domingo, 20 de agosto de 2017

Irmãs Fox - Uma tragédia Espiritualista por Marcelo Coimbra Régis

Irmãs Fox: Uma Tragédia Espiritualista
Marcelo C. Regis

Os fenômenos de Hydesville são considerados o berço do espiritualismo moderno e são também precursores do Espiritismo. Ao tornar popular a comunicação inteligente com espíritos através de sons e batidas em superfícies de madeiras (rap), os fenômenos atraíram a atenção do público e de muitos cientistas, primeiramente nos EUA e logo na Europa. Não demorou muito para que implicações filosóficas e religiosas fossem construídas a partir dos fenômenos e daí surgissem as várias correntes espiritualistas modernas. Infelizmente a história das irmãs Fox não tem um final feliz, incluindo confissão de fraude, alcoolismo, brigas, culminando com a morte das duas Fox mais famosas – Katherine (Kate) e Margaret (Maggie) – no esquecimento e na pobreza. 

Os casos de supostos médiuns de efeitos físicos pegos em fraude são numerosos, incluindo muitos médiuns estudados por autores que dão ainda hoje a base científica ao Espiritismo. Eusapia Paladino, Leonora Piper, Eva Carriere, D.D. Home, Mme. d'Ésperance são apenas alguns dos mais famosos médiuns estudados por gente como Aksakov, Bozzano, Geley, pegos em algum tipo de fraude durante sessões de efeitos físicos. Normalmente os periódicos espiritas, por motivos óbvios, ignoram esses contraditórios e assumem apenas as opiniões dos cientistas favoráveis a causa espirita ou espiritualista. Penso que precisamos conhecer todos os fatos para que o Espiritismos não seja apenas mais uma crença de fanáticos cegos por suas convicções.

No caso das irmãs Fox, tudo começou no final de Março de 1848. Maggie, então com 14 anos e Kate, com 11 anos, viviam em Hydersville uma pequena comunidade rural no estado de Nova Iorque quando os estranhos ruídos começaram. Elas diziam escutar uma série de pancadas nas paredes e móveis. Foi Kate quem teve a idéia de iniciar alguma comunicação com as batidas, pedindo que a entidade batesse o mesmo número de vezes que ela estalava seus dedos. Começava aí toda uma carreira de comunicações e sessões mediúnicas em que as irmãs Fox seriam protagonistas. A notícia das irmãs que se comunicavam com os mortos rapidamente se espalhou. Entra em cena Leah, irmã 23 anos mais velha que Maggie, que vivia em condições precárias em Rochester, NY após ser abandonada pelo marido. Rochester era uma próspera cidade americana e também efervescente com movimentos religiosos como Mormonismo e Milenarismo (precursor do Adventistas do Sétimo Dia). As sessões das irmãs Fox tornaram-se a coqueluche da cidade, lotando teatros em sessões pagas. Com Leah gerenciando as irmãs, elas logo chegaram a Nova Iorque, onde conduziam três sessões diárias cobrando um dólar de ingresso. Nessa época Leah também desenvolveu habilidades mediúnicas, apesar de menos impressionantes que suas irmãs menores. Assim, com Leah garantindo as sessões em Nova Iorque, Maggie e Kate levaram suas sessões para diversas cidades americanas, num tour que incluiu Cleveland, Cincinnati, St. Louis, Washington, DC entre outras cidades. Essa extensa, extenuante e lucrativa rotina continuou até 1853, quando Maggie apaixona-se pelo explorador Elisha Kent Kane, que a convence a abandonar suas atividades mediúnicas. Os dois se casam, mas Elisha falece em 1857 deixando Maggie em situação financeira, mental e emocional difícil. Maggie retoma suas atividades mediúnicas e começa a beber. Em 1871 Kate, que nunca abandonou sua carreira como médium, viaja para a Inglaterra sob o patrocínio de um banqueiro americano. Na Inglaterra Kate, agora realizando fenômenos mais extraordinários como escrita direta e sem cobrar por suas sessões, submetesse a sessões com renomados espiritualistas britânicos. Porém a fama cobra seu preço e por essa época Kate se torna alcoólatra. Em 1872 Kate casa-se com H.D. Jencken advogado e espiritualista, porém Jencken falece em 1881 deixando Kate com dois filhos pequenos. Em 1885 o espiritualismo já se encontrava em declínio e sob ataques, investigações e alegações de fraude. A tragédia começa a abater as irmãs. Maggie chamada perante um comitê de investigação não consegue provar suas habilidades mediúnicas. Kate retorna a Nova Iorque e é presa por alcoolismo e vadiagem. Ato continuo, perde a guarda de seus dois filhos.

Em outubro de 1888, Maggie Fox concede entrevista exclusiva ao The New York World. O jornal publica sua confissão assinada. Na mesma Maggie denuncia o espiritualismo e suas sessões mediúnicas como fraude. Ela culpa sua irmã Leah por incentivar a fraude em troca dos benefícios financeiros e da exploração das irmãs mais jovens. Pela entrevista Maggie recebe US$1.500. Na mesma noite, Maggie confirma sua confissão em uma sessão no New York Academy of Music. Com Kate na platéia, Maggie explica como conseguia realizar as batidas através do controle dos músculos e juntas de suas pernas, dedos dos pés, joelhos e calcanhares. Na sessão Maggie demonstra as famosas batidas utilizando seu pé direito e um banco de madeira. Posteriormente Kate, que durante a audiência se manteve calada,  pronunciasse contrariamente a confissão da irmã e continua com suas atividades mediúnicas. Em 1891 Maggie retratasse da confissão, novamente atribuindo o ódio e ressentimento a Leah como motivação da mesma. Infelizmente a credibilidade de ambas já estava totalmente arruinada.

