terça-feira, 10 de janeiro de 2017

O Processo de Mudanças do Espiritismo - por Roberto Rufo

O Processo de Mudanças do Espiritismo.

" Sua excelência atingiu o cume da ignorância, e no entanto prosseguiu ". ( Millôr Fernandes ).

" Aos vinte anos de idade eu achava o meu pai um completo idiota. Hoje aos 40 vejo como o velho evoluiu nos últimos 20 anos". ( Mark Twain ).

" O progresso moral é uma consequência do progresso intelectual, todavia não o segue imediatamente " ( Resposta dos espíritos à pergunta 780 do Livro dos Espíritos ).l

 Não sei se por falta de assunto, ou se devido a um tempo muito grande dedicado à organização do XIV SBPE, ou até mesmo a indisponibilidade momentânea de palestrantes, eu como Diretor de Estudos do ICKS, num momento de saudades inexplicável, resolvi que estudaríamos  três capítulos do Livro Segundo do Livro dos Espíritos, denominado " Mundo Espírita ou dos Espíritos ". Seriam eles o VII - Retorno à vida corporal, VIII - Emancipação da alma e o IX – Intervenção dos espíritos no mundo corporal . Depois desses estudos chegamos à conclusão que uma grande parte do que está nesses capítulos já não corresponde mais  ao progresso intelectual de que fomos participantes nos últimos 26 anos, com o consequente avanço moral apreendido. 

O que deveríamos fazer então? Não estudar mais esses capítulos?.Assim decidimos. Até o momento em que alguém, com capacidade para isso, faça uma revisão modernista dos mesmos. Ou deixá-los como está, mas informando aos participantes da Doutrina Espírita que existem modernas atualizações das situações ali abordadas. Lembrei-me então do V Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita de 1997 em Cajamar/SP, onde o pensador espírita Reinaldo di Lucia apresentou o trabalho de nome " O Processo de Mudanças do Espiritismo ", nome esse que me apropriei no título deste artigo.

Reparem que falamos de 18 anos atrás, período em que a juventude ainda corria em nossas veias. O Reinaldo di Lucia certamente ainda não havia chegado aos 40 anos e no entanto já se preocupava com o necessário processo contínuo de renovação do pensar espírita. Logo na Introdução, no seu primeiro parágrafo, ele alertava que " um dos principais problemas, senão o maior, com que o Espiritismo defronta-se hoje é a recusa por parte dos componentes do movimento espírita, seja no âmbito pessoal, seja no organizacional, em encetar uma busca por novos conhecimentos que culminasse com necessárias atualizações na estrutura doutrinária, em seus aspectos científico e filosófico ". Qual consequência desse tipo de comportamento? O próprio Reinaldo nos responde: " essa recusa em aceitar um processo de mudanças para a doutrina espírita, mesmo tendo este processo sido preconizado pelo próprio Allan Kardec, faz com que, cada vez mais, o Espiritismo esteja afastando-se da posição de ciência ou filosofia moral, com a qual ele próprio se define ". 

Nos capítulos seguintes do seu brilhante trabalho de 1997, Reinaldo trata da questão religiosa, do questionamento e atualização, da verdade espírita, do controle universal dos espíritos e nos três últimos capítulos aborda a questão das mudanças. Por quê mudar ; Para que mudar? Como mudar?
Hoje relendo este trabalho, vejo que andamos muito para frente. Os alertas e estudos avançados dos intelectuais espíritas surtiram efeito num bom número de pessoas e na criação de organizações com um pensar produtivo e avançado. Falta muito. Não importa. Os seis passos ensinados pelo pensador e autor espírita Jaci Régis têm servido de alicerce e horizonte a muitas pessoas: não fechar as portas a nenhum progresso ; não sair do círculo das ideias práticas ; apoiar a descoberta de novas leis ; assimilar todas as ideias reconhecidamente justas ; seguir o movimento progressista com prudência e não imobilizar-se.

Releiam o trabalho do pensador Reinaldo de 1997, e façam um balanço dos últimos 18 anos em suas, nas nossas vidas. Verão que avançamos bastante na mudança de comportamento o que facilitou a assimilação de novos conhecimentos. Até mesmo a nossa nova vida moral mudou para melhor. Aliás nesse sentido o mundo caminhou para melhor, principalmente na superação de tantos preconceitos.
Finalizo dizendo, apropriando-me de uma conclusão do Reinaldo, que os seis passos propostos pelo Jaci são importantes, mas prestem atenção que eles se referem à postura que o espírita deve ter para permitir a existência das mudanças. O Livro dos Espíritos é um marco importante. Seu conteúdo deve atualizar-se.      

NR: Artigo publicado originalmente no Jornal ABERTURA de novembro de 2015.


sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

O Livre-Arbítrio no Espiritismo - por Eugenio Lara

O Livre-Arbítrio no Espiritismo

Eugenio Lara

A existência do livre-arbítrio tem importância fundamental para a Filosofia Espírita porque toda sua ética, sua axiologia ou teoria de valores é baseada na ideia de liberdade, de livre-escolha. A base, o esteio da Ética Espírita é a liberdade. E liberdade, aplicada à ação do sujeito, pressupõe, segundo a Filosofia Espírita, o livre-arbítrio, sem o qual “o homem seria uma máquina”.
A Filosofia Espírita admite que há um determinismo natural, engendrado pela “força das coisas”, pelas leis naturais. Todavia, esse determinismo não anula o livre-arbítrio. O espirito é livre e responsável pelos seus atos. E mais, diz que nos atos da vida moral, jamais há fatalidade. A fatalidade somente existe no momento em que reencarnamos e desencarnamos: no nascimento e na morte:
“Não existe de fatal, na verdadeira acepção do vocábulo, senão o instante da morte. Quando ele chega, deste ou daquele modo, não podeis a ele fugir”. (O Livro dos Espíritos q. 852).
“A fatalidade não consiste senão na hora em que deveis aparecer e desaparecer daqui debaixo”. (LE q. 859).
“A fatalidade está nos acontecimentos que se apresentam, pois estes são a consequência da escolha da existência feita pelo Espírito. Pode não ser o resultado desses acontecimentos, pois pode o homem lhes modificar o curso por uma ação prudente. Jamais ela está nos atos da vida moral.” (LE - Resumo teórico do móvel das ações humanas).
Segundo a Filosofia Espírita, o livre-arbítrio se caracteriza da seguinte maneira:
1. É um atributo natural do princípio inteligente, do espírito, que molda a capacidade de pensar e de agir, sem o qual ele seria uma máquina desprovida de liberdade. Ser senhor de si mesmo é um direito que vem da Natureza. A liberdade é, portanto, um direito natural do princípio inteligente.
2. É evolutivo porque se desenvolve na medida em que o princípio inteligente progride. De início o livre-arbítrio é bastante rudimentar, instintivo, para se tornar pleno e integrado ao espírito em seu estágio hominal, quando este supera os primeiros patamares do progresso intelecto-moral.
3. É relativo porque depende das relações sociais, interpessoais, da cultura. A liberdade absoluta somente existe, teoricamente, para o eremita no deserto.
4. Depende das vicissitudes materiais para se manifestar. Quanto menos materialidade, maior a sua expressão e manifestação.
5. Tem um sentido profundamente moral, ético porque através do livre-arbítrio o ser humano toma decisões comportamentais que irão influir nos relacionamentos interpessoais, sociais. É a responsabilidade moral e social.
6. É compatível com o determinismo natural, porque não há fatalidade nos atos da vida moral. É como imaginar as correntes do mar que não impedem o nado livre dos peixes. Do mesmo modo, as correntes da vida natural e social não impedem que o espírito aja com liberdade.
A Filosofia Espírita acompanha os avanços da ciência, os fatos comprovados e admite os fatores ambientais, culturais, genéticos e psicológicos que influem nas decisões humanas. E ainda acrescenta mais alguns dados complicadores:
a.   A influência dos espíritos. Muitas vezes “são eles que nos dirigem”. Os processos obsessivos influem decisivamente no livre-arbítrio.
b.   A voz do instinto, um dado novo na obra kardequiana, porque representa todo um conjunto de vivências e experiências advindas de outras existências e que, de modo intuitivo, podem servir como orientação em decisões cruciais na vida do espírito reencarnado.
c.    O livre-arbítrio permite ao espírito configurar o gênero de vida, determinando desta forma o gênero de morte. Tal escolha está subordinada à capacidade intelecto-moral e psíquica do espírito reencarnante.
d.   A volição existe sempre, mesmo nos estágios inferiores do desenvolvimento intelecto-moral. Já o livre-arbítrio, desenvolve-se na medida em que o espírito vivencia a erraticidade, com um certo nível de consciência de si mesmo e do meio em que vive.
A partir desses pressupostos, pode-se inferir que todos os seres da natureza têm volição. O espírito puro, conforme a escala espírita, também é volitivo, todavia, por estar plenamente integrado às leis naturais, não possui livre-arbítrio, dada a inutilidade desse atributo natural, em função de seu avançado estágio evolutivo.

NR: Este artigo foi originalmente publicado na edição de dezembro de 2015 do Jornal ABERTURA.

Eugenio Lara, arquiteto e designer gráfico E-mail: eugenlara@hotmail.com

Os artigos desta coluna baseiam-se em estudos e pesquisas desenvolvidos pelo CPDoc.  www.cpdocespirita.com.br  -  contato@cdocespirita.com.br

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Problemas da Puberdade - por Jaci Régis

PROBLEMAS DA PUBERDADE

Jaci Regis

O episodio das pulseirinhas coloridas que as adolescentes usam  como indicação visual de seus desejos  de relacionamento sexual chamou a atenção para o que todos sabemos:a extrema vulnerabilidade dos púberes, adolescentes.

A aceleração das mudanças do comportamento social que ocorreram a partir principalmente da segunda metade do século vinte deveria ser a principal preocupação da sociedade.

As novas premissas e os desmantelamento dos velhos padrões e a dilatação dos limites da liberdade de agir, criaram rotas de colisão a que a maioria adere levadas pelo vendaval de mudanças que serve, sobretudo, para atender os desejos das pessoas.

A sexualidade reprimida pelo cristianismo explode agora sem uma ponderação. Destruídas as bases da repressão cristã, o materialismo surge como resposta natural, porque motiva a busca do prazer como única resposta capaz de dar algum sentido à vida corpórea.

Todavia, a estrutura psicológica da pessoa baseia-se em valores que foram estabelecidos ao longo da evolução social e, mais precisamente, na construção de uma individualidade espiritual que, na atualidade, continua precária no seu equilíbrio e no discernimento das razões da vida corpórea.

Não se trata, como muitos supõem,  de restabelecer as crenças antigas, de resto impossível. Mas de encontrar alguma base para o porquê da vida em termos de satisfação de modo que o prazer se espraie como força criativa, sem dilacerar, como tem acontecido,  a própria pessoa.

Porque nosso equilíbrio emotivo, nosso universo intimo, baseado, sobretudo,  na emoção responde de formas auto agressivas, penalizando a alma, destruindo a esperança e criando doenças de fundo espiritual ou psicológico, que trazem a infelicidade e, muitas vezes, precipitam a pessoa no abismo da insanidade moral e mental.

A noção evolutiva das vidas sucessivas

Na visão pós-cristã as vidas sucessivas, são entendidas como um instrumento da evolução. Mostra-nos que os mecanismos da vida corpórea foram desenvolvidos para proporcionar o aprendizado indispensável para a estruturação de uma individualidade equilibrada e, ao fim, feliz.
Isso nos permite definir a vida corpórea como um hiato evolutivo da vida da alma, do Espírito, atemporal e imortal.

