O conflito chegou ao Brasil, uma corveta brasileira que estava no mediterrâneo, participando de missão humanitária na Líbia, socorreu, atendendo a pedido de socorro da Itália, 220 pessoas que estavam a deriva, sem beber água há 2 dias.
Sobre tudo isto vale ler os artigos abaixo:
A foto e o Menino - Carol Régis di Lucia
E quando vejo aquele pequeno em posição de plácido sono, lembro de meu filho em seu berço quente e seguro. Dormem de modo semelhante: de bruços, braços relaxados para trás, as pernas levemente apoiadas, erguendo-se “chamando o irmão” como diziam os antigos. Porém, reparo que a imagem mostra a água batendo em seu rosto e um forte instinto me leva a pensar em retirá-lo antes que ele aspire o mar. Mas ele já o fez, algumas horas atrás, quando do naufrágio. E então entendo que ele parece dormir, mas diferente do meu, esse filho de alguém não irá acordar mais...
É assim que mais uma imagem entra para a
História terrível das guerras nesse pretenso planeta de provas e expiações.
Assim como em outras fotos, uma criança retrata o horror das famílias que
largam tudo (ou nada) para fugir dos conflitos em seus países e perdem suas
vidas tentando sobreviver. O menino sírio, como ficou conhecido, foi capa de
noticiários e chocou o mundo para o óbvio: os refugiados estão morrendo aos
montes, todos os dias, a mercê do Mar, dos Desertos, das Fronteiras. E os
governos...
Mas desta vez, eles invadiram nossas casas,
pela inevitável e perturbadora semelhança do garoto Aylan com nossos filhos.
Nos sacudiu os instintos mais primários de proteção, sobrevivência, dor,
revolta. E o que fazer? A unicidade nessa foto é justamente trazer o conflito,
tão distante e estranho ao nosso cotidiano, para bem perto, em nosso conforto
do lar. A foto conscientizou, provocou discussões, chamou a atenção e formou
opiniões. Só por isso já é válida.
Retratou o pai, único sobrevivente, como um
vizinho ou parente próximo, que levou sua família para ter um futuro melhor.
Futuro esse que “escorregou” de suas mãos quando a travessia não deu certo. Mostrou
a dor de se perder filhos, mas também de ser renegado, não ser ouvido, não ser
ajudado. Tão longe e tão perto.
Vi muitos depoimentos de Espiritas, nas
redes sociais, pedindo orações aos garotos mortos e à família, li citações
sobre as guerras, textos de mensagens de Chico Xavier. Tudo válido, mas vago.
Por outro lado, vi e participei de manifestos, abaixo assinados, discussões
práticas de ONGs que zelam por essas pessoas. Uma oportunidade efetiva de
ajudar e participar ativamente para a amenização da questão, cobrando soluções
aos governos que negam a entrada dessas pessoas em seus territórios.
Creio que esse é o papel do Espirita que
compreende a responsabilidade de cada um sobre àqueles que sofrem a violência
das tantas guerras que estão em andamento e precisam de amparo – e incluo aqui
as guerras urbanas, como as que vivemos no Brasil, ao lado de nossas casas, com
tantos Aylans mortos diariamente. Além das orações, temos a obrigação de
praticar o auxílio, promover debates, questionar, posicionar-se.
Que a perturbação dessas imagens nos seja
mola propulsora à ação. Que nossa indignação não morra na praia, não perca a
validade como as capas de jornais. Temos muito o que fazer, seja pelos sírios,
seja pelos brasileiros mesmo. Existem grupos esperando nossa ajuda, pessoas
necessitando apoio, ações a serem tomadas. Só nos resta deixar a posição de
espectadores e fazer parte da fotografia, para que hajam muitos melhores
momentos a retratar.
OS
REFUGIADOS E A ETERNA QUESTÃO DA IGUALDADE - por Roberto Rufo
“A
igualdade pode ser um direito, mas não há poder sobre a Terra capaz de torná-la
um fato”. (Honoré de Balzac).
“Os
que comem bem, dormem bem e têm boas casas acham que se gasta demais em
política social”. (Pepe Mujica).
Tragédias do século XXI, mais especificamente em 2015, envolvem a
questão dos refugiados de países árabes e africanos, que no desespero de fugir
de governos despóticos e cruéis se lançam na aventura de chegar a um porto
seguro nos países da Europa. Infâmias se sucedem:
11.02.2015
– mais de 300 imigrantes desaparecem no mar quando os botes em que viajavam
naufragaram perto da costa da Líbia. O acidente gerou críticas contra a União
Europeia por tratar o incidente com menosprezo.
