terça-feira, 8 de agosto de 2017

Esboço de Uma Teoria Espírita da personalidade - por Jaci Régis

VI - SBPE - Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita - 1999

ESBOÇO DE UMA TEORIA
 ESPIRITA DA PERSONALIDADE

JACI REGIS

INTRODUÇÃO

No conjunto de sua obra, Allan Kardec desenvolveu, certamente, uma teoria sobre a personalidade humana, de forma genérica e filosófica, tendo o Espírito como centro, propondo que as estruturas psicológicas individuais, são fruto do processo evolutivo. Isto é, o homem tal como se apresenta atualmente é fruto de uma lenta evolução moral e intelectual realizada na encarnação e reencarnação sucessivas.

Logo, a diversidade dos caracteres humanos é consequência dos desniveis evolutivos, isto é, numa ampla e filosófica visão,  a criatura humana é produto de si mesma.

Naturalmente Kardec não pode e nem dispunha de meios para analisar a estrutura psicológica do homem. No seu tempo falava-se em temperamento bilioso-sanguineo-nervoso, um defeito orgânico atribuido, segundo parece,à bilis ( Ver Revista Espírita,julho de 1863, pagina  214, edição brasileira). E ele parece acreditar que eram criados no organismo órgãos especiais para exprimir as faculdades do Espírito.

É o que depreende das seguintes considerações feitas por ele à questão 370-a, de O Livro dos Espíritos: “ O Espírito, ao encarnar-se, traz certas disposições, e se admitirmos, para cada um delas, um órgão correspondente no cérebro, o desenvolvimento desses órgãos será um efeito e não uma causa.....Admití, ao contrário, que os órgãos especiais, se é que existem, são consequente e se desenvolvem pelo exercício das faculdades, como os músculos pelo movimento, e nada tereis de irracional.”

A análise kardecista pressupõem, antes de mais nada, o componente moral, a estipular o caráter da criatura humana. Nesse sentido, analisando o mundo pelo prisma moral, o Espírito humano habita este planeta de provas e expiações, por três motivos principais: prova, expiação ou missão. Deus teria criado o corpo humano adequado para a encarnação desse Espírito pouco evoluido moralmente, para que ele se purificasse e demandasse, futuramente, a regiões espirituais ou planetas mais evoluidos.

Dessa forma, as características da personalidade seriam determinadas pelos fatores morais, ao longo do tempo, criando carateres reativos ou exprimindo estigmas produzidos pela violação das leis divinas.
Como sua análise da vida terrena está fundada  sob o aspecto da  relevância da  natureza espiritual, o organismo humano foi encarado como  um obstáculo, ainda que necessário, à expressão da totalidade da capacidade perceptiva, cognitiva  do Espírito, chamado alma pela sua união passageira com o corpo carnal.

Kardec, ao analisar a relação mente-corpo,  raciocinou de modo geral de acordo com o pensamento cartesiano, que contemplava uma absoluta divisão entre a alma e o organismo. Descartes define a separação entre a alma e o corpo, acreditando que por serem substâncias diferentes, havia a independência de uma em relação à outra. Embora sob outro enfoque, Kardec, além de introduzir a figura do perispírito, como intermediário,  não admitia que alma interagisse  diretamente com o corpo, mas guardaria em relação a ele uma distância sobretudo constitucional . Isto é, a comunicação entre a alma e o corpo, seria semelhante a de um piloto na cabine de um avião, sem uma interrelação positiva.

Propomo-nos a apresentar o esboço de uma  teoria espírita da personalidade. Essa tentativa nos parece justificada, porque na doutrina não existe um estudo realmente psicológico da personalidade, uma vez que a análise do homem se reduz ou se expressa, sobretudo, na visão larga e genérica do pensamento filosófico, não raro misturado com uma tendência religiosa, cuja natureza é, quase sempre, de condenação do homem.

Na análise da personalidade está em jogo muito mais do que enquandrar o homem   como réu da Justiça Divina.Isso  vicia o entendimento, por desconhecer que o ser espiritual é maior do que o  processo de culpa e castigo, pois ignora a complexidade das interações e situações psicológicas desenvolvidas pelo ser ao longo de sua trajetória.

A afirmação de Kardec:  “No momento  da concepção do corpo que se lhe destina, o Espírito é apanhado por uma corrente fluídica que, semelhante a uma rede, o toma e o aproxima da sua nova morada. Desde então, ele pertence ao corpo, como este lhe pertence até que morra”(Obras Póstumas, A Morte Espiritual, , pag. 199,  15a.ediçào, FEB), parece ser ,afinal, o que deve ser levado em conta.



BASES DA TEORIA

“Uma teoria é uma hipótese não consubstanciada ou uma especulação a respeito da realidade que não é ainda definitivamente conhecida”.

Essa definição explica a base de nosso trabalho. Ele é baseado no conjunto de informações e proposições filosóficas e descrições mais pormenorizadas das funções do Espírito, que estruturam genericamente o pensamento espírita que, não obstante trabalhar sobre temas não aceitos pela ciência e de modo geral pela cultura, têm seus fundamentos empíricos, tratados filosóficamente e objetivos moralizantes.

A Doutrina Kardecista  propõe uma análise do ser humano, num horizonte atemporal, dentro de sua teoria da evolução, na qual a reencarnação desempenha papel instrumental de processo desecadeante de estrutura e reestruturas cíclicas dos mecanismos mentais do Espírito.
Uma das mais significativas e inéditas  contribuições do pensamento espírita, refere-se à teoria da evolução do Espírito. Dentro desse enfoque, uma teoria espírita da personalidade compreenderá o estudo do ser, em dois momentos:

o período pré-humano, como tempo de estruturação básica da individualidade
o período de sua inserção no nível humano, onde estrutura uma pesonalidade mutante.
Nesse sentido, o estudo da personalidade será feito na relação sinérgica do Espírito e do corpo, considerando que, segundo a doutrina, no nivel atual de evolução do Espírito humano, a encarnação corresponde a uma situação praticamente natural de sua vivência.



ESTRUTURA DA INDIVIDUALIDADE

De acordo com a teoria espírita da evolução do Espírito, este é criado por Deus, como um princípio espiritual, “simples e ignorante”. Isto é, um ser potencial, estruturalmente vazio. A potencialidade está contida na possibilidade de expansão e aquisição de experiências, movida por uma forma de energia oriunda de sua natureza permanente, imortal.

Isso significa que no início do processo, o princípio espiritual carece de qualquer consciência de si mesmo e  não possue nenhuma estrutura básica de percepção ou seleção. Nesse sentido, pode-se dizer que a primeira fase do seu processo evolutivo, será a da aquisição de conteúdos de experiência.
 Como diz André Luiz no livro “No Mundo Maior”, ( página 57 ,20a.edição - FEB) “ O princípio espiritual desde o obscuro momento da criação, caminha sem detença para frente. Afastou-se do leito oceânico, atingiu a superfície das águas protetoras, moveu-se em direção à lama das margens, debateu-se no charco, chegou à terra firme, experimentou na floresta copioso material de formas representativas, ergueu-se do solo, contemplou os céus e, depois de longos milênios, durante os quais aprendeu a procriar, alimentar-se, escolher, lembrar e sentir, conquistou a inteligência....Viajou do simples impulso para a irritabilidade, da irritabilidade para a sensação, da sensação para o instinto, do instinto para a razão.






A FORMAÇÃO DO CORPO MENTAL


 Já vimos que o princípio espiritual não possui estrutura, pelo menos inicialmente. Todavia, interagindo com os  elementos orgânicos, ele vai desenvolvendo   uma estrutura psíquica , que chamo, por analogia,  de corpo mental. É nesse organismo psíquico que o princípio espiritual vai organizando um  sistema mental flexivel. Ai ele estrutura a memória e seleciona as experiências vividas.

Ao longo do tempo, construindo, reconstruindo e armazenando as esperiências, o princípio espiritual, começa a  adquirir consciência crescente de si mesmo. O corpo mental é, então, seu instrumento onde são inscritos, virtualmente, os resultados das experiências e vivências, suas impressões e aprendizado.

Referindo-se ao corpo mental, assim afirma André Luiz  “Para definirmos, de alguma sorte, o corpo espiritual, é preciso considerar, antes de tudo, que ele não é reflexo do corpo físico, porque, na realidade é o corpo físico quem o reflete, tanto quanto ele próprio, o corpo espiritual, retrata em si o corpo mental que lhe preside a formação”. E adiciona o seguinte comentário “O corpo mental ,assinalado experimentalmente por diversos estudiosos, é o envoltório sutil da mente...”(Evolução em Dois Mundos, Capitulo II - Corpo espiritual, página 25, 1a. edição 1959 - FEB).

Estudando os efeitos do monoideismo que leva à perda do perispírito, André Luiz diz o seguinte: “cabendo-nos notar que essa forma (ovóide), segundo a nossa maneira atual de percepção, expressa o corpo mental da individualidade, ao encerrar consigo, conforme os princípios ontogenéticos da Criação Divina, todos os órgãos virtuais de exteriorizaçào da alma, nos círculos terrestres e espirituais, assim como ovo, aparentemente simples, guarda hoje a ave poderosa de amanhã ou como a semente minúscula, que conserva nos tecidos embrionários a árvore vigorosa em que se transformará no porvir. (idem, página 91).

Temos, pois, uma descrição possivel do corpo mental, como um corpo sutil, de forma ovóide em torno do Espírito, guardando os órgãos de exterioração da alma. Nessa conjugação mento-espiritual reside a expressão da individualidade.

