quarta-feira, 31 de agosto de 2016

AMANHÃ VAI SER OUTRO DIA por Ricardo Nunes


Em plena ditadura militar brasileira Chico Buarque corajosamente cantava: “Amanhã vai ser outro dia. Hoje você é quem manda falou tá falado não tem discussão. A minha gente hoje anda falando de lado e olhando pro chão. Você que inventou a tristeza agora tenha a fineza de “desinventar”. Você vai pagar e é dobrado cada lágrima rolada neste meu penar. Apesar de você amanhã há de ser outro dia. Ainda pago pra ver o jardim florescer qual você não queria...”

Bela canção que exprimia o estado de espírito daqueles que desejavam um Brasil melhor com democracia, participação popular, voto direto, direitos sociais, soberania, enfim, todo um conjunto de medidas civilizatórias para um país que desejava ser grande e bom para os seus filhos.

No início da década de 80 tivemos a famosa emenda Dante de Oliveira e a inesquecível, para quem acompanhou, campanha pelas diretas já. Enfim, chegamos a festejada “Nova República” que vinha com gosto de esperança em dias melhores para os brasileiros. Finalmente, entrávamos em um regime democrático. Os anos de chumbo passaram, presidentes e governos se sucederam, e hoje, infelizmente, na contramão da história, o Brasil vive uma tremenda crise política, econômica, social e moral.

A crise política se dá porque vivemos em um momento no qual uma presidenta da República legitimamente eleita por 54 milhões de pessoas, pela maioria dos brasileiros, foi afastada do poder, sob argumentos no mínimo questionáveis.

Crise econômica e social que se espalha com o desemprego, com a inflação, insegurança pública, proliferação de favelas e com o desmantelamento de políticas sociais de amparo aos mais fracos da sociedade.

A crise moral, por sua vez, se estende como uma onda de ódio e sectarismo atingindo os brasileiros. Onda de ódio que faz com que uma prestigiada atriz como Letícia Sabatella, seja ofendida em sua dignidade em plena rua por pessoas furiosas, apenas porque manifestou sua posição política. Crise moral que se expressa em um individualismo feroz, no qual se esquece a dimensão comunitária e social do homem.

Esta crise moral se espalha, ainda, como   um câncer em metástase, por grande parte do Estado brasileiro, em suas diversas instâncias de poder, atinge partidos políticos de variada coloração, bem como, nunca esqueçamos, esta crise atinge também importantes empresas privadas brasileiras, as quais, junto com setores do poder público,  possuem  responsabilidade comum nos acontecimentos de corrupção descarada que atualmente vivemos.

A crise atinge, inclusive, alguns importantes veículos de comunicação, os quais tomaram a feição de partidos políticos, ideologicamente tendenciosos, ao invés de cumprirem seu papel de órgãos de imprensa, na busca de um jornalismo correto na divulgação imparcial dos fatos. Nunca ficou tão evidenciado na história do Brasil moderno o quão complexo e quase “metafísico” é o conceito de “liberdade de imprensa” no cotidiano das redações e grandes grupos de comunicação.

Nos encontramos de fato em um momento de falta de esperança, de não acreditarmos mais em um Brasil que possa efetivamente ser um país democrático, soberano, justo socialmente e garantidor das liberdades.

Acabamos de reler “A Gênese” de Allan Kardec. Nesta obra se observa em seu capítulo final, uma ideia de esperança em relação ao futuro da humanidade, levando em conta os momentos de crise: “Sim, decerto, a humanidade se transforma, como já se transformou noutras épocas, e cada transformação se assinala por uma crise que é, para o gênero humano, o que são, para os indivíduos, as crises de crescimento. Aquelas se tornam, muitas vezes, penosas, dolorosas, e arrebatam consigo as gerações e as instituições, mas, são sempre seguidas de uma fase de progresso material e moral”
É certo que o progresso não é fatal. Ele depende da iniciativa humana. E também há sempre a possibilidade de retrocesso. Não devemos cometer o erro de certos pensadores marxistas, por causa da influência hegeliana, que acreditavam que atingiríamos na história humana uma era final e definitiva de progresso e felicidade. Este “paraíso” terreno não existe e as conquistas do homem e da sociedade devem ser permanentemente e cuidadosamente defendidas para não sucumbirem.

