectarização e afastamento das boas práticas filosófico-científicas de questionamento e comprovação.
continua...........
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