O  SURGIMENTO DA PERSONALIDADE



Segundo André Luiz,  o princípio espiritual  somente  é  promovido à condição de Espírito, quando adquire o que ele chamou de “pensamento contínuo”.

Quando, no seu crescimento evolutivo, o princípio espiritual desenvolve o circuito mental completo, isto é, seu pensamento é contínuo, ele alcança o nivel da razão e inicia a consciência de si mesmo. Com o pensamento contínuo, existe energia suficiente para manter o corpo psicossomático, que é a expressão do corpo mental.

Eis o que ele diz : “Pela compreensão progressiva entre as criaturas, por intermédio da palavra que assegura o pronto intercâmbio, fundamenta-se no cérebro o pensamento contínuo e, por semelhante maravilha da alma, as idéias-relâmpagos ou as idéias-fragmentos da crisálida de consciência, no reino animal, se transformam em conceitos, inquirições, traduzindo desejos e idéias alentadas, substância íntima (Evolução Em Dois Mundos, pagina 76, 1a. edição, 1959, FEB)
Não é aí, porém, que surge a personalidade.

Será necessário, ainda, a completa percepção de si mesmo, após a morte.  “ Em relação ao homem, os mamíferos que se ligam a nós outros por extremos laços de parentesco, em se desencarnando, agregam-se aos ninhos em que se desenvolvem os companheiros e, qual ocorre entre os animais inferiores, nas múltiplas faixas evolutivas em que se escalonam, não possuem pensamento contínuo para obtenção de meios destinados à manutençào de nova forma.... Pouco acima dessas mesmas bases  vamos encontrar o homem infra-primitivo, na rusticidade da furna em que se esconde, surpreendido no fenômeno da morte, ante a glória da vida, como criança tenra e deslumbrada à frente de paisagem maravilhosa, cuja grandeza, nem de leve, pode ainda compreender.

O pensamento constante ofereceu-lhe a precisa estabilidade para a metamorfose completa... Entretanto, o homem selvagem, que se reconhece dominador  na hierarquia animal, cruel habitante da floresta, que  apura a inteligência, através da força e da astúcia, na escravidão dos seres inferiores que se lhe avizinham da caverna, desperta  fora do corpo denso, qual menino aterrado, que, em se sentindo incapaz da separação para arrostar o desconhecido, permanece, tímido, ao pé dos seus,em cuja companhia passa a viver, noutras condições vibratórias, em processos multifários de simbiose, ansioso por retomar à  vida física que lhe sugere à imaginação como sendo a única abordável à própria mente...

Ressurgir na própria taba e renascer na carne, cujas exalações lhe magnetizam a alma, constituem aspiração incessante do selvagem desencarnado.... Pela oclusão de estímulos outros, os órgãos do corpo espiritual se retraem ou se atrofiam, por ausência de função, e se voltam, instintivamente, para a sede do governo mental, onde se localizam, ocultos e definhados, no fulcro de pensamentos em circuito fechado sobre si mesmos, quais implementos potenciais do germe vivo entre as paredes do ovo.  Nesse período, afirmamos habitualmente que o desencarnado perdeu o seu corpo espiritual, transubstanciado-se num corpo ovóide... (Idem, paginas, 88 a 91).

Segundo o autor, “De liberação a liberação, na ocorrência da morte, a criatura começa a familiarizar-se com a esfera extra-fisica...Encentando, pois, a sua iniciação no plano espiritual ,de consciência desperta e responsável, o homem começa a penetrar a essência da lei de causa e efeito, encontrando em si mesmo os resultados enobrecedores ou deprimentes das próprias ações (idem, páginas 91 e 92).

Então, segundo nos parece, surge o ego que é a formação básica para as estrutura da personalidade. É a partir desse momento que começa a elaboração das características pessoais, as formas que paulatinamente definirão a consciência de si mesmo.




FORMAÇÃO DA AUTO CONSCIÊNCIA

Encontramos no O Livro dos Espíritos, a seguinte informação:

190 - Qual o estado da alma em sua primeira encarnação?
-O estado da infância na existência copórea. Sua inteligência apenas desabrocha; ela se ensaia para a vida.
191 - As almas de nossos selvagens são almas em estado de infância?
-Infância relativa; mas são almas que progrediram, pois têm paixões
-As paixões são, pois, um sinal de desenvolvimento”
-De desenvolvimento sim, mas não de perfeição; as paixões são um sinal de atividade e da consciência do eu, enquanto que na alma primitiva, a inteligência e a vida estão em estado de germe.

Quando adquire o pensamento contínuo, que a habilita ao uso da razão e o desenvolvimento da palavra, a alma como que espia para fora e defronta-se com o vazio do conhecimento ou com a vastidão do desconhecido e com as pressões afetivas, antes não existentes.
Se no período pré-humano,  o vazio inicial foi preenchido pela organização inicial do corpo mental, agora, dispondo da razão, ela terá que desenvolver processos mentais que a habilitem a percepção e elaboração de conhecimentos e emoções.

A paixão, no nivel hominal, é a transformação ou a redireção da força interior , a energia natural que forma o núcleo  agressivo do Espírito. No estágio pré-humano essa força interior, foi sendo elaborada como impulso determinante da vida, e se consubstanciou na própria sobrevivência do ser .

No reino hominal, a força interior  se transforma em energia psíquica, enriquecida com as inquietações afetivas, que o faz progredir, desenvolver-se, não resignar-se e procurar, sempre, embora todos os baixos e altos da existência, um patamar superior ao que se encontra.
Ao alcançar a qualidade de Espírito, a estrutura básica do corpo mental é dominada pela força interior em forma de pulsões instintivas. O Livro dos Espíritos afirma: 1) o instinto é uma inteligência não racional; 2) não existe limites entre a inteligência e o instinto, isto é, eles se confundem; 3) o instinto existe sempre.

Todavia, no curso de sua existência, o Espírito desenvolve  defesas contra as agressões e os medos. Esses mecanismos de defesa, que são naturais, devido à fragilidade do próprios ser, quando patologizados, tornam-se formas restritivas da força interior , determinando os estados de consciência, conforme o Espírito vai enfrentando os desafios do dinamismo da vida.

Quando se transformam em processos neuróticos e psicóticos,  isto é, condições passionais, os mecanismos de defesa, introduzem importantes condicionamentos no dinamismo da vida,  que se exprimem no comportamento e na estrutura da personalidade.

De um modo genérico,  podemos dizer que a aplicação mais ou menos acentuada da força interior define a estrutura provisória da personalidade, uma vez que a lei do progresso ou processo evolutivo, estabelece constante mutação na direção do emprego desse energia básica.

Tangido pelo medo natural, lentamente, impulsionado pela paixão, inicia o trabalho de reestruturação do corpo mental,  criando instâncias psíquicas para comandar o processo cognitivo que se inicia e manipular, tanto quanto possível, as pulsões afetivas. Começará, enfim, a perceber sua vida interior, seu pensamento íntimo, sua visão específica e suas reações particulares aos estímulos, aos conflitos a que se exporá inevitavelmente.

A individualidade ao penetrar no hominal, desenvolve   o ego, de modo a contigenciar  de seu potencial instintivo, sua força interior, para alcançar seus objetivos de aperfeiçoamento e felicidade.
Não sabemos como se estruturam os mecanismos mentais, nem conhecemos como as emoções, os conhecimentos são inscritos no corpo mental .O certo é que alí vão sendo criadas estruturas que, ao longo da vida inteligente, estabelecem as condições para o manejo das relações afetivas e a acumulação do conhecimento.

As técnicas modernas de transformação de sons e imagens em ondas, pode nos dar uma idéia, embora pálida, de como os eventos, emoções e situações de repercussão no cosmo mental, são gravados na superestrura consciencional. Os fatos relevantes, com sua carga afetiva, seriam captados em forma de “ondas de memória”, em supermicro traços mnêmicos ou traços de lembrança e como tal impressionariam as regiões específicas dos centros de percepção do corpo mental.

Podemos figurar, numa analogia certamente pobre,  que esse mecanismo funcionaria como a câmara de televisão que  faz a “varredura” das imagens, transformando-as em ondas que o receptor decompõe, transformando-as outra vez em imagens.

Nasce então, embrionariamente, a auto-consciência uma superestrutura do corpo mental, resultado da somátoria algébrica das  experiências resultantes de várias encarnações e da vida extrafísica, compreendendo os fatores afetivos,lembranças e a bagagem de conhecimento da alma.
Nessa ampla   superestrutura da auto-consciência, existiriam estruturas específicas, divididas em zonas que abrangeriam determinados setores da atividade total da pessoa.

Teriamos a zona da sabedoria que seria o repositório das conquistas amadurecidas, pelo Espírito e que constituiria o nivel superior da individualidade, com a síntese dos conhecimentos adquiridos e sentimentos mais ou menos estabilizados e que de forma objetiva representaria aquilo que ele é ou resultado de sua evolução real.

Outra seria a zona problemática, constituindo o acervo das questões afetivas não resolvidas, desvios de conduta e impulsos não canalizados,  com os materiais recalcados, censurados, resultantes de ações e conflitos decorrentes do sinamismo da vida.

No campo da personalidade reencarnada, da zona problemática  sairiam  os componentes do inconsciente, exprimindo o conflito latente entre a zona da sabedoria e a zona problemática.

