Esta questão
preocupou muito Allan Kardec, em seu caso, como ficaria o Espirtismo após a sua
desencarnação. Também foi alvo e ação de Amélie Gabrielle Boudet, sua esposa
que guardou, enquanto viveu, a coerência do espiritismo àquela época, mantendo
o rigor na publicação da revista Espírita que já corria grande risco de
miscigenação com outras práticas espiritualistas.
Mas embora
preocupado, Karde possiuía uma sensação clara de que o Espiritismo prosperaria,
muito pelo grande avanço e penetração que havia tido nos primeiros 10 anos. Se
por um lado havia a certeza de que cresceria, por outro havia a dúvida de como
manter a Doutrina dentro dos parâmetros, como controlar o seu avanço, além da
vida encarnada de seus criadores?
A preocupação com
o porvir, com as novas gerações não é novo. Vejam esta frase: “ Os jovens de
hoje gostam do luxo. São mal comportados, desprezam a autoridade. Não tem
respeito pelos mais velhos, passam o tempo a falar em vez de trabalhar. Não se
levantam quando um adulto chega. Contradizem os pais, apresentam-se em
sociedade com enfeites estranhos”. Bem, nada animador, não é verdade? Esta
frase é atribuída a Socrates o filósofo grego que a teria proferido há 2400
anos atrás. Portanto a dúvida é permanente, dá-se a isto o nome de anacronismo.
Todos sabemos que as gerações que sucederam os gregos do quarto século antes de
Cristo foram mais bem sucedidos que os da época de Socrates. Socrates foi
professor de Platão, este de Aristóteles e Aristóteles de Alexandre o grande,
que criou o primeiro grande Império no mundo ocidental.
Existe uma grande
verdade no universo, é que tudo muda o tempo todo, gostemos ou não. Agora é
possível pensar e agir para que uma ideia boa, uma doutrina importante não
desapareça, foi assim que pensou Allan Kardec e o deixou por escrito. Tendo
sido publicado, muito depois de sua morte no livro Obras Póstumas. Kardec
dedica um capítulo “ Meu Sucessor”.
Trata-se que uma conversa com um espírito ocorrida na casa de Kardec.
“22 de dezembro de
1861 - médium: Sr. d’A
Tendo uma
conversação com os Espíritos levado a falar do meu sucessor na direção do
Espiritismo, formulei a questão seguinte:
Pergunta — Entre os adeptos, muitos há que se preocupam com o que virá a ser do
Espiritismo depois de mim e perguntam quem me substituirá quando eu partir, uma
vez que não se vê aparecer ninguém, de modo notório, para lhe tomar as rédeas.
Respondo que não nutro a pretensão de ser indispensável; que Deus é
extremamente sábio para não fazer que uma doutrina destinada a regenerar o
mundo assente sobre a vida de um homem; que, ao demais, sempre me avisaram que
a minha tarefa é a de constituir a Doutrina e que para isso tempo necessário me
será concedido. A do meu sucessor será, pois, mais fácil, porquanto já achará
traçado o caminho, bastando que o siga. Entretanto, se os Espíritos julgassem
oportuno dizer-me a respeito alguma coisa de mais positivo, eu muito grato lhes
ficaria.
Resposta — Tudo isso é rigorosamente exato — eis o que se nos permite dizer-te a
mais. Tens razão em afirmar que não és indispensável; só o és ao ver dos
homens, porque era necessário que o trabalho de organização se concentrasse nas
mãos de um só, para que houvesse unidade; não o és, porém, aos olhos de Deus.
Foste escolhido e por isso é que te vês só; mas, não és, como, aliás, bem o
sabes, a única entidade capaz de desempenhar essa missão. Se o seu desempenho
se interrompesse por uma causa qualquer, não faltariam a Deus outros que te
substituíssem. Assim, aconteça o que acontecer, o Espiritismo não periclitará.
Enquanto o trabalho de elaboração não estiver concluído, é, pois, necessário
sejas o único em evidência: fazia-se mister uma bandeira em torno da qual
pudessem as gentes agrupar-se. Era preciso que te considerassem indispensável,
para que a obra que te sair das mãos tenha mais autoridade no presente e no
futuro; era preciso mesmo que temessem pelas conseqüências da tua partida. Se
aquele que te há de substituir fosse designado de antemão, a obra, ainda não
acabada, poderia sofrer entraves; formar-se-iam contra ti oposições suscitadas
pelo ciúme; discuti-lo-iam, antes que ele desse provas de si; os inimigos da
Doutrina procurariam barrar-lhe o caminho, resultando daí cismas e separações.
Ele, portanto, se revelará, quando chegar o momento. Sua tarefa será assim
facilitada, porque, como dizes, o caminho estará todo traçado ...
Pergunta — Poderás dizer-me se a escolha do meu sucessor já está feita?
Resposta — Está, sem o estar, dado que o homem, dispondo do livre-arbítrio, pode
no último momento recuar diante da tarefa que ele próprio elegeu. É também
indispensável que dê provas de si, de capacidade, de devotamento, de
desinteresse e de abnegação. Se se deixasse levar apenas pela ambição e pelo
desejo de primar, seria certamente posto de lado.
Pergunta — Freqüentemente se há dito que muitos Espíritos encarnariam para
ajudar o movimento.
Resposta — Sem dúvida, muitos Espíritos terão essa missão, mas cada um na sua
especialidade, para agir, pela sua posição, sobre tal ou tal parte na
sociedade. Todos se revelarão por suas obras e nenhum por qualquer pretensão à
supremacia.”
O Espiritismo
seguiu, modificou-se uma corrente ficou mais religiosa, outra mais filosófica.
Também temos
receio do que acontecerá com nosso movimento livre-pensador, não vemos muitos
jovens. Tememos que termine em 20, 30 anos. Mas a análise da história nos
permite dizer que prosperará, encontraremos formas de chegar aos mais jovens,
certamente aparecerão muitas coisas diferentes, novas mideas, novas formas de
atingí-los.
Este é o grande
desafio do momento, penetrar na mente e no coração dos mais jovens, trazê-los
para as ações espíritas, em nosso grupo, em especial, para o pensar espírita.
Alexandre Cardia Machado é engenheiro, Chefe de Redação do jornal Abertura e
reside em Santos, SP.
texto originariamente publicado no Jornal Abertura de Julho de 2017.
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