Progresso: uma
profecia para o futuro
Originalmente publicado em 2013 em plenos dias
de “mensalão” no STF, roberto nos trouxe um texto lúcido, moderno e brilhante.
Desta forma podemos reler e ver que passados 5 anos as velhas ideiase as velhas
práticas continuam existindo. O que mudou, é que hoje, a Polícia Federal bate
na porta das casas do corruptos e os leva presos. Com vocês Roberto Rufo.
“O progresso era
maravilhoso quando não progredia tanto”. (Millôr Fernandes)
“A dialética do
interesse é quase sempre mais poderosa que a da razão e consciência”. (Marquês de Maricá)
“A humanidade progride
por meio de indivíduos que, pouco a pouco, se melhoram e se esclarecem”. (Allan
Kardec)
Segundo
teóricos do conhecimento, o termo progresso designa duas coisas. Uma que
denotaria uma série qualquer de eventos que se desenvolvem em um sentido
desejável. E a outra de que é uma crença de que os acontecimentos
históricos se desenvolvem no sentido mais desejável, realizando um
aperfeiçoamento crescente.
No primeiro
sentido fala-se em progresso da química ou do progresso da técnica. No segundo
sentido, a palavra progresso designa não só um balanço da história passada, mas
também uma profecia para o futuro. Para o conceito espírita, não muito
diferente, o progresso é inevitável; todavia esse conceito está muito apoiado
no desenvolvimento do livre-arbítrio que acompanha o da inteligência e aumenta
a responsabilidade dos atos. Essa é uma premissa muito importante, para não nos
deixarmos levar pela ilusão de que o bem sempre vence, independente da ação
humana.
O
Espiritismo defende de todas as formas a confiança no uso do livre-arbítrio,
pois dele depende o progresso intelectual que referendaria o progresso moral.
Alertam os espíritos que um não segue o outro imediatamente.
O
filósofo alemão Schopenhauer, que tinha verdadeira aversão ao seu colega de
filosofia Hegel, negava veementemente a ideia de uma ordem universal a caminho
para o melhor, e via na história a fatal repetição de um mesmo drama de dor.
Num certo sentido ele estava certo, bastando comparar o tempo de terror vivido
nos momentos finais do poderio romano, onde pareceria que tamanha perversidade
não era possível ocorrer novamente. Não foi o que aconteceu. A história de
horrores ainda teria lances incríveis. Vide o nazismo e os campos de
concentração em pleno século XX, considerado pelos sociólogos o século
mais violento da história da humanidade.
O que
Schopenhauer se esquece é que existe nos seres humanos um poderoso desejo de
avançar moralmente, em colocar, como falava Kardec, suas leis em conformidade
com a justiça divina, gravada em nossa consciência, como nos falam os
espíritos. Aqui coloco uma dúvida, que me atormenta ultimamente, pois é fruto
de tantas vezes ouvir uma definição que por ser atestada por pensadores
grandiosos como Humberto Marioti parece definitiva. O avanço da humanidade pela
força da lei da dialética. Sempre se ouve dizer: o Espiritismo é dialético. Eu
contesto esse caráter necessário e progressista da dialética. Em certos caso é
uma tremenda forçação de barra. Se o mundo funciona assim, com a tese, a
antítese (motor do progresso) e a síntese, num moto perpétuo, gostaria que me
explicassem quando a Idade Média foi a antítese e de quê. Pela dialética que a
tudo responde, o homem assume uma posição muito passiva perante as “forças
dialéticas da natureza”.
Há algo
envolvido nessa coisa toda que eu chamo de disposição, preparo e mentalidade
que apesar da óbvia influência do meio, depende sobremaneira da
espiritualidade individual de cada um, queira a dialética ou não. O método
socialista da exacerbação da antítese como forma de se progredir mais
rapidamente fracassou rotundamente, pois o ser humano era considerado uma peça
insignificante nessa engrenagem. Daí a justificativa para milhares de
assassinatos em nome da dialética.
O
Espiritismo aposta mais no homem individual impulsionador de ideias, do que no
coletivo construtor de estruturas de poder. Além do que, por trás do termo
"coletivo" se esconde muitas vezes a vontade prepotente de um grupo
específico ou de um líder alçado a esse posto pelo famoso culto da
personalidade. Contudo, o Espiritismo não deixa de levar em consideração que a
vontade muitas vezes impulsionada por um indivíduo, na luta por um ideal de
justiça em prol da humanidade, necessita de leis especiais que abarca o
coletivo da sociedade. Os espíritos dizem, em resposta à pergunta 795 do Livro dos Espíritos, que os tempos
de barbárie onde os mais fortes fisicamente ditavam as leis tem que ser
ultrapassado, mas isso só ocorre à medida em que os homens compreendam melhor a
lei de justiça. E isso só se faz com o intenso uso do livre-arbítrio.
Essa é nossa luta dentro do movimento espírita e na sociedade. Por
exemplo, a FEB se apresentaria aos meios de comunicação como contrária à
autorização prévia das biografias. Biografias sem censura. Ponto final.
Concordo
em parte com Lévi-Strauss quando contesta o mito historicista e europeísta do
progresso, ou seja, a ideia de uma linha evolutiva única e unidirecional,
que culmine na cultura ocidental. Ele afirma que para além de um inegável
"desenvolvimento" técnico e material, a nossa espécie, nas
suas estruturas psicológicas básicas, permanece substancialmente a mesma.
Não seria tão negativo assim como ele, mas quando assisto um vereador dizer:
"estou de ‘saco cheio’ de gente pobre, que deveriam servir de isca de
peixe", me pergunto se a mentalidade dele não possui um grande número de
adeptos escondidos. Eu aposto que sim. É a velha afirmativa surrada de:
"isso é coisa de pobre", quando se quer determinar o que é bom e o
que é ruim. Basta ler um pouquinho sobre a história do Brasil e se verá
que sempre foram os mais bem aquinhoados que saquearam o país.
A
mentalidade exclusivista tirou de milhões a oportunidade de utilizar adequadamente
o livre-arbítrio e serem também impulsionadores do progresso, como queria
Kardec e os espíritos que com ele trabalharam. Tarefa
árdua essa, pois envolve sempre a vontade de cada um. Daí servirem de massa de
manobra de tantos ideólogos e suas surradas dialéticas. Ainda mais num
país muito injusto socialmente.
Os espíritos têm muita esperança que pela
força das ideias e pela influência das pessoas de bem o homem se vê obrigado a
reformar suas leis. E afirmam que os homens já reformaram muitas, o que é
plenamente verdadeiro, e ainda reformarão muitas outras. Eu acredito no sucesso
dos homens e mulheres nessa tarefa. Como disse Martin Luther King, em seu
trabalho pela alteração das leis segregacionistas, "eu não posso obrigar
um branco racista a me amar, mas posso impedi-lo de me linchar pela força
da lei”. Depois, numa segunda fase, as novas gerações aprendem que é melhor
viver em harmonia.
A
aplicação da lei traz este benefício.
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