A zona da memória, constituida de ondas de memória propriamente ditas, guardaria as  lembranças de fatos e acontecimentos marcantes e que  podem ser recuperadas, nos traumas e nos momentos de extrema emoção, tanto enquanto encarnado, quando desencarnado. Funcionaria, mutatis mutante, como o receptor de televisão, o que garante, nesse modo de ver, a perpetuidade da lembrança dos fatos marcantes na vida do Espírito.

No centro dessa diversidade estrutural estaria o Espírito, o ser em si mesmo, pois ele é uno e não dividido. Ele exerce sua capacitação  para coordenar ações e reações, e manipular os estímulos e necessidades internas e externas.

O Espírito vive sempre o momento atual, isto é, sua realidade consciente. Todavia, pela teoria espírita, esse presente é o ponto culminante de um processo dinâmico, que sintetiza o passado e projeta o futuro.

Além disso, o Espiritismo considera, sob o ponto de vista da humanidade terrena, que, de modo geral, o Espírito humano é relativamente imaturo, tendo, como espécie, alcançado o nivel hominal a pouco tempo.

Jung estudando a formação da personalidade, entendeu que o homem atual seria o herdeiro genético das experiências ancestrais da humanidade. Ele chamou esse fator da personalidade de Inconsciente Coletivo. A lei da  reencarnação e a teoria evolutiva do Espiritismo sancionam, em princípio, a  idéia de Jung . Mas de forma individual, como experiência vivida e não como como fator hereditário.



TIPOS DE PERSONALIDADE

Então o que é a pesonalidade? Como definí-la diante da perspectiva espírita?

Nosso entendimento da personalidade, enquanto uma forma de expressão da pessoa humana, será baseado na realidade objetiva da encarnação. Por isso, definiremos a personalidade como a expressão possível e temporária do Espírito na sua relação social.

Considerando a criatura humana, do ponto de vista de sua objetiva realidade no munco corpóreo, sua pesonalidade é, em síntese,  o complexo de interações Espírito-organismo-meio ambiente.

Essa interação, pois, compreende três instâncias, associadas entre si.

a) essencialidade - isto é, o acervo intelecto-afetivo do individuo permanente,incluindo resíduos de personalidades anteriores ou seja sua auto-consciência;
b)impacto hereditário/genético - representando o conjunto genético transmitido pelos pais, pela raça, fator determinante para um organismo sadio ou doente e certas potencialidades para a integral ou parcial integração da mente ao organismo;
c)impacto ambiental- ou seja, o conjunto de pressões afetivas, sócio econômicos, e familiares que influenciam de maneira profunda a estrutura de relação da personalidade.
Vimos que cada Espírito forma sua   auto consciência que é seu acervo permanente. A formação dessa superestrutura consciencional é a própria história do Espírito humano, em constante progressão.

Desde o início, ele precisa aprender a balancear sua agressividade, sua força interior. Na estrutura mental do Espírito humano que inicia a formação de seu carater, a explosão do conteúdo instintivo precipita sua interação com o meio ambiente.

Além do desenvolvimento cognitivo, isto é, do conhecimento das coisas, inventando e  criando condições de sobrevivência, terá que enfrentar a relação eu-tu, um problema inexistente no nível animal.  Inicia-se o período de reconhecimento do outro, provocando as paixões, isto é,  as reações de amor, ódio, posse,poder,  fuga, agressão e acomodação.

 Ele vai encontrar na vivência grupal, os primeiros estímulos para a construção de valores éticos, ao nivel evolutivo compatível, que se transformam em parâmetros de comportamento que, de modo geral, garante-lhe uma relativa segurança. 

 Ou seja, a estrutura social estipulará leis, costumes e ordenações para o relacionamento sexual, dos bens coletivos, da adoração aos deuses. Daí fluirão os conceitos do bem e do mal, a recompensa e o castigo, os tabus, os totens, enfirm todas as formas  de canalizar ou reprimir os impulsos agressivos e sexuais.

Atendendo às necessidades básicas da afetividade, surgirá a família, iniciando o amadurecimento afetivo e prenunciando uma forma ainda bruta de relacionamento e ternura entre as pessoas.

O egoismo e a sede de poder, determinarão  a divisão da terra, estabelecendo os princípios da propriedade que terá como consequência, de um lado,o isolamento da vida coletiva ancestral e de outro, o individualismo, consoante o egoismo natural, uma espécie de valorização do ego, posteriormente pervertido no egoismo social.

O caráter do Espírito iniciante, ao longo de sua vivência, terá fundamento nos padrões geralmente aceitos pela sociedade e que de uma forma ou de outra sujeitam-lhe a um tipo de comportamento. Ir contra esses padrões, conforme a natureza do padrão, pode resultar em culpa moral ou condenação civil. Todavia, ele será, não obstante, um ser único e isolado do meio, embora dele participante.

Aí temos uma das mais intrigantes constatações da sabedoria divina, ao criar condições elasticidade de percepção, para que o Espírito, embora influenciado pelo meio, estabeleça, um sentido de perpetuidade, de   identidade e de consciência de si mesmo. Trata-se, em tese, do livre arbítrio, instrumento que a Lei Natural outorga ao ser para que ele crie seu destino.

Cada segmento encarnatório exige  ajustamentos do sistema mental do indivíduo à  dinâmica da vida de relação. Isto é, ele cria um tipo de personalidade específica temporária., ajustada às condições do ambiente onde se localiza.

 Não se trata, todavia, de uma personalidade totalmente nova. A personalidade que surge é uma  reconstituição, uma remodelagem da personalidade existente no monento da reencarnação mas a construção de uma personalidade calcada sua auto-consciência, que o identifique dentro das novas condições em que se encontra.

Embora seja uma pessoa diferente em cada encarnação, pela sinergia entre os fatores componentes da personalidade,  o Espírito guarda uma identidade essencial, uma expressão de sua auto consciência. Pois o processo evolutivo a que se submete representa a estruturação   uma personalidade que o identifique e que será, no grande futuro, estabilizada.

 Ou seja, conforme evolui,  sua  personalidade será cada vez mais igual nas sucessivas encarnações.


Essa conclusão nos permite afirmar que a maioria das pessoas não possue uma identidade consciente de si mesma, o que justifica a instabilidade que caracteriza o comportamento da humanidade. Convivem na estrutura da personsalidade humana fatores conflitantes, angústias e pressões internas, que podem variar em proporções extremas.






 EFEITOS MUTANTES DO PROCESSO REENCARNATÓRIO





A tendência do indivíduo é a acomodação. Por isso, a personalidade que num determinado momento caracteriza a individualidade, seja no plano físico ou no extrafísico, . teria a  tendência a manter-se estática, dentro da lei da inércia. Existem pelo menos, duas formas básicas para proporcionar alterações substanciais das estrutura mentais. Uma é o trauma e a outra é o insight.

O trauma se caracteriza por estabelecer uma situação de conflito, de rutpura abrupta de um determinado estadio mental ou físico. O  insight representa uma ruptura de uma condição mental, pela abertura de uma nova perspectiva ou entedimento da razão ou causa da condição.

A reencarnação é, por natureza, um trauma, destinado a promover uma ruptura das condições ambientais provocando um conflito existencial que pode ou não resultar numa modificação estrutural da personalidade existente.

Em síntese, se considerarmos os efeitos que o processo reencarnatório provoca na estrutura da personalidade  construida antes do nascimento, teremos um quadro bastante elucidativo. Dividamos o processo em três etapas, a partir do momento da concepção até a consolidação da encarnação, provavelmente aos 7 anos de idade física.







1a.etapa - período de desestruturação


Este período se caracteriza pela desestruturação da personalidade existente, isto é, aquela que o reencarnante construiu na encarnação anterior, com possíveis modificações no plano extrafísico .
Ao se iniciar o processo da reencarnação, ele é um ser adulto, com idéias, sexo e conceitos mais ou menos definidos. Dentro de 9 meses, todo esse acervo se concentrará, perdendo os delineamentos de memória para ser sintetizado num ser indefeso e impotente para realizar os mínimos exercicios de raciocínio e percepção consciente de si mesmo.
O chamado período de perturbação pré-natal, caracterizado pela perda da própria consciência,  é uma etapa de desestrutura essencial, mas não completa, da personalidade existente. Segundo O Livro dos Espíritos : À medida qie o momento do nascimento se aproxima, suas idéias se apagam, assim como as lembranças do passado do qual não tem mais consciência. ( questão 351)
Assim, desde o início da gestação até alguns meses após o nascimento, o Espírito está totalmente voltado para si mesmo, caracterizando o estágio narcisista, proposto por Freud.

2a.etapa - período de incorporação



O nascimento representa o mergulho do Espírito numa autêntica “caixa preta” saturada de emoção e latência, pois todo o acervo anterior é submetido a um processo de compactação.
 O choque do nascimento é    o ponto de ruptura do antes e do agora.
O agora, é uma situação de  angústia  pois, se existe uma obscura sensação de ser, isso de modo algum pode ser objetivado. A  infância, desde a criança recém-nata e por alguns anos, é o aprendizado do recomeço. Para dar um exemplo grosseiro,  é como alguém que tivesse um acidente vascular e perdesse a voz e o caminhar e tivesse que reaprender a fazê-lo. A integração da mente ao corpo se inicia de forma a possibilitar, no desdobramento do crescimento, condições de  percepção, seleção e coordenação progressiva de seu estar no mundo.



