segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

A História e o Espiritismo livre-pensador - por Roberto Rufo

A História e o Espiritismo livre-pensador  - por Roberto Rufo


" A diferença entre o capitalismo e o comunismo, é que o capitalismo é a exploração do homem pelo homem e o comunismo é o contrário " ( Millôr Fernandes )

" No casamento, cada pessoa deve realizar a função que lhe compete. O homem deve ganhar dinheiro, a mulher deve economizar " ( Martinho Lutero )

 Afinal o que seria um Espiritismo livre-pensador na prática?  Antes de tentar responder a essa pergunta gostaria de relembrar dois acontecimentos históricos importantes que tiveram suas datas simbólicas ocorridas em Outubro/2017.  Em 31.10.2017 celebrou-se os 500 anos da Reforma Protestante. Em 31.10.1517 Martinho Lutero pregou na porta da igreja de Wittemberg na Alemanha as 95 teses que revolucionaram o cristianismo, a igreja e a política. Lutero tornou-se referência para os anseios de reforma que ecoavam na Europa. Ele recebeu proteção de autoridades simpáticas à causa.
Um jovem aristocrata de 23 anos, Albrecht de Brandenburg, havia sido sagrado arcebispo. Para arcar com os custos devidos ao Vaticano, ele recebeu do papa a autorização para vender indulgências, uma espécie de créditos adquiridos pelos fiéis para aplacar dívidas de pecados já cometidos e por cometer. A ideia alastrou-se.
Mas a Reforma Protestante não foi apenas um marco religioso, foi também um movimento que mudou os cenários político, econômico e cultural naquele período. Mas ilude-se quem pensa que Lutero foi um liberal em matéria religiosa ou no comportamento moral. Vivia sob um dilema: em que consiste a justiça de Deus? Resposta: a justiça de Deus se revela nos textos sagrados e só é acessível pelos caminhos da fé. O controle absoluto pelos livros sagrados intensificou-se. Quinhentos anos depois o pastor reverendo Milton Ribeiro da Igreja Presbiteriana ( Doutor em Educação pela USP, Mestre em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, de onde já foi vice-reitor emitiu as seguintes opiniões em entrevista ao jornal A Tribuna de Santos:

1ª -  A igreja presbiteriana não aceita a união homoafetiva. A razão é simples. Os textos sagrados da Bíblia falam o contrário.
2ª -  Não aceitamos pastoras pela mesma razão.
Lutero, com certeza, assinaria essas assertivas há 500 anos atrás. A abertura a novas ideias é praticamente nula. O imobilismo uma certeza.

O mês de Outurbo marcou também os 100 anos da Revolução Bolchevique que levou ao surgimento da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas ( URSS ) que trouxe inúmeros progressos a uma sociedade semi feudal russa. Alguns historiadores citam o surgimento do primeiro sistema universal de saúde, a participação da mulher no mercado de trabalho, a transformação educacional e a planificação da economia. No entanto, ainda segundo esses historiadores, o sistema de partido único criou um paradigma. O modelo que queria a busca da utopia na terra ( a sociedade sem classes ) queria também carta branca para decidir qual tipo de comportamento era o ideal para a sociedade. Transformou-se numa das mais sanguinárias experiências sociais da História da humanidade. Em 1.973 Alexander Soljenitsyn, Prêmio Nobel de Literatura, lançou o livro Arquipélago Gulag. Físico e matemático russo, Soljenitsyn passou 11 anos aprisionado em campos de trabalhos forçados na Sibéria sob a acusação de nas suas correspondências fazer críticas  ao ditador Stalin. No livro Arquipélago Gulag ele enumera dez traços ou comportamentos dos presos nos campos de " reeducação " na Sibéria. 

  1º  - O medo constante;   2º - Servidão e subjugação;   3º - Dissimulação e desconfiança;
  4º - Ignorância universal;   5º - O medo de ser delatado;   6º - A traição como forma de existência;   7º - Degradação moral;   8º - A mentira como parte de sua natureza;   9º -  Crueldade; 10º  -Psicologia de escravos.

Quem já leu o livro sabe as imagens chocantes e asustadoras relatadas da vida dos prisioneiros nos campos de concentração na Sibéria. Quarenta e quatro anos depois da primeira edição do livro ainda existem adultos bem formados que se dizem stalinistas e  defensores ferrenhos do total controle dos comportamentos humanos  pelo estado. 

Dessa forma fica muito difícil uma sociedade desse tipo estar aberta às evoluções do comportamento. O imobilismo estabeleceu-se.

Por sua vez o Espiritismo foi pensado como um modelo aberto às ideias progressistas, mesmo porque Allan Kardec aventou essa possibilidade de transformação doutrinária diante do contraditório dos fatos. Leiam-se sua declaração:
" Caminhando de par com o progresso, o Espiritismo jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrarem estar em erro acerca de um ponto qualquer, ele se modificará nesse ponto. Se uma verdade nova se revelar, ele a aceitará " ( A Gênese, capítulo I, Item 55 ).

Na edição de janeiro de 1867, da Revista Espírita, Kardec ainda esclareceu que essa natureza contingente do conhecimento espírita deve ser garantida pelo exercício do livre-pensar de seus adeptos:
“Toda crença eclética pertence ao livre pensamento; todo homem que não se guia na fé cega é, por isto mesmo, livre-pensador; a esse título, os Espíritas são também livres-pensadores”.
Em resumo, o exercício do livre pensar espírita torna-se condição essencial para que o aspecto progressivo do Espiritismo seja mantido. Dependerá sempre, é claro, da utilização de critérios racionais que evitem o imobilismo. É um fator de sobrevivência doutrinária. Finalizemos com Obras Póstumas, II dos Cismas, cap. XXXVII:


" O princípio progressivo, que a doutrina espírita inscreve no seu código, será salvaguarda da sua perenidade e a sua unidade se manterá, exatamente porque ela não se assenta no princípio da imobilidade ".

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