O ”maravilhoso” mundo dos espíritos - por Jaci Régis
O capitulo 10 de O livro dos Espíritos, DAS OCUPAÇÕES E MISSÕES DOS ESPÍRITOS,
deve ser estudado com mente aberta.
Basta verificar o que se diz logo de início,
conforme abaixo:
558.
Os Espíritos fazem outra coisa além de se aperfeiçoar individualmente?
- Eles
concorrem para a harmonia do universo ao executar os desígnios de Deus, de quem
são os ministros. A vida espírita é uma ocupação continua, mas não é sofrida,
como na Terra, porque não há cansaço corporal, nem as angustias da necessidade.
559.Os
Espíritos inferiores e imperfeitos também cumprem um papel útil no universo?
-Todos
têm deveres a cumprir. O último dos pedreiros não participa na construção de um
edifício tanto quanto um arquiteto? (Veja a questão 540).
Lido sem cuidado dá uma falsa ideia do
mundo dos espíritos. O texto nos remete a uma ideia irreal do plano
extrafísico. Pelo menos é o que mostram as comunicações dos Espíritos.
Lidos, o parágrafo e todo o capitulo, sem
uma análise atualizada, parece que o além-túmulo é um lugar disciplinado,
contido, dirigido com a mão de ferro.
Talvez o Espírito ou os Espíritos que
responderam à questão, tenham exagerado ou quem sabe, refletem o pensamento
milenar, desde os tempos bíblicos da atuação direta de Jeová nas coisas da
vida.
E também, que o universo se restringe ao
nosso planeta.
Na verdade, fornece uma ideia de um lugar
perfeitamente organizado, dirigido - quem sabe- por Deus e reflete ainda o pensamento restrito
de que o universo é a Terra.
Desde os tempos bíblicos que os religiosos,
incluindo aí Espíritos desencarnados, formataram a ideia do além-túmulo, onde
reinava o todo-Poderoso Jeová.
No item acima, vemos uma descrição
disciplinada dos Espíritos.
O que respondeu à questão diz que os
Espíritos são os ministros de Deus, linguagem, no mínimo, ultrapassada,
extremamente ultrapassada.
As comunicações apesar dos esforços de
Allan Kardec, em tornar “natural” a comunicação dos Espíritos, por fim os
tornam uma espécie de gênios que nos protegem.
É claro que essa visão genérica não desce
aos detalhes.
É uma explanação literária.
Outro detalhe dessa atuação dos Espíritos é
a existência de anjos da guarda. A tese é cristã e adotada por Kardec.
492.
O Espírito protetor é ligado ao indivíduo desde seu nascimento?
-Desde
o nascimento até a morte e, muitas vezes, o segue após a morte na vida
espiritual, e mesmo em muitas existências corporais, porque essas existências são
não somente fases bem curtas em relação à vida do Espírito.
Essa tutelação do homem encarnado pelos
homens desencarnados reflete ainda uma mentalidade pré-espírita. Não se encaixa
no processo de amadurecimento do pensamento doutrinário.
Mas serve de base para muitas afirmações
levianas, esperanças vãs de socorro espiritual. De, sob certa forma, seremos comandados pelos mortos.
Esse trecho da questão 495 é romântico:
É uma
doutrina que deveria converter os mais incrédulos por seu encanto e por sua
doçura: a dos anjos de guarda. Pensar que se tem sempre perto de si seres
superiores, sempre prontos para aconselhar, sustentar, ajudar a escalar a
áspera montanha do bem, que são amigos mais seguros e devotados que as mais
intimas ligações que se possa ter na Terra, não é uma ideia bem consoladora?
Esses seres estão ao vosso lado por ordem de Deus, que por amor os colocou
perto de vós, cumprindo uma bela, embora difícil missão. Sim, em qualquer lugar
onde estiverdes estarão convosco: nas prisões, nos hospitais, nos lugares de
devassidão, na solidão, nada vos separa desses amigos que não podeis ver, mas
de quem vossa alma sente os mais doces estímulos e ouve os sábios conselhos.
Longe de nós a ideia de tornar a vida mais
áspera do que é. Mas também não é bom caminho criar fantasias.
A relação com os Espíritos é real,
espontânea precisa ser considerada uma forma natural de participação. Caso
contrário haverá subordinação, a proteção como se ao encarnarmos nos tornamos
crianças.
O pior é que no cotidiano essa suposta
proteção não é sentida. Aliás, não teria sentido que os mais de seis bilhões de
habitantes do planeta mobilizassem outros tantos Espíritos de estatura mais
elevada “ O Espírito protetor pertencente a uma ordem elevadas” (490), para
protege-los, guiá-los. Ser um anjo da guarda.
Sabemos que o mundo dos Espíritos de forma
alguma é um lugar ordenado, dirigido por uma entidade central.
Há mais mistérios do que deixam a entrever
as comunicações como as acima.
A realidade espiritual das pessoas se
mostra aqui, como no além-túmulo, na forma como casa um se coloca diante da
vida.
O AUXÍLIO PODE VIR MAS....
Não queremos menosprezar os esforços de
Espíritos amigos ou decididamente voltados para o bem, em ajudar as pessoas
encarnadas e desencarnadas.
É um corolário natural da evolução.
O que pretendemos é tornar a relação entre
os Espíritos encarnados e desencarnados mais racional e real. Em determinadas
circunstancias os desencarnados podem ter uma vantagem devido à sua
invisibilidade diante de nós.
Pode querer influenciar para um lado
qualquer. Mas nossa mente é a guardiã de nosso equilíbrio e harmonia. Temos
como rejeitar as más influencias e acatar as boas.
Devemos antes de tudo nos imbuir de nossa
condição de Espíritos imortais em transito corporal. Aproveitar as
oportunidades da vida corpórea para tentar alcançar objetivos concretos que nos
deem base moral, intelectual para superarmos os desafios.
A preocupação com essa suposta atuação dos
Espíritos é similar à dos evangélicos atuais, por exemplo, por depositar numa
hipotética crença total, fanática e, naturalmente conveniente, em Jesus.
Caberia a ele fazer o crente vencer na vida, superar males e ser feliz, sem
fazer força.
Isso é contra a natureza.
O que falta em muitos adeptos do
Espiritismo e da Doutrina Kardecista é vontade, entusiasmo, superação da
preguiça e do comodismo.
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