3a. etapa - período de reestruturação

Imediatamente após o nascimento, tem início o período de reestruturação, no qual o Espírito reencarnante começa seu efetivo relacionamento com o meio ambiente. Sua reestrutura mental vai depender dos cuidados externos, da psicoesfera familiar, além, evidentemente, das condições de higidez do organismo.

Nesse período, que pode ser estimado com duração até os sete anos da idade física, o reencarnante inicia o processo de estruturação da  personalidade adequada às novas condições que a encarnação lhe oferece.

A integração do Espírito ao seu corpo promove o conflito, não raro caótico, dos fluxos das experiências pregressas, estampadas na sua essência espiritual, com as exigências do presente, a partir da matriz materna e das pressões anbientais.


Buscará uma nova identidade e abandonará , ou  reprimirá, canalizando para o nivel de memória do corpo mental, as lembranças da antiga personalidade que, todavia, ressurgirão posteriormente, na adolescência, matizada pela reestrutura a que se submeteu neste período. Completada a reestruturação será instalado o ego corporal, isto é, a consciência de estar no mundo, como um ser novo.



CARACTERÍSTICAS  DAS PERSONALIDADES

Cada pessoa apresenta uma personalidade que  combinará, entrelaçará e exprimirá uma série de fatores principais e secundários, o que impossibilita a fixação absoluta de um tipo puro. Essa personalidade é resultado da forma como  estabeleceu seu modo de viver, isto é, como percebe, armazena, processa, elabora as pressões afetivas da família e do meio ambiente.

Na vida de relação, o indivíduo desenvolve em si mesmo, processos relativamente equilibrados ou condições mentais auto-destrutivas, em função da forma de como, progressivamente, recebeu e reagiu aos estímulos, desafios, decepções, fracassos e vitórias.

Nesse jogo de pressões, ele pode encontrar uma forma ativa, positiva ou encaminhar-se para situações negativas, seja resistindo aos apelos da própria evolução, seja produzindo um núcleo depressivo, maldoso, onde o sentimento, a sexualidade, a agressão natural se transmudam em comportamentos prejudiciais, violentos e pervertidos.

Embora cada pessoa tenha um caráter único, os diversos tipos de estrutura de caráter, podem ser  classificados em categorias ou tipos de personalidades, a partir de alguns sinais característicos  semelhantes.

Trata-se  de uma aproximação pois não seria possível encontrar  em todas as pessoas as mesmas características. Além disso,  ninguém é um tipo puro, mas como  vimos, cada um apresenta combinações, em variados graus, de formas de comportazmento.

Para caracterizar um tipo ou característica de personalidade, escolhem-se alguns fatores principais, que tipificam cada categoria e nela se incluem as personalidade que os possuem em grau principal.

Agressividade, inibições, sexualidade, exibicionismos entram no cômputo como características, entre tantos outras,  que compõem uma classificação.

Para estabelecer um quadro típico de personsalidades comuns, partimos do princípio de que cada um exprime suas características de agressividade, pela aplicação potencial  de sua força interior.

Nesse sentido, o grau de maturidade será medido conforme a aplicação dessa força interior é mais equilibrada, isto é, tem uma distribuição abrangente ou setorizada, de acordo com uma escala de variada intensidade, conforme as decisões do Espírito.

Para efeito de estudo e de reflexão, as características genéricas das personaldiades serão agrupadas em tipos, de acordo com o grau de maturidade alcançado.

De maneira nenhuma essas categorias sintetizam o grande mapa de caracteres humanos. Nelas, contudo, introduzi tipos de personalidades: as que têm relativa independência e as que estão, de uma ou de outra forma, dependentes das energias alheias. Como é compreensivel, é apenas um esboço, bastante imperfeito, mas que serve para a reflexão adequada ao presente trabalho.




PERSONALIDADES AFIRMATIVAS


Catalogamos como personalidades afirmativas, aquelas que, de maneira geral, possuem um grau de afirmação energética, que as faz agir de forma ativa e provocativa. Essas personalidades, entretanto, não possuem uma ação positiva, necessariamente. Podem ter  carisma, em variados níveis, e possuir faculdade de seduzir, inclusive  uma atmosfera magnética que atrai, aglutina e estabelece um laço de subordinação positiva ou negativa.
O fato de possuir uma personalidade afirmativa,  significa apenas que a pessoa exerce uma ação de saliência sem que, necessariamente,  tenha alcançado um grau de maturidade adequada, nem construído o “si mesmo”.
Em virtude disso, divideremos esse tipo, em dois subtipos: a personalidade afirmativa madura, e a personalidade afirmativa imatura .

PERSONALIDADE AFIRMATIVA MADURA -A personalidade afirmativa madura,  possui um eixo psicológico relativamente construido. Na estrutura mental, tem uma zona da sabedoria  expressiva, pois combina equilíbrio com ação Se possuír uma cota de equilíbrio razoável, exercerá uma ação positiva e mostrará acentuada tendência à liderança. A sexualidade é forte, mas canalizada produtivamente, em busca da ternura.

Essas pessoas têm  grande poder prático, combinando certa ansiedade e tensão que as impulsiona para resolução de problemas.. Muitas delas, combinam tudo isso com uma especial intuição ou percepção. Não significa que não possuam  sua zona problemática.  Mas esta é canalizada pelo seu empenho, trabalho e dedicação às causas que abraçam, tornando seu desempenho menos dificil.

Exercem o poder que lhes é conferido com  relativa parcimônia e serenidade. Se possuirem também empatia,  a capacidade de sintonizar ou  criar um elo espontâneo com  os interlocutores, poderão influir decididamente na vida dos outros.

Quando missionários usam esse carisma  para conduzir pessoas a caminhos de elevação. Se políticos transformam-se em estadistas ou lutadores pelo bem geral, da mesma forma quando se tornam líderes de classes. Eles  transmitem essa sensação de certeza e confiança.
.  .
.PERSONALIDADE AFIRMATIVA IMATURA - A personalidade afirmativa negativa, possue, da mesma forma, grande poder prático, combinando certa ansiedade e tensão que as impulsiona para resolução de problemas. Tem, igualmente, acentuada tendência à liderança  e um certo poder sedutor e se vale dele conscientemente. Como a zona da sabedoria é pouco expressiva, não alcançou a serenidade e a ansiedade é impulso para grangear  o poder, sob variadas formas.

 A zona problemática é bastante acentuada,   promovendo condutas individualistas, egoistas, quase sempre camufladas, contudo.  Em virtude desse conflito, podem cair no crime ou na corrupção de si mesmos. A sexualidade é usada como instrumento sensual, mais para seduzir do que para a busca do orgasmo ou da ternura.

Geralmente são pessoas  de boa energia, decididas e persistentes. Mas de  um baixo nível ético, que  podem facilmente manipular pessoas e coletividades, tudo sacrificando para alcançar seus objetivos pessoais.

 Podem possuir  carisma  e empatia., o que os tornam ídolos, de variada importância. São dessa categoria os fanáticos religiosos, líderes carismáticos e missionários ilegítimos, políticos inescrupolosos, líderes de várias classes. Dependendo de seus critérios, valores e evolução, podem descer a labirintos afetivos, conflitivos, de grande impacto sobre sentimentos de pessoas inseguras, que circundam em torno delas e que aspiram serem seduzidas por pessoas que se elegem ou são eleitas, para tarefas públicas, religiosas, sublimes ou crueis, de superação ou redenção.



PERSONALIDADES DEPENDENTES

Sob a designação de personalidades dependentes, reunimos os que, de uma ou de outra forma, não realizaram um amadurecimento próprio, permanecendo indecisos. inibidos ou sem desenhar um projeto pessoal. Devido a não existência de um “si mesmo” , de  eixo psicológico na personalidade que garanta a própria identidade, sua energia psíquica, a força interior, é aplicada de forma inadequada, setorizada, diluida. Não se concentram prioritáriamente em uma forma abrangente.

 Incluem-se nessa categoria, as personalidades cuja zona da sabedoria é pobre , sem conteúdos sedimentados. Por isso,  a zona problemática está repleta de condições indecisas, mistura de vaidades, vacuidade e sexualidade pouco resolvida.

Devido a essas deficiências, as personalidades dependentes, têm dificuldade de estabelecer uma identidade própria. Ou permanecem numa espécie de limbo existencial ou tendem a absorver personalidades alheias  tentando não apenas imitá-la,  mas vivenciá-las, incorporá-las alienadamente, com a renúncia da própria identidade, numa espécie de simbiose fantasiosa a distância, em que a pessoa passa a nutri-se psiquicamente da imagem do ídolo.

Vamos dividí-las em dois grupos. A personalidade susceptível e a personalidade “mariposa”.

PERSONALIDADE SUSCEPTÍVEL - Essa personalidade, é tipificada por converter a sensibilidade  em susceptibilidade, transformando-se em  personalidade doentia, disposta a aderir às formas de comportamento improdutivo. Essas pessoas, exigem, geralmente, grande atenção dos outros, exibindo problemas e ansiedades, Podem, também, quando possuem algum carisma ou empatia, tornarem-se simpáticas, pretendendo “entender “o problema do outro, sem ter, todavia, conteúdos sensiveis equilibrados. A sexualidade é, geralmente, pervertida, uma vez que a energia erótica é usada para mascarar a sensibilidade doentia.

Também são pessoas de grande insegurança, mas que exprimem, perante os outros, um caráter de bondade e aceitação, sem coragem para negar ou decidir ao contrário aos interesses alheios, na espectativa de serem amadas e aceitas. Por isso se envolvem  em processos afetivos, em que se desgastam e adoecem.

