sexta-feira, 17 de junho de 2022

O paradigma Ignorado - por Alexandre Cardia Machado em referência a Maurice Herbert Jones

 

O paradigma Ignorado

Recentemente ao ler o último exemplar recém-lançado da Coleção Livre-Pensar, o Livro Espiritismo, Ética e Moral, escrito por Milton Rubens Medran Moreira e Jacira Jacinto da Rocha me deparei com uma citação de um texto de Maurice Herbert Jones – O paradigma ignorado, publicado em agosto de 2002, texto que guardamos até hoje. Milton Medran faz referência ao que Jones chama de espiritocentrista, à visão de Kardec.

Talvez, por ter sido produzido em 2002, não haja cópias deste importante texto disponível online, então, resolvemos trazê-lo de volta nesta coluna levando-se em consideração a sua importância, relevância e profundidade das análises nele contidas.

Com vocês a clareza e a sensibilidade Maurice Herbert Jones.

Maurice Herbert Jones XVIII Congresso da CEPA


“O paradigma Ignorado”

“Os antigos deuses envelheceram ou morreram e outros ainda não nasceram.” Emile Durkheim

O processo civilizatório a que estamos submetidos transcorre como se nosso planeta fosse um gigantesco e dinâmico palco com cenários em permanente mutação e atores em rodízio constante.

Este imenso espetáculo é dirigido por “matrizes ideológicas” ou paradigmas que, num dado momento e cultura, tornam-se hegemônicos e, portanto, eleitos para administrar o processo até que, esgotada sua virilidade, senilizados, são substituídos por novos paradigmas.

Convém reconhecer, todavia, que o envelhecimento ou até mesmo a morte dos velhos deuses não é facilmente reconhecida. Sando muito penosa a orfandade, é preferível um deus mumificado a deus nenhum, prolongando, assim, a crise de referências ao mesmo tempo em que os candidatos à sucessão são submetidos aos testes necessários.

A crise existencial de nosso tempo tem como uma das principais causas o esgotamento dos modelos conceptuais ainda vigentes, crescentemente incapazes de oferecer segurança e identidade.

O psicanalista Hélio Pelegrini afirmou em um artigo que a angústia metafísica que nos aflige clama por uma filosofia pública sobre o significado e objetivo da vida, capaz de orientar toda a atividade humana, isto é, uma visão de homem e de mundo que possa ser racionalmente universalizada.

Os relatos bíblicos, síntese conceptual daqueles tempos e cultura, nos falam, essencialmente, de um contrato estabelecido entre o criador e as criaturas, a partir do momento em que estas conquistam a racionalidade, isto é, a liberdade de desobedecer, que inaugura a história humana. Este contrato é reformável na medida em que precisa ajustar-se aos novos níveis de consciência e liberdade conquistados pelo homem, A iniciativa, porém, como a história nos ensina, cabe ao homem.

Quando os valores tradicionais começam a perder significado e eficácia, um novo contrato, um novo conjunto de valores deve ser concebido.”

Neste momento, Jones chega ao ponto principal de sua reflexão.

“Atendendo a esta determinação histórica, Kardec, com extraordinária lucidez, identifica sinais de esgotamento do paradigma vigente e lidera uma revolução conceptual de base racional e humanista que, superando o organocentrismo iluminista propõe uma visão espiritocentrista, isto é, que considera a dimensão extrafísica ou espiritual como fundamental, afetando, drasticamente, a forma pela qual o homem, o mundo e a história são percebidos.

A natureza sintética do modelo conceptual Kardequiano é evidente. Como uma flor tardia da primavera iluminista o Espiritismo surge como uma esperança de renovação capaz de oferecer ao homem a segurança e a identidade perdidas, equiparando-o, assim, para avançar, confiante, mais uma etapa no processo evolutivo.

Quase um século e meio depois de seu surgimento (texto de 2002, hoje seria 165 anos após), o Espiritismo, naquilo que o faz singular, dinâmico, revolucionário e universal é desconhecido pela maioria esmagadora dos próprios espíritas que, incapazes de compreender o alcance e a profundidade da monumental proposta de Kardec, insistem, ingenuamente, em interpretá-la a luz dos paradigmas agonizantes ou mumificados que teimam em nos influenciar, reduzindo-a, assim, a uma mera seita religiosa.

Significativamente, foi exatamente esta a interpretação do Abade François Chesnel em artigos publicados no jornal L’Univers de Paris em abril de 1859 e tão veementemente contestada pelo fundador do Espiritismo conforme ficou registrado na “Revue Spirite” de maio e julho daquele mesmo ano.

Como se vê, o padre Chesnel fez escola.”

Maurice Herbert Jones – Ex-Presidente da FERGS – Federação Espírita do Rio Grande do Sul, diversas vezes membro da diretoria do CCEPA, desencarnada em 2021. Texto publicado no Jornal Opinião de agosto de 2002.

Sobre Maurice Herbert Jones deixamos o convite à leitura de sua biografia publicada no site do CPdoc:

www.cpdocespirita.com.br/portal/destaques/personalidades-em-destaque/160-maurice-herbert-jones

Sobre Maurice Herbert Jones

O Abertura em sua edição de julho de 2021 noticiou com pesar a desencarnação deste grande lumiar espírita, caso queiram reler o Abertura pode ser acessado na no link:

CEPA Internacional : basta entrar no site: digitando em seu buscador: CEPA Associação Espírita Internacional, irão aparecer várias opções, clique no site e depois na barra azul escolha: Publicações: desça o cursor no Jornal Abertura, ano de 2021, mês de julho.

Se preferir ir diretamente ao Jornal Abertura de julho de 2021 baixe aqui:

https://cepainternacional.org/site/pt/cepa-downloads/category/20-jornal-abertura-2021?download=112:jornal-abertura-julho-de-2021


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