O fato de ser considerada um hiato, não diminui, nem subestima o valor da vida corpórea...

Ao contrário, sendo esse hiato fundamental para o desencadeamento das potencialidades intrínsecas do Espírito, seu valor deve ser colocado no devido lugar.

Em conseqüência podemos afirmar:

·                     A encarnação é um fato natural,  cada encarnação é como se fosse a primeira;

O processo reencarnatório produz em cada encarnação um novo ser. Todo o mecanismo da produção de uma nova experiência corpórea conduz à criação de uma experiência traumática para o Espírito, de modo que ele entre na vida basicamente “nu”, como é o bebe.. Ou seja, despido de perispirito, personalidade, lembranças, como uma página em branco do livro da existência.

·                     Esquecimento do passado;
·                      
Sendo atemporal, o Espírito, traz em si a permanente atualidade de seus méritos e deméritos. Inseridos na estrutura dinâmica de seu desenvolvimento ético e intelectual. O processo de desestruturação ocorrido durante a gestação produz um estado de latência da memória e desfaz a personalidade atual.
·                     Reestruturando a si mesmo;
·                      
Vencido o período inicial, bem ou mal conduzido, o Espírito entra no período de reestruturação ou, seja, criar uma personalidade adequada ao momento em que vive, de modo a poder relacionar-se com o mundo exterior como alguém que chega pela primeira vez. Tentando situar-se no mundo.

Terá vivido pelo menos sete anos.

Ai começará a reconstruir  seu caráter forjado pelos valores da família e pela auto-herança que traz como individualidade permanente...

Enfim, preparando-se para a grande virada - a puberdade.

·                     Puberdade
                      
Aos antigos limites da puberdade foram corrompidos pela precipitação moderna ao despertar das paixões.

Quando entra na puberdade, a criança se defronta com desafios que não esperava.

Saindo da infância agora ele é desafiado a definir seu destino mais próximo.

A sexualidade é um desafio presente na explosão natural da emotividade e das realidades biológica.

É época de afirmação pessoal, de encontrar parceiro, de ser aceito no grupo em que se situa. E atualmente o relacionamento sexual está na base desse relacionamento grupal, com todos os problemas que, muitas vezes, desencadeia.

A sexualidade não se manifesta como uma linha reta, mas  muitas vezes, tortuosa. E a realidade sensível se conturba em muitos adolescentes, pressionados pelas dúvidas e questões internas e o ambiente externo. O que preocupa é a prematura adesão ao jogo sexual, sem um mínimo de maturidade física e psicológica.

A sexualidade natural  em jovens saudáveis e relativamente equilibrados, na idade certa parece ser o menor perigo.

O perigo está na gravidez precoce. Nas doenças sexualmente transmissíveis. No desvão da sexualidade compulsiva e nos conluios desviantes das emoções.

Talvez a maior parte dos jovens passe a puberdade e chegue à idade da juventude mais equilibrada, mais ou menos bem, ou seja, sem traumas maiores, mas nem por isso sem seqüelas emocionais.

Outro caminho dificil é o apelo ao álcool e às drogas ilícitas. Na verdade esse caminho não raro é sem volta.

Procura-se as causas da adesão tão grande de adolescentes ao uso de drogas, isso em todas as camadas sociais. Ousaríamos pensar que decorre do vazio intrínseco, depositado na alma imortal, que não foi suficientemente superado na infância, devido a falhas de relação com os pais ou pela rebeldia em aceitar qualquer disciplina ou limites, fomentados nas mentes  em viez de pseudo independência próprios de almas imaturas que pretendem superar os complexos pela ousadia ou pelo enfrentamento das regras sociais.

Outro desafio que o adolescente enfrenta é o futuro econômico. Aí precisa ter animo e estimulo para estudar e criar uma profissão.

Um fator moderno é a ligação compulsiva ou de fuga com o computador. Em famílias sem bases autenticas de relacionamento e disciplina, jovens se ligam aos programas da Internet como fuga da realidade, vivendo num mundo virtual, onde exercitam suas emoções sexuais e seus desvios sensíveis, ligados e isolados em seus quartos ou lugares isolados.Também entram nesse rol, as necessidades ou não do trabalho precoce, desviando do estudo e limitando o futuro profissional a níveis inferiores, marcando a vida e as relações do futuro.

NR: Artigo Publicado no Jornal Abertura de outubro de 2015


terça-feira, 3 de janeiro de 2017

A vida - como ela é bela - por Ricardo Nunes

 A VIDA

Como é bela e misteriosa a vida, caminhos e descaminhos, erros e acertos, encontros e desencontros. Amor, solidão, amizade, angustia, prazer, dor e felicidade, quantos sentimentos, quantas experiências...

Quantos se foram para nunca mais, quantos lábios queridos se calaram no silêncio da morte. Lábios que um dia estiveram presentes e que hoje estão ausentes. Quantos amigos que trilharam conosco a mesma estrada ombro a ombro, vivendo os mesmos ideais e sonhos e que nos deixaram.

Quantos projetos abandonados pelo caminho. Que tremenda luta entre os ideais, o desejo e a realidade!

Porém, a vida continua, e o dia seguinte sempre surgirá. É necessário estarmos prontos para recomeçar, aconteça o que acontecer. Devemos nos levantar e seguir em frente, sempre em frente. É necessário prosseguirmos demonstrando confiança e força interior. Sempre é tempo de sonhar um novo sonho, de viver um novo amor, de realizar um  novo projeto.

Talvez, o que realmente seja importante na vida não é o que alcançamos, mas sim os caminhos que percorremos. Na verdade, é muito melhor chorarmos por nossos fracassos, do que morrermos lentamente de apatia,  sem ousadia, sem força e coragem para viver.

Recordamos que um mestre do passado disse que seu reino não era deste mundo, afinal o que é este mundo, o que é esta vida, o que são os problemas ante o infinito do universo? O que significam os pequenos contratempos cotidianos ante a beleza da lua a clarear com seu brilho e luminosidade o caminho dos homens? O que é esta vida corpórea de um instante ante as múltiplas dimensões extrafísicas do espírito?

