segunda-feira, 11 de julho de 2022

AS GUERRAS E A UTOPIA ESPÍRITA DA PAZ UNIVERSAL por Ricardo de Morais Nunes

 

AS GUERRAS E A UTOPIA ESPÍRITA DA PAZ UNIVERSAL

Desde a antiguidade até a contemporaneidade as guerras têm sido muito comuns em nossa história. Guerras de conquista de territórios, de escravização de povos, de pilhagem de riquezas. Na antiguidade os hebreus, os egípcios, os persas, os gregos, romanos e outros povos participaram de inúmeras guerras.

Na Idade Média e nos primórdios da era moderna tivemos as guerras religiosas. As cruzadas católicas, os conflitos entre protestantes e católicos. A aniquilação dos cátaros e a terrível noite de São Bartolomeu marcaram tristemente a história do ocidente.

Ricardo Nunes - XII SBPE


No século XX tivemos guerras de caráter ideológico-político. A batalha de Stalingrado que envolveu nazistas alemães contra comunistas russos na segunda guerra mundial é um exemplo paradigmático de conflito ideológico.

Podemos mencionar, ainda, as guerras de independência dos povos contra seus colonizadores. As lutas de independência do Vietnã, por exemplo, são impressionantes, para ficar apenas em um exemplo.

As jihads ou guerras santas da atualidade. Quem de nossa geração não lembra do atentado às torres gêmeas?

O eterno conflito Israel x Palestina. Sem solução até nossos dias.

As invasões soviéticas à Hungria, Tchecoslováquia e Afeganistão.

Os ataques norte-americanos ao Iraque, Afeganistão e Síria.

 O mais recente conflito Russia x Ucrânia/OTAN.

Um conflito histórico para nós, brasileiros, é a chamada “guerra do Paraguai” ocorrida no século XIX, na qual brasileiros, argentinos, uruguaios e paraguaios se envolveram em um conflito sangrento, provavelmente, o maior conflito entre as nações da América do Sul.

 Podemos falar ainda nos eventos revolucionários. Para citar apenas alguns exemplos a revolução francesa, russa, cubana, chinesa, iraniana.

A guerra também pode ser feita sem tiros e bombas, através de sanções econômicas que asfixiam a economia de um país. Exemplo notável em nossos dias é o bloqueio/embargo econômico dos Estados Unidos a Cuba.

Essa medida, que já dura mais de 60 anos e remonta ao tempo da guerra fria, prejudica toda a população daquele país, pois sanciona as relações comerciais normais entre Cuba e os Estados Unidos e interfere nas relações comerciais de Cuba com outros países. Os países membros da ONU, em maioria, têm se manifestado várias vezes contra o bloqueio e nada acontece.

As lutas de classe entre os detentores do poder econômico e os trabalhadores muitas vezes se transformam em violência aberta e deflagrada. A célebre comuna de Paris no século XIX é um exemplo paradigmático de como o poder econômico reage aos movimentos de emancipação dos trabalhadores ao longo da história.

Estes são apenas alguns poucos exemplos que cito de memória de algumas guerras, conflitos e lutas ao longo de nossa história. Podemos verificar que, infelizmente, as guerras são comuns em nosso mundo e que a paz é algo muito difícil de ser conquistada e preservada.

É certo também dizer que evoluímos conceitualmente no sentido de repudiar moralmente a guerra. As normas internacionais e os fóruns internacionais são tentativas de se fazer valer a diplomacia ao invés da violência.

A questão 742 do Livro dos Espíritos nos ensina que a guerra ocorre em razão da “predominância da natureza animal sobre a espiritual e para satisfação das paixões”. A questão 743 do mesmo livro diz que um dia “a guerra desaparecerá da face da terra quando os homens compreenderem a justiça e praticarem a lei de Deus”. E na questão 744 temos que a guerra ainda é” necessária para levar a liberdade e o progresso”.

Talvez seja estranho para muitos a compreensão de que a liberdade e o progresso podem ter sua origem na guerra. Mas isso em nosso mundo, no qual a força física e material ainda predomina, não é um absurdo. Basta lembrar de alguns fatos históricos que apontam nessa direção.

 A revolução francesa, acontecimento histórico no qual houve violência, superou a aristocracia feudal com seus privilégios e criou um regime republicano cuja pretensão era a igualdade de todos perante a lei. Mesmo com os avanços e retrocessos da ideia republicana na França e no mundo, hoje em dia poucos pensam em voltar a uma concepção aristocrática e feudal de vida política e social.

A guerra civil norte-americana entre os nortistas e sulistas propiciou a abolição da escravidão naquele país. O que foi um avanço, mesmo se considerarmos que a segregação racial nos Estados Unidos tenha tido vigência até a década de 60 do século XX, o que deu origem aos movimentos de luta pelos direitos civis dos negros nos quais se destacou Martin Luther King Jr.

Alguns filósofos defendem que a violência é a “parteira da história”, considerando que as guerras e revoluções, que se repetem na história, frequentemente operam grandes transformações do mundo.

Gandhi inovou porque liderou o movimento de independência da Índia ensinando a doutrina da não violência. Confesso, porém, que tenho dúvidas se tal método de Gandhi pode ser universalizado com vistas a outros êxitos em nosso mundo ainda tão inferior moralmente.

Mas não deixo de admirar a abertura política e mental que esse grande político e religioso indiano nos proporcionou. Uma verdadeira revolução nas possibilidades do fazer político, muito em conformidade com os ideais espiritualistas.

 Nós, espíritas, podemos dizer que somos defensores da paz, pois rejeitamos, por princípio, a violência e a guerra. Obviamente que não excluímos de nossos direitos a legítima defesa individual e coletiva, uma vez que não é lógico que um indivíduo ou grupo social se entreguem a uma agressão injusta e ao extermínio se puderem resistir.

  Nossa luta, porém, se faz através da conscientização do valor da vida e do exercício da fraternidade. Queremos o bem de todos os seres humanos. Desejamos vida e felicidade a todas as pessoas. Desejamos um mundo de liberdade, justiça social e paz para a humanidade como um todo.

Nós, espíritas, temos a nossa utopia. Que é transformação deste planeta Terra, da condição de mundo de provas e expiações em mundo de regeneração, ou seja, em um mundo no qual o bem seja mais forte que o mal.

A nossa utopia espírita combina espiritualidade com ação social. A nossa espiritualidade não é passiva ou alienante. Lutamos com as armas da palavra e da ação. Lutamos sem violência para que, um dia, esse mundo seja transformado.

Mas tudo isso sem ilusão, sem ingenuidade, pois sabemos que, infelizmente, a violência ainda é estrutural no mundo em que vivemos, e que a opressão, em suas várias facetas, ainda é vigente entre nós.  

 Lutamos, porém, para que um dia isso se transforme e para que possamos viver em um mundo que renunciou a violência em favor da razão e da fraternidade. O conhecimento de nossa essência espiritual, pode, quem sabe, nos ajudar a chegar nesse novo mundo.

Talvez quando ampliarmos nossa noção do que é a vida conseguiremos ser menos egoístas e apegados às coisas deste mundo. O que nos levará a renunciar a disputas inúteis em favor do que realmente importa em termos dos verdadeiros bens e valores da vida.

Quem sabe, nesse dia, consigamos construir um mundo de paz universal.

Texto originalmente publicado no ABERTURA de maio de 2022:

Baixe aqui:

https://cepainternacional.org/site/pt/cepa-downloads/category/22-jornal-abertura-2022?download=174:jornal-abertura-maio-de-2022


 

 

 

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