AS
GUERRAS E A UTOPIA ESPÍRITA DA PAZ UNIVERSAL
Desde
a antiguidade até a contemporaneidade as guerras têm sido muito comuns em nossa
história. Guerras de conquista de territórios, de escravização de povos, de
pilhagem de riquezas. Na antiguidade os hebreus, os egípcios, os persas, os
gregos, romanos e outros povos participaram de inúmeras guerras.
Na
Idade Média e nos primórdios da era moderna tivemos as guerras religiosas. As
cruzadas católicas, os conflitos entre protestantes e católicos. A aniquilação
dos cátaros e a terrível noite de São Bartolomeu marcaram tristemente a história
do ocidente.
No
século XX tivemos guerras de caráter ideológico-político. A batalha de Stalingrado
que envolveu nazistas alemães contra comunistas russos na segunda guerra mundial
é um exemplo paradigmático de conflito ideológico.
Podemos
mencionar, ainda, as guerras de independência dos povos contra seus colonizadores.
As lutas de independência do Vietnã, por exemplo, são impressionantes, para
ficar apenas em um exemplo.
As jihads
ou guerras santas da atualidade. Quem de nossa geração não lembra do atentado
às torres gêmeas?
O
eterno conflito Israel x Palestina. Sem solução até nossos dias.
As
invasões soviéticas à Hungria, Tchecoslováquia e Afeganistão.
Os ataques
norte-americanos ao Iraque, Afeganistão e Síria.
O mais recente conflito Russia x Ucrânia/OTAN.
Um
conflito histórico para nós, brasileiros, é a chamada “guerra do Paraguai”
ocorrida no século XIX, na qual brasileiros, argentinos, uruguaios e paraguaios
se envolveram em um conflito sangrento, provavelmente, o maior conflito entre
as nações da América do Sul.
Podemos falar ainda nos eventos
revolucionários. Para citar apenas alguns exemplos a revolução francesa, russa,
cubana, chinesa, iraniana.
A
guerra também pode ser feita sem tiros e bombas, através de sanções econômicas
que asfixiam a economia de um país. Exemplo notável em nossos dias é o
bloqueio/embargo econômico dos Estados Unidos a Cuba.
Essa
medida, que já dura mais de 60 anos e remonta ao tempo da guerra fria, prejudica
toda a população daquele país, pois sanciona as relações comerciais normais
entre Cuba e os Estados Unidos e interfere nas relações comerciais de Cuba com
outros países. Os países membros da ONU, em maioria, têm se manifestado várias
vezes contra o bloqueio e nada acontece.
As
lutas de classe entre os detentores do poder econômico e os trabalhadores
muitas vezes se transformam em violência aberta e deflagrada. A célebre comuna
de Paris no século XIX é um exemplo paradigmático de como o poder econômico
reage aos movimentos de emancipação dos trabalhadores ao longo da história.
Estes
são apenas alguns poucos exemplos que cito de memória de algumas guerras,
conflitos e lutas ao longo de nossa história. Podemos verificar que,
infelizmente, as guerras são comuns em nosso mundo e que a paz é algo muito
difícil de ser conquistada e preservada.
É
certo também dizer que evoluímos conceitualmente no sentido de repudiar
moralmente a guerra. As normas internacionais e os fóruns internacionais são
tentativas de se fazer valer a diplomacia ao invés da violência.
A
questão 742 do Livro dos Espíritos nos ensina que a guerra ocorre em razão da “predominância da natureza animal sobre a
espiritual e para satisfação das paixões”. A questão 743 do mesmo livro diz
que um dia “a guerra desaparecerá da face
da terra quando os homens compreenderem a justiça e praticarem a lei de Deus”.
E na questão 744 temos que a guerra ainda é” necessária para levar a liberdade e o progresso”.
Talvez
seja estranho para muitos a compreensão de que a liberdade e o progresso podem ter
sua origem na guerra. Mas isso em nosso mundo, no qual a força física e
material ainda predomina, não é um absurdo. Basta lembrar de alguns fatos
históricos que apontam nessa direção.
A revolução francesa, acontecimento histórico
no qual houve violência, superou a aristocracia feudal com seus privilégios e
criou um regime republicano cuja pretensão era a igualdade de todos perante a lei.
Mesmo com os avanços e retrocessos da ideia republicana na França e no mundo,
hoje em dia poucos pensam em voltar a uma concepção aristocrática e feudal de vida
política e social.
A
guerra civil norte-americana entre os nortistas e sulistas propiciou a abolição
da escravidão naquele país. O que foi um avanço, mesmo se considerarmos que a
segregação racial nos Estados Unidos tenha tido vigência até a década de 60 do
século XX, o que deu origem aos movimentos de luta pelos direitos civis dos negros
nos quais se destacou Martin Luther King Jr.
Alguns
filósofos defendem que a violência é a “parteira da história”, considerando que
as guerras e revoluções, que se repetem na história, frequentemente operam
grandes transformações do mundo.
Gandhi
inovou porque liderou o movimento de independência da Índia ensinando a
doutrina da não violência. Confesso, porém, que tenho dúvidas se tal método de Gandhi
pode ser universalizado com vistas a outros êxitos em nosso mundo ainda tão
inferior moralmente.
Mas
não deixo de admirar a abertura política e mental que esse grande político e
religioso indiano nos proporcionou. Uma verdadeira revolução nas possibilidades
do fazer político, muito em conformidade com os ideais espiritualistas.
Nós, espíritas, podemos dizer que somos
defensores da paz, pois rejeitamos, por princípio, a violência e a guerra. Obviamente
que não excluímos de nossos direitos a legítima defesa individual e coletiva,
uma vez que não é lógico que um indivíduo ou grupo social se entreguem a uma agressão
injusta e ao extermínio se puderem resistir.
Nossa
luta, porém, se faz através da conscientização do valor da vida e do exercício
da fraternidade. Queremos o bem de todos os seres humanos. Desejamos vida e
felicidade a todas as pessoas. Desejamos um mundo de liberdade, justiça social
e paz para a humanidade como um todo.
Nós,
espíritas, temos a nossa utopia. Que é transformação deste planeta Terra, da
condição de mundo de provas e expiações em mundo de regeneração, ou seja, em um
mundo no qual o bem seja mais forte que o mal.
A
nossa utopia espírita combina espiritualidade com ação social. A nossa
espiritualidade não é passiva ou alienante. Lutamos com as armas da palavra e
da ação. Lutamos sem violência para que, um dia, esse mundo seja transformado.
Mas
tudo isso sem ilusão, sem ingenuidade, pois sabemos que, infelizmente, a
violência ainda é estrutural no mundo em que vivemos, e que a opressão, em suas
várias facetas, ainda é vigente entre nós.
Lutamos, porém, para que um dia isso se transforme
e para que possamos viver em um mundo que renunciou a violência em favor da
razão e da fraternidade. O conhecimento de nossa essência espiritual, pode,
quem sabe, nos ajudar a chegar nesse novo mundo.
Talvez
quando ampliarmos nossa noção do que é a vida conseguiremos ser menos egoístas
e apegados às coisas deste mundo. O que nos levará a renunciar a disputas
inúteis em favor do que realmente importa em termos dos verdadeiros bens e
valores da vida.
Quem
sabe, nesse dia, consigamos construir um mundo de paz universal.
Texto originalmente publicado no ABERTURA de maio de 2022:
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