Tema: Jesus, este mito que me atormentava
Índice
Nº |
Tópicos |
Página |
1 |
Introdução |
2 |
2 |
Objetivo e Público Alvo |
2 |
3 |
Mito: definição |
3 |
4 |
O motivo para escrever este texto |
3 |
5 |
Espiritismo versus Jesus versus Religião |
4 |
6 |
Fanatismo: sinal da falta de cultura ? |
5 |
7 |
Experimentos Científicos versus Fé |
6 |
8 |
Escolas que discutiram sobre a natureza de Jesus |
7 |
9 |
O significado dos nomes: Jesus, Cristo e Jesus Cristo |
9 |
10 |
Jesus pelo mundo |
9 |
11 |
Diferentes visões sobre o papel de Jesus |
10 |
12 |
Jesus: poucas evidências históricas |
11 |
13 |
Crítica Textual aplicada aos escritos sobre Jesus |
13 |
14 |
Composição da Bíblia |
14 |
15 |
A histórica de Jesus é calcada nos deuses da
mitologia ? |
15 |
16 |
Nascimento de Jesus: data versus cidade versus local |
16 |
17 |
Jesus dos 13 aos 30 anos |
17 |
18 |
Pregação de Jesus: início
versus término |
19 |
19 |
Morte de Jesus |
20 |
20 |
Propagação da doutrina cristã |
21 |
21 |
Conclusão |
23 |
22 |
Agradecimentos |
25 |
23 |
Cronologia |
26 |
24 |
Bibliografia |
29 |
Jesus, este mito que
me atormentava.
- 1-) Introdução
Em 12/07/2016
o blog do ICKS -Instituto Cultural Kardecista de Santos publicou o meu texto,
que naquela oportunidade eu intitulei como: Jesus, este
mito que me atormenta. Tal texto ainda
pode ser encontrado no citado blog.
Posteriormente,
apresentei este trabalho em alguns eventos: no XV SPBE-Simpósio Brasileiro do
Pensamento Espírita, realizado em Santos em 2017; um resumo do mesmo foi
publicado no Jornal Abertura – edição 340 – jan/fev-2018; na reunião do
CPDOC-Centro de Pesquisas e Documentação da Doutrina Espírita, realizada em
Santos em 2019 e nesse mesmo ano no CEAK-Centro Espírita Allan Kardec de Santos.
Após as apresentações
acima citadas e somado às novas leituras, bem como às diversas contribuições de
inestimáveis amigos, decidi reeditar o texto; porém desta vez, com um novo
título: Jesus, este mito que me atormentava.
- 2-) Objetivo
e Público Alvo:
A pretensão
deste texto é levar a comunidade espírita a refletir se o papel de Jesus dentro
de tal comunidade deve ser enxergado como uma divindade, semelhante ao que é
encontrado nas igrejas cristãs, ou como um espírito que foi criado simples e ignorante
e progrediu segundo o seu livre arbítrio, desde que Jesus tenha existido. Desde
início faço esta provocação sobre a existência ou não de Jesus, com base nas diferentes
literaturas que questionam a existência dele.
Particularmente,
creio na existência de Jesus, mas em hipótese nenhuma, creio que ele seja uma divindade,
pois isso colocaria em cheque a essência do espiritismo, acima já mencionada e
citada na resposta à questão nº 115, do Livros dos Espíritos: “Deus criou
todos os espíritos simples e ignorantes, isto é, sem saber. A cada um deu
determinada missão, com o fim de esclarecê-los e de os fazer chegar
progressivamente à perfeição, pelo conhecimento da verdade, para aproximá-lo de
si”.
Para reforçar
a distinção entre a interpretação de Jesus para o Espiritismo e para o
Cristianismo, faz-se necessário registrar, com base no Dicionário Enciclopédico
das Religiões, o papel de Jesus para os cristãos:
- Reconhecer a Jesus Cristo como verdadeiro Deus e verdadeiro homem,
filho único do Pai Eterno;
- Proclamar que Ele, o Crucificado e Ressuscitado, é o único Salvador,
Mediador entre Deus e os homens;
- Professar a divindade do Espírito Santo, consubstancial ao Pai e ao
Filho;
- Acreditar que a Bíblia contém a revelação de Deus a seu povo.
Com base na
definição acima, fica claro que o Espiritismo não pode aceitar esse papel de Jesus,
pois violaria princípios basilares.
- 3-) Mito: definição
“Uma verdade
não é difícil desaparecer e uma mentira, quando bem contada, torna-se imortal” –
Mark Twain – 1835-1910 – escritor norte-americano.
Mito significa
relato fantástico de tradução oral, com conteúdo culturalmente significativo,
sendo expressões dos conteúdos psíquicos mais profundos do ser humano. Mitos não
se comportam necessariamente como mentiras. Como mostra o antropólogo Claude Lévi-Strauss
– 1908-2009, por tratarem de contradições profundas das sociedades a que dizem
respeito, eles permanecem vigentes para além dos argumentos racionais ou dos
dados e documentos que buscam negá-lo. Afinal, muitas vezes é mais cômodo conviver
com uma falsa verdade do que modificar a realidade.
- 4-) O motivo para escrever este
texto
Em 1985, o meu amigo Arnaldo mudou-se
para os Estados Unidos da América e querendo diminuir a sua bagagem, me ofertou,
além de várias bugigangas, o livro A Gênese
– os milagres e as predições segundo o espiritismo, escrito em 1868 pelo francês
prof. Hippolyte Léon Denizard Rivail, que adotou o pseudônimo de Allan Kardec. Guardo
até hoje essas lembranças, bem como o livro, o qual contribuiu para aumentar as
minhas dúvidas a respeito da crença católica, que conservava àquela época. Falo
em aumentar, pois alguns anos antes desse episódio, trabalhei ao lado do meu amigo
Rogério, um profundo estudioso da doutrina das Testemunhas de Jeová, quando
pude ouvir dele várias interpretações a respeito das passagens bíblicas, as quais
são chamadas pelos TJ’s como Tradução do
Novo Mundo das Escrituras Sagradas, de formas diferentes, ou melhor,
conflitantes em relação às interpretações que eu tinha, oriundas do Catolicismo.
A jornada do Catolicismo até o Espiritismo
foi penosa e longa, pois não foi fácil largar a “segurança” das orações e do
clima criado durante as cerimônias religiosas, principalmente aquelas invocadas
com canções, criando sons vocálicos inebriantes, como as praticadas nas
cerimônias Rosacruz, nas quais também deixei algumas pegadas... Quando me lembro
desse ritual de passagem, do Catolicismo ao Espiritismo, penso no ator americano
de cinema Woody Allen, sempre em busca
de uma resposta para as questões de religião, sem falar da morte e do sexo, que
completam a trilogia desse cineasta.
Não era agradável ouvir do Jaci Régis - grande
pensador espírita radicado em Santos/SP desde a juventude e desencarnado em
dez/2010 - durante as suas preleções no Centro Espírita Allan Kardec,
localizado em Santos/SP, que o Espiritismo não era cristão. Mas com o passar do
tempo e com o aprofundamento das leituras sobre o Espiritismo, pude suportar
esse “peso”.
Todas essas questões e dúvidas levaram-me
a escrever este texto, que possui muitas passagens que são cópias
literais da bibliografia citada ao final do mesmo, o qual intitulei: Jesus, este mito que me atormentava. O termo
atormentar é só uma força de expressão, pois é um tema que me seduz e procuro ler
as várias versões/posições a respeito, pela necessidade que sinto de reforçar a
minha crença no Espiritismo, de forma racional, pois como disse Allan Kardec no
livro A Gênese – capítulo I – item 55: “O
espiritismo, marchando com o progresso, jamais será ultrapassado porque, se novas
descobertas demonstrassem estar em erro sobre um certo ponto, ele se modificaria
sobre esse ponto; se uma nova verdade se revelar, ele a aceitará”.
- 5-) Espiritismo versus Jesus
versus Religião
“Quando o assunto é religião é muito
fácil iludir um homem, e muito difícil desiludi-lo” – Pierre Bayle – 1647-1706 –
filósofo e escritor francês.
A discussão do tema sobre Jesus, de
alguma forma, guarda uma relação com os questionamentos sobre se o Espiritismo
é uma religião ou não.
O assunto é controverso até hoje e foi
debatido por Kardec num discurso, por ocasião do “Dia dos Mortos”, publicado na
Revista Espírita de dez/1868.
Durante tal discurso, Kardec pergunta e
responde: “O Espiritismo é uma religião?
Ora, sim, sem dúvida, senhores. No
sentido filosófico, o Espiritismo é uma religião”.
Kardec prossegue: “Dissemos que o verdadeiro objetivo das assembleias religiosas deve ser
a comunhão de pensamentos. As reuniões espíritas podem, pois, ser feitas
religiosamente, isso é, com recolhimento e o respeito que comporta a natureza
grave dos assuntos de que se ocupa. Pode-se mesmo, na ocasião, aí fazer preces que,
em vez de serem ditas em particular, são ditas em comum, sem que por isto as
tomem por assembleias religiosas. Não se pense que isto seja um jogo de palavras:
a nuança é perfeitamente clara, e a aparente confusão é devida à falta de um vocábulo
para cada ideia”.
A despeito da posição de Allan Kardec de
que o Espiritismo seria uma religião no sentido filosófico; no que se refere ao
Cristianismo, Allan Kardec, através das comunicações mediúnicas recebidas, sustenta
que o Espiritismo é cristão.
No livro O Evangelho Segundo o Espiritismo
– capítulo I – O Espiritismo – item 7, Kardec diz: “O Espiritismo é, pois,
obra de Cristo, que preside, conforme igualmente o anunciou, a regeneração que
se opera e prepara o reino de Deus na Terra”. Inclusive, existem diversas
mensagens presentes no citado livro, assinadas pelo Espírito da Verdade, que segundo
Kardec, seria o próprio Jesus, uma delas pode ser encontrada no capítulo VI –
Instruções dos Espíritos. Tais mensagens reforçam o papel de Consolador,
que muitos espíritas atribuem ao Espiritismo.
Além das posições de Kardec, como acima
mencionadas, aqui no Brasil, a primazia do aspecto religioso foi dada pelos
primeiros dirigentes, em decorrência de fatores culturais e tendências pessoais.