  Quando lembramos que este planeta é menos de um grão de areia no universo, não podemos deixar de pensar na pequenez de nossos problemas e angustias. Ficamos a imaginar, em um doce sonho, que para além desta terra devem existir outros mundos, outras galáxias, repletas de vida, inteligência e  amor.


No espiritismo, aprendemos que somos, em essência, imortais e que prosseguimos além da morte. Aprendemos, também, que há um sentido maior para a realidade e que a vida não é uma aventura vã.

NR: Artigo publicado no Jornal Abertura de Maio de 2016

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Obstáculos ao Progresso - uma reflexão por Alexandre Cardia Machado

Obstáculos ao progresso – uma reflexão de Alexandre Cardia Machado

Confesso que me surpriendi pela semelhança de conteúdo, entre o texto que iremos reproduzir aqui abaixo, com o editorial escrito por mim na mês passado, hoje revendo jornais antigos me deparei com esta pérola editorial de Jaci Régis. Por acaso ou não, coincide com um momento de grandes quedas de políticos. O texto “ Obstáculos ao Progresso” é de setembro de 2009, publicado neste jornal.
“ Allan Kardec Perguntou:

781 – Tem o homem o poder de paralisar a marcha do progresso?
- Não, mas tem, às vezes, o de embaraçá-la.
O tema sugere pensar no progresso como necessidade ampla da sociedade e da pessoa.
Não apenas o progresso científico, econômico, mas o moral, do pensamento, da cultura.
No campo da moral, pública e particular, além do respeito às leis, sobretudo no respeito recíproco é a base real para que a pessoa cresça como ser e que se crie um ambiente social minimamente saudável.
As recentes e atuais controvérsias sobre o comportamento dos senadores da República, que têm motivado a repulsa e o escárnio da maioria da população.

Vemos homens públicos submetidos a constante investigação de sua propriedade, da sua moral.
Senadores de vários partidos, da situação e da oposição, foram flagrados em ilícitos fiscais e nepotismo, banalizando a serenidade do mandato de representantes de seus Estados.
Homens que envelhecem como protótipos de imoralidade, de uso indevido e criminoso dos bens públicos. Traçando um caminho tortuoso e irônico sobre a moralidade, sobre a capacidade do ser humano em se manter honesto.

A política é um exercício de cidadânia imprescindível para o beméstar social;
Esses homens, com comportamentos iníquos são pedras colocadas no caminho do progresso da sociedade, motivando os que tendem à fraude a buscar um lugar nesse sol sem calor que é a corrupção. E desanimando os que crêem na serenidade, no equilíbrio e na honestidade.
O inquietante é que são homens de fé. Vemo-los em missas e espetáculos religiosos empunhando o terço, ou seja, ajoelhando numa expressão externa de fé, que todavia não são paradigmas do comportamento diário. Alguns são sacerdotes de suas crenças.

Esse comportamento é um obstáculo ao progresso moral, à saúde social.
Claro que a sociedade tem meios de alijá-los do poder. Basta não votar neles. Expulsa-los pelo voto consciente.

Esse é o instrumento básico de democracia e deve ser usado positivamente pelo cidadão.
Em seu ensaio “ As Aristocracias”, allan Kardec projeta a utopia pe uma elite “intecto-moral”.
Porque, na visão dele “ A inteligência nem sempre constutui penhor de moralidade e o homem mais inteligente pode fazer péssimo uso de suas faculdades”.  O que aplica integralmente à maioria dos senadores e, por consequência, a certos políticos, cuja inteligência é notória, mas moralmente deficitária”.


Desde 2009 para cá algumas coisas mudaram e vários políticos foram condenados pelo Supremo Tribunal Federal e, pleno gozo de seu mandato. Demonstrando que o voto além do voto a pressão do cidadão de alguma forma fez com que  a Justiça atuasse como deveria ser, protegendo a Constituição e o conjunto de normas legais que orientam a atuação de todos os cidadãos.

NR: Texto publicado no jornal Abertura de Maio de 2016.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

A Importância da Espiritualidade Laica no século XXI - por Roberto Rufo

A IMPORTÂNCIA DA ESPIRITUALIDADE LAICA NO SÉCULO XXI.

" O modelo cristão, assim com o os demais modelos teológicos erraram por irem ao contrário da Lei Natural ". ( Jaci Regis ).

" Uma nova espiritualidade laica nasce da sacralização do ser humano por meio do amor ". ( Luc Ferry ).



                                         Num brilhante artigo no jornal " O Estado de São Paulo " em 15.05.2016, o professor Celso Lafer trata da questão da laicidade no cenário internacional. Ainda existem nos dias de hoje fatos que complicam a geopolítica mundial, ocasionados diz o professor, por interpretações de caráter fundamentalista de religiões estabelecidas.  Hoje temos 75 deputados federais da bancada evangélica, sendo que em 1.962 tínhamos 20 cadeiras do Partido Democrata Cristão de inspiração católica.

                                No mundo ocidental, depois de um domínio acentuado do pensamento religioso, com o Iluminismo e a Revolução Francesa, surgiu um processo de secularização da vida terrena, junto com a laicidade em contraposição ao clero dominante, trazendo então a dessacralização da sociedade.

                               Luc Ferry em seu livro " A Revolução do Amor, por uma Espiritualidade Laica ", o pensador francês Luc Ferry acertadamente nos mostra que alguns princípios ditaram a ética de nossos ancestrais : o Cosmos dos gregos, o Deus dos judeus e dos cristãos, a Razão e os direitos do humanismo moderno e republicano, com seus prolongamentos políticos, o patriotismo, o colonialismo ou a ideia revolucionária. Acontece que com a secularização dos valores, quem nas novas gerações gostaria de morrer por Deus, pela pátria ou pela revolução? 

