As
Paralimpíadas e a carta de Yve
Na segunda metade
de agosto, com duas semanas de diferença das Olimpíadas do Japão se realizaram
as Paralimpíadas. Enquanto nos Jogos Olímpicos, havia cobertura de uma dezena
de canais a cabo vemos uma cobertura importante, mas muito mais modesta das
Paralimpíadas.
Estes jogos fazem
parte de um processo internacional de quebra de barreiras, de redução de
preconceitos que se vê cada vez de forma mais relevante em todas as áreas
sociais.
O espiritismo nos
ensina que todos nós surgimos simples e ignorantes e que evoluímos pela soma de
nossas experiências, somos todos passageiros desta aventura do desenvolvimento
do Espírito através da imortalidade dinâmica.
O Brasil foi o 8°
colocado nas Paralimpíadas do Rio de Janeiro em 2016, buscávamos nestes jogos
igualar ou quem sabe superar a marca anterior, é assim que as coisas acontecem
nos esportes e por que não dizer, na própria vida onde em todas as atividades,
nós Espíritos Encarnados estamos em busca de superações. Finalmente
terminamos os jogos na 7ª posição, igualando este resultado ao dos jogos de
Londres em 2002, em matérias de medalhas, igualamos o número conseguido no Rio
de Janeiro com 72 medalhas, mas superamos nosso recorde de 2002 que era de 21
ouros e atingimos um total de 22 ouros.
Mas o resultado
não é o que realmente importa, nas palavras do criador dos Jogos Olímpicos da Era
Moderna Barão de Coubertin – “O importante não é vencer, mas competir. E com
dignidade” Pierre de Fredy (1863 -1937).
A carta de
YVE
Recentemente nosso
Ministro da Educação fez uma declaração infeliz, tendo se desculpado, logo em
seguida, tamanha a repercussão, extraio este trecho que vamos analisar: “há
crianças com deficiência de impossível convivência “. Esta é claramente uma
posição antiga, típica de meados do século XX, a experiência moderna tem
demonstrado que a convivência com pessoas de múltiplas capacidades, formações,
etnias e quaisquer outras diferenças contribuem para a formação de uma mentalidade
de maior tolerância ao mesmo tempo que promove um suporte social a aqueles que
foram por muito tempo afastados deste convívio. Isto não exclui a possibilidade
de termos escolas especializadas, mas onde elas não existam as escolas precisam
estar preparadas.
Foto de Yve e Romário
Yve é uma menina
de 16 anos com Síndrome de Down, filha do artilheiro Romário, hoje Senador.
Destaco dois trechos da carta que ela enviou ao Ministro Milton Ribeiro:
"Sabe, eu
tenho síndrome de Down, sou uma pessoa com deficiência, e sou estudante. Eu
estudo para ter um futuro e ajudar o meu país. Eu não atrapalho ninguém”
“A minha presença
e a de outras pessoas com deficiência não é ruim, muito pelo contrário, desde a
escola, meus coleguinhas aprendem uma lição que parece que o Sr. não teve a
oportunidade de aprender, que a diversidade faz parte da natureza humana e isso
é uma riqueza"
Creio que estes
dois trechos representam a importância de sua declaração. Os leitores se
quiserem ler o texto completo basta pesquisar no Google.
Existe uma
interpretação espírita que, nós os chamados Espíritas Livre Pensadores já
superamos, que é a de que nós reencarnamos para cumprir provas e expiações,
palavras que poderiam ter sentido no século XIX. Hoje vemos os fatos, todos os
que se nos cercam e que se nos apresentam como oportunidades de crescimento,
esta interpretação é muito melhor porque todos nascem com pontos positivos e
negativos se comparados com uma média. Embora seja evidente que num planeta de
7 bilhões de pessoa, não deva existir nenhuma pessoa que se encaixe,
perfeitamente, na média, todos somos desiguais. Como já dissemos em parágrafo
anterior, estamos aqui para superarmos os obstáculos que se apresentem.
Nas Paralimpíadas,
por exemplo, várias categorias de competição são formadas por amputados. Ou
seja, pessoas que nasceram com todos os órgãos normais, mas que por um
acidente, ou por motivo de alguma doença degenerativa, foram obrigados a passar
por uma amputação. Não acreditamos em destino ou predestinação ou mesmo em
encarnação programada. O que está escrito nos livros Nosso Lar e Evolução em
Dois Mundos, sobre a reencarnação é pura fantasia, ou na melhor das hipóteses
estória para “evangelizar”, pensada para acalmar as ansiedades dos
“desfavorecidos”. É preciso saber viver, o processo reprodutivo tem riscos,
acidentes acontecem o tempo todo, guerras, assaltos, pessoas que levam tiros,
tudo isto é impossível de ser programado, acontece por acaso. Ou muitas vezes
por desvios morais de uns, por descuidos de outros. A vida como ela é.
Então, as pessoas
amputadas passam por um processo de readaptação, reaprende a andar, e também a
se divertir, pois não estão punidos, estão sim experimentando uma nova
situação. Cada vez mais a medicina, a fisioterapia e a evolução tecnológica
trabalham para dar melhores condições de recuperação para que a vida siga. E
eu, particularmente, gosto de ver o esforço e a capacidade de superação destes
superatletas paralímpicos.
Concluindo, nunca
deveríamos abdicar do direito, e da vontade de aprender sempre, tudo muda o
tempo todo e temos que nos esforçar para acompanhar estas mudanças!
Artigo publicado no jornal Abertura - setembro 2021
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