Oriundos do Catolicismo, ao adotarem o Espiritismo procuraram a forma como apresentá-lo
ao público. Nos primórdios, falou mais alto o suposto mandato dos Espíritos
Superiores que teriam se comunicado através de médiuns confiáveis. No núcleo que
tomaria para si o comando doutrinário, surgiu a figura do Anjo Ismael, supostamente
governador espiritual do Brasil. O parâmetro foi estabelecido sem qualquer relação
com o pensamento kardecista, descartado diante da supremacia do mandato provido
do “alto”. Firmada e cristalizada a estrutura religiosa, mais uma vez, se
procurou adaptar: “Jesus é a porta, Kardec é a chave”, disse o Espírito
Emmanuel, reduzindo a Doutrina a mero braço evangélico.
Infelizmente não é uma visão humana de
Jesus que vemos hoje na maioria dos centros espíritas, pois a figura de Jesus
continua a ser cultuada como uma encarnação de Deus.
- 6-) Fanatismo: sinal da
falta de cultura ?
Encontramos nas religiões um verdadeiro
fanatismo. O termo latino fanaticus
vem de fanus – um altar ou um santuário.
Designava o benfeitor de um templo ou um indivíduo diretamente inspirado pelos
deuses. Cícero, no século I a.C., talvez tenha sido o primeiro a usar a palavra
de forma pejorativa – numa de suas orações, o termo vira sinônimo de
supersticioso. Centenas de anos depois, Voltarie - 1694–1778 – escritor e filósofo
iluminista francês, chegou a uma definição mais próxima daquela que usamos
hoje. Para ele, “O fanatismo é uma doença
da mente, que se transmite da mesma forma que a varíola”.
Em 2016, a 4ª edição da pesquisa Retratos
da Leitura no Brasil, promovida pelo Instituto Pró-Livro e realizada pelo Ibope
mostrou que o Brasil é, basicamente, um país de leitores de Bíblia. No mesmo
ano, outra apuração apontou para a ascensão dos livros religiosos e a queda da
literatura no país.
Já no ano seguinte, mais um indício da
supremacia dos livros sacros, cujas vendas novamente cresciam enquanto o comércio
de livros científicos diminuía.
É o reflexo perfeito de uma população
que se preocupa cada vez menos em ouvir vozes divergentes, que aos poucos vai
trocando livros formadores por livros religiosos normalmente interpretados de
forma oportuna por algum “líder espiritual”. Provavelmente na mesma linha de
quem escreveu o folheto a ser mencionado no parágrafo seguinte:
Em janeiro de 2002, quando eu estava com
a minha esposa e filhos, a passeio na cidade do Rio de Janeiro, um jovem
trajando um uniforme estilo militar, ostentava no peito um bordado com o título
Embaixador de Cristo e me entregou um
folheto, que guardo até hoje e nele está escrito: “Por natureza, todos nós somos inimigos de Deus. Mesmo quando alguém não
acredita nisso” !!??. Depois, o texto segue com outras “ameaças”, para finalmente
apresentar Cristo como a solução para todos os problemas.
Com os dados aqui apresentados a respeito
do incremento de leitores da Bíblia e a diminuição de leitores de literaturas diversas
nos induz a crer que a falta de uma cultura heterogênea, cria um ambiente
propício ao fanatismo, ou seja, a crença não raciocinada, a qual vai de encontro
ao que Kardec preconiza.
O escritor peruano Mario Vargas Llosa disse:
“Um público comprometido com a leitura é crítico, rebelde, inquieto, pouco
manipulável e não crê em lemas que, alguns, fazem passar por ideias”.
- 7-) Experimentos Científicos
versus Fé
A falta de uma leitura diversificada,
abordada no item anterior, favorece a fé num Jesus divino e se soma à possibilidade
da fé possuir algum componente biológico. Para explorar isso, alguns
experimentos científicos serão citados a seguir, uma vez que há uma corrente da
neurociência que defende que a razão caminha em paralelo com as questões de
crenças religiosas, ou seja, é algo impossível de se tentar conciliar. Estes
experimentos científicos colocam em dúvida se a fé é algo genuíno ou biológico.
O cérebro humano é mais inclinado a
acreditar do que a desconfiar. Tanto que, quando cremos em algo, nosso impulso
natural é buscar informações para confirmar que estamos certos. Quando do surgimento
do método científico em diferentes partes do mundo antigo, pensadores como o filósofo
grego Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.) começaram a propor métodos de
observação sistematizados, baseados em hipóteses, que deveriam ser submetidas a
testes controlados, cujos resultados precisavam ser anotados para que conseguíssemos
reproduzi-los. A crença pura e simples, a impressão ou a opinião já não bastavam
para sustentar o conhecimento.
Ainda na linha da corrente da
neurociência, citada anteriormente, o neurocientista Michael Persinger, da Universidade
Laurentian, no Canadá, conseguiu reproduzir em laboratório algumas experiências
religiosas, utilizando um capacete magnético. Os voluntários recebiam pequenas
descargas elétricas no lobo temporal (responsável pelo nosso senso de individualidade),
causando micro cisões na região. Em resposta, seus cérebros produziam uma série
de sensações estranhas, como a impressão de estar saindo do corpo, ouvindo
vozes, ou sentir uma presença inexplicável no local. Ih, será que os nossos
médiuns “sofrem” desse tipo de descarga elétrica ?...
Outro experimento, foi conduzido pelo psiquiatra
americano Philip Corlett, professor da Universidade Yale, nos Estados Unidos,
que coordenou um estudo, publicado no início de ago/2017 cujo objetivo era
provar como os seres humanos são suscetíveis a alucinações, ou seja, “percepções
sem estímulos externos”, quando possuem alguma crença, qualquer crença, de cunho
religioso ou não. Nesta pesquisa realizou-se um teste em que voluntários foram
divididos em quatro grupos, com cerca de quinze pessoas cada um. Num desses
times, incluíram-se somente indivíduos que haviam sido diagnosticados com alguma
doença psicótica, circunstância que os levava a ouvir sons inexistentes. Em
outro grupo ficaram aqueles que sofriam de algum distúrbio psíquico, porém não
escutavam vozes; no terceiro, pessoas completamente saudáveis; e, por fim, apenas
indivíduos que não tinham sido clinicamente diagnosticados com nenhum problema
de natureza psicológica mas declaravam ter alucinações auditivas e as atribuíam
a experiências místicas, espirituais ou religiosas. Durante o experimento, por
meio da repetição, os cientistas levavam os voluntários a acreditar que
poderiam ouvir estímulos sonoros específicos toda vez que visse uma luz. Ocorre
que nem sempre os sons eram ativados. A intenção era detectar se as pessoas iriam
notificar que haviam ouvido o barulho, mesmo sem ele existir. Neste teste foi
possível analisar, por meio de ressonância magnética, o que ocorria no cérebro
das pessoas durante o estudo. Conclusão: as que mais ouviram sons inexistentes
estavam no primeiro grupo (dos psicóticos) e no último (dos místicos). O pesquisador
definiu que alucinações são mais frequentes entre indivíduos que já possuem
crenças.
A questão da fé é algo extremamente complexa,
pois a Associação Mundial de Psiquiatria declara a importância da espiritualidade
nos tratamentos de saúde. Uma das explicações é a atuação do chamado eixo
"psiconeurimunoendócrino", em que uma emoção positiva seria capaz de
alterar a produção de hormônios que, por exemplo, reduziriam a pressão
arterial.
A fé, palavra que vem do latim “fides”, significa
“fiar-se de”, “ter confiança” parece que pode ter algum componente biológico e de
certa forma, impactar em nossas crenças cegas.
- 8-) Escolas que discutiram
sobre a natureza de Jesus
Considero válido citar que a discussão
sobre a natureza de Jesus foi algo muito debatido por parte de várias escolas,
que buscavam determinar qual era a natureza de Jesus. Cito abaixo, algumas
delas:
- Adocionismo–(século VIII) - é uma das manifestações
do Monarquianismo. Entende que Cristo, como Deus, foi feito Filho de Deus pela
geração e pela natureza, mas Cristo, como homem, é o Filho de Deus apenas pela
adoção e graça, dispensada no momento de seu batismo.
- Arianismo-(século
III) – doutrina
dos primeiros anos da era cristã que crê que Jesus, apesar de um ser superior,
seja inferior ao Pai.
- Basilídios – uma das primeiríssimas seitas
cristãs não acreditavam que Cristo tivesse morrido na cruz e que outro indivíduo
lhe serviu de substituto.
- Docetismo–(século II) - defende que Jesus era um mensageiro dos
céus e que seu corpo carnal era uma ilusão e sua crucificação teria sido
apenas aparente.
- Ebionismo–(século II) - crê em Jesus como um profeta, nascido
de uma relação carnal de Maria e José, que teria se tornado Cristo no ato
do batismo.
- Monarquianismo–(século III) - série de crenças que enfatizam a Unidade
Absoluta de Deus, ou seja, são contrários ao conceito trinitário da
Divindade.
- Monofisismo–(século V) – segundo a qual Jesus
teria uma única natureza: divina (o Monofisismo foi elaborado por Eutiques
em reação ao Nestorianismo).
- Nestorianismo–(século V) – segundo a qual Jesus
Cristo é, na verdade, duas entidades distintas, vivendo no mesmo corpo: uma
humana (Jesus) e uma divina (Cristo).
- Sabelianismo ou Modalismo–(século III) - é a outra manifestação
do Monarquianismo e defendia que Jesus e Deus não eram pessoas distintas,
mas sim “aspectos” ou “modos” diferentes do trato da divindade com a humanidade.
As diferentes escolas citadas traçam um
paralelo junto a outros movimentos religiosos ou filosóficos, como a seguir:
Os Testemunhas de Jeová e os Mórmons são
os modernos Arianos.
A posição dos mulçumanos, com base na 4ª
Surata (As mulheres) – versículos 157-158, vai ao encontro dos Basilídios,
pois eles também acreditam que Jesus foi substituído por outra pessoa, no momento
da crucificação.
No tocante ao Nestorianismo, registra-se que a doutrina Rosacruz difunde esta ideia
dual da figura de Jesus, mencionada no livro “A Vida Mística de Jesus”, onde há o registro de que a entidade
divina de Jesus deixou de existir no momento da crucificação (“No momento da entrega do Espírito Santo,
ainda na cruz, Jesus deixou que o poder e a autoridade especial retornassem à
Consciência Cósmica.”), mas ele, utilizando-se de seus conhecimentos
gnósticos, recuperou-se dos ferimentos sofridos pela crucificação e continuou
com a sua vida humana.
No meio espírita, encontramos quatro posições
a respeito da natureza de Jesus: Kardec, Roustaing, Ramatís e Emmanuel.