Kate vem a falecer por conseqüência do alcoolismo em julho de 1892 com apenas 56 anos. Maggie falace pobre e alcoólatra em março de 1893, com 59 anos.

Essa história digna dos folhetins e novelas brasileiras, demonstra que os Espiritas devem estar atentos aos aspectos científicos e guardar sempre algum ceticismo quanto aos fenômenos mediúnicos. Também convém manter a mediunidade e interesses econômicos totalmente separados conforme nos ensinou Allan Kardec. Os fenômenos mediúnicos parecem ser muito mais raros do que gostaríamos e os casos de fraude explícita muitas vezes mascaram fenômenos reais, afastando a comunidade científica do estudo dos mesmos. Hoje em dia são raríssimas as pesquisas nesse campo o que impede e atrasa qualquer avanço nas ciências do Espirito.

Rational Wiki, http://rationalwiki.org/wiki/Spiritualism#Fox_Sisters, Wikepedia, Fox Sisters
Paranormal Encyclopedia. com, Signed Confession of Margaret Fox Kane, October 1888

Marcelo Coimbra Régis é Engenheiro e reside em Cincinaty, Estados Unidos - artigo publicado na edição de Maio de 2017 do Jornal Abertura.


terça-feira, 8 de agosto de 2017

Esboço de Uma Teoria Espírita da personalidade - por Jaci Régis

VI - SBPE - Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita - 1999

ESBOÇO DE UMA TEORIA
 ESPIRITA DA PERSONALIDADE

JACI REGIS

INTRODUÇÃO

No conjunto de sua obra, Allan Kardec desenvolveu, certamente, uma teoria sobre a personalidade humana, de forma genérica e filosófica, tendo o Espírito como centro, propondo que as estruturas psicológicas individuais, são fruto do processo evolutivo. Isto é, o homem tal como se apresenta atualmente é fruto de uma lenta evolução moral e intelectual realizada na encarnação e reencarnação sucessivas.

Logo, a diversidade dos caracteres humanos é consequência dos desniveis evolutivos, isto é, numa ampla e filosófica visão,  a criatura humana é produto de si mesma.

Naturalmente Kardec não pode e nem dispunha de meios para analisar a estrutura psicológica do homem. No seu tempo falava-se em temperamento bilioso-sanguineo-nervoso, um defeito orgânico atribuido, segundo parece,à bilis ( Ver Revista Espírita,julho de 1863, pagina  214, edição brasileira). E ele parece acreditar que eram criados no organismo órgãos especiais para exprimir as faculdades do Espírito.

É o que depreende das seguintes considerações feitas por ele à questão 370-a, de O Livro dos Espíritos: “ O Espírito, ao encarnar-se, traz certas disposições, e se admitirmos, para cada um delas, um órgão correspondente no cérebro, o desenvolvimento desses órgãos será um efeito e não uma causa.....Admití, ao contrário, que os órgãos especiais, se é que existem, são consequente e se desenvolvem pelo exercício das faculdades, como os músculos pelo movimento, e nada tereis de irracional.”

A análise kardecista pressupõem, antes de mais nada, o componente moral, a estipular o caráter da criatura humana. Nesse sentido, analisando o mundo pelo prisma moral, o Espírito humano habita este planeta de provas e expiações, por três motivos principais: prova, expiação ou missão. Deus teria criado o corpo humano adequado para a encarnação desse Espírito pouco evoluido moralmente, para que ele se purificasse e demandasse, futuramente, a regiões espirituais ou planetas mais evoluidos.

Dessa forma, as características da personalidade seriam determinadas pelos fatores morais, ao longo do tempo, criando carateres reativos ou exprimindo estigmas produzidos pela violação das leis divinas.
Como sua análise da vida terrena está fundada  sob o aspecto da  relevância da  natureza espiritual, o organismo humano foi encarado como  um obstáculo, ainda que necessário, à expressão da totalidade da capacidade perceptiva, cognitiva  do Espírito, chamado alma pela sua união passageira com o corpo carnal.

Kardec, ao analisar a relação mente-corpo,  raciocinou de modo geral de acordo com o pensamento cartesiano, que contemplava uma absoluta divisão entre a alma e o organismo. Descartes define a separação entre a alma e o corpo, acreditando que por serem substâncias diferentes, havia a independência de uma em relação à outra. Embora sob outro enfoque, Kardec, além de introduzir a figura do perispírito, como intermediário,  não admitia que alma interagisse  diretamente com o corpo, mas guardaria em relação a ele uma distância sobretudo constitucional . Isto é, a comunicação entre a alma e o corpo, seria semelhante a de um piloto na cabine de um avião, sem uma interrelação positiva.

Propomo-nos a apresentar o esboço de uma  teoria espírita da personalidade. Essa tentativa nos parece justificada, porque na doutrina não existe um estudo realmente psicológico da personalidade, uma vez que a análise do homem se reduz ou se expressa, sobretudo, na visão larga e genérica do pensamento filosófico, não raro misturado com uma tendência religiosa, cuja natureza é, quase sempre, de condenação do homem.

Na análise da personalidade está em jogo muito mais do que enquandrar o homem   como réu da Justiça Divina.Isso  vicia o entendimento, por desconhecer que o ser espiritual é maior do que o  processo de culpa e castigo, pois ignora a complexidade das interações e situações psicológicas desenvolvidas pelo ser ao longo de sua trajetória.

A afirmação de Kardec:  “No momento  da concepção do corpo que se lhe destina, o Espírito é apanhado por uma corrente fluídica que, semelhante a uma rede, o toma e o aproxima da sua nova morada. Desde então, ele pertence ao corpo, como este lhe pertence até que morra”(Obras Póstumas, A Morte Espiritual, , pag. 199,  15a.ediçào, FEB), parece ser ,afinal, o que deve ser levado em conta.



