segunda-feira, 15 de julho de 2019

Entrevista com Deus - Reinaldo di Lucia


Entrevista com Deus

O título acima é de um filme que, ao que me concerne, passou sem grandes burburinhos pelos cinemas. Filmado em 2018, conta a história do jornalista Paul Asher, que volta para os Estados Unidos após cobrir a guerra do Afeganistão. Apesar de cristão, as visões da guerra abalaram seriamente sua fé; isto, aliado a problemas de ordem pessoal, deixaram Paul completamente desesperançado.

Em meio a todo este drama, ele tem uma oportunidade ímpar: entrevistar um homem que diz ser Deus. E pasmem: apesar de profundamente cristão, ele absolutamente não acredita que o homem seja mesmo Deus. Mas porque não tentar, não é mesmo?

E aí começa o problema: antes de mais nada, o que perguntar a Deus? Que tipo de indagações fazer ao criador de todas as coisas, que não pareçam pueris demais, e ao mesmo tempo não sejam genéricas a ponto de parecerem arrogantes? E mais, como ter certeza que não é uma mistificação, que não estamos na frente de um lunático ou um humorista?

E aí é que o filme entra numa espiral muito interessante. Entre perguntas de verificação de identidade “qual o resultado de uma multiplicação com números muito grandes” e outras bastante lógicas, apesar de óbvias “Porque coisas ruins acontecem a pessoas boas”, o filme trata com leveza e seriedade algumas questões de fundo para a religião e, porque não, para a filosofia: o que é a fé? O que fazer quando a perdemos? O que é a salvação? O que digo às pessoas que acham que você não existe?

Algumas vezes as respostas surpreendem, para um filme que possui um óbvio viés religioso – mais especificamente, cristão. Quando, por exemplo, é dito que o mundo é exatamente o que parece, ou quando exalta o livre arbítrio acima de tudo, inclusive de um eventual “plano de Deus”.

Ao mesmo tempo, bate de frente com as concepções mais comuns das religiões (inclusive a espírita), de que a vida de verdade não é esta, mas a vida no além, seja no paraíso ou em Nosso Lar: “Sua vida não é um teste para a vida pós morte”, diz Deus. Ao fim, o filme enfatiza que a única forma de continuarmos a viver é exercer o perdão – não só para com os outros, mas, principalmente, para conosco.

Enfim, ao quebrar com alguns paradigmas caros às mais diversas religiões do mundo, Entrevista com Deus faz-nos pensar não necessariamente nele, mas na vida, em seu significado e nas necessidades práticas que temos para seguir em frente. Afinal, de que adianta a crença se não conseguimos colocá-la em prática no nosso dia a dia?

A propósito, apenas mantermos a conversa viva: se você tivesse a oportunidade de entrevistar Deus, que perguntas você faria?

Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos junho de 2019.

Quer ler o jornal completo:

https://cepainternacional.org/site/pt/cepa-downloads/category/28-jornal-abertura-2019?download=218:jornal-abertura-junho-de-2019


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