Para Kardec, Jesus é o modelo de ser
humano mais perfeito que Deus ofereceu para servir de guia, conforme resposta à
pergunta de nº 625 do Livro dos Espíritos – “Para o homem, Jesus constitui o
tipo da perfeição moral a que a humanidade pode aspirar na Terra. Deus no-lo oferece
como o mais perfeito modelo e a doutrina que ensinou é a expressão mais pura da
Lei do Senhor, porque, sendo Ele o mais puro de quantos têm aparecido na Terra,
o Espírito divino o animava”.
Uma posição que se coaduna com a escola
do Docetismo é a de Jean Baptiste Roustaing (contemporâneo de Kardec), que
defendia ter o Cristo um corpo diverso dos demais, de natureza fluídica (agênere).
Tal tese é defendida no livro Os Quatro Evangelhos. Esta tese foi refutada por
Kardec em artigo da Revista Espírita de 1866, mesmo ano da publicação do citado
livro. Registra-se que o livro Os Quatro Evangelhos foi incluído no estatuto da
Federação Espírita Brasileira, por Bezerra de Menezes em 1895 e só em 2019, tal
livro foi retirado do estatuto.
Segundo o médium Hercílio Maes (1913-1993),
no seu livro: O Sublime Peregrino, registra as comunicações de um espírito chamado
Ramatís, o qual dizia ter sido um filósofo de Alexandria na época de Jesus e
foi à Palestina encontrar pessoalmente com ele. Nesta publicação, Ramatís defende
que Jesus era um espírito angélico, um sublime médium, o mais qualificado
representante da divindade na terra, que teve a plenitude mediúnica alcançada
aos 30 anos. Para Ramatís, Jesus é um médium do Cristo Planetário (consciência
diretora de um planeta).
Entre Roustaing e Ramatís existem alguns
pontos em comum, como exemplo: Jesus evoluiu em linha reta sem reencarnar.
Na visão do espírito Emmanuel, que se comunicava
através do médium Francisco Cândido Xavier, ele cita no capítulo A Gênese
Planetária, do livro A Caminho da Luz, que Jesus quando alcançou o
patamar de espírito puro, foi incumbido por Deus para ser o governador do planeta
Terra, tendo operado como construtor de tal planeta, desde o início da sua
formação, há cerca de 4,5 bilhões de anos
Neste tópico do presente texto já podemos
tomar conhecimento de como o Cristianismo não teve um início de forma estruturada,
com base em dados/fatos suficientemente concretos, uma vez que séculos após a morte
de Jesus, ainda se esteja discutindo sobre a natureza dele.
Considero que tal discussão só existiu
e, ainda existe, pela total falta de documentos originais de inquestionáveis veracidade.
Este assunto (documentos verossímeis) será aborda a seguir, nos itens 12 e 13.
- 9-) O significado dos
nomes: Jesus, Cristo e Jesus Cristo
Até o presente momento deste texto, a
palavra Jesus foi citada em alguns e em outros a palavra Cristo, para se
referir à mesma pessoa. Desta forma, julgo ser necessário expor algo a respeito
disso, ou seja, como Jesus (forma grega do seu nome em hebraico – Joshua – “há
salvação em Deus”, nome muito comum entre os judeus da época), passou a ser
chamado de Jesus Cristo. Cristo vem do latim Christus, que por sua vez vem de
Christos, correspondente grego da palavra Messias, e significa literalmente Ungido.
O nome Jesus Cristo foi empregado por Paulo de Tarso (missionário de Jesus,
nascido em torno de 6 d.C. Paulo não chegou a conhecer Jesus), que também chamava
Jesus, só como Cristo, ou seja, Paulo usou a palavra Cristo como se fosse um sobrenome
e não como um título: Jesus, o Cristo.
- 10-) Jesus pelo mundo
A ideia de escrever a respeito de um “Jesus
histórico” não é nova, pois em 1914, o filósofo e teólogo judeu-alemão Franz Rosenzweig
escreveu no seu “Atheistiche Theologie” que uma mudança estava em curso no modo
de entendermos a herança religiosa judaica e cristã. No caso específico do Cristianismo,
esse viés produziria uma crescente humanização de Jesus, desaguando na obsessão
pelo “Jesus histórico”, eliminando, por fim, a ideia de sua divindade.
A busca por conhecer Jesus, seja o
divino ou o histórico, faz com que no mundo existam mais de 80.000 livros sobre
ele.
Segundo a World Christian Encyclopedia,
publicação da Oxford University Press (New York) registrou em 2001 a existência
de 33.830 denominações cristãs. Dentre elas, encontramos um grupo denominado
Jews for Jesus (Judeus para Jesus), que congrega em todo o mundo 1,5 milhão de
seguidores. Tal movimento, também chamado de judeus messiânicos não é
reconhecido pelos judeus tradicionais, pois estes aguardam um Messias que venha
restaurar o Reino de Deus na terra, conforme os preceitos da Torá (livro sagrado
do Judaísmo).
A divulgação do Cristianismo conta com
um exército de missionários espalhado pelo mundo. De acordo com o Centro Global
de Estudos sobre Cristianismo, havia cerca de 440 mil missionários atuando pelo
mundo em 2018. Só os mórmons possuem cerca de 66 mil missionários. Mas este trabalho
dos missionários não é fácil. Por exemplo: no Nepal o proselitismo religioso é
ilegal e passível de prisão e deportação.
Apesar da figura de Jesus ser extremamente
conhecida no Ocidente, faz-se mister registrar que O MUNDO NÃO É CRISTÃO. Segundo
o relatório da Pew Research Center em Washington, DC de 2015, através do projeto:
Pew – Templeton Global Religious Futures e com o apoio do projeto: Age and
Cohort Change da International Institute for Apllied Systems Analysis em Laxenburg,
Áustria, o Cristianismo representava 31,2% em relação à população mundial e o
Islamismo 24,1%; porém, a continuar o crescimento do Islamismo, na proporção
atual, projeções feitas pelo instituto americano Pew Research Center para o ano
de 2075 indicam que tal religião superará o Cristianismo, ou seja, em pouco
mais de meio século, teremos mais crianças ao redor do mundo sendo ensinadas
que o maior e mais importante profeta foi Maomé (Muhammad em árabe, nascido em
570 na cidade de Meca e falecido em 632 na cidade de Medina) e que Jesus foi
somente mais um profeta; porém menor do que Maomé, pois segundo a religião
Islâmica, Maomé foi o último e o mais importante profeta de Deus (Allah como
eles os chamam, que significa Deus Único). Não é só o crescimento do Islamismo
que deve contribuir para superar o Cristianismo, mas também a própria diminuição
dos adeptos de tal corrente. Entre 2007 e 2014 no EUA, o aumento de ateus e
agnósticos foi de 100%, além da perda de 5 milhões de cristãos. No Brasil, em
1980, 2% da população não acreditava em Deus e em 2016 esse percentual era de 9%.
- 11-) Diferentes visões
sobre o papel de Jesus
Cada época fez de Jesus o reflexo de
suas próprias preocupações. Na França, na época da Revolução (1789), vimos
aparecer a figura de um Jesus “sans-culotte” (denominação de trabalhador que
participou da Revolução Francesa).
Em seguida, por ocasião da Revolução de
1848, a de um Jesus proletário e socialista. No início do século XX, o inglês
Houston Stewart Chamberlain, inspirador das teorias nazistas, até retratou um
Jesus ariano, que não tinha “uma única gota de sangue judeu”!
Não podemos nos esquecer das contendas do
povo judeu, com base na proibição de praticar o judaísmo, em 167 a.C., quando
do domínio pelos gregos e quando do nascimento de Jesus, pelo governo romano
exercido pelo violento e corrupto Herodes. Céfores, capital da Galileia era o símbolo
da revolução dos judeus contra os romanos, ou seja, Jesus nasceu num momento
onde os judeus clamavam por liberdade, o que leva a alguns historiadores a entenderem
que o papel de Jesus foi o de um revolucionário. Estes fatos contribuem para
que ao longo dos anos, muitos estudiosos propusessem um papel a Jesus, mais próximo
às questões do dia a dia de um ser humano, do que a de um messias divino, que
viria resgatar, de forma milagrosa, um povo tão sofrido. Esta visão se coaduna com
o Espiritismo, ou seja, a de que Jesus, se existiu, foi uma pessoa qualquer e
não um ser divino. Desta forma, abaixo registram-se algumas visões nessa linha:
O alemão Hermann Samuel Reimarus (1694 -1768)
foi um dos pioneiros a tentar uma interpretação secular, para entender quem foi
Jesus. Ele defendia que os objetivos de Jesus eram basicamente políticos.
Uma das visões mais influentes sobre
Jesus é a defendida pelo ex-padre irlandês John Dominic Crossan (1934), autor de
Quem Matou Jesus?. Crossan afirma que Jesus teria sido uma
versão judaica dos filósofos cínicos gregos. Em outras palavras, um pensador itinerante
que atacava as convenções sociais e convidava seus ouvintes a levar uma vida de
solidariedade radical.
- 12-) Jesus: poucas evidências
históricas
As evidências históricas sobre Jesus são
poucas e os religiosos se apoiam na Bíblia para sustentar a existência dele,
porém os mais antigos textos completos da Bíblia são o Codex Sinaiticus e o
Codex Vaticanus, que remontam ao 4º século (Codex é um texto antigo em forma de
livro, em vez de rolo).
- Autores contemporâneos a Jesus
NÃO o citaram em seus textos:
Seneca o
Jovem (Lúcio Aneu Seneca – filósofo estoico – 3 a.C – 65 d.C);
Gálio (Júnio
Aneu Gálio – morto em 65 d.C.). Magistrado que, segundo a Bíblia (Atos 18:12-17)
teria ouvido o caso de Paulo e expulso-o do tribunal;
Fílon de
Alexandria (20 a.C. – 50 d.C.) escritor, cronista político e estadista judeu,
considerado o maior filósofo judeu do mundo Greco Romano. Escreveu sobre as religiões
marginais e outras seitas judaicas como os Essênios e os Terapeutas. Ele poderia
estar literalmente na cena de todos os fatos mais marcantes da vida de Jesus,
porém não fez nenhum registro sobre ele.
Com base nos
autores contemporâneos de Jesus, seus fiéis são deixados com duas escolhas infelizes:
ou os Evangelhos estavam exagerando de forma grosseira a vida e as realizações
de Jesus e ele era apenas mais um pregador vagando com uma pequena legião de
seguidores, completamente despercebido pela sociedade em geral ou ele era, sem
dúvida nenhuma, um personagem mítico.
- Autores posteriores a
Jesus, que citaram o seu nome:
O historiador antigo Flávio Josefo (37-100) escreveu sobre Jesus no ano de 93 ou
94, quando escreveu suas Antiguidades dos Judeus (capítulo XVIII – página 63),
que contém duas passagens controversas que muitos sustentam como evidências históricas
para a existência de Jesus. Porém estas passagens estão entre dois textos que
se completam, ou seja, tais passagens citando Jesus seriam fraudulentas.