BASES DA TEORIA

“Uma teoria é uma hipótese não consubstanciada ou uma especulação a respeito da realidade que não é ainda definitivamente conhecida”.

Essa definição explica a base de nosso trabalho. Ele é baseado no conjunto de informações e proposições filosóficas e descrições mais pormenorizadas das funções do Espírito, que estruturam genericamente o pensamento espírita que, não obstante trabalhar sobre temas não aceitos pela ciência e de modo geral pela cultura, têm seus fundamentos empíricos, tratados filosóficamente e objetivos moralizantes.

A Doutrina Kardecista  propõe uma análise do ser humano, num horizonte atemporal, dentro de sua teoria da evolução, na qual a reencarnação desempenha papel instrumental de processo desecadeante de estrutura e reestruturas cíclicas dos mecanismos mentais do Espírito.
Uma das mais significativas e inéditas  contribuições do pensamento espírita, refere-se à teoria da evolução do Espírito. Dentro desse enfoque, uma teoria espírita da personalidade compreenderá o estudo do ser, em dois momentos:

o período pré-humano, como tempo de estruturação básica da individualidade
o período de sua inserção no nível humano, onde estrutura uma pesonalidade mutante.
Nesse sentido, o estudo da personalidade será feito na relação sinérgica do Espírito e do corpo, considerando que, segundo a doutrina, no nivel atual de evolução do Espírito humano, a encarnação corresponde a uma situação praticamente natural de sua vivência.



ESTRUTURA DA INDIVIDUALIDADE

De acordo com a teoria espírita da evolução do Espírito, este é criado por Deus, como um princípio espiritual, “simples e ignorante”. Isto é, um ser potencial, estruturalmente vazio. A potencialidade está contida na possibilidade de expansão e aquisição de experiências, movida por uma forma de energia oriunda de sua natureza permanente, imortal.

Isso significa que no início do processo, o princípio espiritual carece de qualquer consciência de si mesmo e  não possue nenhuma estrutura básica de percepção ou seleção. Nesse sentido, pode-se dizer que a primeira fase do seu processo evolutivo, será a da aquisição de conteúdos de experiência.
 Como diz André Luiz no livro “No Mundo Maior”, ( página 57 ,20a.edição - FEB) “ O princípio espiritual desde o obscuro momento da criação, caminha sem detença para frente. Afastou-se do leito oceânico, atingiu a superfície das águas protetoras, moveu-se em direção à lama das margens, debateu-se no charco, chegou à terra firme, experimentou na floresta copioso material de formas representativas, ergueu-se do solo, contemplou os céus e, depois de longos milênios, durante os quais aprendeu a procriar, alimentar-se, escolher, lembrar e sentir, conquistou a inteligência....Viajou do simples impulso para a irritabilidade, da irritabilidade para a sensação, da sensação para o instinto, do instinto para a razão.






A FORMAÇÃO DO CORPO MENTAL


 Já vimos que o princípio espiritual não possui estrutura, pelo menos inicialmente. Todavia, interagindo com os  elementos orgânicos, ele vai desenvolvendo   uma estrutura psíquica , que chamo, por analogia,  de corpo mental. É nesse organismo psíquico que o princípio espiritual vai organizando um  sistema mental flexivel. Ai ele estrutura a memória e seleciona as experiências vividas.

Ao longo do tempo, construindo, reconstruindo e armazenando as esperiências, o princípio espiritual, começa a  adquirir consciência crescente de si mesmo. O corpo mental é, então, seu instrumento onde são inscritos, virtualmente, os resultados das experiências e vivências, suas impressões e aprendizado.

Referindo-se ao corpo mental, assim afirma André Luiz  “Para definirmos, de alguma sorte, o corpo espiritual, é preciso considerar, antes de tudo, que ele não é reflexo do corpo físico, porque, na realidade é o corpo físico quem o reflete, tanto quanto ele próprio, o corpo espiritual, retrata em si o corpo mental que lhe preside a formação”. E adiciona o seguinte comentário “O corpo mental ,assinalado experimentalmente por diversos estudiosos, é o envoltório sutil da mente...”(Evolução em Dois Mundos, Capitulo II - Corpo espiritual, página 25, 1a. edição 1959 - FEB).

Estudando os efeitos do monoideismo que leva à perda do perispírito, André Luiz diz o seguinte: “cabendo-nos notar que essa forma (ovóide), segundo a nossa maneira atual de percepção, expressa o corpo mental da individualidade, ao encerrar consigo, conforme os princípios ontogenéticos da Criação Divina, todos os órgãos virtuais de exteriorizaçào da alma, nos círculos terrestres e espirituais, assim como ovo, aparentemente simples, guarda hoje a ave poderosa de amanhã ou como a semente minúscula, que conserva nos tecidos embrionários a árvore vigorosa em que se transformará no porvir. (idem, página 91).

Temos, pois, uma descrição possivel do corpo mental, como um corpo sutil, de forma ovóide em torno do Espírito, guardando os órgãos de exterioração da alma. Nessa conjugação mento-espiritual reside a expressão da individualidade.

O  SURGIMENTO DA PERSONALIDADE



Segundo André Luiz,  o princípio espiritual  somente  é  promovido à condição de Espírito, quando adquire o que ele chamou de “pensamento contínuo”.

Quando, no seu crescimento evolutivo, o princípio espiritual desenvolve o circuito mental completo, isto é, seu pensamento é contínuo, ele alcança o nivel da razão e inicia a consciência de si mesmo. Com o pensamento contínuo, existe energia suficiente para manter o corpo psicossomático, que é a expressão do corpo mental.