Porém, o progresso do homem e da sociedade é possível, diz ainda um trecho da referida obra de Kardec sobre as limitações ao desenvolvimento da humanidade: “o progresso intelectual realizado até o presente, nas mais largas proporções, constitui um grande passo e marca uma primeira fase no avanço geral da humanidade; impotente, porém, ele é para regenerá-la. Enquanto o orgulho e o egoísmo o dominarem, o homem se servirá da sua inteligência e dos seus conhecimentos para satisfazer às suas paixões e aos seus interesses pessoais, razão por que os aplica em aperfeiçoar os meios de prejudicar os seus semelhantes e de os destruir.”

O raciocínio acima exposto é uma verdade cristalina, pois há muita gente inteligente que usa a sua inteligência para o mal, para o egoísmo, para a discriminação do outro, para a opressão, para a exclusão da alteridade, e como diz muito bem o texto, até para “destruir” o semelhante. A condição moral individual influencia poderosamente nas atividades de caráter coletivo, na vida do homem em sociedade, independentemente das diversas tendências partidárias, ideológicas, religiosas etc.

Ante tudo isso pensamos na música de Chico Buarque e em nossa convicção espírita. De fato, devemos acreditar sempre que um mundo melhor ainda está por vir. Que estamos a caminho, apesar de todos os tropeços. Devemos crer com todas as forças de nossa alma que um outro mundo é possível. O espiritismo fala em melhoria da humanidade. É de fato de um otimismo incrível. Se podemos atingir uma humanidade melhor, de certo podemos conquistar um país melhor.

Deste modo convidamos a todos a cantar, neste complicado momento histórico de nosso país, mesmo que em voz baixa em sussurros para si mesmo, como uma prece, a canção do grande Chico Buarque.  Ela vai nos ajudar a lidar com a tristeza e o desencanto de um país que vem patinando há tanto tempo sem encontrar um caminho justo e adequado à felicidade de todos os brasileiros.

Um país que passou por séculos de escravidão, de subordinação a uma potência colonial estrangeira, episódios históricos que marcaram profundamente a cultura, a mentalidade e as condições sócio-econômicas do povo brasileiro. Um país em que ainda se encontra enraizada a discriminação em relação a mulher, ao homossexual, ao negro, ao nordestino, ao pobre. Um país no qual ainda não existe uma democracia plena, incentivadora da participação dos amplos setores da sociedade nas decisões do governo, pois o direito ao voto é apenas o mínimo fundamental que deve ser conquistado, respeitado e defendido em uma democracia.

 Um país que ainda não alcançou nem mesmo as conquistas ideológicas da velha revolução francesa, tamanha a cultura elitista que ainda existe entre nós, que faz com que os cidadãos brasileiros se dividam, na mente de alguns poderosos, entre aquela minoria privilegiada e merecedora de todas as benesses, e aquela grande maioria que deve ser reprimida e excluída dos bens fundamentais da vida. Existe ainda quem pense em nosso país com a mentalidade segregacionista da casa grande e da senzala. Infelizmente, ainda estamos bem distantes do conceito de cidadania tão difundido na revolução da pátria de Kardec. Revolução que pleiteava a liberdade, a igualdade e a fraternidade.
 Grande Chico Buarque! Que possamos cantar de novo a tua canção para alimentar nossa alma de esperança e fé em dias melhores para os brasileiros.

  Amanhã vai ser outro dia...

P.S.: O clima político no Brasil anda tão ruim que é necessário fazer alguns esclarecimentos. Não sou defensor e nem filiado a partido algum. Sou apenas um cidadão brasileiro, espírita, livre-pensador, que reivindica para si o direito de pensar livremente e expor sua opinião, sempre com respeito a opinião diversa. Por outro lado, acredito que um jornal espírita importante como Abertura não pode e não deve passar ao largo dos problemas políticos e sociais que vivemos em nosso país. A bem da verdade, devemos reconhecer que o Jornal Abertura tem cumprido o seu papel de respeito à pluralidade de opiniões de seus articulistas, mesmo em questões controversas. E também não tem se omitido frente as discussões de caráter político e social. Isto enriquece sobremaneira a imprensa espírita.


