segunda-feira, 8 de agosto de 2016

O ”maravilhoso” mundo dos espíritos - por Jaci Régis

O ”maravilhoso” mundo dos espíritos   - por    Jaci Régis


O capitulo 10 de O livro dos Espíritos, DAS OCUPAÇÕES E MISSÕES DOS ESPÍRITOS, deve ser estudado com mente aberta.

Basta verificar o que se diz logo de início, conforme abaixo:
558. Os Espíritos fazem outra coisa além de se aperfeiçoar individualmente?
- Eles concorrem para a harmonia do universo ao executar os desígnios de Deus, de quem são os ministros. A vida espírita é uma ocupação continua, mas não é sofrida, como na Terra, porque não há cansaço corporal, nem as angustias da necessidade.

559.Os Espíritos inferiores e imperfeitos também cumprem um papel útil no universo?
-Todos têm deveres a cumprir. O último dos pedreiros não participa na construção de um edifício tanto quanto um arquiteto? (Veja a questão 540).

Lido sem cuidado dá uma falsa ideia do mundo dos espíritos. O texto nos remete a uma ideia irreal do plano extrafísico. Pelo menos é o que mostram as comunicações dos Espíritos.

Lidos, o parágrafo e todo o capitulo, sem uma análise atualizada, parece que o além-túmulo é um lugar disciplinado, contido, dirigido com a mão de ferro.

Talvez o Espírito ou os Espíritos que responderam à questão, tenham exagerado ou quem sabe, refletem o pensamento milenar, desde os tempos bíblicos da atuação direta de Jeová nas coisas da vida.

E também, que o universo se restringe ao nosso planeta.

Na verdade, fornece uma ideia de um lugar perfeitamente organizado, dirigido - quem sabe-  por Deus e reflete ainda o pensamento restrito de que o universo é a Terra.

Desde os tempos bíblicos que os religiosos, incluindo aí Espíritos desencarnados, formataram a ideia do além-túmulo, onde reinava o todo-Poderoso Jeová.

No item acima, vemos uma descrição disciplinada dos Espíritos.

O que respondeu à questão diz que os Espíritos são os ministros de Deus, linguagem, no mínimo, ultrapassada, extremamente ultrapassada.

As comunicações apesar dos esforços de Allan Kardec, em tornar “natural” a comunicação dos Espíritos, por fim os tornam uma espécie de gênios que nos protegem.

É claro que essa visão genérica não desce aos detalhes.

É uma explanação literária.

Outro detalhe dessa atuação dos Espíritos é a existência de anjos da guarda. A tese é cristã e adotada por Kardec.

492. O Espírito protetor é ligado ao indivíduo desde seu nascimento?

-Desde o nascimento até a morte e, muitas vezes, o segue após a morte na vida espiritual, e mesmo em muitas existências corporais, porque essas existências são não somente fases bem curtas em relação à vida do Espírito.

Essa tutelação do homem encarnado pelos homens desencarnados reflete ainda uma mentalidade pré-espírita. Não se encaixa no processo de amadurecimento do pensamento doutrinário.
Mas serve de base para muitas afirmações levianas, esperanças vãs de socorro espiritual. De, sob certa forma, seremos comandados pelos mortos.

Esse trecho da questão 495 é romântico:

É uma doutrina que deveria converter os mais incrédulos por seu encanto e por sua doçura: a dos anjos de guarda. Pensar que se tem sempre perto de si seres superiores, sempre prontos para aconselhar, sustentar, ajudar a escalar a áspera montanha do bem, que são amigos mais seguros e devotados que as mais intimas ligações que se possa ter na Terra, não é uma ideia bem consoladora? Esses seres estão ao vosso lado por ordem de Deus, que por amor os colocou perto de vós, cumprindo uma bela, embora difícil missão. Sim, em qualquer lugar onde estiverdes estarão convosco: nas prisões, nos hospitais, nos lugares de devassidão, na solidão, nada vos separa desses amigos que não podeis ver, mas de quem vossa alma sente os mais doces estímulos e ouve os sábios conselhos.

Longe de nós a ideia de tornar a vida mais áspera do que é. Mas também não é bom caminho criar fantasias.

A relação com os Espíritos é real, espontânea precisa ser considerada uma forma natural de participação. Caso contrário haverá subordinação, a proteção como se ao encarnarmos nos tornamos crianças.

O pior é que no cotidiano essa suposta proteção não é sentida. Aliás, não teria sentido que os mais de seis bilhões de habitantes do planeta mobilizassem outros tantos Espíritos de estatura mais elevada “ O Espírito protetor pertencente a uma ordem elevadas” (490), para protege-los, guiá-los. Ser um anjo da guarda.

Sabemos que o mundo dos Espíritos de forma alguma é um lugar ordenado, dirigido por uma entidade central.

Há mais mistérios do que deixam a entrever as comunicações como as acima.

A realidade espiritual das pessoas se mostra aqui, como no além-túmulo, na forma como casa um se coloca diante da vida.

O AUXÍLIO PODE VIR MAS....

Não queremos menosprezar os esforços de Espíritos amigos ou decididamente voltados para o bem, em ajudar as pessoas encarnadas e desencarnadas.

É um corolário natural da evolução.

O que pretendemos é tornar a relação entre os Espíritos encarnados e desencarnados mais racional e real. Em determinadas circunstancias os desencarnados podem ter uma vantagem devido à sua invisibilidade diante de nós.

Pode querer influenciar para um lado qualquer. Mas nossa mente é a guardiã de nosso equilíbrio e harmonia. Temos como rejeitar as más influencias e acatar as boas.

Devemos antes de tudo nos imbuir de nossa condição de Espíritos imortais em transito corporal. Aproveitar as oportunidades da vida corpórea para tentar alcançar objetivos concretos que nos deem base moral, intelectual para superarmos os desafios.

A preocupação com essa suposta atuação dos Espíritos é similar à dos evangélicos atuais, por exemplo, por depositar numa hipotética crença total, fanática e, naturalmente conveniente, em Jesus. Caberia a ele fazer o crente vencer na vida, superar males e ser feliz, sem fazer força.

Isso é contra a natureza.

O que falta em muitos adeptos do Espiritismo e da Doutrina Kardecista é vontade, entusiasmo, superação da preguiça e do comodismo.

Essa posição reflete a verdade: não absorveram a base imortal que o pensamento de Allan Kardec lançou no mundo.

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