segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

A igualdade natural e a farsa do coletivo por Roberto Rufo


A igualdade  natural e a farsa do coletivo

"O perigo de uma meia verdade é você dizer exatamente a metade que é mentira" (Millôr Fernandes).
"Em todo ser humano existe algo de sagrado. Mas sagrada não é sua pessoa. Tampouco a pessoa humana. Sagrado é apenas ele, ser humano" (Simone Weil).

Allan Kardec complementando a resposta dos espíritos à pergunta 803 do Livro dos Espíritos afirma que "todos os homens serão submetidos às mesmas leis da Natureza. Todos nascem com a mesma fraqueza, estão sujeitos às mesmas dores e o corpo do rico se destroi como o do pobre. Portanto, Deus não deu, a nenhum homem, superioridade natural, nem pelo nascimento, nem pela morte. Diante dele, todos são iguais".

Se é verdade como dizem os espíritos que os homens procuram a sociedade por instinto e que devem concorrer para o progresso ajudando-se mutuamente, não é menos verdade que o espírito individualmente tomará as decisões por aquilo que se convenciou chamar de livre escolha. Aqui reside o perigo. De qual perigo estou falando? De que essa escolha esteja subordinada a uma obediência cega ao coletivo.

Neste ano de 2018 completou-se 75 anos da desencarnação da pensadora francesa Simone Weil. Morreu jovem aos 34 anos de idade. Recomendo a leitura do livro de sua autoria "Sobre a supressão geral dos Partidos Políticos" da Editora Iluminuras onde aparece também um texto muito instigante denominado "A Pessoa e o Sagrado" abordando a questão do coletivo, da pessoa, o impessoal, o direito e a justiça.

 Concordo plenamente com ela ao afirmar que "a paixão coletiva é uma compulsão para o crime e a mentira infinitivamente mais poderosa que qualquer paixão individual". O nazismo, o fascismo e o comunismo estão aí para comprovar tal afirmação. Segue daí que se uma paixão coletiva toma conta de um país inteiro, o país todo é unânime no crime. Daí a critica feita por Simone Weil aos partidos polítcos, que à sua época teriam se transformado numa máquina de fabricar paixões coletivas. E não seria semelhante  nos dias de hoje?

Para Jesus de Nazaré só o bem é o fim a ser alcançado, quando diz que quem quiser ser o maior que sirva a todos. Isso só é possível pela decisão individual de me construir num homem de bem. Pode e deve influenciar a sociedade ou ser influenciado por ela, mas sua afirmação como espírito livre só existe se não estiver subordinado a nenhuma teoria de cunho coletivo. O problema neste é que inexiste  uma procura do que poderíamos chamar de impessoal a nos ajudar na caminhada da encarnação, algo que a doutrina espírita nos fornece numa dimensão acima do coletivo, o dirigir-se para a verdade.

É uma construção basicamente individual. O que nos garante que teremos sucesso? A existência de uma inteligência suprema e causa primária de todas as coisas. E a lei natural existente na consciência de cada um.

Afirmações tais como a dos espíritos à pergunta 812 "É possível os homens se entenderem"? Falando que os homens se entenderão quando praticarem a lei de justiça, só se concretizará segundo Simone Weil ao se acentuar a primazia da pessoa sobre o coletivo. O bem é o sagrado (não no sentido religioso) e qual seria sua medida: a verdade, a justiça e apenas em terceiro lugar a utilidade pública, ou como se fala na linguagem política dos partidos o "bem públivo" que obviamente no caso dos partidos políticos não é nem um bem, muito menos público, porque é deles partidos. O modo de caminhar baseado no coletivo enquadra-se para mim na resposta à pergunta 781 de que só serviram para entravar a marcha do progresso. 

Precisamos nos "treinar" mais em comportamentos baseados na pessoa humana, naquilo que todos nós temos de reserva impessoal, termo esse que designa algo além dos pensamentos "unificadores". É difícil acostumados que estamos a nos fornecerem as respostas prontas por aqueles que julgam possuir o discurso competente.

O Brasil passou 13 anos sob um regime doutrinador de esquerda e vamos agora, tudo leva a crer, para um regime doutrinador de direita (vide influência das igrejas evangélicas na escolha do Ministro da Educação). Se o coletivo do partido for substituído pelo coletivo religioso, o impessoal de cada ser humano ficará tolhido de manifestar-se, e os "donos do poder " não aceitarão críticas que coloquem em dúvida decisões coletivas. Isso é péssimo, pois passam a aceitar placidamente a corrupção do partido como natural ou necessária e a intolerância religiosa como destino divino.

Tomara eu esteja errado. Oremos.


Roberto Rufo.


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