Possuindo um caráter susceptível, quando guindadas a posições de destaque nas artes, no esporte ou na vida comum, pelo talento, pelas  circunstâncias ou pelo próprio desejo de destaque pessoal, podem absorver como verdadeira, a idolatria dos outros, das massas ou que seja, superestimando sua realidade espiritual, psicológica, humana.

Usufruindo do poder ou da glória por tempo limitado, sofrem horrivelmente e caem em depressão, se drogam e chegam a suicidar-se, quando perdem os cargos, são deixadas de lado, já não atraem admiradores, contratos, envelhecem e deixam de receber considerações.

PERSONALIDADE “MARIPOSA”. Esse tipo se caracteriza por possuir uma baixa definição da  própria identidade. Isso significa que vive mais ou menos como apêndice de outras personalidades que, para elas, representam um ponto de irresistível atração. A sexualidade é difusa e não raro pervertida.

Possuem o  “complexo de mariposa”. Não tendo encontrado, ainda, seu próprio caminho, temerosas talvez de exercitar a própria independência, voejam, como as mariposas, em torno dos que brilham. São atraídas pelo sucesso dos outros, tentando compensar a inveja e projetar fantasias sobre quem estiver no momento no topo da fama ou do prestígio.

Na vida profissional , política, social e econômica se tornam os conhecidos puxa-sacos, os subservientes, que odeiam os superiores, mas que os servem como condição de falsa auto-estima. Na vida comum, são os que criam fãs-clubes, colecionam fotos e relíquias de artistas famosos, identificam-se com eles,  tomando-os como membros de sua família e se considerando como tal em relação a eles, o que lhes garante gratificação íntima, disfarçando o tédio e o vazio existencial.


 De modo geral são personalidades doentias, insatisfeitas, minadas pela inveja, pelo medo e pelo ódio, uma vez que escoam sua energia interior sem contrapartida satisfatória.

domingo, 6 de agosto de 2017

O Futuro do Espiritismo - por Alexandre Cardia Machado

Esta questão preocupou muito Allan Kardec, em seu caso, como ficaria o Espirtismo após a sua desencarnação. Também foi alvo e ação de Amélie Gabrielle Boudet, sua esposa que guardou, enquanto viveu, a coerência do espiritismo àquela época, mantendo o rigor na publicação da revista Espírita que já corria grande risco de miscigenação com outras práticas espiritualistas.

Mas embora preocupado, Karde possiuía uma sensação clara de que o Espiritismo prosperaria, muito pelo grande avanço e penetração que havia tido nos primeiros 10 anos. Se por um lado havia a certeza de que cresceria, por outro havia a dúvida de como manter a Doutrina dentro dos parâmetros, como controlar o seu avanço, além da vida encarnada de seus criadores?

A preocupação com o porvir, com as novas gerações não é novo. Vejam esta frase: “ Os jovens de hoje gostam do luxo. São mal comportados, desprezam a autoridade. Não tem respeito pelos mais velhos, passam o tempo a falar em vez de trabalhar. Não se levantam quando um adulto chega. Contradizem os pais, apresentam-se em sociedade com enfeites estranhos”. Bem, nada animador, não é verdade? Esta frase é atribuída a Socrates o filósofo grego que a teria proferido há 2400 anos atrás. Portanto a dúvida é permanente, dá-se a isto o nome de anacronismo. Todos sabemos que as gerações que sucederam os gregos do quarto século antes de Cristo foram mais bem sucedidos que os da época de Socrates. Socrates foi professor de Platão, este de Aristóteles e Aristóteles de Alexandre o grande, que criou o primeiro grande Império no mundo ocidental.

Existe uma grande verdade no universo, é que tudo muda o tempo todo, gostemos ou não. Agora é possível pensar e agir para que uma ideia boa, uma doutrina importante não desapareça, foi assim que pensou Allan Kardec e o deixou por escrito. Tendo sido publicado, muito depois de sua morte no livro Obras Póstumas. Kardec dedica um capítulo   “ Meu Sucessor”. Trata-se que uma conversa com um espírito ocorrida na casa de Kardec.

“22 de dezembro de 1861 -  médium: Sr. d’A
Tendo uma conversação com os Espíritos levado a falar do meu sucessor na direção do Espiritismo, formulei a questão seguinte:

Pergunta — Entre os adeptos, muitos há que se preocupam com o que virá a ser do Espiritismo depois de mim e perguntam quem me substituirá quando eu partir, uma vez que não se vê aparecer ninguém, de modo notório, para lhe tomar as rédeas. Respondo que não nutro a pretensão de ser indispensável; que Deus é extremamente sábio para não fazer que uma doutrina destinada a regenerar o mundo assente sobre a vida de um homem; que, ao demais, sempre me avisaram que a minha tarefa é a de constituir a Doutrina e que para isso tempo necessário me será concedido. A do meu sucessor será, pois, mais fácil, porquanto já achará traçado o caminho, bastando que o siga. Entretanto, se os Espíritos julgassem oportuno dizer-me a respeito alguma coisa de mais positivo, eu muito grato lhes ficaria.

Resposta — Tudo isso é rigorosamente exato — eis o que se nos permite dizer-te a mais. Tens razão em afirmar que não és indispensável; só o és ao ver dos homens, porque era necessário que o trabalho de organização se concentrasse nas mãos de um só, para que houvesse unidade; não o és, porém, aos olhos de Deus. Foste escolhido e por isso é que te vês só; mas, não és, como, aliás, bem o sabes, a única entidade capaz de desempenhar essa missão. Se o seu desempenho se interrompesse por uma causa qualquer, não faltariam a Deus outros que te substituíssem. Assim, aconteça o que acontecer, o Espiritismo não periclitará. Enquanto o trabalho de elaboração não estiver concluído, é, pois, necessário sejas o único em evidência: fazia-se mister uma bandeira em torno da qual pudessem as gentes agrupar-se. Era preciso que te considerassem indispensável, para que a obra que te sair das mãos tenha mais autoridade no presente e no futuro; era preciso mesmo que temessem pelas conseqüências da tua partida. Se aquele que te há de substituir fosse designado de antemão, a obra, ainda não acabada, poderia sofrer entraves; formar-se-iam contra ti oposições suscitadas pelo ciúme; discuti-lo-iam, antes que ele desse provas de si; os inimigos da Doutrina procurariam barrar-lhe o caminho, resultando daí cismas e separações. Ele, portanto, se revelará, quando chegar o momento. Sua tarefa será assim facilitada, porque, como dizes, o caminho estará todo traçado ...

Pergunta — Poderás dizer-me se a escolha do meu sucessor já está feita?

Resposta — Está, sem o estar, dado que o homem, dispondo do livre-arbítrio, pode no último momento recuar diante da tarefa que ele próprio elegeu. É também indispensável que dê provas de si, de capacidade, de devotamento, de desinteresse e de abnegação. Se se deixasse levar apenas pela ambição e pelo desejo de primar, seria certamente posto de lado.

Pergunta — Freqüentemente se há dito que muitos Espíritos encarnariam para ajudar o movimento.
Resposta — Sem dúvida, muitos Espíritos terão essa missão, mas cada um na sua especialidade, para agir, pela sua posição, sobre tal ou tal parte na sociedade. Todos se revelarão por suas obras e nenhum por qualquer pretensão à supremacia.”

O Espiritismo seguiu, modificou-se uma corrente ficou mais religiosa, outra mais filosófica.
Também temos receio do que acontecerá com nosso movimento livre-pensador, não vemos muitos jovens. Tememos que termine em 20, 30 anos. Mas a análise da história nos permite dizer que prosperará, encontraremos formas de chegar aos mais jovens, certamente aparecerão muitas coisas diferentes, novas mideas, novas formas de atingí-los.

Este é o grande desafio do momento, penetrar na mente e no coração dos mais jovens, trazê-los para as ações espíritas, em nosso grupo, em especial,  para o pensar espírita.

Alexandre Cardia Machado é engenheiro, Chefe de Redação do jornal Abertura e reside em Santos, SP.

texto originariamente publicado no Jornal Abertura de Julho de 2017.


quinta-feira, 13 de julho de 2017

Afinal, para que serve o discurso espírita? E a moral de Jesus de Nazaré? por Roberto Rufo

Afinal, para que serve o discurso espírita? E a moral de Jesus de Nazaré? por Roberto Rufo

“A moral dos espíritos superiores se resume, como a do Cristo, nesta máxima evangélica: agir para com os outros como quereríamos que os outros agissem para conosco; quer dizer, fazer o bem e não fazer o mal. ( Allan Karde, Introdução ao Livro dos Espíritos ).

“Como se pode definir a justiça? ( pergunta 875 L.E. )? A justiça consiste no respeito aos direitos de cada um, respondem os espíritos”.

 Imaginemos as seguintes situações, a primeira delas um alto executivo de uma multinacional tendo que tomar decisões que concorrem para o futuro da empresa onde trabalha pressionado pela concorrência ; a segunda delas um líder político com a oportunidade de vender US$ 110 bilhões de dólares em armamento a um parceiro aliado, mesmo que esse aliado seja um país onde vigora uma ditadura. A terceira delas a de um líder popular, geralmente um populista de esquerda ou direita e que necessita de uma ótima quantia monetária para dar andamento aos seus sonhos de poder.

