O Livre-Arbítrio no
Espiritismo
Eugenio Lara
A existência do livre-arbítrio tem importância
fundamental para a Filosofia Espírita porque toda sua ética, sua axiologia ou
teoria de valores é baseada na ideia de liberdade, de livre-escolha. A base, o
esteio da Ética Espírita é a liberdade. E liberdade, aplicada à ação do
sujeito, pressupõe, segundo a Filosofia Espírita, o livre-arbítrio, sem o qual
“o homem seria uma máquina”.
A Filosofia Espírita admite que há um determinismo
natural, engendrado pela “força das coisas”, pelas leis naturais. Todavia, esse
determinismo não anula o livre-arbítrio. O espirito é livre e responsável pelos
seus atos. E mais, diz que nos atos da vida moral, jamais há fatalidade. A
fatalidade somente existe no momento em que reencarnamos e desencarnamos: no
nascimento e na morte:
“Não existe de fatal, na
verdadeira acepção do vocábulo, senão o instante da morte. Quando ele chega,
deste ou daquele modo, não podeis a ele fugir”. (O Livro dos Espíritos q. 852).
“A fatalidade não consiste senão na hora em que deveis
aparecer e desaparecer daqui debaixo”. (LE
q. 859).
“A fatalidade está nos acontecimentos que se apresentam,
pois estes são a consequência da escolha da existência feita pelo Espírito.
Pode não ser o resultado desses acontecimentos, pois pode o homem lhes
modificar o curso por uma ação prudente. Jamais ela está nos atos da vida
moral.” (LE - Resumo teórico do móvel
das ações humanas).
Segundo a Filosofia Espírita, o livre-arbítrio se
caracteriza da seguinte maneira:
1.
É um atributo natural do princípio
inteligente, do espírito, que molda a capacidade de pensar e de agir, sem o
qual ele seria uma máquina desprovida de liberdade. Ser senhor de si mesmo é um
direito que vem da Natureza. A
liberdade é, portanto, um direito natural do princípio inteligente.
2.
É evolutivo porque se desenvolve na
medida em que o princípio inteligente progride. De início o livre-arbítrio é
bastante rudimentar, instintivo, para se tornar pleno e integrado ao espírito
em seu estágio hominal, quando este supera os primeiros patamares do progresso
intelecto-moral.
3.
É relativo porque depende das
relações sociais, interpessoais, da cultura. A liberdade absoluta somente
existe, teoricamente, para o eremita no deserto.
4. Depende
das vicissitudes materiais para se
manifestar. Quanto menos materialidade, maior a sua expressão e manifestação.
5. Tem
um sentido profundamente moral, ético porque através do livre-arbítrio o ser
humano toma decisões comportamentais que irão influir nos relacionamentos
interpessoais, sociais. É a responsabilidade
moral e social.
6. É
compatível com o determinismo natural,
porque não há fatalidade nos atos da vida moral. É como imaginar as correntes
do mar que não impedem o nado livre dos peixes. Do mesmo modo, as correntes da
vida natural e social não impedem que o espírito aja com liberdade.
A Filosofia Espírita acompanha os avanços da ciência,
os fatos comprovados e admite os fatores ambientais, culturais, genéticos e
psicológicos que influem nas decisões humanas. E ainda acrescenta mais alguns
dados complicadores:
a.
A
influência dos espíritos. Muitas vezes “são eles
que nos dirigem”. Os processos obsessivos influem decisivamente no
livre-arbítrio.
b.
A
voz do instinto, um dado novo na obra kardequiana,
porque representa todo um conjunto de vivências e experiências advindas de
outras existências e que, de modo intuitivo, podem servir como orientação em
decisões cruciais na vida do espírito reencarnado.
c.
O livre-arbítrio permite
ao espírito configurar o gênero de vida,
determinando desta forma o gênero de
morte. Tal escolha está subordinada à capacidade intelecto-moral e psíquica
do espírito reencarnante.
d.
A volição existe sempre, mesmo nos estágios inferiores do
desenvolvimento intelecto-moral. Já o livre-arbítrio, desenvolve-se na medida
em que o espírito vivencia a erraticidade, com um certo nível de consciência de
si mesmo e do meio em que vive.
A partir desses pressupostos, pode-se inferir que
todos os seres da natureza têm volição. O espírito puro, conforme a escala
espírita, também é volitivo, todavia, por estar plenamente integrado às leis
naturais, não possui livre-arbítrio, dada a inutilidade desse atributo natural,
em função de seu avançado estágio evolutivo.
NR: Este artigo foi originalmente publicado na edição de dezembro de 2015 do Jornal ABERTURA.
Os artigos desta coluna baseiam-se em estudos
e pesquisas desenvolvidos pelo CPDoc. www.cpdocespirita.com.br - contato@cdocespirita.com.br
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