Ricardo Nunes – Licenciado em Direito – Reside em Santos -SP

NR:Artigo publicado no jornal Abertura em Agosto de 2016

terça-feira, 23 de agosto de 2016

10 ATITUDES PARA DESBANCAR O ÓDIO - por Roberto Rufo

" O mundo está farto de ódio " (Mahatma Gandhi).

" O bem que fazemos é o nosso advogado pela eternidade " (Irmã Veneranda).


 Num artigo que li numa revista feminina, mas que os homens deveriam ler com assiduidade, estavam lá as 10 atitudes para desbancar o ódio. A primeira tinha como tutor o cineasta Fernando Meirelles que nos aponta que devemos perceber que somos idênticos a quem parece ser o nosso oposto. Na evolução do espírito, o controle das paixões pela vontade deve nos levar a evitar os abusos. Da paixão sem limites nasce a intolerância, que é um claro sintoma de desequilíbrio. A atriz Denise Fraga quer que foquemos a nossa atenção no amor e exercitá-lo. Parece um lugar comum mas só se aprende a caridade sendo caridoso, só se aprende a amar praticando atitudes amorosas. A atriz vê na internet uma excelente ferramenta para um saudável fórum de ideias. Fico muito triste quando num debate político como o atual, o que mais interessa a ambas as partes é desqualificar o oponente. Entraram no twiter de uma jornalista sediada nos EUA e a ofenderam com palavras e ameaças. Ela não tem a mesma ideologia que a minha, logo é minha inimiga.

O psicanalista Contardo Calligaris diz que devemos modular o ódio cultivando nossa vida interior. O ódio sempre existiu. Já odiamos muito mais do que nos dias de hoje.



O Espiritismo propicia que criemos uma cultura da solidariedade, pois somos todos espíritos em busca da perfeição. Mas a vida interior é só nossa, decidida pelo nosso livre-arbítrio. Caso contrário, seremos presas fáceis das identidades coletivas.
Entrar na pele do outro é o conselho de Roman Krznaric, filósofo e historiador britânico. 
Como fazer isso? Exercite os sentimentos altruístas. Vejam, que a mudança para uma paz interior, seguida do comportamento de respeito e amor ao próximo requer sempre que façamos o exercício da mudança. Só palavras soltas ao vento não adiantam. No último almoço beneficiente da Comunidade Assistencial Espírita Lar Veneranda, mais uma vez estavam lá aqueles voluntários, septuagenários em sua maioria, com uma presença feminina muito maior. Poucos jovens colaborando. Talvez porque não tenham tempo disponível entre tantos intercâmbios que costumam resultar em nada. 

O estilista Ronaldo Fraga diz para trazemos de volta antigos valores, como a compaixão. Concordo com ele quando fala que há uma banalização da maldade, onde ser bom vem em segundo plano. O Espiritismo define o trabalho como toda ocupação útil. Busquemos utilidade em nossas vidas. Quantos de nós receberíamos com compaixão refugiados de outros países?

A blogueira Jout Jout quer que aprendamos a separar a crítica construtiva da ofensa. Pense antes de postar, no que é acompanhada pela filósofa Márcia Tiburi que nos orienta a praticar o diálogo e tomarmos muita atenção com a linguagem. As palavras maldosas machucam, ofendem o amor próprio das pessoas. Os intolerantes quase sempre têm um pensamento pronto e querem que o mundo se encaixe nele. Esquecem-se como ensina a doutrina espírita que devemos respeitar a desigualdade de aptidões.

A chefe de cozinha Carla Pernambuco diz que devemos cozinhar mais, convidarmos pessoas, pois a comida reúne até os diferentes. Os almoços em famílias são uma ótima oportunidade para debatermos ideias e conhecermos a diferença de conceitos. Nelson Rodrigues dizia que o mundo um dia seria dominado pelos cretinos fundamentais. O antídoto é o choque de posições e a compreensão de cada um. Só os estultos (ignorantes) têm sempre a mesma opinião, geralmente expressas por palavras de ordem e slogans.
O professor de filosofia Renato Janine Ribeiro fala em estimular as crianças a conviver com a diversidade. Concordo com ele, Deus a ninguém fez superior pela cor, raça ou etnia dizem os espíritos. O professor diz que no Brasil temos um apartheid estudantil, o que forma uma visão estereotipada. Segundo ele o branco tem uma imagem preconceituosa do preto; o preto, uma visão preconceituosa do branco.  Ele completa dizendo que junto com as atividades lúdicas deve-se propor o contato com várias culturas. E por último o jornalista e escritor Xico Sá diz que mesmo sem concordar, respeite-se o direito de expressão do outro.

