Entrevista com Deus
O
título acima é de um filme que, ao que me concerne, passou sem grandes
burburinhos pelos cinemas. Filmado em 2018, conta a história do jornalista Paul
Asher, que volta para os Estados Unidos após cobrir a guerra do Afeganistão. Apesar
de cristão, as visões da guerra abalaram seriamente sua fé; isto, aliado a
problemas de ordem pessoal, deixaram Paul completamente desesperançado.
Em
meio a todo este drama, ele tem uma oportunidade ímpar: entrevistar um homem que
diz ser Deus. E pasmem: apesar de profundamente cristão, ele absolutamente não
acredita que o homem seja mesmo Deus. Mas porque não tentar, não é mesmo?
E
aí começa o problema: antes de mais nada, o que perguntar a Deus? Que tipo de
indagações fazer ao criador de todas as coisas, que não pareçam pueris demais,
e ao mesmo tempo não sejam genéricas a ponto de parecerem arrogantes? E mais,
como ter certeza que não é uma mistificação, que não estamos na frente de um
lunático ou um humorista?
E
aí é que o filme entra numa espiral muito interessante. Entre perguntas de
verificação de identidade “qual o resultado de uma multiplicação com números
muito grandes” e outras bastante lógicas, apesar de óbvias “Porque coisas ruins
acontecem a pessoas boas”, o filme trata com leveza e seriedade algumas
questões de fundo para a religião e, porque não, para a filosofia: o que é a
fé? O que fazer quando a perdemos? O que é a salvação? O que digo às pessoas
que acham que você não existe?
Algumas
vezes as respostas surpreendem, para um filme que possui um óbvio viés
religioso – mais especificamente, cristão. Quando, por exemplo, é dito que o
mundo é exatamente o que parece, ou quando exalta o livre arbítrio acima de
tudo, inclusive de um eventual “plano de Deus”.
Ao
mesmo tempo, bate de frente com as concepções mais comuns das religiões
(inclusive a espírita), de que a vida de verdade não é esta, mas a vida no
além, seja no paraíso ou em Nosso Lar: “Sua vida não é um teste para a vida pós
morte”, diz Deus. Ao fim, o filme enfatiza que a única forma de continuarmos a
viver é exercer o perdão – não só para com os outros, mas, principalmente, para
conosco.
Enfim,
ao quebrar com alguns paradigmas caros às mais diversas religiões do mundo, Entrevista com Deus faz-nos pensar não
necessariamente nele, mas na vida, em seu significado e nas necessidades
práticas que temos para seguir em frente. Afinal, de que adianta a crença se
não conseguimos colocá-la em prática no nosso dia a dia?
A
propósito, apenas mantermos a conversa viva: se você tivesse a oportunidade de
entrevistar Deus, que perguntas você faria?
Nota: Artigo
originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos junho de 2019.
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