Corrupção:
Doença com residência na alma.
19/3/15:
Operação Implante
19/3/15:
Operação Boneco
Jacira Jacinto da Silva
Não se
alcança fácil a corrupção para extirpá-la da sociedade. Em se tratando de
doença com residência na alma, pertencente ao conjunto de valores imateriais do
ser humano, que não se modifica, tampouco se burila por meras deliberações,
haveremos de construir um novo padrão de educação, em que as ações de pais, educadores, políticos e formadores de
opinião, reflitam lições! Conversa fiada não serve.
Vivemos tempos difíceis, ou tempos melhores? O mundo
está progredindo, ou estaria regredindo? É natural que muitas vezes nos bata um
desânimo danado e que em muitas ocasiões cheguemos a pensar que a lei de
evolução não se confirma, ou que Kardec se equivocou ao negar a possibilidade
de regressão da evolução espiritual.
O cenário político nacional é espantoso, chocante,
assustador, diríamos! Quando poderíamos imaginar assistir ao vivo e a cores
nossos representantes políticos fazerem suas negociações e barganhas às
escâncaras, na frente das câmeras de TV, diante de jornalistas, declarando sem
pudor as razões dos seus ardis mais desprezíveis, sob a capa do interesse
público? Pois estamos vendo, diariamente. Basta ligarmos a televisão, abrirmos
a revista ou o jornal e nos deparamos com essas possibilidades.
O mundo virou pelo avesso? Parece que não; ao meu ver,
com o máximo de respeito a quem pensa diferente, estamos sendo mais
transparentes, desenvolvemos mais mecanismos de acessar informações, a vida dos
representantes políticos está menos obscura, já não permitimos mais tanto
autoritarismo, temos sede de informações sobre tudo; enfim, estamos evoluindo!
O mundo está melhor hoje do que já foi no passado, sem
dúvida, e a lei do progresso se confirma, na minha limitada visão. Mas, claro,
nós estamos bem devagar; atrasados, cheios de egoísmo e dificuldades para
superar.
Propõe-se trocar a Presidente da República, e seria
maravilhoso se com esse gesto baníssemos a corrupção do nosso país, mas,
lamentavelmente não atingiremos esse patamar com tal gesto. E se numa só tacada
trocássemos também todos os representantes das Casas Legislativas, Senado e Câmara
dos Deputados? Ainda assim não daria. Mas poderíamos, então, substituir os
nossos representantes dos três poderes, do Executivo, do Legislativo e do Judiciário.
Hum! Que pena, ainda não daria certo. Mas, e se nós mudássemos os
representantes políticos do Executivo, do Legislativo e do Judiciário das
esferas Federal, Estadual e Municipal, em todos os Estados e todos os Municípios?
A razão nos diz que não adiantaria e que a corrupção seguiria sendo um câncer
da nossa sociedade.
É possível fazer essa afirmação com facilidade, pois num
só dia, 19/3/2015, enquanto o noticiário se dividia entre as várias novidades
do cenário nacional, a Polícia Federal efetuava inúmeras prisões decorrentes de
duas operações, denominadas “Implante” e “Boneco”, envolvendo pessoas outras,
que não pertencem aos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Segue um
resumo:
Implante: Caxias
do Sul/RS – A Polícia Federal, em parceria com a Receita Federal, deflagrou
nesta manhã (19/3/2015) a Operação Implante com objetivo de combater um esquema
de fraudes no Imposto de Renda da Pessoa Física. Investigações apontaram o
funcionamento de um esquema de fraudes, no qual despesas médicas fictícias eram
inseridas na Declaração de Imposto de Renda de Pessoa Física – DIRPF, com a
finalidade de reduzir o imposto a pagar e obter restituições indevidas. Apenas
em despesas odontológicas e médicas, estima-se que a fraude ultrapassa R$ 1,5
milhão.
Boneco: Rio de
Janeiro/RJ – A Polícia Federal, o Ministério da Previdência Social-MPS e o Ministério
Público Federal deflagraram hoje (19/3/2015) a Operação Boneco para
desarticular uma quadrilha que fraudou o INSS em mais de R$ 7 milhões. Numa
primeira etapa, os servidores envolvidos da Previdência Social concediam
benefícios fictícios, ou irregulares para pessoas que não faziam jus. Algumas
vezes, o LOAS era concedido a pessoas inexistentes utilizando-se documentação
falsa.
