segunda-feira, 10 de julho de 2023

A curiosidade humana e a adrenalina por Alexandre Cardia Machado

 

A curiosidade humana e a adrenalina

 

“O homem, que procura nos excessos de todo gênero o requinte do gozo, coloca-se abaixo do bruto, pois que este sabe deter-se, quando satisfeita a sua necessidade. Abdica da razão que Deus lhe deu por guia e quanto maiores forem seus excessos, tanto maior preponderância confere ele à sua natureza animal sobre a sua natureza espiritual...” (Livro dos Espíritos questão 714)

O ser humano é curioso por natureza, graças a isto, nossos antepassados ultrapassaram desertos, montanhas, inventaram a navegação e mais recentemente, conseguimos aprender a fazer equipamentos capazes de voar e submergir.



Necessidades de pesquisas, resgate de tripulações em submarinos militares levaram alguns países a desenvolver submarinos capazes de atingir grandes profundidades, 10 vezes maiores que os usados para fins militares.

Atualmente está sendo criada uma demanda cada vez maior por aventuras  de todos os tipos, viagens ao espaço, mergulhos cada vez mais profundos, hotéis pendurados em montanhas e assim vai. Não é de surpreender que um acidente gravíssimo como o ocorrido com o submarino Titán, tenha levado a morte dos 5 tripulantes que foram ver os destroços do Titanic.

Hoje está na moda viver experiências, fazer, cada vez mais o inusitado, ou o que foi realizado apenas por poucos. Querem sentir vertigens, subir o nível de adrenalina no sangue. Tudo ocorre com uma aura de segurança, mas onde cada turista, ou usuário assina sempre um termo de responsabilidade e ciência dos riscos que isenta os organizadores de indenizações. Mas porque se importariam, a vida é uma só, pensam eles, temos que aproveitar.   “Quem não arrisca não petisca” velho ditado.

Como deveríamos pensar como espíritas? Sabemos de nossa imortalidade dinâmica, logo, poderíamos arriscar até mais, não? Porém, sabemos que para nós, viver é muito mais do que acumular emoções, é construção familiar e comunitária é pensar no bem comum. Não queremos dizer que não correremos riscos, mas sim, que devemos analisar os riscos com o máximo de cuidado possível. E tomar decisões racionais.

Mas porque sabendo dos riscos, assim mesmo alguns vão em frente? Parece que uma parte da humanidade tem este tipo de comportamento. São espíritos inquietos. Gostam de inovação.  Este comportamento como já falamos tem nos permitido expandir horizontes. Só que aqui e ali, muita gente desencarna. 

 Num mundo globalizado, um submarino é feito com componentes produzidos mundo afora. Os projetistas precisam assegurar-se de que tudo está de acordo com o projetado. 

Neste caso específico, o equipamento precisa resistir a pressões enormes, passando por  ciclos de pressurização e descompressão. Gerando fadiga. Logo, inspeções precisam ser feitas, para identificar o aparecimento de trincas. 

Engenharia existe para nos guiar em como construir equipamentos e como mantê-los funcionando adequadamente. Para isto existem códigos de projetos a serem seguidos, organizações de especialistas etc.

 Tudo indica que no caso em questão, a seleção de materiais na construção, como a célula de segurança ter sido construída com fibra de carbono e não com titânio como todos os outros submarinos que fazem estas operações, não foi a mais adequada. Já havia dúvidas, agora está provado o erro de projeto.

 O Titan já havia feito com sucesso 3 mergulhos, a esta profundidade de 4000 m. 

Talvez isto tenha passado a impressão de que existia risco, mas que, com sorte, não aconteceria nada. Sorte e azar não combinam com pressões altíssimas. Que sirva de alerta aos desavisados, arriscar a vida, pode resultar em morte.

 Assistimos, em todas as mídias, foi um caso clássico de combinação de erro de projeto, ou erro operacional, junto com a espírito curioso e consumidor de atividades extremas, daquelas pessoas.  E este consumo por aventura não irá acabar só porque houve este trágico fim, infelizmente isto realimenta o processo.

 Um dos que sofreram o acidente era neto de alguém que morreu ou sobreviveu no naufrágio do Titanic, não venham alimentar a ideia de que isso tenha alguma confecção real com o acidente. Nem acreditem em pessoas que possam enviar mensagens pseudo-mediúnicas, explicando as conexões causais. Não temos como comprovar nada disso.  

Este foi o Editorial do Jornal ABERTURA de Santos -SP de julho de 2023.

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