19.04.2015
– o naufrágio de um barco com imigrantes da Síria e Líbia pode ter deixado até
700 mortos, segundo órgão para refugiados da ONU.
27.08.2015
– os corpos de 71 pessoas, crianças inclusive, são encontrados em caminhão em
rodovia da Áustria. Segundo autoridades, eram imigrantes provavelmente da
Síria.
Há
alguns meses verificou-se uma mudança radical nos itinerários da imigração. Há
um ano, o caminho real começava na Sicília. Hoje, a rota de Lampedusa ainda
funciona, mas uma nova rota foi aberta. A dos Bálcãs. A Hungria já está
providenciando a construção de uma cerca para impedir a passagem de imigrantes pelo
seu país. É muita dor e sofrimento, onde
a tolerância, humanidade e solidariedade estão colocadas á prova da nossa
evolução espiritual.
Kardec
em comentário à pergunta 803 do Livro dos Espíritos (Todos os homens são iguais
diante de Deus?) nos fala que todos os homens nascem com a mesma fraqueza,
estão sujeitos às mesmas dores e o corpo do rico se destrói como o do pobre.
Portanto, Deus não deu, a nenhum homem superioridade natural, nem pelo
nascimento, nem pela morte. Diante dele, todos são iguais. Eis um momento específico da história da
humanidade, onde valores como igualdade devem ser provados quanto à sua
eficiência no trato das relações humanas.
O
pensador José Rodrigues, no XI Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita em
2009, apresentou um trabalho muito instigante de nome “A Crise da Ambição”.
Neste
trabalho ele vai à causa raiz do problema dizendo que “as crises sistêmicas da
economia mundial refletem formas de ação individual e coletiva que não deixam
dúvida sobre as suas causas: a ambição”. Aliás, nunca é demais repetir, no
citado Livro dos Espíritos , quando Kardec indaga aos espíritos quais são as
duas maiores chagas da humanidade , estes respondem: o orgulho e o egoísmo.
Em
se tratando da Europa, especialmente França, Luxemburgo, Alemanha e Suíça, é
bom que se lembre de que grandes fortunas “escondidas” nos grandes bancos
desses países são provenientes das ditaduras da África e do Oriente Médio.
Nunca houve qualquer pudor ou vergonha ética que impediu a lavagem de dinheiro
dessas ditaduras em países da chamada democracia ocidental.
Num
gesto que até podemos considerar nobre, a primeira ministra da Alemanha, a Sra.
Ângela Merkel, quer que a Europa adote regras de tolerância para os que fogem
de países em guerra. Outros tipos de refugiados que queiram somente se
beneficiar da pujante economia alemã não serão aceitos.
A Alemanha acolheu refugiados de guerra,
mesmo porque as famílias alemãs não têm muitos filhos e a indústria e a
agricultura carecem de mais braços. Ou seja, a “caridade” tem como sempre
nesses casos um viés econômico. Mesmo assim essa liberalidade ocasionou, nos
últimos seis meses, duzentos ataques contra centros de acolhimento de
refugiados. A primeira ministra foi vaiada pelos grupos neonazistas. Tempos de
crise são tempos de muito preconceito.
Mas também tempos de muita solidariedade e amor ao próximo como
demonstram grupos de direitos humanos na Europa que trabalham para o alívio do
sofrimento dessas pessoas.
Certas
frases colocadas por Kardec em comentário às diversas respostas dadas pelos
espíritos podem soar piegas aos ouvidos de pessoas que, isentas de
espiritualidade, veem o mundo de uma forma unicamente materialista. Todavia
como seriam úteis se habitassem os corações de governantes e do mundo
financeiro e fossem colocadas em prática. Digo isso, pois no comentário à
pergunta 886 do Livro dos Espíritos Kardec diz que o amor e a caridade são o
complemento da lei de justiça, porque amar ao próximo é fazer-lhe todo o bem
que está ao nosso alcance.
Qual
a solução? Provavelmente passa pelos ensinamentos do pensador José Rodrigues,
no trabalho citado acima , quando afirma que “enquanto uma expressão exagerada
da paixão , a ambição, como fator psicológico, não é considerada nas avaliações
e previsões dos agentes econômicos, centradas em dados de predomínio
quantitativo".
“O
Espiritismo, em sua expressão filosófica, ao tratar das causas dos conflitos
humanos, oferece elementos capazes de elucidar e ajudar a superação das crises,
pela mudança de sus antecedentes”.
Brilhante.
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