O filósofo Raymond Aron dizia que um intelectual deve possuir duas virtudes, o respeito ao próximo e o respeito aos outros. Caso contrário corremos o risco de achincalharmos uma biografia admirável do Sr. Helio Bicudo (jurista, político e militante dos direitos humanos) chamando-o pejorativamente de "golpista". Pode-se não concordar com a opinião dele,  mas a tentativa de desqualificá-lo é sórdida.


O Espiritismo é toda uma teoria de respeito ao outro, de amor ao próximo, de compreensão das diferenças, sejam elas quais forem. O remédio? A prática do bem. Parece fácil, mas não é. Requer exercício perene. 

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Ademar Chioro dará entrevista ao Amaury Júnior

CONVITE

O ex ministro da saúde Arthur Chioro dará importante entrevista na quinta-feira, dia 25.08.2016, a partir da meia noite e meia (madrugada do dia 26), na emissora REDE TV, no programa AMAURY JR. Nesta oportunidade ele falará sobre o recém lançado livro “Perspectivas contemporâneas da reencarnação”, obra que reúne uma coletânea de artigos de pensadores brasileiros, argentinos, venezuelanos e norte-americanos sobre o tema reencarnação. Tais artigos foram apresentados originalmente no congresso da Confederação Espírita Pan-Americana, no ano de 2012, congresso que reuniu espíritas das Américas e da Europa na cidade de Santos, São Paulo, Brasil. Arthur Chioro e Ricardo Nunes são os organizadores da obra.



Não percam esta interessante entrevista, na qual se poderá verificar a importância do referido tema para a reflexão existencial do homem contemporâneo, bem como se poderá conhecer a compreensão dos espíritas laicos e livre pensadores no que diz respeito a uma interpretação dinâmica, evolucionista e libertária do processo reencarnatório, livre das tradicionais concepções de culpa e castigo geralmente associadas a este tema. O livro foi lançado com o apoio da CEPABrasil e do CPDoc, instituições espíritas que têm se notabilizado por sua seriedade e profundidade no trato dos temas filosóficos espíritas.


 Você que possui curiosidade filosófica sobre as questões da vida, da morte e do destino, anote na sua agenda, e não perca esta importante entrevista!

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

O ”maravilhoso” mundo dos espíritos - por Jaci Régis

O capitulo 10 de O livro dos Espíritos, DAS OCUPAÇÕES E MISSÕES DOS ESPÍRITOS, deve ser estudado com mente aberta.

Basta verificar o que se diz logo de início, conforme abaixo:
558. Os Espíritos fazem outra coisa além de se aperfeiçoar individualmente?
- Eles concorrem para a harmonia do universo ao executar os desígnios de Deus, de quem são os ministros. A vida espírita é uma ocupação continua, mas não é sofrida, como na Terra, porque não há cansaço corporal, nem as angustias da necessidade.

559.Os Espíritos inferiores e imperfeitos também cumprem um papel útil no universo?
-Todos têm deveres a cumprir. O último dos pedreiros não participa na construção de um edifício tanto quanto um arquiteto? (Veja a questão 540).

Lido sem cuidado dá uma falsa ideia do mundo dos espíritos. O texto nos remete a uma ideia irreal do plano extrafísico. Pelo menos é o que mostram as comunicações dos Espíritos.

Lidos, o parágrafo e todo o capitulo, sem uma análise atualizada, parece que o além-túmulo é um lugar disciplinado, contido, dirigido com a mão de ferro.

Talvez o Espírito ou os Espíritos que responderam à questão, tenham exagerado ou quem sabe, refletem o pensamento milenar, desde os tempos bíblicos da atuação direta de Jeová nas coisas da vida.

E também, que o universo se restringe ao nosso planeta.

Na verdade, fornece uma ideia de um lugar perfeitamente organizado, dirigido - quem sabe-  por Deus e reflete ainda o pensamento restrito de que o universo é a Terra.

Desde os tempos bíblicos que os religiosos, incluindo aí Espíritos desencarnados, formataram a ideia do além-túmulo, onde reinava o todo-Poderoso Jeová.

