“É muito difícil para uma mulher que vive uma situação violenta denunciar” ( ONG Casa del Encuentro – Argentina ) “Deus deu ao homem e à mulher a inteligência do bem e do mal e a faculdade de progredir” ( Livro dos Espíritos – Pergunta 817 )
A manchete do jornal “A Tribuna” de
Santos, por si só já espelha a tragédia vivida pelas mulheres em nosso
continente:
“Feminicídio em alta causa dor e envergonha a
América Latina”. E aí aparecem os números estarrecedores de mortes das mulheres
latino-americanas: uma morte a cada 31 horas na Argentina; 15 por dia no Brasil
e quase 2 mil por ano no México. Foram criadas leis para evitá-las, mas o
número de crimes de gênero continua alto.
O interessante nisso tudo, para não dizer lamentável,
é que em sua maioria são crimes cometidos por homens jovens ou de meia idade,
que são de uma geração participante da liberação sexual e dos costumes. No
entanto, continuam a ver nas mulheres uma propriedade sua. Aliado ao fato de
que as mulheres adquiriram, e isso é muito bom, o direito de dizer não quando algo lhe desagrada na
relação, indo até mesmo à separação, se julgar necessário . No passado, as
mulheres da geração da minha mãe, por exemplo, não tinham essa ousadia de se
afirmar como seres pensantes e participativos. Aí reside o problema e a
desgraça para muitas mulheres.
Os senhores do sexo masculino não assimilaram a
batalha cultural que as mulheres tiveram que lutar para se afirmarem como seres humanos plenos. Quando elas
manifestam sua independência, muitos não aceitam por se julgarem donos dessa mulheres.
A deputada Gabriela Alegre, da cidade de Buenos Aires, diz que esse
problema não se resolve apenas com a legislação e a penalização, mas é preciso,
segundo ela, enfrentar uma mudança cultural e apontar para a educação.
Allan Kardec, na pergunta 818 do Livro dos Espíritos,
indaga de onde se origina a inferioridade moral das mulheres em certos países?
A resposta pode ser estendida à violência contra as mulheres: “do império
injusto e cruel que o homem tomou sobre ela. É um resultado das instituições
sociais e do abuso da força sobre a fraqueza . Entre os homens pouco avançados,
do ponto de vista moral, a força faz o direito”. Percebam que os espíritos
falam “do ponto de vista moral”, pois entre os agressores há muitos com
educação superior.
Maria Eugenia Lanzetti, 44 anos, professora de
jardim de infância na província de Córdoba, era separada de um marido
obsessivo, contra quem pesava uma ordem judicial de afastamento.
Maria chegou a instalar um botão antipânico em seu celular. Infelizmente essas
medidas não foram suficientes para evitar o pior. Na manhã de 15 de abril
passado, o ex-marido entrou na sala de aula e cortou o pescoço dela na frente
das crianças. O ódio era seu habitat cotidiano. Por isso sempre coloquei em
dúvida uma afirmação rotineira nos meios espíritas, de que por não ter sexo, o
espírito reencarna senão simultaneamente, mas algumas vezes como homem ou
mulher.
Fosse assim, aqueles espíritos, como o ex-marido
citado, ao passar por algumas encarnações no sexo feminino, já teriam adquirido
alguma sensibilidade quanto aos desejos e anseios femininos.
Conversa fiada, ele sempre reencarnou no sexo
masculino e traz seus impulsos machistas há várias encarnações. A
erraticidade não lhe tem sido de grande valia.
Por isso, andou muito bem a Presidente Dilma
Rousseff, a primeira mulher a governar o Brasil, ao promulgar uma lei que
inclui o feminicídio no Código Penal. E enfatizou que a violência de
gênero “acontece em todas as classes sociais”. Kardec tinha muito apreço na
modernização das legislações, que segundo ele acabariam levando a uma mudança
de comportamento. Em parte isso é muito verdadeiro, pois uma boa legislação
devidamente aplicada tem o poder de induzir comportamentos.
Todavia, a mudança cultural é mais lenta e tão
importante, até mesmo na Doutrina Espírita, quando diz que a mulher tem
igualdade de direitos e não de funções. Isso não é mais válido, pois muitas
mulheres são agredidas, por reclamarem justamente por igualdade de funções.
Nenhum comentário:
Postar um comentário