Aristóteles, precursor do Espiritismo laico por Roberto Rufo
"A filosofia é a disciplina responsável pela criação de conceitos" (Gilles Deleuze - 1925/1995).
Na introdução do livro "O Evangelho Segundo o Espiritismo" capítulo IV - Sócrates e Platão, precursores da ideia cristã e do Espiritismo - a Doutrina Espírita abraçou e afirmou que ambos defendiam a ideia da reencarnação. Especialmente Platão e o seu mundo das ideias onde se localizam a verdade, o bem e o belo, enfim um lugar perfeito, onde nesta vida apenas refletimos uma pequena sombra do sol que vimos anteriormente. No livro "O Céu e o Inferno" Kardec afirma que Sócrates e Platão compreendiam perfeitamente os diferentes graus de desmaterialização da alma. O que eles falavam está nos ensinos do Cristo.
Platão concebe Deus como "artífice do mundo", porém com um poder limitado pelo modelo que ele imita: o mundo das ideias ou das realidades eternas. Esse abraço exagerado que o Espiritismo deu em Sócrates e Platão, no afã de garantir a existência de Deus e da reencarnação, nos levou a desprezar a importância do mundo material. Não deveríamos ter ignorado Aristóteles cujo modo de pensar ficou conhecido como lógica aristotélica, por meio da qual é possível se tirar conclusões a partir de premissas verdadeiras, dentre outras leis que permitiriam a dedução. Aristóteles não foi apenas o pioneiro no estudo da lógica, como suas reflexões nesta área continuam válidas.
Todo o estudo de lógica parte da lógica clássica de Aristóteles. Todo o procedimento de raciocínio, de tirar conclusões, de generalizações, quem estudou explicitamente pela primeira vez foi Aristóteles”.
Aristóteles também se preocupou em estabelecer os princípios gerais para se fazer uma ciência. De acordo com a professora titular de Filosofia da Natureza da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Elena Moraes Garcia, o grego concluiu que, para isso, era preciso a existência de “princípios”, de “causas” e de “elementos”, o que influenciou toda a concepção de ciência posteriormente.
O principal ponto diferencial do pensamento de Platão e Aristóteles são as suas crenças a respeito do que é mais real e autêntico na existência humana. Platão acreditava que a essência da realidade não se encontra nas experiências do dia a dia.
Já Aristóteles acreditava que o mundo cotidiano era mais autêntico em comparação com o mundo das ideias proposto por Platão. Aristóteles baseava o seu trabalho filosófico nos seus conhecimentos morais. Em contrapartida, Platão acreditava que a realidade se encontra no mundo das ideias ou no mundo das formas, que era perfeito e eterno, enquanto Aristóteles acreditava que o mundo sensível, material e cotidiano era mais autêntico. E que o conhecimento deveria ser obtido por meio da experiência e da razão e que as ideias surgiam a partir da observação do mundo. Dessa forma fez importantes contribuições para a lógica, a ética, a política e a física.
Não sei se ainda há tempo para assumirmos plenamente o modelo conceitual de Aristóteles, tão intoxicados ficamos pela filosofia platônica como garantidora e precursora do ideário espírita. E ao longo dos tempos ainda nos envolvemos por ideais místicos como Roustaing, ou com "descobertas" pseudo-científicas como a parapsicologia, transcomunicação instrumental, terapias das vidas passadas, apometria e a mais charmosa de nome filosofia holística do charlatão Fritjof Capra. Só falta agora envolver a doutrina espírita com sistemas políticos em que o sujeito ativo do conhecimento não é a consciência individual, mas a coletividade. Confiemos nas novas gerações espíritas e nas pesquisas científicas sérias sobre o funcionamento do sistema cerebral, que talvez abra um campo promissor para a existência de alguma "energia" fora da matéria.
Gostaste deste artigo, foi publicado no Jornal Abertura de novembro de 2024.
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