espiritismo e política
Quais motivos nos levam a pensar ser
possível influir na dimensão pública das leis e instituições da sociedade ?
Bem, provavelmente por reconhecermos a beleza e a dimensão itinerante
e permanente da vida, como a possibilidade mais oportuna de construirmos uma
sociedade mais justa e fraterna. No entanto, ainda não encontramos ao longo de
quase dois séculos a forma mais adequada de gestão da tese reeencarnacionista
participar de maneira objetiva do cotidiano dos povos.
Me aventuro a pensar que as razões históricas
do fato estejam na equivocada e injusta visão hindu das vidas sucessivas. Nas
reflexões místicas e oníricas da espiritualidade chinesa. No sincretismo mágico
dos deuses africanos, e mais recentemente no cientificismo primário do século
XIX, mixado com o cristianismo e sua moral punitiva e salvacionista, assumida
pelo espiritismo.
Entender estas causas no entanto não nos
basta.
Criticar suas ações não ilumina o futuro.
Em uma sociedade com tantas carências
materiais e espirituais, somente faz diferença o fazer. E o fazer nunca está
desconectado do pensar e o pensar do sentir.
Em todas as dimensões humanas vejo ações
nesta direção. Grupos humanitários nas áreas da saúde, dos direitos humanos, da
arquitetura e das artes. Na dedicação missionária de cientistas solitários
décadas em seus laboratórios tentando novas fórmulas para amenizar as dores da
alma e do corpo. Juristas refletindo sobre novas leis mais humanas e justas.
Médicos sem fronteiras. Anônimos dedicados ao trabalho voluntário.
Campos de refugiados, quase 50 milhões em
todo mundo, inquietando nossas consciências na busca de soluções.
Músicos e religiosos. Ateus e místicos a
todos nos incomoda a miséria, a carência extrema.
Talvez esteja nestas urgências o caminho
para influirmos nas leis e instituições primeiramente por meio dos conceitos,
que sejam de permanência comuns a todos como solidariedade, gratidão,
temperança, generosidade, não mais como
gestos salvacionistas ou de condição elevada espiritualmente, mas como um gesto
da inteligência refletido em ações objetivas no cotidiano de tal maneira seja a
qualidade
do nosso fazer a diferença que se fará
notar. Provavelmente aí está nossa oportunidade de esclarecermos quais
conceitos possuimos para agirmos assim.
É uma estratégia diferente do
assistencialismo caritativo, que nos tem identificado como Movimento.
É uma ação política, social e efetiva, não
restrita aos Centros, mas coletiva, multidisciplinar. Nos aproximaria dos sociólogos,
dos ativistas sociais, dos pedagogos, enfim de todos que velam pela alegria,
paz e justiça do mundo.
Intuo ser este um caminho possível, mais
leve, menos rancoroso. Fazemos muito já com a libertação do pensamento espírita
dos vínculos religiosos, do pensamento mágico.
Temos agora de alçar um novo vôo ,
precisamos ser mais vela e menos âncora.
Deixemos os bons ventos nos levarem ,
tenhamos confiança e esperança no Universo.
Ciro Pirondi
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