Não se pode servir a dois senhores.
" Se Deus não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam;
se Deus não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela " ( Salmo 127 ).
" Se Deus não existe, tudo é permitido ". ( Dostoiévski
)
A casa caiu
literalmente. Depois das delações das grandes empreiteiras não sobrou pedra
sobre pedra. A casa, a qual podemos chamar de morada da política, era
construída sobre alicerces de areia. Porque se fosse construída sobre
rochas teria resistido aos ventos e tempestades das denúncias. Negar a
desonestidade se transformou num mero exercício de retórica. Usar as armas da
competência administrativa ou falar das finalidades sociais para se justificar
só os torna mais ridículos do que já são.
Troquemos a
palavra Deus por espiritualidade, que nada mais é do que a posse de valores
positivos, visão de vida futura e exercício de amor ao próximo, e a frase de
Dostoiévski mais o Salmo 127 ficam mais palatáveis ao espírita intelectualizado.
De dois
homens ricos, um nasceu na opulência e não conheceu jamais a necessidade, o
outro deve a sua fortuna ao seu trabalho; todos os dois a empregam
exclusivamente em sua satisfação pessoal; qual é o mais culpável? pergunta Kardec
aos espíritos. Aquele que conheceu o sofrimento e sabe o que é
sofrer. Ele conhece a dor que não alivia, mas muito frequentemente, dela não se
lembra mais respondem os espíritos.
Uma das
grandes virtudes humanas é o reconhecimento do erro e o esforço para mitigar
suas consequências ruins. Todavia o show de soberba é avassalador, onde
todos se justificam dizendo que as coisas funcionam assim mesmo e que caixa 2 é
um instrumento válido para o exercício da política em época de eleições. Afinal
sem eleições não há democracia! É risível esse silogismo. Mas obviamente
trata-se de uma estratégia para que tudo caia no ralo comum do caixa 2 na
esperança de que do STF surja o perdão de todos os pecados. Muito bem orientado
pelo seu advogado, o governador Sérgio Cabral, um ladrão contumaz, diz agora
que o dinheiro utilizado na compra de joias era resto de campanha oriundo do
famigerado caixa 2. Esse mesmo
argumento é utilizado para justificar aeroporto na fazenda da família, de sítio
no interior e apartamento no litoral.
Todos
frequentam Igrejas, templos, batizam seus filhos e netos, comparecem a missas e
procissões em épocas apropriadas, mas a espiritualidade já citada e o desejo de
perfeição moral passam a léguas de distância de suas consciências. Infelizmente
são incapazes de assumirem seus graves erros e com isso demonstrar aos seus
simpatizantes que podem se recuperar moralmente. Afinal Jesus disse que sempre
estão abertas as portas ao verdadeiro arrependimento. Mas não, continuam com
seus discursos mentirosos e algo mais incrível, levando consigo uma
legião de tontos e militontos que teimam em vê-los como injustiçados. Enquanto
isso a verdadeira injustiça social no Brasil só faz crescer.
Qual a mais
meritória de todas as virtudes? pergunta mais uma vez Kardec aos espíritos.
Ao responderem que todas as virtudes têm seu mérito, os espíritos realçam que o
mais sublime na virtude consiste no sacrifício do interesse pessoal para o bem
do próximo sem oculta intenção. A mais meritória é aquela que está fundada
sobre a mais desinteressada caridade. Não existe virtude em
comprar joias da H. Stern para a mulher com dinheiro público. Perdão, dinheiro
de sobras de campanha oriundo do caixa 2.
Roberto Rufo
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