A partir do
4º século, o Bispo Eusébio de Cesareia começa a citar as passagens atribuídas a
Flávio Josefo, onde suspostamente, ele
menciona Jesus. Na época, o Bispo Eusébio foi criticado pelos seus colegas, por
deturpações deliberadas em suas histórias.
O romano Cornélio Tácito (55-120) cita
em seu livro: Anais – página 44 do 15º volume “Cristo, de quem o nome cristão
teve sua origem, sofreu a extrema penalidade durante o reinado de Tibério, às
mãos de um dos nossos procuradores, Pôncio Pilatos” .
O romano Suetônio (70-141) cita em seu
livro: Vida de Cláudio – capítulo 25 – página 4 - “O imperador Cláudio expulsou de Roma os
judeus que viraram causa permanente de desordem pela pregação de Cristo”.
O romano Plínio, o Jovem (61-114) cita em seu livro: Carta a Trajano – capítulo X
– página 96 - “Os cristãos têm o
hábito de se reunir em um dia fixo para rezar ao Cristo, que consideram Deus,
para cantar e jurar não cometer qualquer crime, abstendo-se de roubo,
assassinato, adultério e infidelidade” .
Há, também, o registro de uma carta, atribuída
a Pôncio Pilatos e dirigida ao imperador Tibério Cesar, onde ele faz comentários
sobre a figura de Jesus; porém tal carta, a qual possuo uma cópia, cedida gentilmente
pelo meu amigo Rogério, faz descrições elogiosas sobre os feitos de Jesus, bem
como sobre sua aparência física, que nada se coadunam com a figura perversa que
foi Pilatos. Em 35 d.C. Pilatos trucidou muitos samaritanos, o que o levou à Roma
para se desculpar com o imperador.
Um ponto que gerou muita expectativa
quanto às possíveis evidências históricas sobre Jesus, ocorreram com a descoberta
dos Manuscritos do Mar Morto (930 documentos escritos entre o século III a.C. e
o século I d.C., que foram descobertos entre
1947 e 1956, em 11 cavernas próximas de Qumran, em Israel); porém as
traduções desses manuscritos, que foram polêmicas, face às várias mudanças dos
profissionais responsáveis, nada revelaram a respeito.
Pelo contrário, geraram mais dúvidas, pois
nos citados documentos havia menção a um Messias (Mestre da Justiça), líder dos
Essênios (“essaioi”, em grego e “esseni”, em latim, que podem ser traduzidos como
“aqueles que curam”), mas que historiadores “disputam” diferentes explicações
para tal figura. Sem falar na polêmica se tais manuscritos pertenciam aos
Essênios, seita que muitos acreditam que Jesus pertencia, ou aos Macabeus.
Cabe lembrar que Jesus nada escreveu. A
única passagem bíblica que menciona algo é em João 8, 1-11 – “Então Jesus inclinou-se e começou a escrever
no chão com o dedo” – esta passagem se refere à mulher flagrada em
adultério, a qual para muitos críticos não faz parte do texto original de João,
pois foge do estilo dele, mas isto é uma pequena mostra das controvérsias que iremos
ver mais adiante.
Há estudiosos que defendem que Jesus era
analfabeto. Nenhuma surpresa, pois essa era a realidade daquela época; porém
existem passagens bíblicas que mencionam Jesus lendo, como em Lucas 4:16-17... no
sábado entrou na sinagoga, e levantou-se para fazer a leitura...
O emblemático dessa situação é que os
historiadores que foram contemporâneos a Jesus não o citaram em seus escritos.
Faço lembrar que a narração bíblica a respeito da morte de Jesus, cita
acontecimentos extraordinários, tais como os citados em Mateus 27:50-51: a
cortina do Santuário do Templo rasgou-se
em duas partes, a terra tremeu, fenderam-se as pedras e os túmulos se abriram e
muitos santos falecidos ressuscitaram, ou seja, são narrações fantásticas que
requereriam um registro de tais fatos, mas nada é encontrado fora da Bíblia.
Por outro lado, os historiadores que citaram Jesus, o fizeram dezenas de anos após
a sua morte, ou seja, a doutrina cristã foi calcada na tradução oral.
- 13-) Crítica Textual
aplicada aos escritos sobre Jesus
Uma área de estudos que tem acumulado
pesquisas a respeito de como os copistas foram mudando as escrituras e sobre como
se pode reconhecer onde eles fizeram alterações é a chamada Crítica Textual.
O pontapé inicial da Crítica Textual foi
dado pelo francês Richard Simon com o lançamento da obra “Uma História Crítica
do Texto do Novo Testamento”, em 1689.
Os registros a seguir irão relatar as passagens
bíblicas e/ou conceitos criados a respeito de Jesus, ao longo dos anos, conceitos
estes que não se coadunam com as visões dos recentes historiadores.
Os estudos mais recentes, que tentam
separar o “Jesus histórico” do “Cristo da fé” tem origem no século XIX, em meio
ao protestantismo liberal alemão. Os dois primeiros capítulos do Evangelho de Mateus
e os dois iniciais de Lucas são bastante distintos um do outro, a ponto de
parecerem inconciliáveis. De cara, divergem sobre a genealogia de José: cada um
cita pai, avô e bisavô diferentes. Lucas e Mateus querem vincular José à linha
ancestral dos patriarcas judeus, mas nenhum deles tem dados confiáveis para
comprovar isso. Por isso, criaram
genealogias com esse intuito, que acabaram se tornando conflitantes.
Esses dois Evangelhos também exibem
contradições com fatos conhecidos da história. Apenas Lucas narra a viagem de
Nazaré a Belém feita por José e Maria para se registrar num censo no qual o
mundo inteiro deveria ser contado, sob o governo do imperador César Augusto. Há
boa documentação sobre o tempo de César, e não houve nenhum censo durante todo
o seu reinado. O 1º censo ocorreu em 74 d.C., durante o reinado do imperador Vespasiano.
Sobre a questão do recenseamento, não
podemos deixar de registrar o contraditório, pois Sir William Ramsay, historiador
inglês, alega nos seus livros que os recenseamentos se davam periodicamente de 14
em 14 anos e que em 746 a.u.c. (Ab urbe condita - da Fundação de Roma) houve um
recenseamento que durou até 748 a.u.c., ou seja, próximo à data sustentada para
o nascimento de Jesus.
O Cristianismo é uma religião cujos
textos fundamentais foram mudados e que só sobrevivem em cópias que diferem de uma
para outra, em certos momentos de um modo altamente significativo.
Não temos os originais, como não temos
as primeiras cópias dos originais, ou as cópias das cópias das cópias dos originais.
O que temos são cópias feitas mais tarde, muito mais tarde (séculos depois).
Todas elas diferem umas das outras em milhares de passagens.
John Mill – membro do Queens College,
Oxford, em 1550 examinou cerca de cem manuscritos gregos para descobrir suas 30
mil variantes. Hoje temos conhecimento
de muitas variantes (temos catalogados 5.700 manuscritos gregos, contendo desde
pequenos fragmentos até produções bem maiores).
Com este número de fragmentos, estudiosos
divergem quanto às variantes, podendo ser de 100 mil a 400 mil.
Tudo indica que os livros que registravam
os mais preciosos dados históricos a respeito da verdadeira figura de Jesus,
foram destruídos pelo incêndio da famosa biblioteca de Alexandria, em 646 da nossa
era.
Como exemplo das variantes das traduções,
cito o Códex Vaticanus datado do século IV d.C. que é um dos mais importantes e
antigos exemplares da Bíblia em grego. Neste Códex, a famosa cena da mulher adúltera
do “atire a primeira pedra quem não tiver
pecado”, não consta desse manuscrito.
·
14-) Composição da Bíblia
A seguir registro algumas informações a
respeito da composição da Bíblia, pois este livro é o que serve de sustentação
para os religiosos, como evidência da existência de Jesus, haja vista que, como
já mencionado aqui neste texto (item 12), as evidências históricas a respeito da
existência dele são frágeis.
Na minha época de catecismo, era ensinado
que a Bíblia fora criada sob a inspiração de Deus e nada se questionava sobre a
veracidade dos textos, ou seja, tal livro continha a plenitude dos ensinamentos
de Jesus; porém como visto no item anterior (Crítica Textual), a inspiração de
Deus se esvai, até porque, cada segmento do cristianismo possui a sua própria Bíblia,
ou seja, se fosse a palavra de Deus, materializada em texto, não existiriam
essas divergências.
A Bíblia abriga na contagem dos católicos
73 livros e 66 na versão de protestantes e evangélicos e 78 na versão ortodoxa.
A definição dos livros que entrariam no
Antigo Testamento ocorreu por volta dos anos 80 a 100 da era cristã em Jâmnia,
no sul da Palestina.
A escolha dos quatros Evangelhos foi
feita pelo bispo Irineu – Bispo de Lyon da Gália (a França moderna), no ano de
185, quando ele escreve Contra as Heresias – 3.11.7 ...”Pois, dado que há 4 regiões no mundo
em que vivemos, 4 ventos principais, ... é adequado que a Igreja deva ter 4 colunas”.
Coube ao bispo de Alexandria – Atanásio,
durante a 2ª metade do século IV, ou seja, 300 anos depois que os livros do Novo
Testamento foram escritos, relacionar os 27 livros que deveriam compor o mesmo.
No fim do século IV cristão, o papa
Dâmaso encomendou ao maior especialista daquela época – Jerônimo, a produção de
uma tradução latina “oficial”, que pudesse ser aceita por todos os cristãos que
falavam latim, em Roma e em outros lugares, como um texto oficial. A tradução de
Jerônimo se tornou conhecida como a Bíblia Vulgata (comum).
Com o advento da imprensa no século XV por
Johannes Gutemberg foi impressa a 1ª edição da Bíblia (Vulgata), concluída em 1456.
A versão mais popular para um idioma que
não fosse o latim coube a Martinho Lutero, que traduziu a Bíblia para o alemão,
durante a Reforma Protestante.
Foi somente em 1546, no Concílio de Trento,
que os 73 livros da Bíblia – 39 do cânone hebraico mais os 7 deuterocanônicos (que
não constavam do cânone, mas eram lidos pelos judeus de língua grega) e os 27
do Novo Testamento – foram considerados inspirados por Deus e aprovados
oficialmente pela Igreja Católica.
