MACHISMO
Marissol Castello
Branco
“Atitude
ou comportamento de quem crê que o homem é socialmente superior à mulher” Os
machistas mais radicais, definidos no dicionário são aqueles assumidos
publicamente que encontramos estampados pelas feministas. Tivemos várias
demonstrações francas de machismo em alguns políticos durante depoimentos
polêmicos e preconceituosos.
Kardec
era machista, mas de uma forma “branda”, apropriando-me de um termo usado por
Noam Chomsky, como muitos homens e mulheres o são ainda hoje. Esse comentário
de Kardec deixa bem claro a sua visão sobre a mulher:
“...
as mulheres têm direitos incontestáveis,
a natureza tem os seus que não são os seus. Deixai-as, pois, reconhecer pela
experiência sua insuficiência nas coisas às quais a Providência não as chamou”
(AK, RE, jun1867, p.169)
Esse
foi um comentário relativo a um artigo sobre um manifesto de mulheres
norte-americanas que protestavam pela emancipação feminina. Nessa citação
Kardec entende que como homens e mulheres possuem gêneros diferentes também
diferentes são as suas funções na Sociedade. Ele era um intelectual, filho de
um juiz, com educação exemplar e casado com uma mulher “recatada e do lar”. Não
teve filhos, portanto, não vivenciou o papel de ser pai, nem pôde observar sua
esposa no papel de ser mãe. A única referência que possuía era de seus pais,
mesmo assim uma convivência breve, pois logo foi afastado do lar para estudar
em um colégio interno. Não conviveu com mulheres que precisaram trabalhar para
conseguir seu próprio sustento. As médiuns mulheres com a qual conviveu e foram
intermediárias dos espíritos que o auxiliaram na confecção das obras que
fundaram o Espiritismo eram jovens e submissas aos seus pais. Apesar de
receberem para o exercício (a mediunidade na França era uma profissão) os
proventos ficavam com a família, melhor dizendo com o progenitor. (Eugenio Lara,
Os Desertores de Kardec)
Foi
no século de Kardec com a difusão das idéias de Rousseau é que o perfil de mãe
começou a ser construído. O papel de pai chega bem mais tarde no finalzinho do
século XX e até hoje vem sendo construído. Kardec não imaginava que seria uma
mulher que o ajudaria a difundir o Espiritismo livre pensador na Espanha e América
Latina de fala espanhola. Amália Domingo Soler teve uma vida celibatária e
dedicada exclusivamente ao Espiritismo a partir dos 37 anos. Isso a deixou aquém
das funções intrínsecas relegadas à mulher pela sociedade. Mesmo assim, ela foi
cobrada pelo espírito comunicante, Padre Germano, por sua abdicação em casar-se
e formar uma família:
“Quanto a ti, boêmio envolto em vestes
femininas, poeta de outros tempos, cantor aventureiro que fugiu do lar
doméstico, alheio aos direitos e deveres dos grandes sacerdotes do progresso –
mendiga hoje um olhar carinhoso, olha em torno de si como nascem as gerações,
ao passo que você, planta daninha, não pode beijar uma fronte infantil,
murmurando: ― Meu filho! Trabalhe, aprofunde-se em sua solidão, busque na
contemplação da Natureza o complemento da sua vida miserável, já que não lhe é
dado contemplar um ente querido.” (Memórias de Padre Germano, Amalia Domingo
Soler, FEB, p.344)
Amália
apenas transcrevia o que dizia o médium psicofônico inconsciente, Eudaldo
Pagés. Durante a transcrição ela poderia ter suprimido essa parte em referência
às suas vidas, mas era muito fiel ao que ouvia e optou por manter o texto.
Voltando ao machismo brando,
infelizmente constato a existência de homens e mulheres nesta categoria em
pleno século XXI. Numa rede social uma mulher considerou educar os filhos
homens para “proteger” as mulheres. Então eu a contestei: “Devemos educá-los
para respeitá-las”. A expressão “proteger” sugere a dependência da mulher em
relação ao homem e consequente submissão. Homens e mulheres possuem uma
diferenciação genética que se reflete em sua maneira de ver o mundo e
comportamentos. Esse X a mais que a mulher tem faz dela um ser humano que age e
resolve problemas de uma maneira diversa da do homem. Isso não significa
estabelecer funções determinadas para cada um dos gêneros.
Marissol
Castello Branco, 48 anos, casada, mãe de 2 filhos, arquiteta
e professora. Autora de livro publicado pelo CPDoc: Igualdade de direitos e diferença de funções entre o homem e a mulher.
1997
Os artigos desta coluna baseiam-se em estudos e
pesquisas desenvolvidos pelo CPDoc.
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