Eis o que ele diz : “Pela compreensão progressiva entre as criaturas, por intermédio da palavra que assegura o pronto intercâmbio, fundamenta-se no cérebro o pensamento contínuo e, por semelhante maravilha da alma, as idéias-relâmpagos ou as idéias-fragmentos da crisálida de consciência, no reino animal, se transformam em conceitos, inquirições, traduzindo desejos e idéias alentadas, substância íntima (Evolução Em Dois Mundos, pagina 76, 1a. edição, 1959, FEB)
Não é aí, porém, que surge a personalidade.

Será necessário, ainda, a completa percepção de si mesmo, após a morte.  “ Em relação ao homem, os mamíferos que se ligam a nós outros por extremos laços de parentesco, em se desencarnando, agregam-se aos ninhos em que se desenvolvem os companheiros e, qual ocorre entre os animais inferiores, nas múltiplas faixas evolutivas em que se escalonam, não possuem pensamento contínuo para obtenção de meios destinados à manutençào de nova forma.... Pouco acima dessas mesmas bases  vamos encontrar o homem infra-primitivo, na rusticidade da furna em que se esconde, surpreendido no fenômeno da morte, ante a glória da vida, como criança tenra e deslumbrada à frente de paisagem maravilhosa, cuja grandeza, nem de leve, pode ainda compreender.

O pensamento constante ofereceu-lhe a precisa estabilidade para a metamorfose completa... Entretanto, o homem selvagem, que se reconhece dominador  na hierarquia animal, cruel habitante da floresta, que  apura a inteligência, através da força e da astúcia, na escravidão dos seres inferiores que se lhe avizinham da caverna, desperta  fora do corpo denso, qual menino aterrado, que, em se sentindo incapaz da separação para arrostar o desconhecido, permanece, tímido, ao pé dos seus,em cuja companhia passa a viver, noutras condições vibratórias, em processos multifários de simbiose, ansioso por retomar à  vida física que lhe sugere à imaginação como sendo a única abordável à própria mente...

Ressurgir na própria taba e renascer na carne, cujas exalações lhe magnetizam a alma, constituem aspiração incessante do selvagem desencarnado.... Pela oclusão de estímulos outros, os órgãos do corpo espiritual se retraem ou se atrofiam, por ausência de função, e se voltam, instintivamente, para a sede do governo mental, onde se localizam, ocultos e definhados, no fulcro de pensamentos em circuito fechado sobre si mesmos, quais implementos potenciais do germe vivo entre as paredes do ovo.  Nesse período, afirmamos habitualmente que o desencarnado perdeu o seu corpo espiritual, transubstanciado-se num corpo ovóide... (Idem, paginas, 88 a 91).

Segundo o autor, “De liberação a liberação, na ocorrência da morte, a criatura começa a familiarizar-se com a esfera extra-fisica...Encentando, pois, a sua iniciação no plano espiritual ,de consciência desperta e responsável, o homem começa a penetrar a essência da lei de causa e efeito, encontrando em si mesmo os resultados enobrecedores ou deprimentes das próprias ações (idem, páginas 91 e 92).

Então, segundo nos parece, surge o ego que é a formação básica para as estrutura da personalidade. É a partir desse momento que começa a elaboração das características pessoais, as formas que paulatinamente definirão a consciência de si mesmo.




FORMAÇÃO DA AUTO CONSCIÊNCIA

Encontramos no O Livro dos Espíritos, a seguinte informação:

190 - Qual o estado da alma em sua primeira encarnação?
-O estado da infância na existência copórea. Sua inteligência apenas desabrocha; ela se ensaia para a vida.
191 - As almas de nossos selvagens são almas em estado de infância?
-Infância relativa; mas são almas que progrediram, pois têm paixões
-As paixões são, pois, um sinal de desenvolvimento”
-De desenvolvimento sim, mas não de perfeição; as paixões são um sinal de atividade e da consciência do eu, enquanto que na alma primitiva, a inteligência e a vida estão em estado de germe.

Quando adquire o pensamento contínuo, que a habilita ao uso da razão e o desenvolvimento da palavra, a alma como que espia para fora e defronta-se com o vazio do conhecimento ou com a vastidão do desconhecido e com as pressões afetivas, antes não existentes.
Se no período pré-humano,  o vazio inicial foi preenchido pela organização inicial do corpo mental, agora, dispondo da razão, ela terá que desenvolver processos mentais que a habilitem a percepção e elaboração de conhecimentos e emoções.

A paixão, no nivel hominal, é a transformação ou a redireção da força interior , a energia natural que forma o núcleo  agressivo do Espírito. No estágio pré-humano essa força interior, foi sendo elaborada como impulso determinante da vida, e se consubstanciou na própria sobrevivência do ser .

No reino hominal, a força interior  se transforma em energia psíquica, enriquecida com as inquietações afetivas, que o faz progredir, desenvolver-se, não resignar-se e procurar, sempre, embora todos os baixos e altos da existência, um patamar superior ao que se encontra.
Ao alcançar a qualidade de Espírito, a estrutura básica do corpo mental é dominada pela força interior em forma de pulsões instintivas. O Livro dos Espíritos afirma: 1) o instinto é uma inteligência não racional; 2) não existe limites entre a inteligência e o instinto, isto é, eles se confundem; 3) o instinto existe sempre.

Todavia, no curso de sua existência, o Espírito desenvolve  defesas contra as agressões e os medos. Esses mecanismos de defesa, que são naturais, devido à fragilidade do próprios ser, quando patologizados, tornam-se formas restritivas da força interior , determinando os estados de consciência, conforme o Espírito vai enfrentando os desafios do dinamismo da vida.

Quando se transformam em processos neuróticos e psicóticos,  isto é, condições passionais, os mecanismos de defesa, introduzem importantes condicionamentos no dinamismo da vida,  que se exprimem no comportamento e na estrutura da personalidade.