                               A meu ver a grande contribuição da laicidade foi a obtenção da autonomia dos seres humanos, citando como exemplo a liberdade de pesquisa científica livre do dogmatismo. Outro teor importante trazido pela laicidade foi o crescimento da importância da tolerância com a diminuição do poder ideológico sobre as pessoas.

                              Voltando a Luc Ferry, para quem, nos dias de hoje, o que dá sentido à nossa existência é o amor. O amor, segundo ele, é o novo grande princípio da nossa existência. Para além do humanismo está surgindo uma nova espiritualidade laica que nasce da sacralização do ser humano por meio do amor. Posição semelhante, o da necessidade do surgimento de uma nova visão da espiritualidade humana, é defendida pelo escritor Vargas Llosa. Obviamente não se trata da existência de espíritos ou de vida após a morte, mas de um novo poder que supere o pessimismo reinante nas correntes filosóficas a partir da segunda metade do século XX ou do materialismo sufocante das ciências mundiais.

                              Jaci Regis em seu livro " Novas Ideias " trata do tema ao lembrar que o Espiritismo declara que a Lei Natural é que governa o universo, abandonando-se o modelo judaico-cristão, onde o poder de Deus é arbitrário. Temos que nos posicionar sempre a favor de uma estado laico, pois só assim se cria uma plataforma comum de respeito mútuo em todos os campos da atividade humana. Na política preocupa-me o crescimento do pensamento religioso, pois este tipo de gente é inflexível na maneira de ver o comportamento humano, sempre sonhando com um mundo uniforme com suas ideias religiosas. 

                              A espiritualidade laica, à qual devemos nos ombrear, deseja refletir sobre a vida boa sem passar por um deus ou pela fé, apenas utilizando os meios de lucidez desenvolvidos pela avanço intelectual das pessoas. Fazendo parte desse novo mundo, Jaci Regis aponta que o Espiritismo pode colaborar na construção de uma nova civilização, pois quando se trata de Lei Natural a subsidiar uma espiritualidade laica a doutrina kardecista é precursora.


 NR: Este artigo foi publicado na edição de Julho de 2016 do Jornal Abertura, não deixe de assinar este importante veículo de valorização do espiritismo Livre-pensador.                                                                                                                                       


quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

O Processo de Mudanças do Espiritismo - por Roberto Rufo

O Processo de Mudanças do Espiritismo.

" Sua excelência atingiu o cume da ignorância, e no entanto prosseguiu ". ( Millôr Fernandes ).

" Aos vinte anos de idade eu achava o meu pai um completo idiota. Hoje aos 40 vejo como o velho evoluiu nos últimos 20 anos". ( Mark Twain ).

" O progresso moral é uma consequência do progresso intelectual, todavia não o segue imediatamente " ( Resposta dos espíritos à pergunta 780 do Livro dos Espíritos ).l


 Não sei se por falta de assunto, ou se devido a um tempo muito grande dedicado à organização do XIV SBPE, ou até mesmo a indisponibilidade momentânea de palestrantes, eu como Diretor de Estudos do ICKS, num momento de saudades inexplicável, resolvi que estudaríamos  três capítulos do Livro Segundo do Livro dos Espíritos, denominado " Mundo Espírita ou dos Espíritos ". Seriam eles o VII - Retorno à vida corporal, VIII - Emancipação da alma e o IX – Intervenção dos espíritos no mundo corporal . Depois desses estudos chegamos à conclusão que uma grande parte do que está nesses capítulos já não corresponde mais  ao progresso intelectual de que fomos participantes nos últimos 26 anos, com o consequente avanço moral apreendido.

O que deveríamos então? Não estudar mais esses capítulos?. Assim decidimos. Até o momento em que alguém, com capacidade para isso, faça uma revisão modernista dos mesmos. Ou deixá-los como está, mas informando aos participantes da Doutrina Espírita que existem modernas atualizações das situações ali abordadas. Lembrei-me então do V Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita de 1997 em Cajamar/SP, onde o pensador espírita Reinaldo di Lucia apresentou o trabalho de nome " O Processo de Mudanças do Espiritismo ", nome esse que me apropriei no título deste artigo.

Reparem que falamos de 18 anos atrás, período em que a juventude ainda corria em nossas veias. O Reinaldo di Lucia certamente ainda não havia chegado aos 40 anos e no entanto já se preocupava com o necessário processo contínuo de renovação do pensar espírita. Logo na Introdução, no seu primeiro parágrafo, ele alertava que " um dos principais problemas, senão o maior, com que o Espiritismo defronta-se hoje é a recusa por parte dos componentes do movimento espírita, seja no âmbito pessoal, seja no organizacional, em encetar uma busca por novos conhecimentos que culminasse com necessárias atualizações na estrutura doutrinária, em seus aspectos científico e filosófico ". Qual consequência desse tipo de comportamento? O próprio Reinaldo nos responde: " essa recusa em aceitar um processo de mudanças para a doutrina espírita, mesmo tendo este processo sido preconizado pelo próprio Allan Kardec, faz com que, cada vez mais, o Espiritismo esteja afastando-se da posição de ciência ou filosofia moral, com a qual ele próprio se define ". 

Nos capítulos seguintes do seu brilhante trabalho de 1997, Reinaldo trata da questão religiosa, do questionamento e atualização, da verdade espírita, do controle universal dos espíritos e nos três últimos capítulos aborda a questão das mudanças. Por quê mudar ; Para que mudar? Como mudar?
Hoje relendo este trabalho, vejo que andamos muito para frente. Os alertas e estudos avançados dos intelectuais espíritas surtiram efeito num bom número de pessoas e na criação de organizações com um pensar produtivo e avançado. Falta muito. Não importa. Os seis passos ensinados pelo pensador e autor espírita Jaci Régis têm servido de alicerce e horizonte a muitas pessoas: não fechar as portas a nenhum progresso ; não sair do círculo das ideias práticas ; apoiar a descoberta de novas leis ; assimilar todas as ideias reconhecidamente justas ; seguir o movimento progressista com prudência e não imobilizar-se.

