Onde
buscar a vontade de superação?
"Estou
esperando o tempo passar rapidamente. Quem sabe assim chegam logo os dias
melhores que tanto falam ``.(Pensador Desconhecido).
"Uma
Igreja que se casa com o espírito de sua época, corre o risco dessa época passar
e a Igreja tornar-se viúva dessa época" (Frase de Bento XVI ao Cardeal
Bergoglio no filme Dois Papas).
Em
seu fantástico livro "Comportamento Espírita" , Editora Dicesp,
1981 (possuo um exemplar assinado pelo autor), capítulo 3 - O Espírita e o
Mundo" o autor Jaci Regis aponta que "a visão global do
espiritismo, abrangendo desde as causas primárias à harmonia do Universo,
oferece elementos capazes de levar o homem a situar-se na vida".
Essas palavras ditas a 41 anos atrás apostavam que a Doutrina Espírita seria
condição necessária e suficiente para sabermos o que somos, o que estamos
fazendo no mundo e qual o nosso destino. Infelizmente as coisas não caminharam
dessa forma. O espiritismo passou a ser visto pela nova intelectualidade
surgida na época como pouco aliado à realidade. Era preciso que novas teorias
fossem acrescidas ao ideário espírita. Não falo das descobertas das
ciências que nos trazem aperfeiçoamentos na maneira de pensar. Falo da
introdução de conceitos que mais não querem do que substituir a essência do
conhecimento espírita por teorias sociais que prometem mudanças radicais no
mundo. Especialmente contra as desigualdades sociais.
Me parece haver uma certa vergonha intelectual nas citações sobre aquele que é considerado pela teoria espírita como o maior exemplo de moral a ser seguido.
Volto-me
mais uma vez a Jaci Régis no livro e capítulo citado acima ao nos ensinar que
" o espírita vê a sociedade composta de espíritos a exprimirem estados
evolutivos próprios, nos atos do dia a dia, nas esquematizações sociais e
percebe a ânsia desses mesmos espíritos em buscar, mesmo que no plano
teórico, comportamentos mais satisfatórios individual e
coletivamente. Por isso, o espírita nega os valores do mundo, enquanto
permaneçam no nível do imediatismo e no desconhecimento dos
valores espirituais da vida". Vi com muita tristeza nesses anos
de turbulência ideológica um vídeo de espíritas bolsonaristas, com o hino
nacional num arranjo de piano ao fundo, e de repente surge a imagem de
uma coroa de espinhos e a epígrafe: foi por amor, complementada
por Brasil acima de tudo, Deus acima de todos. Um grupo de quinze
pessoas vestidas de branco dão mensagens de apoio à manifestação
golpista convocada por Bolsonaro para o 07 de |setembro. E terminam cada
um com a fala: eu sou espírita e apoio você , meu presidente. Eu te
autorizo a fazer o que for necessário.
Assim como a Teologia da Libertação na década de 1960 trouxe a política partidária para dentro da Igreja Católica, o espiritismo também está trazendo a política partidária para dentro das suas hostes. O movimento Espíritas da Esquerda é um claro exemplo disso. Esquecem que a política é um dos campos onde as decisões e os caminhos sempre serão tomados com base nos desejos carnais. Vou além, e afirmo que hoje mais do que nunca os interesses econômicos ou de grupos de interesses é o que rege a política. O espiritismo corre esse risco se trouxer a política partidária para dentro dos seus domínios.
Na verdade, não há novidade no que está acontecendo no mundo. Como afirma a Doutrina Espírita, o avanço moral não acompanha o progresso intelectual. Estamos bem atrasados moralmente. É inevitável que episódios de violência e transformações de todo tipo se apresentem como parte do processo de evolução dos espíritos. A Doutrina Espírita é uma luz na escuridão. Mas os espíritas são parte da humanidade, portanto sujeitos ao processo. O espiritismo foi sequestrado no Brasil pela FEB que o transformou numa religião desprezada pela sociedade. Essas novidades como esquerda ou direita dentro do movimento espírita fazem parte dessa inquietação que pretende levar o espiritismo para o que consideram a verdade a ser implantada. Mas tudo isso é inútil. O espiritismo não tem dono. Um ótimo 2023 a todos.
Artigo publicado no jornal ABERTURA de janeiro - fevereiro de 2023
Baixe aqui:
Roberto Rufo.
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