Somente com o desenvolvimento da
imprensa é que as cópias da Bíblia puderam ter uma maior concisão, mas mesmo
assim, novas traduções foram feitas, culminando com a de 1979, promulgada pelo Papa João Paulo II, a qual se
tornou a versão oficial da Igreja Católica – denominada de Nova Vulgata.
Atualmente a Bíblia está traduzida para
648 línguas. Estima-se que no mundo, só 250 milhões de pessoas não tenham acesso
à Bíblia, por falarem dialetos minoritários e por isso não contam nem com traduções
parciais.
Os relatos sobre a composição da Bíblia
visam demonstrar a fragilidade dela, como um documento de reconhecimento
histórico, haja vista que diferentes decisões, de cunho personalistas, ao longo
dos anos, tiveram influência direta na composição final hoje conhecida. Reforçando
que só em 1.546 !! a Bíblia é aprovada oficialmente pela Igreja Católica.
- 15-) A história de Jesus
é calcada nos deuses da mitologia ?
Peter Joseph, americano e diretor de
cinema, produziu um documentário intitulado Zeitgeist, no qual faz várias
analogias sobre os acontecimentos da vida de Jesus e os acontecimentos nas
vidas de outros deuses da mitologia, como:
Krishna (Índia 3.228 a.C.): Hórus (Egito – 3.000 a.C); Dionísio (Grécia – 1.500 a.C.); Mitra (Grécia
1.250 a.C.) e Átis (Frígia – 1.200 a.C.).
Em alguns deles há a coincidência sobre
a data de nascimento: 25 de dezembro; a estrela como símbolo de nascimento; a quantidade
de 12 discípulos; a morte por crucificação; o nascimento de uma virgem e a
ressuscitação após 3 dias.
Como um exemplo mais detalhado dessa
analogia, cito o que é encontrado na literatura Hindu, através de um livro chamado
Bhagavad-Gita, que em seu 3º volume relata a história da encarnação de Vishnu
(espírito conservador do universo) em Krishna. Tal livro traz narrativas similares
às encontradas na Bíblia, a respeito do nascimento de Jesus. Inclusive no nome do
homem, que iria receber a encarnação: Yésu (a personificação de Krishna). Outro
ponto a ressaltar é que em tal livro, Yésu nasce numa manjedoura, local sagrado
para os hindus, o que não se pode dizer o mesmo para os judeus. O detalhe é que o livro ora mencionado é
datado do século IV a.C.
Não podemos nos esquecer de que o cristianismo
nasceu no meio dos judeus e este povo acumulava a memória dos seus vários povos
dominadores ao longo da história e não seria de se admirar que tenham absorvido
um pouco da cultura de cada um desses, o que pode ter contribuído de fato para que
a narrativa da história de Jesus tenha correlações com esses deuses.
- 16-) Nascimento de Jesus: data versus cidade versus local
Em momentos simultâneos da
história, cristãos comemoravam as diferentes etapas da vida de Jesus, buscando
testemunhos do dia exato de seu nascimento, enquanto pagãos celebravam a chegada
da luz e dos dias mais longos ao fim do inverno (solstício de inverno – Natalis Solis Invicti – Nascimento do Sol Invencível).
Foi somente no ano de 354 d.C. que o
Papa Libério, querendo cristianizar as festividades pagãs entre os vários povos
europeus, instituiu oficialmente a celebração do Natal no dia
de 25 de dezembro, como sendo a data de nascimento de Yeshua ben
Yossef (em aramaico) - Jesus, filho de José.
Como visto acima, a data de
nascimento de Jesus, comemorada pelos cristãos ao redor do mundo, não é verdadeira
e, muito menos, o ano, pois não há consenso sobre tal. Estima-se que ele tenha
nascido entre 7 e 4 a.C. Alguns estudos precisam melhor entre 7 e 6 a.C.
A dúvida sobre o ano de nascimento
de Jesus recai sobre o abade Dionisus Exiguus, que em 531 d.C. introduziu o sistema cristão de
datas - Anno Domini (AD) em latim ou depois de Cristo (d.C.), pois ele havia
errado nos seus cálculos do nascimento de Jesus. Em vez de 754 a.u.c. (Ab urbe condita
– da fundação de Roma), Jesus nasceu no ano 749 a.u.c., isto é, em vez de Jesus
ter nascido no ano 1 da era Cristã, ele teria nascido no ano 5. a.C. Isto se
apoia nos evangelhos que diz que Jesus nasceu nos dias do rei Herodes, o
Grande, e Herodes morreu em março de 750 a.u.c.
Como pode o nascimento do
filho de Deus não ter um dia definido, uma vez que a história registra com precisão
alguns acontecimentos mais antigos, como o da erupção do Monte Vesúvio, que
destruiu Pompéia em 24/08/79 a.C.
Sobre a cidade de nascimento
também há polêmicas, pois por Marcos e João o local é apontado como Nazaré e
por Mateus e Lucas como Belém. Acredita-se
que Mateus e Lucas optaram por Belém, pois de acordo com uma profecia do livro
do profeta Miquéias 5,1 - AT, o salvador viria de lá, uma vez que era a cidade
do rei Davi. As recentes pesquisas indicam como local
de nascimento, a cidade de Nazaré. Porém para alguns arqueólogos de Israel,
Jesus nasceu em Belém, mas numa cidade chamada de Belém da Galileia, que fica a
7 km de Nazaré e não em Belém da Judeia, uma vez que Belém da Galileia se enquadraria melhor na
narração de Mateus, segundo o qual, Maria grávida de nove meses viajou montada
em um burro de Nazaré, na Galileia, até Belém da Judeia, onde Jesus nasceu. A
distância de quase 100 km era uma enormidade para a época, ou seja, para estes
arqueólogos, dentre eles cito Aviram Oshri, faz mais sentido que a Belém de
nascimento seja a da Galileia.
Ainda sobre o nascimento, existe, talvez,
um dos pontos mais questionáveis que seria a virgindade da mãe de Jesus –
Maria. Talvez esse caso seja parecido com um do Alcorão (livro sagrado do Islã),
onde historiadores acreditam que há um erro na tradução, onde diz que o devoto
do Islã, morto em combate terá no céu a companhia de 72 virgens. Esses historiadores
acreditam que sejam pérolas, a tradução correta. Para o caso de Maria, há historiadores
que também defendem um erro de tradução na Bíblia, da palavra ALMAH, que
significa jovem e foi erroneamente traduzida do Hebraico para o Grego, como virgem.
Em Isaías – 7,14 – faz menção a uma jovem que dará a luz a um menino e em
Mateus – 1,23 usa esta passagem de Isaías, mas muda o termo “jovem” para “virgem”
e João – 1,45, por sua vez, afirma que Jesus é o filho de José, ou seja, nem
jovem e nem virgem....
Mateus escreve que Jesus nasceu em casa e
Lucas escreve que Jesus nasceu numa manjedoura.
A história de que Jesus nasceu numa manjedoura,
não condiz com o que de fato ocorreu, pois para o judaísmo, a maternidade é
algo sagrado e nenhum judeu permitiria que Maria desse à luz num estábulo.
Mas uma coisa é certa, o
Natal é hoje o feriado mais rentável financeiramente em países predominantemente
cristãos.
- 17-) Jesus dos 13 aos 30
anos:
A Bíblia é omissa quanto às atividades de
Jesus no período dos 13 aos 30 anos e muitas “hipóteses/histórias etc” tentam preencher essa lacuna de 17 anos, que
começa no versículo 52 do Capítulo 2 do Evangelho segundo Lucas: “E crescia
Jesus em sabedoria, em estatura e graça, diante de Deus e dos homens” e
indo até o versículo 23 do Capítulo 3 do mesmo Evangelho.: “Jesus tinha
cerca de trinta anos quando começou sua atividade pública”.
Para tentar elucidar este “apagão” da
figura de Jesus entre a juventude e a vida adulta, o escritor e espírita Francisco
klörs Werneck escreveu o livro intitulado: Jesus dos 13 aos 30 anos – Editora
Eco, no qual reuniu várias hipóteses sobre o que aconteceu com Jesus nesse
interregno (as histórias aqui mencionadas, estão contidas na 10ª edição do citado
livro). A maioria dessas hipóteses se dividem entre a permanência de Jesus na Índia,
Ásia ou entre os Essênios, quando pode ter contato com todas as práticas terapêuticas,
esotéricas etc necessárias para poder iniciar a sua pregação na Palestina, por volta
dos 30 anos, sendo que, em algumas dessas hipóteses, Jesus retorna para o local
onde recebeu o seu aprendizado e lá é que morre. Existe, ainda, uma “teoria” de
que Jesus esteve na Inglaterra.
Francisco K. Werneck sustenta que procurou
atuar da mesma forma que Kardec, ou seja, colhendo todos os elementos, focando
unicamente nas transcrições e traduções de forma fiel, dos mais diversos textos
encontrados sobre o tema.
Nikolai
Aleksandrovich Notovich (1858 – 1916):
Alega ter
encontrado em 1887 no mosteiro de nome Himis no Tibete, manuscritos a respeito
da vida de Jesus, com o título a Vida do Santo Issa.
Escreveu em
1894 o livro “La Vie Inconnue de Jesus Christ”. Com base nesses manuscritos:
“Jesus passou 6 anos com os padres brâmanes, que lhe ensinaram a ler e
compreender os Vedas, a curar com o auxílio de preces e a expulsar o espírito maligno
do corpo do homem. Depois, Jesus foi para o Nepal e lá permaneceu até aos 26 anos,
estudando os livros sagrados do Budismo. Depois retornou para Israel, chegando lá
com 29 anos”.
Nicolau
Roerich (1874 - 1947)
Ele escreveu
o livro “El corazon de Asia”, edição do Museu Roerich, de New York, 1930
e num trecho do livro há uma concordância com o livro acima de Nikolai: “Ouvimos
a lenda de como o Cristo, quando jovem, chegou à Índia em uma caravana de mercadores
e como foi aprendendo a suma sabedoria
dos Himalayas, que se difundiu amplamente pelo Ladak, Sinkiang e Mongólia”.
Yogi Ramacharak:
(1862 – 1932)
Escreveu o
livro “Cristianismo Místico”, edição do Círculo Esotérico a Comunhão do
Pensamento, 1926, no qual cita: “Membros da organização secreta a que pertenciam
os Magos, após ouvi-lo no acontecimento do Templo, convenceram os pais de Jesus
a acompanhá-los a fim de receber as instruções. Jesus segue para a Índia, Egito
e Pérsia e a outras regiões distantes, vivendo alguns anos em cada centro importante
e sendo iniciado nas diversas irmandades, ordens e corporações, para só depois
disso, retornar à Palestina”.
