O caminho é
estático. O caminhante é dinâmico. Move-se, percorre, caminha sobre o caminho.
Isso veio-me à mente porque o homem, de sotaque estrangeiro, confuso e sob
certa medida amedrontado, perguntara qual o caminho a seguir para superar seus
problemas.
Problemas da alma,
do coração são especiais, específicos. Angústias sufocam, represam a emoção pressionando
a vida, destruindo a alegria, a esperança. Leves se tornam pesados. Subjetivos,
transformam-se em fardos concretos, exaurindo energias, levantando questões que
como são formuladas, não encontram respostas.
À minha frente, o
jovem era um amargo espelho de aflição. Perguntei-lhe como se sentia aos 27
anos e ele disse que não se sentia bem. Às vezes, disse, esses poucos anos pareciam
demais. Às vezes, sugeriam-lhe inexperiência.
De um lado, via
aberturas para criar, para avançar. De outro, uma desilusão, tomava vulto, porque
parecia que perdera tempo, oportunidades e muito poderia ter sido feito e não
fora.
- “Não, não me
sinto feliz”, disse. A barba que lhe cobria o rosto jovem, tendia a esconder os
olhos tristes, orbitando em paragens, em sonhos, em desejos que, controversos,
vetores opostos, impunham imobilidade, como se as forças concorrentes se equivalessem
em esperança e desilusão.
O caminho é
estático. É opção a desdobrar-se diante de nós, indicando rumos que devemos
eleger.
O caminhante é o
agente de seu caminhar. A direção de seus pés, segue a diretriz de sua alma.
Alma confusa, andar sem rumo. Alma exultante, andar saltitante. Alegria no
coração, pés leves. Tristeza íntima, sulcos marcados, pés sangrando.
A encolher-se diante
da realidade, a jovem mulher consumia-se em angustiante conflito interior,
inteligente, educação superior, profissional competente, defrontava-se com sua
sexualidade, emoção não resolvida, impondo-lhe temores e tremores.
Jaci Régis
Como resolver essa
angustiante questão? De que maneira ajudar a superar barreiras erguidas por
deprimentes experiências infantis, fruto de sutis relações afetivas.
O caminho é uma
expectativa, uma perspectiva. O caminhante é um ser, uma criatura em busca de
si mesma. A margem do caminho, caminhando encontrará tropeços, abismos,
desvios, obstáculos. Mas também flores.
A solução para os
problemas da alma, na sequência da vida, é encontrar o caminho que na liga ao
outro. Parece fácil, à primeira vista. Percorre-lo, contudo é viagem tão perigosa
quanto a dos velhos navegantes em suas naus, enfrentando os mares desconhecidos.
Esse é o caminho
curto ou longo, conforme os fatores que armazenamos na alma. Pois, difícil é
sair de nós mesmos. Só é possível quando aprendemos diuturnamente as lições dos
sentimentos e aspirações e nos libertamos de laços fortes, mas sutis, de
fantasmas criados no interior de nós mesmos.
Qualquer caminhada,
por mais longa, começa pelo primeiro passo. Se queremos respostas, soluções,
aprendamos a caminhar, a ser caminhantes, dispostos a aprender, a mudar, a retomar
a lição não aprendida
Dar o primeiro
passo é decidir expor-se aos riscos da paixão.
Artigo re-publicado em outubro de 2014 no jornal ABERTURA
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