De um modo genérico,  podemos dizer que a aplicação mais ou menos acentuada da força interior define a estrutura provisória da personalidade, uma vez que a lei do progresso ou processo evolutivo, estabelece constante mutação na direção do emprego desse energia básica.

Tangido pelo medo natural, lentamente, impulsionado pela paixão, inicia o trabalho de reestruturação do corpo mental,  criando instâncias psíquicas para comandar o processo cognitivo que se inicia e manipular, tanto quanto possível, as pulsões afetivas. Começará, enfim, a perceber sua vida interior, seu pensamento íntimo, sua visão específica e suas reações particulares aos estímulos, aos conflitos a que se exporá inevitavelmente.

A individualidade ao penetrar no hominal, desenvolve   o ego, de modo a contigenciar  de seu potencial instintivo, sua força interior, para alcançar seus objetivos de aperfeiçoamento e felicidade.
Não sabemos como se estruturam os mecanismos mentais, nem conhecemos como as emoções, os conhecimentos são inscritos no corpo mental .O certo é que alí vão sendo criadas estruturas que, ao longo da vida inteligente, estabelecem as condições para o manejo das relações afetivas e a acumulação do conhecimento.

As técnicas modernas de transformação de sons e imagens em ondas, pode nos dar uma idéia, embora pálida, de como os eventos, emoções e situações de repercussão no cosmo mental, são gravados na superestrura consciencional. Os fatos relevantes, com sua carga afetiva, seriam captados em forma de “ondas de memória”, em supermicro traços mnêmicos ou traços de lembrança e como tal impressionariam as regiões específicas dos centros de percepção do corpo mental.

Podemos figurar, numa analogia certamente pobre,  que esse mecanismo funcionaria como a câmara de televisão que  faz a “varredura” das imagens, transformando-as em ondas que o receptor decompõe, transformando-as outra vez em imagens.

Nasce então, embrionariamente, a auto-consciência uma superestrutura do corpo mental, resultado da somátoria algébrica das  experiências resultantes de várias encarnações e da vida extrafísica, compreendendo os fatores afetivos,lembranças e a bagagem de conhecimento da alma.
Nessa ampla   superestrutura da auto-consciência, existiriam estruturas específicas, divididas em zonas que abrangeriam determinados setores da atividade total da pessoa.

Teriamos a zona da sabedoria que seria o repositório das conquistas amadurecidas, pelo Espírito e que constituiria o nivel superior da individualidade, com a síntese dos conhecimentos adquiridos e sentimentos mais ou menos estabilizados e que de forma objetiva representaria aquilo que ele é ou resultado de sua evolução real.

Outra seria a zona problemática, constituindo o acervo das questões afetivas não resolvidas, desvios de conduta e impulsos não canalizados,  com os materiais recalcados, censurados, resultantes de ações e conflitos decorrentes do sinamismo da vida.

No campo da personalidade reencarnada, da zona problemática  sairiam  os componentes do inconsciente, exprimindo o conflito latente entre a zona da sabedoria e a zona problemática.

A zona da memória, constituida de ondas de memória propriamente ditas, guardaria as  lembranças de fatos e acontecimentos marcantes e que  podem ser recuperadas, nos traumas e nos momentos de extrema emoção, tanto enquanto encarnado, quando desencarnado. Funcionaria, mutatis mutante, como o receptor de televisão, o que garante, nesse modo de ver, a perpetuidade da lembrança dos fatos marcantes na vida do Espírito.

No centro dessa diversidade estrutural estaria o Espírito, o ser em si mesmo, pois ele é uno e não dividido. Ele exerce sua capacitação  para coordenar ações e reações, e manipular os estímulos e necessidades internas e externas.

O Espírito vive sempre o momento atual, isto é, sua realidade consciente. Todavia, pela teoria espírita, esse presente é o ponto culminante de um processo dinâmico, que sintetiza o passado e projeta o futuro.

Além disso, o Espiritismo considera, sob o ponto de vista da humanidade terrena, que, de modo geral, o Espírito humano é relativamente imaturo, tendo, como espécie, alcançado o nivel hominal a pouco tempo.

Jung estudando a formação da personalidade, entendeu que o homem atual seria o herdeiro genético das experiências ancestrais da humanidade. Ele chamou esse fator da personalidade de Inconsciente Coletivo. A lei da  reencarnação e a teoria evolutiva do Espiritismo sancionam, em princípio, a  idéia de Jung . Mas de forma individual, como experiência vivida e não como como fator hereditário.



TIPOS DE PERSONALIDADE

Então o que é a pesonalidade? Como definí-la diante da perspectiva espírita?

Nosso entendimento da personalidade, enquanto uma forma de expressão da pessoa humana, será baseado na realidade objetiva da encarnação. Por isso, definiremos a personalidade como a expressão possível e temporária do Espírito na sua relação social.

Considerando a criatura humana, do ponto de vista de sua objetiva realidade no munco corpóreo, sua pesonalidade é, em síntese,  o complexo de interações Espírito-organismo-meio ambiente.

Essa interação, pois, compreende três instâncias, associadas entre si.

a) essencialidade - isto é, o acervo intelecto-afetivo do individuo permanente,incluindo resíduos de personalidades anteriores ou seja sua auto-consciência;
b)impacto hereditário/genético - representando o conjunto genético transmitido pelos pais, pela raça, fator determinante para um organismo sadio ou doente e certas potencialidades para a integral ou parcial integração da mente ao organismo;
c)impacto ambiental- ou seja, o conjunto de pressões afetivas, sócio econômicos, e familiares que influenciam de maneira profunda a estrutura de relação da personalidade.
Vimos que cada Espírito forma sua   auto consciência que é seu acervo permanente. A formação dessa superestrutura consciencional é a própria história do Espírito humano, em constante progressão.