Dr. H.
Spencer Lewis: (1883 – 1939)
Escreveu o livro
The mystical life of Jesus, da Biblioteca Rosacruz nos USA e cita: “Jesus
quando estava ainda com 13 anos foi levado pelos Magos para escola monástica de
Djaguernat para se familiarizar com os ensinamentos e rituais do budismo.
Depois ele foi para o vale do Ganges para estudar ética, física e gramática.
Ali Jesus se interessou pelo sistema terapêutico dos hindus. Depois retornou ao
mosteiro de Djaguernat, onde se familiarizou com a arte de ensinar por meio de
parábolas. Jesus continuou os seus estudos por vários lugares a preparar-se
para os graus superiores da Grande Fraternidade Branca, quando então alcançou o
título de Mestre e voltou para a Palestina”.
Resposta do
espírito Ramatís, a respeito da vida de Jesus no período não mencionado nos
Evangelhos, extraída do livro “O Sublime Peregrino”, da Livraria Freitas
Bastos:
“Jesus esteve
em contato com os Essênios e conheceu-lhes os costumes, as austeras virtudes,
assim como teve oportunidade de apreciar-lhes as cerimônias. Apesar de Jesus
ter conhecido os Essênios, ele não se filiou à Confraria dos Essênios, mas
entreteve relações amistosas. Jesus jamais propalou a sua condição de membro
honorário da Confraria dos Essênios, onde o sigilo era um voto de severa
responsabilidade moral”.
André
Cehesse:
Em artigo: “Teria
Jesus vivido na Inglaterra?” – O Globo – 1958, o autor cita: “Jesus acompanhou,
de navio, o seu tio José de Arimatéia pois este era um rico mercador cujos
navios singravam o Mediterrâneo e numa dessas viagens, chegaram até Cornualha,
situada no sudoeste da Inglaterra, onde Jesus teve a oportunidade de
instruir-se com os druidas, antes de retornar à Palestina”.
As citações carecem de comprovação
científica, mas as mesmas aguçam a curiosidade, pois como mencionado no início
deste tópico, a Bíblia é omissa quanto a este período e, provavelmente, jamais
teremos confirmações para este hiato na vida de Jesus.
- 18-) Pregação de Jesus: início versus término
Muitos consideram que o início da
pregação de Jesus foi marcado pela passagem citada em Lucas 2:46-47, onde Jesus,
com 12 anos de idade, aparece no meio dos doutores do Templo, escutando e
fazendo perguntas e estes ficaram maravilhados com a inteligência de suas
respostas; porém, segundo o escritor Moacyr Jaime Scliar (1937 – 2011) esta é a
idade que compreende o momento na vida de um judeu onde ele é sabatinado, através
da cerimônia chamada Bar Mitzvah (filho do mandamento) e, que marca a
maioridade religiosa de um judeu. Fica a dúvida onde Jesus teria aprendido os
costumes judaicos, pois Nazaré era uma pequena cidade com 2 hectares e, provavelmente,
não deveria ter uma Sinagoga.
No tocante ao local de início das pregações
de Jesus, a história territorial e a arqueologia conjugam-se com a tradição
cristã, indicando que foi em Cafarnaum, cidade situada na parte setentrional do
mar da Galileia.
Lucas 3:23 menciona que Jesus inicia sua
vida de pregação “por volta de 30 anos”, mas é preciso ter cuidado, já que é possível
ver nessa indicação uma aproximação com a entrada do rei Davi na vida pública.
No tocante à duração da atividade pública
de Jesus; Mateus, Marcos e Lucas não fazem qualquer indicação, mas João (Jo
2:13; Jo 6:4 e Jo 11:55) menciona três páscoas, o que nos leva a concluir, com
base nesta posição, que Jesus pregou durante dois ou três anos e meio.
- 19-) Morte de Jesus:
A morte de Jesus é atribuída pelo método
da crucificação e esta forma era mais do que uma pena de morte para Roma – era
um lembrete público do que acontecia quando se desafiava o Império. Por isso,
era reservada exclusivamente para os crimes políticos mais radicais: traição,
rebelião, sedição e banditismo (só no ano de nascimento de Jesus, estima-se que
ocorreram 2.000 crucificações).
A crucificação não ocorreu só durante o
início do cristianismo, ela é bem anterior a isso e teria se originado com os
assírios e babilônicos e, infelizmente, ainda hoje é praticada em alguns países
(em ago/2018 a Arábia Saudita procedeu uma crucificação).
O motivo atribuído à tal pena para Jesus
foi o de sedição (perturbação da ordem pública), uma vez que as autoridades
romanas consideravam isso como uma ofensa capital. E ela foi aplicada face ao
ataque de Jesus aos negócios do Templo, quando ele derrubou as mesas dos cambistas,
que trocavam várias moedas pelo Shekel, única moeda aceita no Templo e expulsou
os vendedores de comida e soltou os animais que seriam vendidos a sacrifícios. O
Templo de Jerusalém era a principal instituição cívica e religiosa dos judeus e
o ataque de Jesus aos negócios do Templo, além de provocar a reação das
autoridades romanas, indica que houve a
participação dos judeus na acusação contra Jesus, porém por uma parte, chamada
de Saduceus, facção que apoiava a dominação romana e controlava a nomeação dos
sumos sacerdotes. Esta possibilidade da culpabilidade dos judeus pela morte de
Jesus produziu uma série de perseguições a este povo e o escritor israelense Amo
Oz (1939 – 2018), nos deixou um artigo “Cristãos injustiçaram judeus e árabes”,
jornal Folha de S.Paulo, de 19/03/2000, citando a seguinte passagem: “Quando eu era criança, minha sábia avó me
explicou a diferença entre judeus e cristãos em termos simples: Os cristãos
acreditam que o Messias já esteve aqui uma vez e vai retornar algum dia; os judeus
afirmam que o Messias ainda está por vir. Por que todo o mundo não pode simplesmente
esperar para ver? Se o Messias chegar dizendo “olá, é bom rever vocês”, então
os judeus terão que admitir que estavam errados. Se, por outro lado, Ele chegar
perguntando “como vão vocês?”, então o mundo cristão terá que pedir desculpas
aos judeus. Enquanto esse dia não chegar, por que não viver e deixar viver, simplesmente?”
Para que a pena de crucificação fosse
aplicada, houve um julgamento e este é cercado de controvérsias: Haim Herma Cohn ( 1911
– 2002) ex-ministro da Suprema Corte de
Israel alega em seu livro “O julgamento e morte de Jesus”, que tal julgamento
é incompatível com várias disposições da antiga lei Judaica, tais como: negligenciando
a Páscoa, reunindo-se à noite e em uma propriedade particular, o Sumo Sacerdote
agindo como interrogador etc.
Além desse ponto, como explicar o
seguinte: os evangelhos citam que Jesus, antes de chegar a Jerusalém, passou
por várias cidades, sendo seguido por multidões. Como pode num dado momento ser
aclamado e em ato contínuo ser julgado?
Durante o julgamento de Jesus, a multidão
teria pedido que Barrabás, um assassino, fosse solto em vez de Jesus – já que
era “costume” da Páscoa. Esse costume, porém, não é mencionado em nenhum lugar,
exceto nos Evangelhos. Para os pesquisadores, Barrabás personificaria os sicários,
judeus que saíam armados de punhais para matar romanos na calada da noite. E
que por isso mesmo eram assassinos amados pela população.
A questão da crucificação de Jesus é
assunto controverso, face às diferentes correntes a respeito da natureza dele, já
mencionadas no item 8 deste texto. Incluo, ainda, que os Testemunhas de Jeová
alegam que Jesus morreu numa estaca ou poste (segundo eles seria a tradução correta
da palavra grega stauros e não numa cruz, a despeito do que isto possa significar
para as questões de fé).
No âmbito arqueológico, uma única prova
dos métodos de crucificação foi encontrada em Israel em 1968: um esqueleto com
um prego de 11,5 centímetros enterrado em seus pés. Tal esqueleto foi identificado
como sendo de Yehohanan ben Hagakol (João, filho de Hagakol), morto durante o século
I.
No que se refere ao sepultamento de Jesus,
há outro ponto contraditório, pois em todo o mundo romano, o costume era
abandonar o cadáver na cruz, para ser comido por abutres. Além disso, é suspeita
a figura de José de Arimatéia, judeu rico e simpatizante secreto de Jesus que teria
obtido seu corpo e organizado seu sepultamento, segundo os Evangelhos.
Camponeses como os seguidores de Jesus não
teriam como se dirigir a Pilatos para exigir o corpo. Assim, os evangelistas enfrentam
o problema de explicar o sepultamento de Jesus e usam a figura de José de Arimatéia,
que praticamente cai de paraquedas na narrativa. Porém não se pode ser taxativo
quanto ao não sepultamento de Jesus, pois como mencionado há o registro de sepultamento
de um crucificado.
Para aqueles que creem
num Jesus divino, a discussão sobre a data da morte do mesmo é irrelevante; porém
neste texto, discutimos o Jesus histórico e é inconcebível que uma criatura com
tantos feitos atribuídos durante a sua vida, não saibamos a data exata da sua
morte, enquanto a história nos recheia de informações precisas, mesmo de
pessoas que não tiveram o mesmo realce, como, por exemplo: a morte de Cleópatra,
que ocorreu em 12/08/30 a.C., vítima de uma picada de serpente.
- 20-) Propagação da Doutrina Cristã:
Após a morte de Jesus não houve um crescimento
automático da sua doutrina, pois em Atos 1:15 afirma que havia apenas cerca de
120 seguidores depois de sua morte.
A denominação cristã surgiu pela primeira
vez, por volta do ano 44 d.C, pelos habitantes de Antioquia, os quais deram aos
seus seguidores, a alcunha de “Khristianoi”, cristãos – Atos 11:26. Alguns
afirmam que o termo cristão foi criado como um nome depreciativo, sendo aplicado
como um termo de escárnio para aqueles que seguiram os ensinamentos de Jesus.
O início do Cristianismo foi complicado,
pois havia duas “forças” que se opunham entre si: um grupo, defendido por Tiago,
irmão de Jesus (os Católicos não aceitam que Jesus teve irmãos, pois o termo
grego “adelfos” possui um significado mais amplo, incluindo tios, primos etc) e
outro promovido pelo ex-fariseu Saulo (nome judaico), que adotou o nome romano
de Paulo, após conversão ao Cristianismo.
O grupo de Tiago, nitidamente formado por
homens contrários à dominação romana, praticamente desapareceu no massacre de Jerusalém
pelos romanos na revolta que terminou no ano 70 d.C.