A segunda célula
era responsável pelos saques dos benefícios previdenciários irregulares. Idosos
eram recrutados e se faziam passar pelos verdadeiros beneficiários para fazer o
saque nas instituições financeiras. Cada idoso assumia até mais de dez
identidades diferentes, recebendo uma quantia fixa para cada saque efetuado. Os
idosos eram tratados pela alcunha de “boneco”, daí a origem do nome da
operação. O prejuízo, apenas dos mais de 350 benefícios identificados, chegava
a superar o valor mensal de R$ 200 mil. A PF estima que a quadrilha lesou o
INSS em mais de R$ 7 milhões.
Vi com certa surpresa pessoas reagirem agressivamente
contra Marina Silva pelo fato de ela ter declarado que a corrupção não é um
problema desse ou daquele político, mas de todos nós. Houve quem dissesse, até
com manifestação odiosa, que não tinha nada a ver com isso.
Ouso dizer que a corrupção é sim problema de todos nós,
pois se trata de doença crônica, com sede na alma, vulnerável a pequenas
oscilações das “condições ambientais”.
Dizem que ninguém tem imunidade absoluta, mas é certo que a filosofia espírita
oferece muito bons antídotos. Particularmente, penso que a primeira lição
espírita, sobre a qual deveríamos refletir diariamente, está na questão n. 913
de OLE. Dentre os vícios, qual o que se
pode considerar radical? “Temo-lo dito muitas vezes: o egoísmo. Daí deriva todo
mal. Estudai todos os vícios e vereis que no fundo de todos há egoísmo”.
É pelo nosso egoísmo e por nenhum outro motivo que
aceitamos acessar todos os canais de TV por assinatura sem pagar nada, fazendo
um simples “gato”; que reduzimos a conta de água ou de luz, colocando um desvio
no relógio; que compramos um recibo de dentista ou de médico para reduzir o IR;
que colocamos o valor do imóvel adquirido abaixo do valor real na escritura para
sonegar o ITBI; que compramos produtos piratas; que fazemos caixa dois em nossa
empresa; que registramos a empregada com valor menor do que pagamos; que
furamos fila; que tentamos subornar guarda para evitar multa; que apresentamos
atestado médico falso; que batemos ponto pelo colega de trabalho etc.
Sempre atenta ao direito do outro de pensar diferente,
entendo ser sagrado o direito de contestar contra os abusos, mas precisamos nos
educar antes de tudo. Quem pratica ato de corrupção (pequeno pode?) não tem o
direito de exigir lisura do outro, nem mesmo dos seus representantes políticos.
Presenciei pessoa que não paga seus impostos – eu sei, pois tem uma empresa e
já me confessou o uso do caixa dois – participando do panelaço. Não tem moral.
A palavra, no meu entender, está com Leon Denis:
O estado social não sendo, em seu
conjunto, senão o resultado dos valores individuais; importa antes de tudo de
obstinar-nos nessa luta contra nossos defeitos, nossas paixões, nossos
interesses egoístas.
O estudo do ser humano nos leva,
pois, a reconhecer que as
instituições, as leis de um povo, são a reprodução, a imagem fiel de seu estado
de espírito e de consciência e demonstram o grau de civilização ao qual ele
chegou. Em todas as tentativas de reformas sociais é preciso falar ao
coração do povo ao mesmo tempo que à sua inteligência e à sua razão.
A sociedade não é senão um
agrupamento de almas. Para melhorar o todo, é preciso melhorar cada célula
social, isto é, cada indivíduo (o grifo é meu).
Um grande educador escreve para a eternidade.
Faço minhas as suas palavras, Eminente Professor.
Jacira Jacinto da Silva, juíza de Direito em São Paulo, membro do CPDoc, da CEPABrasil e cofundadora
da Fundação Porta Aberta. É autora do livro Criminalidade:
Educar ou Punir? que você pode adiquirir aqui no ICKS, através do email: ickardecista1@terra.com.br