Desde o início, ele precisa aprender a balancear sua agressividade, sua força interior. Na estrutura mental do Espírito humano que inicia a formação de seu carater, a explosão do conteúdo instintivo precipita sua interação com o meio ambiente.

Além do desenvolvimento cognitivo, isto é, do conhecimento das coisas, inventando e  criando condições de sobrevivência, terá que enfrentar a relação eu-tu, um problema inexistente no nível animal.  Inicia-se o período de reconhecimento do outro, provocando as paixões, isto é,  as reações de amor, ódio, posse,poder,  fuga, agressão e acomodação.

 Ele vai encontrar na vivência grupal, os primeiros estímulos para a construção de valores éticos, ao nivel evolutivo compatível, que se transformam em parâmetros de comportamento que, de modo geral, garante-lhe uma relativa segurança. 

 Ou seja, a estrutura social estipulará leis, costumes e ordenações para o relacionamento sexual, dos bens coletivos, da adoração aos deuses. Daí fluirão os conceitos do bem e do mal, a recompensa e o castigo, os tabus, os totens, enfirm todas as formas  de canalizar ou reprimir os impulsos agressivos e sexuais.

Atendendo às necessidades básicas da afetividade, surgirá a família, iniciando o amadurecimento afetivo e prenunciando uma forma ainda bruta de relacionamento e ternura entre as pessoas.

O egoismo e a sede de poder, determinarão  a divisão da terra, estabelecendo os princípios da propriedade que terá como consequência, de um lado,o isolamento da vida coletiva ancestral e de outro, o individualismo, consoante o egoismo natural, uma espécie de valorização do ego, posteriormente pervertido no egoismo social.

O caráter do Espírito iniciante, ao longo de sua vivência, terá fundamento nos padrões geralmente aceitos pela sociedade e que de uma forma ou de outra sujeitam-lhe a um tipo de comportamento. Ir contra esses padrões, conforme a natureza do padrão, pode resultar em culpa moral ou condenação civil. Todavia, ele será, não obstante, um ser único e isolado do meio, embora dele participante.

Aí temos uma das mais intrigantes constatações da sabedoria divina, ao criar condições elasticidade de percepção, para que o Espírito, embora influenciado pelo meio, estabeleça, um sentido de perpetuidade, de   identidade e de consciência de si mesmo. Trata-se, em tese, do livre arbítrio, instrumento que a Lei Natural outorga ao ser para que ele crie seu destino.

Cada segmento encarnatório exige  ajustamentos do sistema mental do indivíduo à  dinâmica da vida de relação. Isto é, ele cria um tipo de personalidade específica temporária., ajustada às condições do ambiente onde se localiza.

 Não se trata, todavia, de uma personalidade totalmente nova. A personalidade que surge é uma  reconstituição, uma remodelagem da personalidade existente no monento da reencarnação mas a construção de uma personalidade calcada sua auto-consciência, que o identifique dentro das novas condições em que se encontra.

Embora seja uma pessoa diferente em cada encarnação, pela sinergia entre os fatores componentes da personalidade,  o Espírito guarda uma identidade essencial, uma expressão de sua auto consciência. Pois o processo evolutivo a que se submete representa a estruturação   uma personalidade que o identifique e que será, no grande futuro, estabilizada.

 Ou seja, conforme evolui,  sua  personalidade será cada vez mais igual nas sucessivas encarnações.


Essa conclusão nos permite afirmar que a maioria das pessoas não possue uma identidade consciente de si mesma, o que justifica a instabilidade que caracteriza o comportamento da humanidade. Convivem na estrutura da personsalidade humana fatores conflitantes, angústias e pressões internas, que podem variar em proporções extremas.






 EFEITOS MUTANTES DO PROCESSO REENCARNATÓRIO





A tendência do indivíduo é a acomodação. Por isso, a personalidade que num determinado momento caracteriza a individualidade, seja no plano físico ou no extrafísico, . teria a  tendência a manter-se estática, dentro da lei da inércia. Existem pelo menos, duas formas básicas para proporcionar alterações substanciais das estrutura mentais. Uma é o trauma e a outra é o insight.

O trauma se caracteriza por estabelecer uma situação de conflito, de rutpura abrupta de um determinado estadio mental ou físico. O  insight representa uma ruptura de uma condição mental, pela abertura de uma nova perspectiva ou entedimento da razão ou causa da condição.

A reencarnação é, por natureza, um trauma, destinado a promover uma ruptura das condições ambientais provocando um conflito existencial que pode ou não resultar numa modificação estrutural da personalidade existente.

Em síntese, se considerarmos os efeitos que o processo reencarnatório provoca na estrutura da personalidade  construida antes do nascimento, teremos um quadro bastante elucidativo. Dividamos o processo em três etapas, a partir do momento da concepção até a consolidação da encarnação, provavelmente aos 7 anos de idade física.







1a.etapa - período de desestruturação


Este período se caracteriza pela desestruturação da personalidade existente, isto é, aquela que o reencarnante construiu na encarnação anterior, com possíveis modificações no plano extrafísico .
Ao se iniciar o processo da reencarnação, ele é um ser adulto, com idéias, sexo e conceitos mais ou menos definidos. Dentro de 9 meses, todo esse acervo se concentrará, perdendo os delineamentos de memória para ser sintetizado num ser indefeso e impotente para realizar os mínimos exercicios de raciocínio e percepção consciente de si mesmo.
O chamado período de perturbação pré-natal, caracterizado pela perda da própria consciência,  é uma etapa de desestrutura essencial, mas não completa, da personalidade existente. Segundo O Livro dos Espíritos : À medida qie o momento do nascimento se aproxima, suas idéias se apagam, assim como as lembranças do passado do qual não tem mais consciência. ( questão 351)
Assim, desde o início da gestação até alguns meses após o nascimento, o Espírito está totalmente voltado para si mesmo, caracterizando o estágio narcisista, proposto por Freud.