Arrisco a dizer que nenhum deles levará em conta qualquer preceito ético defendido pelo Espiritismo, e muito menos qualquer viés da moral ensinada por Jesus de Nazaré.  

Certa ocasião, há pelo menos vinte anos atrás, quando iniciávamos uma mudança de gestão na empresa, foi contratada uma consultoria para nos situar no que se chamava de Gestão Empresarial Moderna. Lá pelas tantas um funcionário que poderíamos chamar de cristão, se contrapôs a um dos”ensinamentos”dizendo que Jesus Cristo não concordaria com aquela posição conceitual apresentada pela consultoria. Na hora foi severamente admoestado pelo professor líder  “aqui não vamos discutir religião, aqui estamos tratando de negócios”. O rapaz falava apenas de moral.
Num tempo mais recente, o pensador espírita Milton Rubens nos falou de algo preocupante que ocorreu nos dias atuais, que foi a separação do que é campo próprio das ”religiões” e aquilo que pertence às ciências, sejam elas de que matizes forem. Com isso o Espiritismo também ficou nessa amarra de ter o seu conteúdo aprisionado nas religiões.

Portanto, nas decisões empresariais ou políticas, o materialismo que eu chamo de funcional, alicerçado na segunda metade do século XX, é a pedra de toque do século XXI, dominado pelo materialismo, do qual Kardec tinha verdadeiro pavor. Pode até ter crescido o número de seitas evangélicas, todavia seus dirigentes são materialistas ao cubo. 

Quem já teve a oportunidade de ler o livro ”A peste” do escritor argelino Albert Camus, ele aventava o perigo do crescimento da xenofobia e das revoltas populistas diante do perigo do fascismo e do stalinismo. A maior das guerras tinha deixado um gosto amargo nos intelectuais da época. Através de um de seus personagens ele alerta que o bacilo da peste não morre nem desaparece nunca. Pode ficar adormecido por dezenas de anos esperando pacientemente o momento adequado para acordar seus ratos para perturbar a sociedade. O Brasil passa por um desses momentos. Os ratos dominam os discursos. Pessoas como o recém falecido Antônio Cândido são figuras inexistentes nos tempos atuais onde tão somente o dinheiro define a escolha empresarial, o ato político e os sonhos de poder.
Confiemos nos espíritos, pois ao mesmo tempo que nos falam que o orgulho e o egoísmo são o maior obstáculo ao progresso, nos alegram ao dizer que o estado de coisa onde o mal parece dominar mudará à medida que o homem compreenda melhor que há, fora dos prazeres terrenos, uma felicidade infinitamente maior e infinitamente mais durável. A esperança num comportamento equilibrado, fruto do aprendizado na razão progressista e evolutiva parece ser o antídoto para eliminar a sensação de impotência que passamos a ter nas atitudes íntegras e sinceras.  

O discurso espírita e a moral de Jesus de Nazaré não devem ser jogados na lata do lixo. Eles são a solução.



                                                                                                                     Roberto Rufo.

sábado, 8 de julho de 2017

Não existem duas pessoas iguais por Alexandre Cardia Machado


Não existem duas pessoas iguais

Se pararmos para pensar, não existem mesmo, nem mesmo gêmeos univitelíneos são iguais, portanto a regra geral para  humanidade é, somos todos diferentes.

Ora, se somos todos diferentes por que estamos o tempo todo discutindo, brigando, querendo convencer outras pessoas a serem iguais a nós, a pensarem da mesma forma que pensamos?

Porque todos nós, seres humanos, nos acostumamos a enxergar padrões, buscamos semelhanças, nosso cérebro foi treinado durante gerações a buscar estes padrões, eliminando ou não levando em considerações muitas informações secundárias, focando na semelhança. Esta forma de pensar, parece ter sido capaz de nos fazer evoluir, pois nos ajuda a identificar riscos, é a tal regra de aprendizado conhecida como tentativa e erro, ao enfrentarmos uma situação semelhante onde tivemos insucesso tenderemos a mudar o comportamento para não errar novamente.

Isto foi também muito útil no desenvolvimento da cultura pré-histórica, mas com o desenvolvimento da civilização, novos componentes passaram a surgir com muito mais frequência, como a convivência multiracial ou multicultural. Não preciso nem comentar que nem sempre funcionou muito bem esta relação. Logo surgiram conflitos e a valorização de outros instintos humanos como o de enfrentar ou fugir, povos se degladiaram por riquezas, para apoderar-se da riqueza gerada pelo grupo rival, logo um grupo diferente, em alguns casos os vencedores matavam todos os rivais, em outros os escravizavam e em poucos casos os absorviam. Toda esta herança cultural nos chega através dos atuais preconceitos socias.

Excluíndo as ditaduras que cerceiam as liberdades individuais tais como: crenças, culturas, ou comportamentos, nos dias de hoje, no mundo livre, vivemos um momento historicamente muito importante que é o da busca pela aceitação das diferenças. As grandes empresas possuem políticas internas de inclusão, ninguém deve ser preterido, escolhido ou julgado por razões de sexo, raça, paixão clubística, convicção política ou religiosa, em contra partida ninguém deve expressar-se fortemente, no trabalho sobre estes pontos. Busca-se um meio termo que permita a convivência tranquila com as naturais diferenças.

Trago este assunto por que, logo após o resultado das eleições para Presidente da República, no Brasil surgiu uma forte confrontação nas mídias sociais eletrônicas, ideias separatistas, que em nada contribuem para o crescimento harmônico de nossa nação. Em uma eleição sempre alguém ganha e alguém perde, isto é da natureza do processo democrático.

Aos vencedores cabe o trabalho de reaglutinar as forças de oposição às que lhe suportam com vistas ao bem comum. O grande movimento de acensão da classe C no Brasil demonstra que posições políticas também mudam, o que era bom há quatro anos atrás talvez já não seja hoje tão bom, por isto o equilíbrio de forças que vimos neste pleito. Mais uma vez conviver com as diferenças, encontrando pontos em comum deverá ser o grande desafio. Se somos todos diferentes, ao mesmo tempo também somos todos humanos e isto nos iguala.

O que diferencia uma empresa de um país é o objetivo, na empresa está muito claro e todos focam suas ações em atender o que a empresa entende que seja este objetivo, quer seja vender um produto ou prestar um ou vários serviços. Para a Nação, cabe ao estadista eleito capitalizar as intenções de seu povo em uma determinada direção, para isto claro ouvindo o cliente, que nada mais é que o próprio povo.

Como espíritas acreditamos no progresso individual e da socidade, devemos ombrear os esforços para aceitação das diferenças, sempre que mantido o respeito às Leis Morais ou Naturais.
Publicado no jornal ABERTURA em Novembro de 2014

sexta-feira, 7 de julho de 2017

É possível ser livre-pensador espírita? por Alexandre Cardia Machado

É possível ser livre-pensador espírita?

Muitos de nós já nos fizemos esta pergunta, seria possível ser livre-pensador espírita? O fato de nos auto denominarmos espíritas, já não trás consigo uma série de restrições ao pensamento?
Tentando responder esta inquietação, poderíamos pensar que ter o pensamento livre nos permite ir além dos conceitos originais da Kardequiana, comparar o que foi dito e pesquisado, ao tempo de Kardec, com os avanços das diversas áreas do conhecimento humano atuais. Podemos também incoporar novos ensinamentos espirituais, desde que façam sentido.

Ser livre-pensador é não aceitar amarras, outras que não sejam as do limite da razão, é questionar o até então considerado verdade, buscando sempre um novo aprofundamento, uma nova abordagem, ou mesmo uma nova aplicação para um determinado conhecimento.

Trazer novos conhecimentos, para o âmbito do Espiritismo, nos torna Livre-Pensadores Espíritas. A espiral do saber não para nunca, quando algo novo é descoberto, volta-se ao que sabíamos antes e por obrigação, devemos repensá-lo, este é o método científico. A cada evolução de instrumentos de medição, de métodos de estudos, de novos estudos publicados, outras pessoas podem apoiar-se sobre este conhecimento e fazer novas perguntas, novos testes, enfim aprimorar o conhecimento até então dominado sobre uma área de saber.

Esta sistema de perguntar e testar as respostas é o que produz o conhecimento, as perguntas movem o mundo, através de novas respostas. Isto acontece em todas as áreas. Esta é a razão principal de Allan Kardec escrever, no livro a Gênese que: “Assimilará as idéias reconhecidamente justas, de qualquer ordem que sejam físicas ou metafísicas. Pois não quer ser jamais ultrapassada, constituindo isso uma das principais garantias de credibilidade”.

Ser livre-pensador é ser questionador, inconformado, ser culto, integrado, atualizado, ser livre-pensador é ser progressista por natureza, pois estaremos sempre pensando em coisas novas, novas perspectivas, um novo olhar.

Estas considerações, não se restringem apenas ao aspecto científico, vale para tudo, para uma análise social, para uma abordagem poética, não importa. O mundo muda o tempo todo, os conceitos evoluem, novos problemas éticos surgem e merecem uma nova observação e um novo pensamento sobre eles.

Aqui está a beleza, a estética de uma Doutrina em permanente mutação. Mudanças estas que devem ser feitas observadas algumas condições que permitam a formulação deste pensamento livre e isto seria através do método científico. Recorro a Reinaldo di Lucia, em seu trabalho “ EPISTEMOLOGIA E CIÊNCIA ESPÍRITA - Contribuição para Debate” donde extraio:

“Assim, podemos definir os princípios do moderno método científico:

- A experimentação, através da qual se pode comprovar ou não a teoria, e que permite a repetição por qualquer cientista convenientemente aparelhado.