No item acima, vemos uma descrição disciplinada dos Espíritos.

O que respondeu à questão diz que os Espíritos são os ministros de Deus, linguagem, no mínimo, ultrapassada, extremamente ultrapassada.

As comunicações apesar dos esforços de Allan Kardec, em tornar “natural” a comunicação dos Espíritos, por fim os tornam uma espécie de gênios que nos protegem.

É claro que essa visão genérica não desce aos detalhes.

É uma explanação literária.

Outro detalhe dessa atuação dos Espíritos é a existência de anjos da guarda. A tese é cristã e adotada por Kardec.

492. O Espírito protetor é ligado ao indivíduo desde seu nascimento?

-Desde o nascimento até a morte e, muitas vezes, o segue após a morte na vida espiritual, e mesmo em muitas existências corporais, porque essas existências são não somente fases bem curtas em relação à vida do Espírito.

Essa tutelação do homem encarnado pelos homens desencarnados reflete ainda uma mentalidade pré-espírita. Não se encaixa no processo de amadurecimento do pensamento doutrinário.
Mas serve de base para muitas afirmações levianas, esperanças vãs de socorro espiritual. De, sob certa forma, seremos comandados pelos mortos.

Esse trecho da questão 495 é romântico:

É uma doutrina que deveria converter os mais incrédulos por seu encanto e por sua doçura: a dos anjos de guarda. Pensar que se tem sempre perto de si seres superiores, sempre prontos para aconselhar, sustentar, ajudar a escalar a áspera montanha do bem, que são amigos mais seguros e devotados que as mais intimas ligações que se possa ter na Terra, não é uma ideia bem consoladora? Esses seres estão ao vosso lado por ordem de Deus, que por amor os colocou perto de vós, cumprindo uma bela, embora difícil missão. Sim, em qualquer lugar onde estiverdes estarão convosco: nas prisões, nos hospitais, nos lugares de devassidão, na solidão, nada vos separa desses amigos que não podeis ver, mas de quem vossa alma sente os mais doces estímulos e ouve os sábios conselhos.

Longe de nós a ideia de tornar a vida mais áspera do que é. Mas também não é bom caminho criar fantasias.

A relação com os Espíritos é real, espontânea precisa ser considerada uma forma natural de participação. Caso contrário haverá subordinação, a proteção como se ao encarnarmos nos tornamos crianças.

O pior é que no cotidiano essa suposta proteção não é sentida. Aliás, não teria sentido que os mais de seis bilhões de habitantes do planeta mobilizassem outros tantos Espíritos de estatura mais elevada “ O Espírito protetor pertencente a uma ordem elevadas” (490), para protege-los, guiá-los. Ser um anjo da guarda.

Sabemos que o mundo dos Espíritos de forma alguma é um lugar ordenado, dirigido por uma entidade central.

Há mais mistérios do que deixam a entrever as comunicações como as acima.

A realidade espiritual das pessoas se mostra aqui, como no além-túmulo, na forma como casa um se coloca diante da vida.

O AUXÍLIO PODE VIR MAS....

Não queremos menosprezar os esforços de Espíritos amigos ou decididamente voltados para o bem, em ajudar as pessoas encarnadas e desencarnadas.

É um corolário natural da evolução.

O que pretendemos é tornar a relação entre os Espíritos encarnados e desencarnados mais racional e real. Em determinadas circunstancias os desencarnados podem ter uma vantagem devido à sua invisibilidade diante de nós.

Pode querer influenciar para um lado qualquer. Mas nossa mente é a guardiã de nosso equilíbrio e harmonia. Temos como rejeitar as más influencias e acatar as boas.

Devemos antes de tudo nos imbuir de nossa condição de Espíritos imortais em transito corporal. Aproveitar as oportunidades da vida corpórea para tentar alcançar objetivos concretos que nos deem base moral, intelectual para superarmos os desafios.

A preocupação com essa suposta atuação dos Espíritos é similar à dos evangélicos atuais, por exemplo, por depositar numa hipotética crença total, fanática e, naturalmente conveniente, em Jesus. Caberia a ele fazer o crente vencer na vida, superar males e ser feliz, sem fazer força.

Isso é contra a natureza.

O que falta em muitos adeptos do Espiritismo e da Doutrina Kardecista é vontade, entusiasmo, superação da preguiça e do comodismo.