2a.etapa - período de incorporação



O nascimento representa o mergulho do Espírito numa autêntica “caixa preta” saturada de emoção e latência, pois todo o acervo anterior é submetido a um processo de compactação.
 O choque do nascimento é    o ponto de ruptura do antes e do agora.
O agora, é uma situação de  angústia  pois, se existe uma obscura sensação de ser, isso de modo algum pode ser objetivado. A  infância, desde a criança recém-nata e por alguns anos, é o aprendizado do recomeço. Para dar um exemplo grosseiro,  é como alguém que tivesse um acidente vascular e perdesse a voz e o caminhar e tivesse que reaprender a fazê-lo. A integração da mente ao corpo se inicia de forma a possibilitar, no desdobramento do crescimento, condições de  percepção, seleção e coordenação progressiva de seu estar no mundo.



3a. etapa - período de reestruturação

Imediatamente após o nascimento, tem início o período de reestruturação, no qual o Espírito reencarnante começa seu efetivo relacionamento com o meio ambiente. Sua reestrutura mental vai depender dos cuidados externos, da psicoesfera familiar, além, evidentemente, das condições de higidez do organismo.

Nesse período, que pode ser estimado com duração até os sete anos da idade física, o reencarnante inicia o processo de estruturação da  personalidade adequada às novas condições que a encarnação lhe oferece.

A integração do Espírito ao seu corpo promove o conflito, não raro caótico, dos fluxos das experiências pregressas, estampadas na sua essência espiritual, com as exigências do presente, a partir da matriz materna e das pressões anbientais.


Buscará uma nova identidade e abandonará , ou  reprimirá, canalizando para o nivel de memória do corpo mental, as lembranças da antiga personalidade que, todavia, ressurgirão posteriormente, na adolescência, matizada pela reestrutura a que se submeteu neste período. Completada a reestruturação será instalado o ego corporal, isto é, a consciência de estar no mundo, como um ser novo.



CARACTERÍSTICAS  DAS PERSONALIDADES

Cada pessoa apresenta uma personalidade que  combinará, entrelaçará e exprimirá uma série de fatores principais e secundários, o que impossibilita a fixação absoluta de um tipo puro. Essa personalidade é resultado da forma como  estabeleceu seu modo de viver, isto é, como percebe, armazena, processa, elabora as pressões afetivas da família e do meio ambiente.

Na vida de relação, o indivíduo desenvolve em si mesmo, processos relativamente equilibrados ou condições mentais auto-destrutivas, em função da forma de como, progressivamente, recebeu e reagiu aos estímulos, desafios, decepções, fracassos e vitórias.

Nesse jogo de pressões, ele pode encontrar uma forma ativa, positiva ou encaminhar-se para situações negativas, seja resistindo aos apelos da própria evolução, seja produzindo um núcleo depressivo, maldoso, onde o sentimento, a sexualidade, a agressão natural se transmudam em comportamentos prejudiciais, violentos e pervertidos.

Embora cada pessoa tenha um caráter único, os diversos tipos de estrutura de caráter, podem ser  classificados em categorias ou tipos de personalidades, a partir de alguns sinais característicos  semelhantes.

Trata-se  de uma aproximação pois não seria possível encontrar  em todas as pessoas as mesmas características. Além disso,  ninguém é um tipo puro, mas como  vimos, cada um apresenta combinações, em variados graus, de formas de comportazmento.

Para caracterizar um tipo ou característica de personalidade, escolhem-se alguns fatores principais, que tipificam cada categoria e nela se incluem as personalidade que os possuem em grau principal.

Agressividade, inibições, sexualidade, exibicionismos entram no cômputo como características, entre tantos outras,  que compõem uma classificação.

Para estabelecer um quadro típico de personsalidades comuns, partimos do princípio de que cada um exprime suas características de agressividade, pela aplicação potencial  de sua força interior.

Nesse sentido, o grau de maturidade será medido conforme a aplicação dessa força interior é mais equilibrada, isto é, tem uma distribuição abrangente ou setorizada, de acordo com uma escala de variada intensidade, conforme as decisões do Espírito.

Para efeito de estudo e de reflexão, as características genéricas das personaldiades serão agrupadas em tipos, de acordo com o grau de maturidade alcançado.

De maneira nenhuma essas categorias sintetizam o grande mapa de caracteres humanos. Nelas, contudo, introduzi tipos de personalidades: as que têm relativa independência e as que estão, de uma ou de outra forma, dependentes das energias alheias. Como é compreensivel, é apenas um esboço, bastante imperfeito, mas que serve para a reflexão adequada ao presente trabalho.




PERSONALIDADES AFIRMATIVAS


Catalogamos como personalidades afirmativas, aquelas que, de maneira geral, possuem um grau de afirmação energética, que as faz agir de forma ativa e provocativa. Essas personalidades, entretanto, não possuem uma ação positiva, necessariamente. Podem ter  carisma, em variados níveis, e possuir faculdade de seduzir, inclusive  uma atmosfera magnética que atrai, aglutina e estabelece um laço de subordinação positiva ou negativa.
O fato de possuir uma personalidade afirmativa,  significa apenas que a pessoa exerce uma ação de saliência sem que, necessariamente,  tenha alcançado um grau de maturidade adequada, nem construído o “si mesmo”.
Em virtude disso, divideremos esse tipo, em dois subtipos: a personalidade afirmativa madura, e a personalidade afirmativa imatura .

