E se os
homens pudessem engravidar?
"Não
somos bruxas e a Idade Média já passou faz tempo". (Adriana Pimenta -
Jornalista e escritora).
Quando
falamos em ciência há um reducionismo às ciências exatas , esquecidos que
as ciências humanas também progridem especialmente nos campos da moral e dos
costumes. E o Espiritismo tem o dever de acompanhar essas mudanças evitando o
risco de se perpetuar numa única opinião que abrangeria a "certeza
absoluta" pelo resto da humanidade.
Tramita
na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei (PL) 1.904/2024, que deseja obrigar
meninas, adolescentes e mulheres, grávidas vítimas de estupro, proibidas de
abortar se a gestação passar de 22 semanas. Caso contrário, poderão cumprir
pena de até 20 anos. Já seu estuprador terá pena máxima de 12 anos. Eu penso
que não existem mulheres que queiram a princípio realizar um aborto. Não é
algo que se sinta feliz. Mas penso que as mulheres donas de seu
corpo têm o direito, ou deveriam ter, de praticar o aborto. Os homens
passam ao largo dessa discussão. Mas são justamente os homens que querem
decidir a vida das mulheres. Quanto às religiões, estas sempre foram movidas
por uma perseguição sectária às mulheres.
O
assunto aborto é abordado no Livro dos Espíritos de passagem apenas na questão
359 do Livro dos Espíritos, quando os espíritos são indagados quanto ao risco
de vida da mãe numa gravidez. Os espíritos respondem que é preferível
sacrificar o ser que não existe ao ser que existe. De forma radical o
Espiritismo seria contra o aborto em todas as outras circunstâncias, inclusive
na gravidez oriunda de um estupro. Por isso no início desse artigo indiquei que
o Livro dos Espíritos não sendo uma Bíblia sagrada pode abraçar as modernas
conquistas das ciências humanas, notadamente a psicologia. Manter forçosamente
uma gravidez fruto de um estupro é uma violência psíquica contra uma mulher
(menina , adolescente ou adulta) já violentamente punida pela injustiça sofrida.
Se os homens engravidassem jamais admitiriam que outros lhes dissessem o que
fazer com o seu corpo. O aborto já estaria legalizado no Brasil. O Projeto
de Lei 1.904/2024 não existiria.
As
religiões nunca mudam de opinião, pois se baseiam em livros sagrados. Ainda bem
que a literatura espírita admite mudanças no campo da moral. Vamos dar
liberdade às mulheres. O aborto está relacionado ao livre arbítrio feminino e
não a questões morais ou religiosas.
P.S. :
Dedico este artigo ao meu amigo e grande pensador espírita Eugenio Lara que
desencarnou em 07.06.2024.
Artigo publicado no Jornal Abertura de julho de 2024 - veja o jornal completo aqui:
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