Essa posição reflete a verdade: não absorveram a base imortal que o pensamento de Allan Kardec lançou no mundo.

terça-feira, 2 de agosto de 2016

Intolerância ou vandalismo - ataque a Jornal Espírita - por Alexandre Cardia Machado

Recentemente colocamos no muro da sede do ICKS, um dispositivo que permitia a qualquer pessoa que por lá pasasse, retirar um exemplar do Jornal Abertura, de forma gratuita.



Esteve por lá por aproximadamente 40 dias, até que um dia destes alguém, mal intensionado ateou fogo nos jornais, lembrando-nos do que faziam os nazistas no século passado, ou os espanhóis nos famosos auto de fé de Barcelona. Jamais saberemos a motivação, mas de certo é que não desistiremos. Iremos reparar e voltaremos a oferecer nossos jornais, pois acreditamos na humanidade.
A ignorância é a base da intolerância, não conseguir conviver com outras opiniões, outras formas de ver o mundo, principalmente quando estas formas de ver o mundo bucam o amor entre as pessoas e almejam um mundo melhor é algo impensável. Mas sabemos que as pessoas nem sempre param para pensar. Agem por impulso.

Já tivemos vários casos onde nossos jornais não chegavam aos nossos assinantes e o motivo, identificado em muitos dos casos eram os porteiros evangélicos. Motivados sabe lá porque?
Nossos jornais, se enviados como correio normal, não chegam a Jon Aispúrua, na Venezuela, neste caso por razões menos espirituais mas sim por perseguição política. As motivações são muito diversas, mas estamos longe de viver em uma sociedade plural.

Acredito que o atentado que sofreu nosso jornal, seja muito mais um ato isolado de alguma pessoa que resolveu se divertir, depredando, elas o fazem com a coisa pública que  a elas mesmo pertencem, porque não fariam com um bem privado.

Oferecemos nosso jornal pois acreditamos que apresentamos desta forma uma oportunidade de reflexão à sociedade. Jogar fora ou reciclar simplesmente não passa por nossa cabeça, pois sabemos que muitas vezes uma leitura esporádica de um texto espírita, pode abrir uma porta a alguém que está perdido ou buscando uma resposta.

Por que alguém se sentiria ofendido ou atacado por um jornal que professe uma forma diferente de pensar? Se a pessoa não tem interesse naquilo,que siga em frente. Vivemos numa sociedade caótica, se alguém arruma a sua calçada, com cimento fresco, precisa ficar vigiando pois mutios tentarão pisar para deixar a sua marca ou colocar o seu nome?

Há algum tempo passou na televisão uma reportagem, sobre um professor estrangeiro da Unicamp, que reside em Barão Geraldo, Campinas. Ele recebeu de presente da prefeitura uma parada de ônibus em frente à sua casa. Para quem já passou por esta experiência, sabe bem a que me refiro. Pois bem, ele resolveu transformar  o limão em limonada. Instalou um bebedouro, colocou jornais,
disponibilizou bancos e claro passou a “curtir” esta onda positiva. Quem sabe não seja isto que tenhamos que fazer?

Por enquanto estamos na ressaca, de quem viu uma ideia ser destruída, mas iremos repensar e achar uma forma resiliente de seguir oferecendo o que de melhor temos a dar.

Só nos resta mesmo apelar aos poetas, pois  apesar de tudo “Eu sei, eu sei / Que a vida devia ser bem melhor e será / Mas isso não impede que eu repita / É bonita, é bonita e é bonita... (Gonzaguinha).

Ou então como diria Belchior“ viver é melhor que sonhar” – precisamos superar todos os obstáculos, e ir em frente, pois não tem nada fácil na vida, estamos em eterno conflito, aprendendo com este convívio, buscando ajudar aqui e ali, contribuindo para um mundo melhor, menos repleto de pessoas levadas por maus impulsos. Com mais espaço para o contraditório.

Artigo publicado no Jornal Abertura de Julho de 2016.

Após o ocorrido, uma pessoa, que costuma levar seus cães ao Veterinário, vizinho ao ICKS - Instituto Cultural Kardecista da Santos, por iniciativa própria reinstalou as cordas que mantém os jornais no lugar. Assim que retomamos a distribuição. agradescemos esta iniciativa. O bem sempre vence!