- A universalidade, isto é, a confirmação dos experimentos em diversos locais por diversos cientistas.

- O critério de falseabilidade, que permite que uma teoria possa ser falseável, para que possa, também, ser convenientemente demonstrada.

- A quantificação, que permite uma delimitação precisa do "até onde" podemos considerar válida a teoria. A partir da definição do princípio da incerteza, esta quantificação passou a incluir, necessariamente, critérios estatísticos.

Seguir estes passos, garantem ao menos uma ordem, um processo facilmente reproduzível, explicável, e vale, como já mencionamos, para todos os aspectos do conhecimento.

Assim voltando à questão de ser Livre-pensador Espírita, sim, temos limites metodológicos e de princípios. Pois se ao estudarmos, refletirmos, venhamos a mudar algum ponto central do Espiritismo, alteraremos tanto a Doutrina que ela necessariamente passaria a ser outra coisa. Agora se este princípio central se demonstrar errado, não haveria outro caminho a seguir senão denunciá-lo, pois não poderíamos admitir um erro central no Espiritismo, pelo medo de balançar as estruturas. Este risco tem que estar presente sempre, pelo bem do progresso do conhecimento. Este seria quem sabe exatamente este ponto que diferencia o Espiritismo de uma religião.

Este risco é intrínseco ao Espiritismo, desde a sua fundação, pois Kardec o considerava progressivo: do trabalho do ICKS - Pode o Espiritismo ser considerado Ciência da Alma?  Uma análise epistemológica da  proposta do pensador espírita Jaci Régis


“Porque já dizia que o Espiritismo terá que estar alinhado ao desenvolvimento das ideias que contribuem para o melhor entendimento do homem.
É progressista porque atendendo os anseios da alma que está em evolução acompanhará as mudanças e crescimento para atender os seus conflitos, problemas, respondendo as suas inquietações.

As regras de moralidade e as relações sociais e interpessoais progridem e a ciência da alma terá que interagir com estas mudanças, influindo e sendo influenciada para que siga progredindo.”
Este caráter de progresso atende a lei de progresso e é sustentado por Kardec na criação da Doutrina Espírita num de seus postulados como coloca Jaci no livro Doutrina Kardecista “é capaz de superar os entraves contextuais e projetar-se para o futuro, porque teve a sabedoria de abrir o caminho para o progresso, de tal forma que seria capaz de reciclar-se, aceitando as novas idéias e mudar o que fosse necessário para não imobilizar-se, que seria, disse, o suicídio da doutrina”.

Reafirmado no livro A Gênese “Um último caráter da revelação espírita, a ressaltar das condições mesmas em que ela se produz, é que se apoiando em fatos, tem que ser, e não pode deixar de ser, essencialmente progressiva, como todas as ciências de observação...”

Portanto, ser Livre-Pensador Espírita obriga a pensar com responsabilidade, visando o aprimoramento e atualização de uma Doutrina que tem a capacidade de abrir um caminho para o engrandecimento da sociedade, de uma maior compreensão da sua imoratalidade dinâmica.
O jornal Opinião de Porto Alegre publicou em sua última edição de Janeiro/Fevereiro um artigo denominado “Os Espíritas são Livres-Pensadores” de onde extraio uma frase muito interessante de Allan Kardec “ O Livre-pensamento eleva a dignidade do homem, dele fazendo um ser ativo, inteligente, em vez de uma máquina de crer”.

Recorro a Allan Kardec, que na revista Espírita no ano de 1867 escreve um artigo denominado “ Livre Pensamento e Livre Consciência” que foi analisado aqui no ABERTURA na coluna Revista Espírita em Foco de Julho de 2016, lá Kardec assim se refere “ é o Espiritismo, como pensam alguns, uma nova fé cega substituíndo a outra fé cega? Por outras palavras, uma nova escravidão do pensamento sob nova forma? Para o crer, é preciso ignorar os seus primeiros elementos. Com efeito o Espiritismo estabelece como princípio que antes de crer é preciso compreender. Ora, para compreender há que usar o raciocínio ... Não se impõe a ninguém; diz a todos: Vede, observai, comparai e vinde a nós livremente, se vos convier”. Acredito que o que precisa ser dito está mais do que exposto.

Alexandre Cardia Machado




quinta-feira, 25 de maio de 2017

Sobre a vida em Jupiter, segundo a Revista Espírita de 1858 - por Alexandre Cardia Machado

Sobre a vida em Jupiter, segundo a Revista Espírita de 1858


Existe um parágrafo inteiro descrevendo as características dos habitantes de Júpiter. Na Revista Espírita (RE) no ano de 1858, em diversas edições. Aqui só destacarei alguns deles:
-          “ Enquanto nós rastejamos penosamente na Terra, o Habitante de Júpiter se transporta de um a outro lugar, deslizando pela superfície do solo, quase sem fadiga, como o pássaro no ar ou o peixe na água”;
-          “ a alimentação é formada de frutas e plantas”

 Allan Kardec recebe um comunicação e a publica, sobre esta comunicação Kardec, faz a seguinte referência:

“ignoramos onde e quando se realizaram, não conhecemos o interpelante, nem o médium, somos completamente estranhos a tudo isso...entretanto é notável a perfeita concordância ...”

-          “ 25 – nosso globo terrestre é o primeiro desses degraus, o ponto de partida, ou vimos ainda de um ponto inferior?
-          Há dois globos antes do vosso, que é um dos menos perfeitos.
-          “ 26 – qual o mundo que habitas? Ali és feliz?
-          Júpiter. Ali desfruto de uma grande calma; amo a todos os que me rodeiam. Não temos ódio.”
- “ ... No planeta Júpiter, onde habito, há melodia em toda parte: no murmúrio das águas, no ciciar das folhas, no canto do vento; ...”


Em outro número da RE do mesmo ano – Agosto de 1858 “A propósito dos desenhos de Júpiter” - Nesta edição Kardec publica o desenho da “famosa casa de Mozart” feita em agua forte – gravada em uma placa de cobre por um médium que não sabia desenhar, nem gravar. Kardec ressalva “ora, como fato de manifestações, estes desenhos são, incontestávelmente, os mais admiráveis, desde que se considere que o autor não sabe desenhar, nem gravar, e ...mesmo que esse desenho seja uma fantasia do Espírito que o traçou, o simples fato de sua execução, não seria um fato menos digno de atenção...”

Análise crítica deste conjunto de textos:

As naves espacias  Pionner no início da década de 80,  as Voyagers, na década de 90, a sonda Galileu, no final da década de 90 e a recente passagem da nave New Horizon que se encaminhava a Plutão nos enviaram fotos fantásticas em diversos comprimentos de onda dos planetas externos do sistema solar, nos revelaram a existência dos anéis de Júpiter e suas 67 Luas.

Sabemos hoje que Júpiter não tem superfície, trata-se de um planeta gasoso, muito massivo, mas com a densidade ¼ da terrestre.
Alguns cientistas admitem que o núcleo do planeta possa ser formado por um líquido altamente pressurizado, formado por Hidrogênio e Hélio.
Com o exposto acima não acreditamos que Mozart pudesse ter uma casa, como desenhada na “Revue”, em um planeta sem superfície sólida.
Jupiter trata-se de um planeta gasoso e portanto insistir na justificativa da existência desta casa seria chover no molhado, todas estas publicações só poderiam ser oriúndas de um Espírito pseudo-sábio.


Para abrir a sua mente: Kardec, Allan – Revista Espírita – Jornal de Estudos Psicológicos Editora EDICEL SP- Brasil– 1858


sexta-feira, 12 de maio de 2017

O Laço Mental - Alexandre Cardia Machado

O Laço Mental




Krisnamurti de Carvalho Dias no seu livro O Laço e o Culto fala sobre a religião como um laço, uma união entre pessoas que comungam da mesma ideia.

Muitas vezes nos perguntam se o jornal ABERTURA tem uma pauta, uma reunião de definição de assuntos que devem ser escritos. A verdade é que isto não existe, temos sim em muitas edições um laço mental entre os articulistas.

Esta edição é uma delas, temos dois artigos que tratam profundamente do livre-pensamento, um de nosso editor Alexandre Machado e outro de Ricardo Nunes, na coluna do CPDoc. São artigos que se complementam e ajudam a propagar nossa maneira de pensar o mundo.

Reinaldo di Lucia tem seu trabalho, apresentado no SBPE em 1995 citado no editorial abaixo e também parcialmente reproduzido na coluna Espiritismo para o Século XXI.

Roberto Rufo, na coluna Fato Espírita comenta o livro Revolução Espírita de Paulo Henrique de Figueiredo, este que estará em Santos em Março no 12° Forum do Livre-Pensar da Baixada Santista, vejam os detalhes na capa do Abertura.

Creio que estas coincidências, são na verdade união de pensamento, demontra a força de nosso pensamento plural, livre-pensador. Na página 8, Roberto Rufo aborda a questão do preconceito de cor algo que ao tempo de Kardec, já haviam algumas considerações, mas que nos dias de hoje, todo este modo de ver e pensar foi atualizado e o Espiritismo não pode ficar para trás. Hoje nosso grupo enfrenta de frente todo e qualquer ataque à liberdade do ser humano.

