O poder da fé e da
política
"A política é um bordel. Sempre foi e sempre será. Na
verdade, é pior. O bordel é mais honesto. O sujeito paga e tem um
serviço".(Luiz Felipe Pondé).
A cultura e a política são dois
caminhos muito utilizados para se introduzir artigos de fé ou ideologias
totalitárias nas mentes e corações dos cidadãos.
Com seu aspecto mais racional e de equilíbrio
emocional o Espiritismo procura, com pouco sucesso, introduzir conceitos que
visem a evolução intelecto-moral da humanidade. O Espiritismo não fala às
paixões, tão ao gosto dos líderes populistas e demagogos. Daí sua parca percepção
junto ao conjunto da sociedade.
A literatura espírita em geral
aborda temas como a vida após a morte, a reencarnação e a comunicação com os
espíritos. A cultura espírita promove atividades assistenciais e educativas,
valoriza a fraternidade, a solidariedade o que deveria influenciar o comportamento
e as relações sociais dos seus seguidores. Sem arroubos de fé ou discursos
revolucionários de tomada do poder pela força.
De larga influência nos meios de esquerda
mundiais o filósofo marxista Antônio Gramsci viu com clareza em sua teoria da hegemonia
cultural que o Estado usa , nas sociedades ocidentais, as
instituições culturais para conservar o poder. Logo para se alterar esse quadro
urge que os grupos de esquerda assumam o controle dos meios culturais e de
comunicação. Sua teoria obteve grande êxito nos países do ocidente, já que no
países do leste europeu o estado totalitário sempre teve enorme poder sobre
os meios culturais. O cancelamento é hoje uma ação muito utilizada
em redes sociais por quem detém o poder dos meios de comunicação culturais e
artísticos. Atualmente é um alto risco o livre pensar pois a patrulha ideológica,
como descreveu o cineasta Cacá Diegues a respeito da crítica cinematográfica de
sua época, hoje está instalada nas universidades federais, nas redações
de jornais e no sites. Ouso dizer que o Jaci Regis que conhecemos não teria o
mesmo espaço hoje e sofreria na pele o processo de cancelamento. Depois de
desencarnado o processo de apagamento já se instalou.
Do lado do "pensamento" espiritual de
direita o perigo para a obstrução da evolução racional das pessoas é mais devastador
ainda. O novo filme da diretora Petra Costa de nome Apocalipse nos
Trópicos, se propõe a examinar a interseção entre a política e as
lideranças evangélicas no Brasil. Ela filmou um ato convocado pelo pastor Silas
Malafaia e ouviu uma declaração inflamada que lhe chamou a atenção:
"Deus deve tomar o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, e expulsar a
escória desse país". E um dos pastores falava que "deus decretou o
fim do governo do ímpio e falava da necessidade de uma guerra espiritual".
As músicas eram sobre o apocalipse, os cultos falavam e associavam a pandemia
ao apocalipse. Os pastores pediam ao governo Bolsonaro que ele criasse uma
situação que aceleraria o fim do mundo e, portanto, a volta de Jesus.
Isso é uma teologia muito
presente entre os evangélicos fundamentalistas no Brasil e nos EUA. Os
aliados dominionistas de Donald Trump acreditam nisso, e que acelerar o
fim do mundo vai acelerar a volta de Jesus.
Dominionismo, também
conhecido como teologia do domínio, é uma corrente teológica e política que
interpreta Gênesis 1:28 como um mandado para os cristãos exercerem controle
sobre a sociedade e suas diversas esferas, como governo, cultura (olha ela aqui
de novo) e economia.
Nos resta o Espiritismo com sua visão otimista da
vida, enfatizando a imortalidade da alma, a reencarnação como motor da evolução
pela sucessão de aprendizados. A vida passa a ser uma oportunidade de
crescimento, mesmo diante de adversidades. Se vai triunfar só saberemos num
futuro muito distante.
Artigo Publicado no Jornal de Cultura Espírita - ABERTURA setembro de 2025.
Roberto Rufo é Bacharel em Filosofia, colunista do Abertura e reside em Santos.
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