Muito
se falou, recentemente, sobre a lição que os estudantes do ensino público de
São Paulo deram aos governantes de plantão, ao, através de seu posicionamento
ativo – incluindo protestos nas ruas e principalmente a ocupação das escolas –
fazer valer sua voz contrária à reestruturação do ensino proposta (talvez
melhor dizer “imposta”, dada a falta de discussão e comunicação com os
envolvidos) pelo Governo paulista.
Esta
falta de transparência foi tamanha que, até agora, mesmo interessado, não
consegui tomar ciência completa do projeto. De modo geral, gosto de mudanças e
acho que modernizações são necessárias em todas as áreas. Mas o que me preocupa
de fato nesta proposta é o fechamento de salas e a diminuição de escolas.
Não
falo somente de forma teórica. Atuando há mais de 6 anos como professor
universitário, venho percebendo a gradual, porém inflexível deterioração da
qualidade do aluno que entra na faculdade. Com a facilidade cada vez maior
desse acesso, através de programas como o FIES e o PROUNI, um contingente cada
vez maior de estudantes vindos do ensino público estão entrando em
universidades particulares. Infelizmente, boa parte destes estudantes, mesmo
muito esforçados, não têm base suficiente para acompanhar adequadamente as exigências
do estudo superior.
Apresentam-se
então dois caminhos: ou as universidades diminuem suas exigências, e os
profissionais formados não são aqueles que o mercado necessita, aprofundando
ainda mais o problema da falta de qualificação da força de trabalho brasileira,
com uma desculpa a mais para o achatamento salarial, ou a manutenção destas
exigências faz com que, após uma quantidade sensível de dependências e
repetências, os alunos abandonem os cursos e resignem-se com subempregos mal
pagos, num círculo vicioso perverso.
Reinaldo Di Lucia
É
urgente um trabalho imediato para a melhoria do ensino fundamental, para na
sequência atuarmos no ensino médio e só então mexer ainda mais no ensino
superior. Então, se há, como se alega, salas sobrando, que se coloquem menos
alunos – certamente isso melhorará a qualidade do ensino. Dizem que 2 milhões
de crianças deixaram o ensino público, seja pela diminuição da natalidade, seja
pela migração para as escolas particulares. Ora, porque razão se dá essa
migração se não pela própria má qualidade da nossa escola pública?
Até
agora, o exemplo de sucesso de alguns países passa notadamente pela melhoria do
ensino público. Claro que isso não é uma panaceia: não existe nada que seja uma
solução única par tantos problemas que assolam a governabilidade das nações.
Mas sem essa base, seguramente, nada se conseguirá. Principalmente porque não
criaremos cidadãos pensadores e capazes de criar o futuro como desejam.
E
realmente estão de parabéns os estudantes paulistas. Minimamente mostram
àqueles que nos governam que, nos dias de hoje, as decisões precisam ser
discutidas à exaustão com a sociedade – e não somente tomadas nos obscuros do
poder, levados sabe-se lá por quais interesses.
Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Dezembro de 2015 - seja assinante!
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