Releiam o trabalho do pensador Reinaldo de 1997, e façam um balanço dos últimos 18 anos em suas, nas nossas vidas. Verão que avançamos bastante na mudança de comportamento o que facilitou a assimilação de novos conhecimentos. Até mesmo a nossa nova vida moral mudou para melhor. Aliás nesse sentido o mundo caminhou para melhor, principalmente na superação de tantos preconceitos.
Finalizo dizendo, apropriando-me de uma conclusão do Reinaldo, que os seis passos propostos pelo Jaci são importantes, mas prestem atenção que eles se referem à postura que o espírita deve ter para permitir a existência das mudanças. O Livro dos Espíritos é um marco importante. Seu conteúdo deve atualizar-se.




                                                                                                                                                                                                                                                                                    


terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Revisitando o Caderno Cultural Espírita - Outubro 2002 - por Reinaldo di Lucia

Revisitando o Caderno Cultural Espírita - Outubro 2002

O Perispírito
Uma abordagem do século XX

Reinaldo Di Lucia

Proposta: uma nova visão do perispírito

                       
                         Mas, se o modelo teórico do perispírito tal como apontado acima já não satifaz as modernas concepções científicas, é necessária, a proposição de um novo modelo, ainda que como uma hipótese, mais coerente. É o que se procurará fazer.
                         Este novo modelo baseia-se, cientificamente, nos conceitos físicos anteriormente explicados. Filosoficamente, parte do dualismo espírito-matéria, e da contínua inter-relação existente entre eles.
                         As essências dos principios material e espiritual, criados por Deus para formar o Universo, são apenas conceitos fundamentais, sem existência física real. Ocorre que essas essências individualizam-se, formando os diversos entes que compõem o Universo real. Estas individualizações é que formam os espíritos imortais a que nos referimos quando tratamos com os desencarnados.




                         As individualizações do princípio inteligente (que aqui chamamos de Espíritos, com maiúscula, seguindo a nomenclatura de Kardec) estão sempre e incessantemente interagindo com diversas formas de matéria. Isto ocorre graças a peculiar constituição do Universo (segundo os fundamentos da filosofia espírita), em que só pode haver evolução a partir dessa interação.
                         É exatamente isto que o espiritismo quer dizer quando afirma que o Espírito tem experiências em todos os reinos da criação. Esta afirmação costuma ser entendida como se o Espírito "encarnasse" numa rocha ou numa montanha, com todas as dificuldades lógicas que daí resultam. Na verdade, o que ocorre é que o Espírito, em contato íntimo com diversos tipos de matéria, aprende com todas essas interações.
                         Mas, se a matéria é essencialmente uma só (aquilo que Kardec chama de fluido cosmico ou fluido universal ), convenientemente modificada para adquirir as diversas propriedades funcionais nos diversos graus em que ela apresenta-se, então deve ocorrer um continuum material que vai da matéria mais "bruta" aquela mais "sutil". Alguma das propriedades da matéria (como, somente a título de exemplo, a frequência) deve apresentar um gradiente que diferencie estes diversos tipos de matéria.
                         O perispírito pode ser, então, formado por esta mesma matéria numa dada condição de frequência, que, atualmente, não conseguimos captar com nossos equipamentos nem nossos sentidos. Quanto mais evoluído o Espírito, tanto mais elevada a frequência desta matéria, e mais depurado é o perispírito.
                         Neste modelo, a matéria que compõe o perispírito (na verdade, um tipo de energia) é perfeitamente integrada com a matéria "densa", podendo, assim, interagir com partes dela. Da mesma forma, por ser muito mais sutil, é perfeitamente suscetível de ação direta pelo Espírito, que pode moldá-la segundo sua vontade.
                         O Espírito age como se fosse (numa analogia grosseira) uma carga. Tal como uma carga elétrica cria em torno de si um campo eletromagnético,  , o Espírito em torno de si um campo, que, a falta de nome melhor, pode ser chamado de campo espiritual.
                         Este campo espiritual é o lugar geométrico onde aglutinam-se as energias que constituem o perispírito. Este não seria, então, um corpo, um organismo propriamente falando, mas um aglomerado energétic-material com constante interação com o espírito.
                         Encarado sob este novo modelo, o perispírito passa a ter propriedades e funções mais adequadas aos conceitos atualmente aceitos pela ciência, sem descaracterizar as funções principais que lhes foram atribuídas por Kardec:

  • Permite ao Espírito adquirir experiências que lhe são absolutamente necessárias para seu progresso intelectual.
  • Age como individualizador dos Espíritos desencarnados, dando-lhes uma forma que lhes permita, especialmente em estágios menos avançados do processo evolutivo, seguir aprendendo e atuando. Pode ser modificado segundo a vontade do Espírito.
  • Age durante a encarnação, permitindo que o espírito consiga uma união perfeita com a matéria mais densa que compõe o corpo físico. Poder-se-ia dizer que, de certa forma, é intermediário entre o corpo físico e o espírito. A diferença é ser um intermediário estruturado como um continuum da própria matéria corporal, sob a forma energética, e não algo completamente distinto dela.
  • Tem papel importante nas manifestações mediúnicas de efeitos físicos, tais como a materialização. Sua atuação nas manifestações inteligentes ainda precisa ser estudada.
  • Recebe a influencia de energias externas, vindas normalmente de outros Espíritos, sejam elas benéficas ou não.
  • Não possui a função de transmissor de sensações do corpo para o Espírito ou de ordens no sentido inverso. Da mesma forma, não tem nenhuma atuação sobre a memória ou a inteligência. Não possui órgãos nem nenhuma constituição semelhante, que são exclusivas do corpo físico.
  • Modifica-se de acordo com as necessidades e capacidades do Espírito, mas não obrigatoriamente em mundos distintos (há de se verificar a questão da isotropia material do Universo).





segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Espiritismo para o século 21 - O que queremos - por Alexandre Machado

Espiritismo para o Século XXI - O que queremos

 “ Eu não tenho talento especial; eu sou apenas um curioso apaixonado” – Albert Einstein




Objetivo desta coluna

Iniciamos este mês esta coluna destinada a registrar contribuições feitas por espíritas livre-pensadores que através de seu trabalho de pesquisa, estudo ou elaboração filosófica produziram material inovador, contribuindo para o desenvolvimento do Espiritismo Laico.

