sábado, 1 de outubro de 2011

Do Jesus Pré-cristão ao Jesus Cristão - Jaci Régis

DO JESUS PRÉ-CRISTÃO AO JESUS CRISTÃO


Jaci Regis


JESUS DE NAZARÉ
Quando começou sua pregação, Jesus era um homem de 30 anos. Na sua época, um homem de 30 anos era uma pessoa de idade bastante expressiva, diante da expectativa de vida.
Por isso, é natural que fosse casado e que tivesse até filhos. Essa humanização dele foi repelida e continua sendo repelida pois, desde sua morte, seus seguidores dividiram-se sobre a sua natureza.
Jesus baseou-se na Lei Mosaica e não apenas a reformulou, como criou uma revolucionária forma de relacionamento humano, extraordinariamente acima dos preconceitos judaicos.
Na verdade, apenas se apoiou nas bases bíblicas e descortinou um novo cenário para entendimento do ser humano. Esse novo cenário baseou-se no amor e na reciprocidade entre as pessoas, subvertendo o entendimento, fazendo daquele que serve o maior. Usou expressões comuns, parábolas e ensinamentos tirados do dia a dia, criando uma compreensão fácil e concreta da existência humana.
Em apenas três anos ele criou a base para uma revolução moral em meio à mediocridade geral dos fariseus e saduceus.
Os judeus viviam sob o Império Romano e a população desejava a libertação política, e não via qualquer relação histórica entre Jesus de Nazaré e o esperado Messias. Ele não possuía nenhum perfil compatível com a esperança desse Messias libertador e promotor do esplendor de Israel.
Por isso, preferiu-se Barrabás, o revolucionário político, a Jesus de Nazaré, com sua doutrina renovadora e revolucionária.
Podemos dizer, rigorosamente, que Jesus de Nazaré foi uma pessoa pré-cristã.
Não fundou uma religião, nem escreveu seu testamento.
Seus discípulos e primeiros apóstolos eram todos judeus, geralmente de nível social mais elementar.
Criaram a igreja do caminho e teriam levado suas palavras ao esquecimento e se reduzido a uma seita judaica, não fosse a adesão de um intelectual: Saulo de Tarso.
Saulo de Tarso, ao se converter às idéias do Nazareno, iniciou um grande programa de divulgação entre as comunidades judaicas dispersas no Império Romano, até chegar à Roma. Ele foi morto em 64 D.C. e sua pregação indica claramente que acreditava e esperava o retorno do Nazareno, ainda em sua existência, para instalar o Reino de Deus na Terra.

JESUS CRISTO
O cristianismo foi fundado no Concílio de Nicéia, no ano 385 da Era Cristã, sob a firme determinação do Imperador Constantino.
Até ali, várias correntes ou seitas se digladiavam sobre a figura de Jesus, criando divisões, as quais o Imperador determinou o fim.
O Concilio, por ele convocado, decidiu pelo domínio da Igreja de Roma e estabeleceu o credo da Igreja Católica, a divindade de Jesus, englobando todas as correntes existentes de modo esparso e conflitante.
Esse emaranhado de seitas produziu 315 evangelhos que o mesmo Concílio baniu, fixando-se nos quatro evangelhos canônicos.
Segundo J. Herculano Pires, “há um abismo entre o Cristo e o Cristianismo tão grande quanto o abismo existente entre Jesus de Nazaré, filho de José e Maria, nascido em Nazaré, na Galileia, e Jesus Cristo, nascido da Constelação da Virgem, na Cidade do Rei Davi, em Belém da Judéia, segundo mito hebraico do Messias” (Revisão do Cristianismo).
Como o cristianismo, Jesus Cristo nasceu em Nicéia. Nele, Jesus de Nazaré foi transformado em Jesus Cristo, dissolvido na Santíssima Trindade e tornou-se prisioneiro da retórica e da escolástica.
Legitimamente, o Jesus pré-cristão perdeu-se no Jesus cristão, Jesus Cristo, Messias, um judeu rejeitado pelos judeus, mas adorado pelos cristãos.
Com o cristianismo foi iniciado um longo período de negação da verdade, pela imposição de uma verdade final, desmentida ao longo dos séculos.
O cristianismo começou a se desfazer com a renascença.
Quando e Espiritismo surgiu, o cristianismo já estava em decadência. Nos novos tempos, uma consciência pós-cristã recupera da proposta de Jesus de Nazaré sua essência, sob uma linguagem positiva. Esta é a proposta do Espiritismo como a Ciência da Alma, não de um povo, não de uma região, mas de todos os espíritos.


Nota da Redação: Este texto foi encontrado entre os arquivos deixados por Jaci Regis. Talvez tenha sido o último esforço intelectual desse grande pensador, escrito cinco dias antes de sua internação.

Nenhum comentário:

Postar um comentário