Esta força plural, aberta, nos motivou a mudar um pouco nosso logotipo, queremos reforçar a ideia de abertura de pensamento e de pluralidade. Nosso jornal tem o subtítulo Jornal de Cultura Espírita o que nos impulsiona para a necessidade de nos abrirmos aos fatos. Tem também em sua barra azul a frase Espiritismo – Ciência da Alma, pois o que importa mais ao espiritismo são as coisas que afetam o ser humano e sua alma encarnada.

Já temos hoje um conjunto de ideias estabelecidas que cada vez mais nos aprofundamos, buscando com isto desenvolver o progresso do Espírito, foco da Ciência da Alma. O nosso movimento progressista já é um segmento separado do Espiritismo à Brasileira, somos um grupo que trabalha, dedica-se a ratificar a ideia de um Espiritismo Livre-Pensador.

NR: Artigo publicado no Jornal Abertura - Janeiro/Fevereiro de 2017


quinta-feira, 4 de maio de 2017

Kardec e os desertores - por Eugenio Lara

KARDEC E OS DESERTORES, por Eugenio Lara

Nota do Redator: Destacamos neste mês o trabalho apresentado por Eugenio Lara, em 2013 no 13° Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita, Lara ressalta a dificuldade de manter alinhadas as diversas personalidades que participaram da construção do Espiritismo.

Daremos ênfase a dois sub-capítulos, esperamos capturar o sua atenção e para a leitura do trabalho completo é só visitar o blog do ICKS. Fiquem com Eugenio Lara


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Nos últimos escritos de Allan Kardec, podemos observar sua preocu-pação para com os rumos do Espiritismo, com os desertores, com as divi-sões que o incomodavam. Segundo ele: “Se todas as grandes ideias tiveram apóstolos fervorosos e devotados, mesmo nas melhores tiveram desertores. Não poderia o Espiritismo escapar às consequências da fraqueza humana”. (Os Desertores, em Obras Póstumas). Neste texto, o fundador do Espiritismo desenvolve interessante caracterização dos vários tipos de desertores:

1. Os primeiros desertores consideravam o Espiritismo apenas como divertimento, passatempo, distração social. No século 19, com o modismo das mesas girantes ou dançantes, o Espiritismo como fenômeno ocupava o tempo da elite nos salões parisienses, atraindo a curiosidade e o interesse pelo oculto. No entanto, quando essas mesmas pessoas viram que o Espiritismo era algo sério e não simples objeto de entretenimento, se afastaram.

2. Na segunda categoria se inserem os que viam no Espiritismo uma forma de ganho pessoal, um negócio vantajoso. Seu desejo era obter dos espíritos informações que lhes desse algum tipo de benefício: ganhar na loteria, achar algum tesouro escondido etc. qualquer tipo de vantagem material, pecuniária. Porém, logo se afastaram quando perceberam que o Espiritismo emergia como ciência e filosofia, como uma doutrina séria, racional e, portanto, jamais se prestaria aos seus interesses frívolos. “É destes que se constitui a categoria mais numerosa dos desertores, mas vê-se perfeitamente que não se pode, conscienciosamente, qualificá-los de espíritas”, conclui Kardec.

3. A terceira categoria se caracteriza pela ação dos espíritas de contrabando (spirites de contrebande): “Pregam a união e semeiam a cisão; atiram ardilosamente à arena questões irritantes e ofensivas; excitam a rivalidade de preponderância entre os diferentes centros.” A única utilidade dessa categoria de desertores foi a experiência obtida: “Ensinaram o verdadeiro espírita a ser prudente, circunspeto e não se fiar nas aparências.”

4. E por último, aqueles espíritas que, por divergirem do Espiritismo, se afastaram e seguiram outro caminho. Allan Kardec os divide em dois tipos: a) Os que são guiados pela sinceridade e b) Os que são guiados pelo amor-próprio.

Os primeiros não podem ser considerados desertores porque têm o pleno direito de divergir e buscar outro caminho, pois são sinceros e guiados “pelo desejo de propagar a verdade”.
Quanto à segunda subcategoria, Kardec é bem claro e incisivo: “Seus esforços tendem unicamente para se porem em evidência e captarem a atenção pública, satisfazendo seu amor-próprio e seu interesse pessoal.”

O fundador do Espiritismo enfrentou todo tipo de desertor, desde o mais frívolo até o mais preparado. Essa categorização é fruto da experiência, de seu olhar perspicaz e observador, podendo inclusive ser aplicada na aná-lise do movimento espírita contemporâneo.

O caminho apontado por Kardec para a superação dos conflitos e da rivalidade entre grupos e pessoas é moral, ético: “Espíritas! Se quiserdes ser invencíveis, sede benevolentes e caritativos. O bem é uma couraça contra a qual sempre se anulam as manobras da malevolência.” E, para finalizar, não deixa de lado seu ufanismo e o otimismo exagerado ao ver o intenso desenvolvimento do Espiritismo num curto espaço de pouco mais de dez anos: “A vulgarização universal do Espiritismo é questão de tempo, e, neste século, o tempo caminha a passos de gigante, sob o impulso do progresso”.

Allan Kardec era um homem prático, empreendedor. Ele apontou um caminho moral, ético, mas não se limitou a esse discurso. Ciente da força filosófica do Espiritismo e de sua capacidade de penetrar no âmago das consciências, propôs o Projeto 1868. Publicado inicialmente na Revista Es-pírita (dezembro de 1868) e posteriormente ampliado, em Obras Póstumas, Kardec estabelece nesse texto parâmetros seguros a fim de que as inevitáveis cisões e deserções pudessem comprometer o futuro do Espiritismo, como veremos a seguir.

CHEFE COLETIVO

Allan Kardec tinha plena consciência de que as fraquezas humanas não poderiam ser ignoradas em se tratando do futuro do Espiritismo, tanto que elaborou o Projeto 1868 com a intenção de neutralizar sua ação insidiosa.

A fim de evitar dissidências, procurou dotar o Espiritismo de uma linguagem aberta, objetiva, que desse pouca margem a interpretações. Precisão e clareza foram dois critérios adotados por ele na elaboração de toda a Kardequiana: “Podem formar-se, paralelas à Doutrina, seitas que não adotem os seus princípios, ou todos os seus princípios, mas não dentro da Doutrina por questões de interpretação do texto, como se formaram tantas pelo sentido que deram às próprias palavras do Evangelho. É este um pri-meiro ponto, de importância capital”.

Manter-se no círculo das ideias práticas, deixando de lado teses utópicas que poderiam ser rejeitadas por homens positivos e abrir as portas doutrinárias ao progresso do conhecimento foram outros dois critérios bem definidos pelo fundador do Espiritismo.

Kardec propõe em detalhes a criação de um comitê central dirigente, gestor, encarregado de manter a unidade doutrinária e o caráter progressivo do Espiritismo, sempre sob a responsabilidade exclusiva dos encarnados: “Que os homens se contentem em ser assistidos e protegidos pelos bons Espíritos, mas não descarreguem sobre eles a responsabilidade que lhes cabe como encarnados”.

Esse comitê central teria suas ações controladas por assembleias ge-rais, congressos, a fim de desempenhar o papel de “chefe coletivo que nada pode sem o assentimento da maioria.” A proposta kardequiana fundamenta- se em ações de caráter democrático, sem esquemas hierarquizantes e centralizadoras.

O mais interessante de sua proposta é a relação libertária desse comitê central com os grupos espíritas, que funcionariam num esquema de au-togestão, de independência e liberdade de ação, como células autônomas, cada qual com sua forma peculiar de organização, porém fiel aos princípios doutrinários aceitos por todos, princípios estes que Kardec não pôde finalizar em razão de sua súbita desencarnação.


O profundo respeito à liberdade de pensamento, a tolerância e a alteridade não poderiam ficar de fora, fatores que nos conduzem ao respeito por todas as crenças: “Se estou com a razão, os outros acabarão por pensar como eu; se estou errado, acabarei por pensar como os outros. Em virtude desses princípios, não atirando pedras em ninguém, não dará pretexto a represálias e deixará aos dissidentes toda a responsabilidade de suas palavras e de seus atos”. 

segunda-feira, 1 de maio de 2017

Uma dor que parece não ter fim por Roberto Rufo

Uma dor que parece não ter fim - Roberto Rufo e Silva



" O Maior é o que serve " . ( Jesus de Nazaré ) .


                                                       " Não é tudo dizer ao homem que ele deve trabalhar , é preciso ainda que aquele que espera do seu labor encontre em que se ocupar, e é o que nem sempre ocorre " ( comentário de Allan Kardec à pergunta 685 ).

                                              O Brasil já tem 14,2 milhões de seres humanos à procura de uma vaga de emprego , praticamente o equivalente à população dos Estados de Pernambuco, Sergipe e Piauí juntos . A taxa de desemprego alcançou a marca recorde de 13,7% no trimestre encerrado em Março/2017.

                                              Isso se deve à péssima gestão econômica de bandidos travestidos de políticos que assaltaram o poder nas esferas municipal , estadual e federal e que hoje se traduz em dor e sofrimento para milhares de famílias.

                                            " Quando a suspensão do trabalho se generaliza, toma as proporções de um flagelo como a miséria " . ( comentário de Allan Kardec à pergunta 685 ) . Agora assistimos na televisão os delinquentes culpando uns aos outros pela grave situação . Assumir responsabilidades nunca foi o forte deles . Falta-lhes a educação que consiste na arte de formar caracteres e com isso adquirir hábitos de pensar no próximo como um ser que merece atenção e respeito.

                                                                                                                                           Roberto Rufo .