Jaci Régis estava muito focado em estimular a atuação de nosso grupo livre-pensador, sua grande procupação estava ligada à nossa capacidade de produzir conhecimento. Este foi quem sabe o maior motivador da criação do Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita, que neste momento está na fase de preparação para a sua 15ª edição.

Jaci assim se referia à questão da produção de novas ideias:

“ A resistência às novas ideias é um fato real, porque as pessoas tendem a se acomodar com o que aceitam como verdade. Embora a dinâmica da cultura, a tendência é manter e cristalizar as verdades conhecidas, o que sugere conforto e tranquilidade.” ( Resistência às novas ideias – Jaci Régis, Abertura Outubro 2007)

Evidentemente que este jornal, busca permanentemente trabalhar para a consolidação das ideias renovadoras, buscando agir conforme ensinado por Allan Kardec. Sabemos do enorme desafio que temos pela frente. Para reforçar a importância e a dificuldade da tarefa destacamos algumas considerações de Régis:

“Embora teoricamente o Espiritismo seja uma Doutrina progressiva e progressista, a tendência é manter o conhecimento atual num patamar estável, senão intocável”.

Todavia, o Espiritismo foi estruturado para manter-se atualizado, acompanhar o desenvolvimento das ideias e das alterações das verdades consagradas.

O ponto crucial é a estrutura mental do espírita.

Ele precisa mobilizar suas energias, sua inteligência, seu tirocínio para que o Espiritismo não permaneça à margem do progresso e, simultaneamente, manter seu eixo de consciência e consistência doutrinária.

Esse perfil do adepto do Espiritismo foi desenhado por Kardec ao criar uma Doutrina sui generis que se propõe a se auto revisar, evoluir e crescer”. ( Resistência às novas ideias – Jaci Régis, Abertura Outubro 2007)

Allan Kardec em seu livro Obras Póstumas, que como todo sabemos foi editado bem depois de sua desencarnação, utilizando-se de textos que Kardec haviavinha trabalhando e que nos deixa tres pontos importantes sobre o futuro do Espiritismo:

O primeiro ponto não tem a ver com o propósito deste artigo, e trata da formação de seitas ou dissidências que não considerassem todos os princípios espíritas.

O segundo trata de não sairmos, no processo de atualização, do campo das ideias práticas e em terceiro, trata do caráter essencialmente progressista da Doutrina.

Resumindo:
“ Se é certo que a utopia da véspera se torna muitas vezes a verdade do dia seguinte, deixemos que o dia seguinte realize a utopia da véspera” ou seja um pouco de prudencia não faz mal.

“Apoiada tão só nas leis da Natureza, não pode variar mais do que estas leis; mas, se uma nova lei for descoberta, tem ela que se por de acordo com essa lei, não lhe cabe fechar a porta ao progresso, sob pena de suicidar-se. Assimilando todas as ideias reconhecidamente justas, de qualquer ordem que sejam, físicas ou metafísicas, ela jamais será ultrapassada, constituíndo isso uma das principais garantias da sua perpetuidade.”(Obras Póstumas – páginas 348 e 349).

Complementamos com as palavras de Jaci Régis, ressaltando o trabalho que temos seria conveniente que realizássemos:

“Diante desse quadro, a pretensão de Kardec de criar uma mentalidade capaz de mudar, de aceitar o novo, de reconstruir, a cada momento específico, o conjunto de verdades aceitas parece cada vez mais distante”. ( Resistência às novas ideias – Jaci Régis, Abertura Out/ 2007)

Sobre como fazer isto, nos deixou um caminho que buscamos caminhar nesta coluna.
“ Os espíritas que se consideram progressistas, leigos, precisam pensar em pesquisas, releituras, descobertas de novos caminhos, novas linguagens.”

A inserção dos conceitos espíritas na discussão e solução dos problemas humanos atuais é uma necessidade crescente.

Porque, caso contrário, a Doutrina ficará à margem como uma religião estática, tendendo a seguir os passos da Igreja, como tem acontecido.

O trabalho é urgente, porque a cultura adotou uma visão do Espiritismo que o aproxima dos cultos religiosos mais atrasados. O Centro Espírita, tomado como pronto socorro, hospital, etc. Não consegue, de modo geral, adeptos, mas clientes”. ( Produzindo ideias – Jaci Régis, Abertura Abril 2009)

“Estamos carentes de produções com conteúdo, com respaldo em investigações e conexão com os temas da ciência, da política, da filosofia.

Mergulhar na reflexão, na investigação, na busca de respostas e apresentar suas descobertas, suas posições, provocando o debate, o questionamento”. ( Produzindo ideias – Jaci Régis, Abertura Abril 2009)

Portanto, o papel dos laicos em resumo é:

“ O grupo de espíritas que se auto-denomina de laico, compões uma fração pequena do movimento espírita.
Ser laico exige uma renovação mental para que  não se patine no mesmo refrão anti-religioso, mas avance no sentido de penetrar no pensamento de Allan Kardec e torná-lo atual, capaz de revolucionar o entendimento humano.
O dinamismo do pensamento espírita precisa ser acelerado e explorado pelos laicos de maneira muito mais agressiva e produtiva do que tem sido”. ( O papel dos Laicos – Jaci Régis, Abertura Agosto 2009)

Nesta coluna portanto estaremos trazendo uma releitura do vasto material produzido nas diversas edições dos Simpósios Brasileiros do Pensamento Espírita, que tiveram a capacidade de resignificar e avançar no conhecimento espírita.

