Verdades
Nômades
Verdades
são transitórias, buscamos captar um ângulo de existência humana, suas razões e
motivos em tempo determinado.
Deolindo
Amorim, filósofo e educador, ensinava, nos Anais do Instituto de Cultura
Espírita, haver verdades transitórias e as permanentes.
Na
filosofia espírita, penso ser sua verdade de permanência o conceito de
imortalidade dinâmica, terminologia definida por Jaci Regis ou a itinerância da
existência como gosto de chamar. Todas outras verdades são transitórias e sujeitas
a um tempo histórico.
Infelizmente,
a palavra Espiritismo está marcada pelo engano. Por que? Embora indique a
liberação da vida, como possibilidade criativa individual e coletiva, tornou-se
sinônimo de mais uma, entre milhares, quer seja no Oriente como no Ocidente,
salvação religiosa, esmagando o Homem em culpas, influenciação espiritual
obsessiva marcada por um passado ruim.
Inventamos
métodos de ação, agremiações e espaços semelhantes aos já existentes das
religiões. O que era novo, implantou-se, desde o início velho. Reacionário nos
discursos, com pretensões revolucionárias.
Todas
as mudanças propostas foram traídas, e nosso movimento carregado de uma inércia
histórica insuperável.
Textos
como o de Ricardo Nunes no Abertura de Junho, são ventos bons, iluminam
possibilidades; aliás a variação dos temas expostos nesta última edição, revela
o poder das idéias, são elas transformadas em cultura, entendendo cultura como
ação humana no cotidiano, que mudará o mundo.
Mas
nosso dilema, não é novo. Aristóteles, com seu senso de proporção insuperável,
diz uma coisa impecável:
"A
busca da verdade é ao mesmo tempo difícil e fácil: ninguém pode alcançá-la
absolutamente, nem deixá-la escapar totalmente."
A
crise inaugurada na década de 70/80 no espiritismo, é oportuna ao nos fazer
serenamente refletir sobre qual tipo de "verdades" estamos nos
debruçando,e esta análise contaminou a todos, mesmo os que tentam ignorá-la.
Espiritismo
como um saber de fronteiras, margeando outros saberes, parece ser uma postura mais
contemporânea, adequada à idéia de uma "inteligência coletiva"
defendida pelos filósofos atuais.
Por
mais movediça e incerta parecer a tese da imortalidade dinâmica, sem culpas e
salvação, por não nos dar um "manual" seguro e infalível para a
felicidade, temos, por outro lado, a liberdade de optar, veremos esse saber
como uma dimensão constitutiva da existência humana e por sermos mais livres,
mais felizes.
Ciro
Pirondi
Artigo publicado no jornal ABERTURA em julho de 2018
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