O grupo de Tiago tinha Jesus como o
Messias, que teria vindo ao mundo para livrar o povo judeu da opressão e era o
escolhido para implantar o reino de Deus e governar Israel conforme a Lei. Paulo,
porém, apresentava Jesus como o Filho de Deus. Paulo focava a pregação junto aos
pagãos e conseguiu convencer Tiago a permitir que os pagãos convertidos fossem
dispensados de seguir a Lei judaica.
Como mencionado, o grupo de Tiago
praticamente foi extinto com o massacre de Jerusalém em 70 d.C. o que, para muitos
teólogos, proporcionou a Paulo se transformar num personagem fundamental nos
primeiros anos do Cristianismo. Seu trabalho de evangelização foi em grande parte,
responsável pelo caráter universal da doutrina cristã. Enquanto a maioria dos
apóstolos que conviveram com Jesus restringiram sua pregação à Palestina, Paulo
levou a palavra de Cristo para: Grécia e Roma, com a mensagem de um Cristo divino
e descomprometido com a política.
A penetração de Paulo em lugares aonde só
ele chegou, faz com que uma corrente de historiadores e teólogos considerem que
Paulo deturpou os ensinamentos de Jesus – a ponto de a mensagem cristã que sobrevive
até hoje, ter origem não em Jesus, mas em Paulo, uma vez que a sua tese central
é a da salvação somente pela fé em Cristo morto e ressuscitado. Sobre Paulo
recai a acusação de ser o responsável na transformação do “Jesus histórico” no “Jesus
mítico”.
Esses historiadores e teólogos julgam ser
mais correto dizer que o que existe hoje é um “paulinismo”, não um Cristianismo.
Esta posição é corroborada por Friedrich Nietzsche (1844 – 1990), filósofo
alemão, em Aurora: “Paulo é o primeiro
cristão, o inventor do Cristianismo. Até então havia apenas alguns sectários
judeus”.
Ainda sobre o crescimento do Cristianismo
ou melhor, sobre o desconhecimento do mesmo após a morte de Jesus, há o
registro de uma carta de Plínio, o Jovem endereçada ao Imperador Trajano, datada
de 111 d.C., onde ele está para julgar um caso de um cristão e alega nunca ter
julgado um caso sobre um seguidor de tal doutrina, apesar dele ter atuado em vários
cargos importantes em Roma. Tal carta é o 1º exemplo registrado pelos romanos,
reconhecendo o Cristianismo como uma nova doutrina religiosa.
A ascensão do Cristianismo foi graças ao
colapso do Império Romano, que estava “encharcado” de corrupção e que teve início
com o assassinato do imperador Pertinax
(193 d.C.) e proporcionou décadas de guerra civil (no curso de 50 anos se alternaram
26 imperadores, dos quais apenas um teve morte natural).
Como sempre acontece por todo o mundo,
quando os tempos são bons, poucos se preocupam com questões religiosas, mas em
tempos ruins a religião se torna algo relevante e como o Cristianismo possuía um
bem organizado serviço social, foi importante para atingir os pobres e
marginalizados que crescia a cada dia.
Os fatos marcantes para o crescimento do
Cristianismo são basicamente: o Édito de Tolerância, assinado pelo imperador
Galério em 311 d.C. que termina com a perseguição aos cristãos; o Édito de
Milão, assinado pelo imperador Constantino em 313 d.C., que declara o Império
Romano neutro nas questões religiosas e oficializa o fim das perseguições aos membros
de crenças fora do paganismo, em especial aos cristãos, o que propiciou aos
mesmos um período de tolerância. Constantino adotou o Cristianismo para si, mas
não o instituiu como religião oficial de Roma e, finalmente, a decisão do imperador
Flávio Teodósio, que em 380 d.C. torna o Cristianismo como religião oficial do
Império Romano, através do Édito de Tessalônica, abolindo todas as práticas politeístas.
O Alto Clero romano modifica o nome de Igreja Cristã para Igreja Católica e
adota a cruz como símbolo do Cristianismo. Tal símbolo é atribuído ao imperador
Constantino, pois ele teria sonhado com esse símbolo com a inscrição In hoc
signo vinces – “sob este símbolo vencerás”, porém os primeiros cristãos
identificavam a sua doutrina por um peixe estilizado, criando, inclusive, um
acrônimo para ichthys, peixe em
grego: Iesus Christus Theou Yicus Soter – “Jesus Cristo filho de Deus Salvador”. A cabeça do peixe indicava
o lugar onde o grupo cristão local faria suas reuniões clandestinas, os cristãos
se viam forçados a usar símbolos mais crípticos do que a cruz e o peixe era um
dos seus favoritos.
- 21-) Conclusão:
O questionamento maior que fica é: os ensinamentos
atribuídos à Jesus são os únicos modelos de ética do mundo ? Como resposta a
esta indagação, registro o comentário do amigo Ricardo de Morais Nunes, quando
da minha apresentação do presente tema no CPDOC: “obviamente que não, pois a
diversidade de crenças em Jesus, na atualidade, deve ser interpretada não como
um único modelo de conduta ética, mas como um modelo que fala especialmente
para nós que vivemos no ocidente. E que para outras partes do mundo, outras
inspirações e outros modelos existem”.
Aproveitando
essa observação do Ricardo, menciono que a passagem em Mateus: 7,12, chamada de
Regra de Ouro - “Tudo o que vocês
desejam que os outros façam a vocês, façam vocês também a eles” é encontrada
em várias religiões/filosofias, sendo muitas delas, bem anterior à citada passagem.
Como exemplos, cito:
- Hinduísmo (1.700 – 1.100 a.C.) “Esta é a suma do dever:
não faças aos demais aquilo que, se a ti for feito, te causará dor”.
- Zoroastrismo (680 - 583 a.C.)
“Um caráter só é bom
quando não faz a outros aquilo que não é bom para ele mesmo”.
- Budismo (563 – 483 a.C.) “Não atormentes
o próximo com aquilo que te aflige”.
- Confucionismo (551 - 479
a.C.) “Não façais
aos outros aquilo que não quereis que vos façam”.
No ano de 2020, quando reescrevo este
texto, o mundo sofre com a pandemia do Covid 19. O noticiário informa que as
palavras mais pesquisadas na internet são: Deus, Fé e Oração. Isto só alimenta
que, principalmente, nos momentos difíceis a humanidade busca por consolo nas questões
religiosas, que por sua vez, alimenta a crença em um “Jesus divino”,
obviamente, no mundo Ocidental. Isto posto, torna-se impossível prever quando,
ou melhor, se um dia o “Jesus histórico” se sobreporá ao “Jesus divino”.
Como esse texto visa “confrontar” a
comunidade espírita sobre o papel de Jesus no Espiritismo, remeto à pergunta
798 do “Livro dos Espíritos”, onde Kardec pergunta: se o Espiritismo se
tornará crença comum e os espíritos respondem: “a marcha do Espiritismo será
mais célere que a do Cristianismo”. Como o Cristianismo demorou mais de 2.000
anos para atingir só 31,2% da população da Terra e se considerarmos o início do
Espiritismo a partir de Kardec, o mesmo completa 163 anos neste ano (2020), ou
seja, o Espiritismo, como uma doutrina filosófica, demorará uma “eternidade”
para atingir a “profecia” dos espíritos que responderam à citada questão.
Parece que a “profecia” do teólogo Franz
Rosenzweig, citada no item 10 - Jesus pelo mundo, de que a busca pelo “Jesus
histórico” eliminaria a ideia de sua divindade, está muito longe de ocorrer.
Em resumo, o ser humano possui uma necessidade
de se apoderar da figura de Jesus ou de qualquer outro mito, como se fosse uma propriedade
exclusiva e aceitar as “verdades” oriundas deste, mesmo sem um questionamento
filosófico e científico. Tal fato é corroborado pelo provérbio Iraniano que diz:
A verdade é um espelho que caiu das mãos
de Deus e se quebrou. Cada um recolhe o pedaço e diz que toda a verdade está naquele
caco.
Encerro este texto com duas passagens do
livro “O Evangelho Segundo o Espiritismo”
de Allan Kardec :
- ...não há fé inabalável
senão aquela que pode encarar a razão face a face, em todas as épocas da Humanidade. (capítulo XIX – item 7)
- Desconfiai daqueles que
pretendem ter o único monopólio da verdade. (capítulo XXI – item 8)
- 22-) Agradecimentos:
Agradeço os comentários/críticas/sugestões
recebidas dos amigos membros do CPDOC - Centro de Pesquisas e Documentação da
Doutrina Espírita e do ICKS-Instituto Cultural Kardecista de Santos, o que me
proporcionou instrumentos para poder rever o texto e reescrevê-lo na atual versão:
Jesus, este mito que me atormentava.
- 23-) CRONOLOGIA:
a.C.
753 - Fundação do reino de Roma
509 - Fundação da República Romana
451 - Primeiro código escrito de leis romanas
206 - Romanos dominam a Península Ibérica
167 – A religião judaica é proibida oficialmente
com pena de morte pelo Império Selêucida. O Templo de Jerusalém é transformado
num santuário do deus grego Zeus
166 – Com o apoio de todos os partidos judeus
tradicionais, Judas Macabeu lidera revolta vitoriosa contra os selêucidas
150 – Os essênios se fixam em Qumran. Liderados
pelo Mestre da Virtude, rejeitam as autoridades de Jerusalém.
146 - Corinto, na Grécia, é invadida e
queimada; término das Guerras Púnicas, com a destruição de Cartago e a consolidação
da supremacia romana sobre as antigas áreas helenistas
89 - Toda a Península Itálica recebe a
cidadania romana
63 - O triúnviro romano Pompeu conquista
Jerusalém
20 - Herodes inicia a reconstrução do Templo
de Jerusalém
06 - Nasce Jesus
d.C.
26 – Pôncio Pilatos assume como governador
de Jerusalém
27 - Jesus é crucificado
36 - Paulo, perseguidor dos cristãos,
converte-se aos ensinamentos de Jesus
44 – Os habitantes de Antioquia deram aos
adeptos de Jesus a alcunha de cristãos
46 - Paulo inicia viagens missionárias a
Chipre, à Ásia Menor e à Grécia.
58 – Em Jerusalém, Paulo é censurado por
Tiago por incitar os judeus a não seguir mais a Lei Judaica.
62 - Morre Tiago, irmão de Jesus
66 - Morre Paulo
70 - Acaba a guerra dos judeus com os
romanos e o Templo é destruído e milhares de judeus estão mortos
117 O império Romano alcança, sob o governo
de Trajano (sucedido, nesse ano, por Adriano), a máxima extensão territorial.