Alexandre Cardia Machado

NR: Publicado originalmente no Jornal Abertura - novembro de 2016


Alexandre Cardia Machado

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Posicionar-se é viver - por Alexandre Cardia Machado e Bruna Régis Machado

Posicionar-se é viver

Estávamos em casa, fazendo uma limpeza de armários e nos deparamos com algumas redações escolares de nossas filhas, Cláudia sempre teve um carinho especial por estas recordações de um tempo onde elas viviam ao nosso redor. A Linha da vida é esta mesmo e os filhos saem para trabalhar.
Voltando às redações, uma nos chamou mais a atenção, talvez pelo momento em que vivemos, foi escrita pela Bruna, nossa filha mais velha em 2005 e tinha o título “Posicionar-se é viver” uma redação de cursinho pre-vestibular, corrigida pela professora, identificada como Lígia.




Transcrevo aqui algumas partes, pois nos permite mergulhar no tempo e na mente adolescente, mas já rica em observações do mundo ao seu redor.

“ O mundo é muito dinâmico. Tantas coisas se passam ao mesmo tempo, de forma tão diferente, e as pessoas são bombardeadas com informações a cada minuto. Dentre os milhares de acontecimentos que se tem conhecimento durante a vida, há sempre aqueles mais marcantes...

Cada pessoa tem um jeito único de encará-la, pois cada uma delas possui um histórico diferente de criação, educação e estrutura moral, e é isso que as torna tão singulares entre si. Embora as características pessoais existentes no homem sejam bastante diversas, existem certas posturas que são muito comuns numa sociedade. Uma delas é a acomodação, acomodação política, afetiva, 
profissional ou de qualquer outro setor que exija a reflexão e consequentemente a emissão de opinião.
Isso ocorre frequentemente pois não se posicionar é muito mais fácil, ser espectador da vida é tão mais simples do que atuar nela, afinal não exige esforço, não é preciso se arriscar, desistir, 
transformar e tentar de novo. É necessário apenas ser indiferente e não se importar com o que acontece ao redor, ignorando qualquer sinal de movimentação interna”.

Sabemos que não são todas as pessoas que se preocupam com o de onde venho? O que sou? Ou para onde vou? Perguntas básicas da filosofia tradicional. Nossa sociedade atual vive entre o imediato e não é comigo. Posicionar-se, requer um abrir-se ao mundo – olhar para frente, analisar, planejar e pela ação tentar mudar a realidade ao nosso redor.

Uma hipótese para a pequena ação política ou social, alguns podem pensar, seria porque as pessoas atualmente parecem não ter religião ou partido político. Mas pesquisando o número de Brasileiros que se auto denominaram ateus ou sem religião, não chegou nem a 2% no Censo de 2010. Portanto esta não é uma das causas. Ligação a partidos políticos, talvez o excesso deles, 36 seja uma das razões que não nos faça adotar um. O alto índice de abstenção nas últimas eleições assim o demonstra.

Mas de 2005 para cá, certamente que o interesse por política aumentou bastante, tomou conta dos noticiários e tivemos diversas manifestações populares, pessoas de todas as idades foram para as ruas, posicionaram-se, algo quem sabe impensável há meros 11 anos atrás, ainda que os manifestantes não tenham demonstrado associação clara e nenhuma organização política, foi muito mais um grito de basta.

Bruna discorre naquilo que entende sejam os componentes da falta de ação e investe na análise do que seria pior em termos de responsabilidades não compartilhada, enquanto seres socias que somos.
“ O acomodado tem uma postura pior do que a do alienado, porque o primeiro tem conhecimento do que se passa, mas se esconde atrás da falta de preocupação, já o segundo não quer saber o que acontece para não se ocupar. Aquele que não se manifesta não o faz não porque não o consegue, e sim porque não o quer, ele não possui ânsia de conhecimento e de discussão, já que se conforma com as coisas do jeito que elas estão. Acredita que não pode fazer nada para modificar a sua, ou a situação de outros, é como se vivesse em uma caixa de vidro, observando a vida correndo a sua volta”.
Ao que tudo indica, os acontecimentos recentes no Brasil, forçaram que até mesmo alienados e acomodados saíssem do armário e expressassem o seu pensamento. Na mais diversas formas de manifestações de pensamento, em todos os tons que vivemos nos dias de hoje, quer fisicamente, quer no mundo virtual da internet e redes sociais.

Bruna meio que detectou o mecanismo de resposta dos mansos, “ Entretanto, o posicionamento conformado é fácil, porém não leva a lugar algum. E, talvez, seja  este o seu objetivo, manter-se estagnado mas, esta realidade é finita. Em algum momento da vida, percebe-se que nada foi construído e que pode ser muito tarde para mudanças, porque, às vezes, quando a mente começa a funcionar, o corpo já não tem mais condições de acompanhá-la. Porém, quando se nota que a vida pode ter um sentido maior, mesmo sem a possiblidade de transformação, a consciência da acomodação é, por si só, uma forma de evolução e progresso humano”.

Este texto em sua ambientação original, não traz uma abordagem espírita. Pois trata-se de um exercíco visando uma redação para vestibular; mas o último mostra uma visão transformadora, que é a mola do Espiritismo, a possibilidade de não ficarmos parados, pois a cada dia que vivemos aprendemos algo que pode ser usado no futuro,  nesta ou em outra vida.

Kardec nos ensina que devemos ser moderados, calmos, agir com sabedoria, mas jamais nos acomodarmos, pois somos seres que transitamos pela Terra e devemos deixar a nossa marca.

NR: Este artigo foi originalmente publicado no Jornal ABERTURA de novembro de 2016

Posteriormente foi publicado em espanhol no jornal Flama Espírita.