Trinta anos
da queda do Muro de Berlim.
"Sem
o livre-arbítrio o homem não tem nem demérito no mal, nem mérito no bem, e isso
é igualmente reconhecido no mundo, onde se proporciona sempre a censura ou o
elogio à intenção, quer dizer à vontade. Ora, quem diz vontade, diz
liberdade". (Allan Kardec em "Resumo Teórico da Motivação das Ações
do Homem").
Há
exatos 30 anos, mais especificamente no dia 09 de novembro de 1989, caiu
fragorosamente um dos símbolos mais marcantes da Guerra Fria, o Muro de Berlim
sem precisar de nenhuma revolução sangrenta. Com a crise econômica do sistema
de produção marxista-leninista, os países do Leste Europeu subjugados ao mando
da falecida União Soviética desmoronaram como um castelo de areia.
Na
pergunta 837 do Livro dos Espíritos kardec indaga justamente sobre qual o
resultado dos entraves postos à liberdade de consciência? Poderíamos
acrescentar ao direito de ir e vir representado pelo Muro de Berlim.
Os
espíritos respondem que os entraves podem constranger os homens a agirem de
modo contrário do que pensam, torná-los hipócritas. A liberdade de consciência é
um caractere da verdadeira civilização e do progresso.
O
muro separou o destino de milhões de pessoas, acarretando sofrimentos incríveis
diante daquela brutalidade. É bom que se lembre que o muro foi construído pela
Alemanha Oriental comunista, com apoio da União Soviética. Por ironia o país se
chamava RDA - República Democrática Alemã, a atestar que o substantivo
democracia era apenas uma falácia ideológica.
Como
em outras partes do mundo, a extrema direita ronda os países do Leste Europeu,
em países da antiga Cortina de Ferro, e não poderia ser diferente no que era
antigamente a Alemanha Oriental, onde a população apresenta uma insatisfação e
frustração com a pouca prosperidade em relação aos alemães ricos da antiga
Alemanha Ocidental. Na reunificação era conhecida a lacuna educacional entre as
duas Alemanhas, a diferença de aptidões era enorme. Passados 30 anos, das 500
maiores empresas da Alemanha, 423 ficam na antigamente chamada Alemanha
Ocidental. E com isso vem a inevitável pergunta: de que adianta a democracia se
os frutos do trabalho são para poucos?
Kardec
na pergunta 831 indaga aos espíritos se a desigualdade natural de aptidões não
coloca certas raças humanas sob dependência de raças mais inteligentes?
Sim, para as erguer e não para as embrutecer ainda mais pela subjugação. O
governo alemão fez vários esforços nesse sentido, mas parece que foram
insuficientes. A importante queda do muro de Berlim trouxe a esperança num país
unido e acolhedor, sem cidadãos de segunda classe.
Tenho
certeza de que em nome de um mundo livre de ideologias totalitárias saberemos
conduzir, com a nossa querida Doutrina Espírita a nos subsidiar, a nossa
proposta de que " cabe à educação combater as más tendências e ela o fará
quando estiver baseada na natureza moral do homem" nos ensina Allan Kardec.
O
jornalista Hélio Gurovitz escreveu com muita propriedade: "como todo
o Leste da Europa, o território da antiga Alemanha Oriental se tornou terreno
fértil para a xenofobia, onde o nacional-populismo floresce no solo arado pelo
comunismo. Berlim não. Dividida ao meio por 28 anos, reunificada há 30 anos,
voltou a ser metrópole cosmopolita de Albert Einstein e Bertolt Brecht. Traz
nos destroços do nazismo e do comunismo, a lição mais necessária para o mundo
de hoje: nenhum muro contém a força da liberdade ". O Espiritismo
humanista assinaria embaixo. Chega de populismos inúteis. Como
escreveu Friedrich Nietzsche "as convicções são inimigas mais perigosas da
verdade do que as mentiras ".
Roberto Rufo.
Nota: Artigo
originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.
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