144 – Marcião propõe um cânone com apenas
o Evangelho de Lucas e dez cartas de Paulo
185 - Bispo Irineu (Bispo de Lyon)
escolhe os 4 evangelhos
269 - A tese da Divindade de Jesus é
rejeita em Antioquia (foi rejeitada em 3 concílios)
311 – O imperador Galério assina o Édito
da Tolerância, terminando com a perseguição aos cristãos.
313 – Durante o governo de Constantino 1º,
que durou de 312 até 337, é concedida aos cristãos liberdade de culto, através
do Édito de Milão e a capital é transferida, em 330, para Constantinopla (atual
Istambul).
325 - Concílio na cidade bizantina de Nicéia
(atual região da Turquia). Foi o 1º Concílio
ecumênico e organizado por Constantino. Aprova a tese da Divindade de Jesus (a
questão da Divindade de Jesus durou 3 séculos e só terminou com a expulsão dos
Bispos Arianos); a virgindade de Maria e faz uma primeira separação de
Evangelhos canônicos e apócrifos. Ainda, durante tal Concílio, a Europa Cristã
adotou o calendário de Júlio Cesar.
354 - Papa Libério institui oficialmente
a celebração do Natal, no dia 25 de dezembro, como sendo a data de nascimento de
Jesus.
363 – O Concílio de Laodiceia (atual
Turquia) determina que apenas os textos confirmados como escritura podem ser
usados em cultos. Decreta que o Novo Testamento conteria 26 livros, excluindo o
Livro do Apocalipse e o Antigo Testamento conteria 22 livros.
381 - O Cristianismo se torna religião
oficial do Estado por ato do Imperador Teodósio (o Alto Clero romano modifica o
nome de Igreja Cristã para Igreja Católica).
397 – O Concílio de Cartago decide a reincorporação
do Apocalipse.
476 – Queda de Rômulo Augusto, após invasão
germânica, precipitando a dissolução da parte ocidental do império Romano: o
lado oriental (Império Bizantino) persistiria até 1453, quando Constantinopla é
então tomada pelos turcos otomanos.
531 – O Abade Dionísiu Exigus calculou o
nascimento de Jesus como o ano 1, criando a expressão Anno Domini (AD), no
latim ou depois de Cristo (d.C.).
607 - O imperador Foca favorece a
Criação do Papado, sendo que essa decisão imperial faculta aos Bispos de Roma
prerrogativas e direitos até então inimagináveis.
622 – A fuga de Maomé de Meca para Medina,
marca o início do Islamismo.
1054 – Surge a Igreja Ortodoxa em função
do cisma entre Oriente e Ocidente, decorrente das disputas de poder entre o papa
de Roma e o patriarca de Constantinopla.
1229 – Durante o Sínodo de Toulouse são
definidas as diretrizes que nortearam o funcionamento da Inquisição.
1231 – A Inquisição é oficialmente instalada
pelo Papa Gregório IX
1453 – Queda de Constantinopla que fica
em poder dos Turcos (os historiadores consideram o fim da era Medieval e o início
da Renascença).
1456 - Impressão da 1ª Bíblia
1517 – Nasce o Protestantismo, movimento
reformador iniciado na Alemanha pelo monge Martinho Lutero
1518 – O Papa Leão X cria o célebre “Livro
das Taxas da Sagrada Chancelaria e da Sagrada Peninteciaria Apostólica”, onde
estipula os preços da absolvição de todos pecados, desde o adultério até os
crimes mais hediondos.
1521 – Martinho Lutero é condenado como
herege
1522 – Martinho Lutero traduz o Novo Testamento
para o alemão
1534 – Martinho Lutero traduz o Velho
Testamento para o alemão.
1555- Após longa luta, Carlos V reconhece
a existência do luteranismo e o direito dos nobres em escolher a sua religião
(2/3 da Alemanha adota a Religião Luterana)
1582 – O Papa Gregório XIII estabelece
um novo calendário, aperfeiçoando o de Júlio Cesar
1609 – Surge a Igreja Batista na Holanda
1611 – O rei britânico James I encomenda
uma tradução da Bíblia para o inglês
1739 – Surge a Igreja Metodista na Inglaterra
1781 – Ocorre a última sentença de morte
proferida pela Inquisição Espanhola.
1830 – Surge a Igreja de Jesus Cristo
dos Santos dos Últimos Dias, mais conhecida como Mórmons, nos EUA
1844 – Em 22 de outubro deste ano, ocorre
o chamado: Dia do Grande Desapontamento. Foi nesse dia que religiosos do EUA
esperavam a 2ª vinda de Jesus, com base numa passagem bíblica.
1857 - Kardec escreve O Livro dos
Espíritos
1863 – Surge a igreja Adventista do 7º
Dia nos EUA, tendo como uma das fundadoras a Srª Ellen White, cujos escritos
são considerados pelos adventistas como inspirados por Deus
1865 – Surge nos EUA a religião evangélica
Exército de Salvação, que inicialmente utilizou o nome de Missão Cristã (o
Exército de Salvação é uma dissidência da Igreja Metodista).
1868 - Kardec escreve A Gênese – os
milagres e as predições segundo o espiritismo.
1870 – O Papa é definido como pessoa
infalível (Infabilidade Papal)
1870 – Surge a Igreja Testemunha de
Jeová, nos EUA (inicialmente a denominação adotada era de Estudantes da Bíblia e
o nome Testemunhas de Jeová só foi adotado em 1931)
1908 – O termo Inquisição é abolido pelo
papa Pio X.
1947 - Descoberta dos Manuscritos do Mar
Morto
2001 - World Christian Encyclopedia
divulga a existência de 33.830 denominações cristãs.
2010 - Jaci Régis, um dos maiores pensadores
do espiritismo contemporâneo, desencarna na cidade de Santos-SP.
2017 – Ocorre em Santos-SP a edição do
XV Seminário do Pensamento Espírita Brasileiro, onde o presente texto, na sua
versão original, é apresentado.
2019 – Ocorre em Santos-SP a reunião do
CPDOC-Centro de Pesquisa e Documentação Espírita, onde o presente texto, na sua
versão original, é apresentado e discutido, surgindo daí a versão presente.
- 24-) Bibliografia:
- “Belém
vs Belém” (24/12/2011) – Jornal Folha de S.Paulo.
·
Aslan,
Reza “Zelota – “A vida e a época de Jesus de Nazaré” – editora Zahar – (2013).
- Bíblia – Edição Pastoral – (nov/1991)
- Dawkins,
Richard – “Deus um delírio” – Companhia das Letras (2006).
- Duncan,
Anthony “Jesus Ensinamentos Essenciais” – Editora Cultrix – (1986).
- Ehrman,
Bart D. “O que Jesus Disse? O que Jesus não disse? – Quem mudou a Bíblia e
por quê”– Agir Editora Ltda – (2005).
- Fizgerald,
David “NAILED: Dez mitos Cristãos que mostram que Jesus nunca sequer
existiu”– Published by Create Space – Portuguese Edition – (2017)
- Flusser,
David “O Judaísmo e as Origens do Cristianismo” – volume I – Imago Editora
– (2.000).
- Hayek,
Samir El “O significado dos versículos do Alcorão Sagrado com comentários”
– Narsan Editora Jornalística - 14ª edição – (2009)
- Imbassahy,
Carlos de Brito (nov/1993 a
fev/1994) - “Na Hora da Verdade I,
II, III e IV”- Jornal Abertura.
- Lewis,
H. Spencer “A Vida Mística de Jesus” – Biblioteca da Ordem Rosacruz - (1985).
- Petitfils, Jean-Christian “Jesus, a Biografia” – Editora Benvirá – (2015).
- Regis,
Jaci – (dez/1999) “O Terceiro Aspecto” – Jornal Abertura .
- Werneck,
Francisco Klörs “Jesus dos 13 aos 30 anos” – Editora Eco – 10ª edição
- Arianismo – doutrina dos primeiros anos
da era cristã que crê que Jesus, apesar de um ser superior, seja inferior
ao Pai.
- Docetismo – século II, defende que Jesus
era um mensageiro dos céus e que seu corpo carnal era uma ilusão e sua
crucificação teria sido apenas aparente.
- Ebionismo – crê em Jesus como um
profeta, nascido de Maria e José, que teria se tornado Cristo no ato do
batismo.
- Monofisismo – século V – segundo a qual Jesus
teria uma única natureza: divina (o Monofisismo foi elaborado por Eutiques
em reação ao Nestorianismo).
- Nestorianismo – século V – segundo a qual
Jesus Cristo é, na verdade, duas entidades distintas, vivendo no mesmo
corpo: uma humana (Jesus) e uma divina (Cristo).
- Monarquianismo – série de crenças que
enfatizam a Unidade Absoluta de Deus, ou seja, são contrários à divindade
de Jesus.
- Sabelianismo ou Modalismo – século III –
defendia que Jesus e Deus não eram pessoas distintas, mas sim “aspectos”
ou “modos” diferentes do trato da divindade com a humanidade.
- Adocionismo – entende que Deus é um ser
superior a tudo e completamente indivisível, defendendo a ideia de que o filho
não foi coautor com o Pai.
- Composição da Bíblia
- Nascimento:
- Pregação:
- Morte:
- Propagação da Doutrina Cristã:
- A Vida Mística de
Jesus – Biblioteca Rosacruz - 1985.
- Bíblia Sagrada –
Edição Pastoral – nov-1991
- Deus um delírio –
Richard Dawkins – Companhia das Letras- 2006.
- Folha de S.Paulo – online – Como tudo funciona - “Nascimento do Deus Sol Invencível” .
- Jesus A Biografia –
Jean-Christian Petitfils – Editora Benvirá – 2015.
- Jesus Ensinamentos
Essenciais – Anthony Duncan – Editora Cultrix – 1986.
- O Judaísmo e as Origens do Cristianismo – volume I
– David Flusser – Imago Editora – 2.000.
- O que Jesus Disse ? O que Jesus não disse ? – Quem
mudou a Bíblia e por quê – Bart D. Ehrman – Agir Editora Ltda – 2005.
- Revista Galileu – nº 208 – set/2008 – Editora
Globo
- Revista História Viva – Grandes Temas – Duetto
Editorial
- Revista Super
Interessante – edição 293 – Editora Abril jul/2011.
- Revista VEJA – Editora Abril – edição 2.449 –
28/10/2015.
- TV Canal Discovery – programa exibido em:
25/12/2013.
- TV Canal History – programas exibidos em: 1º, 15,
22 e 29/03/2014.
- Zelota – A Vida e a
época de Jesus de Nazaré – Reza Aslan – editora Zahar – 2013