quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

O GRANDE PROBLEMA DA TRANSEXUALIDADE por Reinaldo di Lucia

 

O GRANDE PROBLEMA DA TRANSEXUALIDADE

O grande problema da transexualidade não é, irônica e tragicamente, a própria transexualidade e menos ainda, o ser transexual.

Somos nós, os chamados Cisgêneros, o grande problema! Aqueles que são a maioria da Humanidade e, em sua grande parte, vivem e exercitam uma visão maniqueísta, binária e excludente.  Vivemos no terceiro milênio; mas nossa visão de mundo se encontra há dois séculos passados.

Olvidando que o universo é o maior exemplo de diversidade e de diferenças infinitas, ainda não conseguimos aceitar plenamente aquele que não se nos apresenta, à nossa própria imagem e semelhança. Aceitamos somente o espelho.

Talvez, muitas vezes, rejeitemos o diferente porque tendemos ao seguro e ao estabelecido, que não nos impele a questionamentos e crises conscienciais.

Mas, lentamente, a sociedade vem mudando.  Os chamados invisíveis clamam por seu lugar no mundo, por respeito, por acolhimento e por cidadania. Com seus direitos e deveres.

Querem ser vistos e ouvidos... E nós, enquanto sociedade, não mais podemos negá-los e devemos escutar seus anseios e medos.

É bem verdade que, ao se fazerem notar, algumas vezes, fazem tremer os alicerces de nossa sociedade, gerando situações ainda não esclarecidas e, menos ainda, resolvidas. Somente com o tempo e o avanço do conhecimento é que poderemos melhor compreendê-las.

As questões de trabalho, de atendimento à saúde, de participação nos esportes e até de uso de sanitários.  Onde situar o transexual? Estes são muitos dos questionamentos dos Cisgeneros.

Afinal, a mulher trans (um indivíduo nascido biologicamente homem, mas que se identifica com o gênero feminino) deverá disputar esportes com mulheres cis? Se presidiária, deve cumprir pena em uma penitenciária feminina ou masculina? Deve utilizar o sanitário feminino ou masculino?  Os mesmos questionamentos surgem com o homem trans (indivíduo nascido biologicamente mulher, mas que se identifica com o gênero masculino).

Divergências e até processos tem ocorrido em razão disto, conflitos entre Cis e Trans.

É chegado o momento de realmente enxergarmos o Transexual.  Nos atemos a seu sexo biológico, o que não é a sua essência.  É simplesmente um Espírito que se sente Homem ou Mulher, independentemente do seu corpo.  Essa é a questão.  Não podemos mais os ver como um homem que quer ser mulher, porque ele é uma mulher, ainda que num corpo masculino.

E não podemos os ver como uma mulher que quer ser homem, porque ele é um homem, ainda que num corpo feminino.

É como o Espírito se vê e sente-se. E devemos respeitar quem são e como se veem. Precisamos ver além... além da pele, além do corpo.... A ALMA!

Ao fazermos isto, conseguiremos acolhe-los e respeita-los.  Muito mais que as lutas que vivem para adequar o seu corpo ao seu Espírito, os sofrimentos imensos que suportam são decorrentes de nosso comportamento enquanto sociedade.  Da forma com que os tratamos: negando , rejeitando, maltratando, agredindo e até matando! Trata-se de garantir-lhes os tão discutidos Direitos Humanos. 

E quem melhor do que nós, espíritas, que compreendemos as múltiplas existências em diferentes vivencias, para estender os braços e com imenso carinho no olhar, acolhê-los?

Finalizando, para quem desejar, vale a pena ler os “Princípios de Yogyakarta”, dos quais o Brasil é signatário.  Foi publicado em novembro de 2016, como resultado de uma reunião internacional de grupos de direitos humanos realizado na cidade de Yogyakarta, na Indonésia. Contêm um conjunto de preceitos destinados a aplicar os padrões da Lei Internacional de Direitos Humanos ao tratar de situações de violação destes direitos referentes à orientação sexual e identidade de gênero.

Estes princípios foram complementados e ampliados em 2017, para incluir mais formas de Expressão de Gênero e características sexuais, além de vários novos princípios.

Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.

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