Allan
Kardec certamente queria algumas coisas como: antepor-se ao materialismo que
começava a tomar conta do pensamento moderno; queria demonstrar que a vida no
Universo tinha dois componentes o físico e o espiritual; queria demonstrar que
existia uma lógica moral regendo este Universo, determinada por Deus; queria
que compreendêssemos e espíritismo de uma maneira mais uniforme possível. Para
isso manteve o monopólio do que era ou não espiritismo sob sua batuta até o sua
desencarnação.
No
livro Obras Póstumas, no capítulo Constituição do Espiritismo, os passos para a
sua atualização estão ali escritos, vale salientar que este livro, feito sobre
manuscritos do Professor Rivail, não foi publicado por ele, caso o fosse o nome
do mesmo não seria este, foi publicada somente em 1890, 21 anos após a
desencarnação de Kardec.
Mas
o que queremos mesmo do espiritismo hoje, passados 150 anos da desencarnação do
professor Hipollyte Léon Denizard Rivail que se completará este mês, no dia 31
de março?
Como
somos livres-pensadores, unanimidade não é o nosso forte, não conseguimos,
ainda que tenhamos tentado, criar mecanismos de atualização, não gostamos de
comitês e acreditamos que grupos de especialistas tendem mais a afastar ideias
novoas do que aceitá-las. Mas existiram iniciativas de consolidação do
pensamento livre-pensador da CEPA, dois livros publicados e os congressos que
periodicamente revisitam temas importantes.
Desta
forma, e através dos jornais como o nosso Abertura e o Opinião do CCEPA, grupos
como o CPDOc e editoras como as do ICKS, do CCEPA que com seus livros fomos
consolidando um novo vocabulário, mas atual, ainda que longe de representar um
pensamento organizado. No entanto trás o convívio de ideias novas aos velhor
livros da codificação. Nos ajudaram a nos livrar das amarras do entendimento
errado das reencarnações punitivas e permitiu um transitat num frescor de um
novo pensar espírita.
Este
caminhar nos afastou do movimento religioso e se formos bastante críticos, dos
próprios textos básicos espíritas, não que não reconheçamos seu valor, são
importantíssimos como caminho necessário ao conhecimento, mas estão muito
ultrapassados em forma e conteúdo, especialmente em pontos que se aproximam da
ciência, ou de algumas questões humanas como racismo, papel da mulher entre
outros.
Relatando
aqui uma experiência do ICKS de sete anos seguidos, ministrando um curso
chamado – Estudo Dirigido do Livro dos Espíritos – enfocado a pessoas comuns,
por onde mais de 200 pessoas, espíritas ou não, passaram por nós. Nos vimos na
situação de selecionarmos as questões que iríamos apresentar, pois cerca de 30%
das respostas de questões do Livro dos Espíritos estão obsoletas, ou então não
apresentam Deus como Inteligência Suprema e sim como o deus de Abraão, raivoso
e punitivo, algo que pode ter passado despecebido por Kardec, talvez por que ao seu tempo este questionamento não
estivesse maduro suficiente ainda.
Somos,
verdadeiramente um grupo pós Kardec e quanto mais rápido aceitarmos isso,
melhor será para nosso grupo. Não entendam o pós-Kardec como anti Kardec, pois
isso não somos. Mas buscamos ver além de Kardec do século XIX tentando nos colacar
na posição dele hoje, pensando como pensaria Kardec se hoje estivesse
encarnado.
Talvez
não haja consenso no que escrevo aqui, mas acredito que vale o exercício,
aberto naturalmente à crítica construtiva.
O
que queremos do espiritismo:
-
um espiritismo livre, atual, capaz de enfrentar as questões do nosso tempo, de
nosso cotidiano;
-
que tenha uma linguagem moderna, capaz de atrair a juventude;
-
que entenda e que ensine a imortalidade dinâmica, como instrumento de
aperfeiçoamento do espírito;
-
que seja uma ciência da alma, pois nosso objeto muda do espírito desencarnado,
para o espírito imortal, com enfase na sua atuação enquanto encarnado, pois é
sobre ele que o espiritismo pode fazer a diferença como um instrumento de
entendimento do mundo;
-
que seja tolerante, fraterno e humanista;
-
que incorpore a Declaração Universal dos Direitos do Homem como um de seus
fundamentos;
-
que seja legitimamente democrática;
-
que não seja oportunista, nem tudo que vem dos espíritos pela mediunidade é
espiritismo;
-
que as casas espíritas incentivem o estudo, o diálogo e a produção de trabalhos
espíritas;
-
que as relações entre seus membros sejam ditadas pelo respeito;
-
que possa ser político, mas não partidário.
Poderíamos
seguir listando ideias, mas mais importante do que escrever é fazer, esta
sempre foi a característica de um espírita a ação que corresponde às palavras.
Gostou, quer ler o jornal abertura de março de 2019 onde foi publicado?
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