PERSONALIDADE AFIRMATIVA MADURA -A personalidade afirmativa madura,  possui um eixo psicológico relativamente construido. Na estrutura mental, tem uma zona da sabedoria  expressiva, pois combina equilíbrio com ação Se possuír uma cota de equilíbrio razoável, exercerá uma ação positiva e mostrará acentuada tendência à liderança. A sexualidade é forte, mas canalizada produtivamente, em busca da ternura.

Essas pessoas têm  grande poder prático, combinando certa ansiedade e tensão que as impulsiona para resolução de problemas.. Muitas delas, combinam tudo isso com uma especial intuição ou percepção. Não significa que não possuam  sua zona problemática.  Mas esta é canalizada pelo seu empenho, trabalho e dedicação às causas que abraçam, tornando seu desempenho menos dificil.

Exercem o poder que lhes é conferido com  relativa parcimônia e serenidade. Se possuirem também empatia,  a capacidade de sintonizar ou  criar um elo espontâneo com  os interlocutores, poderão influir decididamente na vida dos outros.

Quando missionários usam esse carisma  para conduzir pessoas a caminhos de elevação. Se políticos transformam-se em estadistas ou lutadores pelo bem geral, da mesma forma quando se tornam líderes de classes. Eles  transmitem essa sensação de certeza e confiança.
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.PERSONALIDADE AFIRMATIVA IMATURA - A personalidade afirmativa negativa, possue, da mesma forma, grande poder prático, combinando certa ansiedade e tensão que as impulsiona para resolução de problemas. Tem, igualmente, acentuada tendência à liderança  e um certo poder sedutor e se vale dele conscientemente. Como a zona da sabedoria é pouco expressiva, não alcançou a serenidade e a ansiedade é impulso para grangear  o poder, sob variadas formas.

 A zona problemática é bastante acentuada,   promovendo condutas individualistas, egoistas, quase sempre camufladas, contudo.  Em virtude desse conflito, podem cair no crime ou na corrupção de si mesmos. A sexualidade é usada como instrumento sensual, mais para seduzir do que para a busca do orgasmo ou da ternura.

Geralmente são pessoas  de boa energia, decididas e persistentes. Mas de  um baixo nível ético, que  podem facilmente manipular pessoas e coletividades, tudo sacrificando para alcançar seus objetivos pessoais.

 Podem possuir  carisma  e empatia., o que os tornam ídolos, de variada importância. São dessa categoria os fanáticos religiosos, líderes carismáticos e missionários ilegítimos, políticos inescrupolosos, líderes de várias classes. Dependendo de seus critérios, valores e evolução, podem descer a labirintos afetivos, conflitivos, de grande impacto sobre sentimentos de pessoas inseguras, que circundam em torno delas e que aspiram serem seduzidas por pessoas que se elegem ou são eleitas, para tarefas públicas, religiosas, sublimes ou crueis, de superação ou redenção.



PERSONALIDADES DEPENDENTES

Sob a designação de personalidades dependentes, reunimos os que, de uma ou de outra forma, não realizaram um amadurecimento próprio, permanecendo indecisos. inibidos ou sem desenhar um projeto pessoal. Devido a não existência de um “si mesmo” , de  eixo psicológico na personalidade que garanta a própria identidade, sua energia psíquica, a força interior, é aplicada de forma inadequada, setorizada, diluida. Não se concentram prioritáriamente em uma forma abrangente.

 Incluem-se nessa categoria, as personalidades cuja zona da sabedoria é pobre , sem conteúdos sedimentados. Por isso,  a zona problemática está repleta de condições indecisas, mistura de vaidades, vacuidade e sexualidade pouco resolvida.

Devido a essas deficiências, as personalidades dependentes, têm dificuldade de estabelecer uma identidade própria. Ou permanecem numa espécie de limbo existencial ou tendem a absorver personalidades alheias  tentando não apenas imitá-la,  mas vivenciá-las, incorporá-las alienadamente, com a renúncia da própria identidade, numa espécie de simbiose fantasiosa a distância, em que a pessoa passa a nutri-se psiquicamente da imagem do ídolo.

Vamos dividí-las em dois grupos. A personalidade susceptível e a personalidade “mariposa”.

PERSONALIDADE SUSCEPTÍVEL - Essa personalidade, é tipificada por converter a sensibilidade  em susceptibilidade, transformando-se em  personalidade doentia, disposta a aderir às formas de comportamento improdutivo. Essas pessoas, exigem, geralmente, grande atenção dos outros, exibindo problemas e ansiedades, Podem, também, quando possuem algum carisma ou empatia, tornarem-se simpáticas, pretendendo “entender “o problema do outro, sem ter, todavia, conteúdos sensiveis equilibrados. A sexualidade é, geralmente, pervertida, uma vez que a energia erótica é usada para mascarar a sensibilidade doentia.

Também são pessoas de grande insegurança, mas que exprimem, perante os outros, um caráter de bondade e aceitação, sem coragem para negar ou decidir ao contrário aos interesses alheios, na espectativa de serem amadas e aceitas. Por isso se envolvem  em processos afetivos, em que se desgastam e adoecem.

Possuindo um caráter susceptível, quando guindadas a posições de destaque nas artes, no esporte ou na vida comum, pelo talento, pelas  circunstâncias ou pelo próprio desejo de destaque pessoal, podem absorver como verdadeira, a idolatria dos outros, das massas ou que seja, superestimando sua realidade espiritual, psicológica, humana.

Usufruindo do poder ou da glória por tempo limitado, sofrem horrivelmente e caem em depressão, se drogam e chegam a suicidar-se, quando perdem os cargos, são deixadas de lado, já não atraem admiradores, contratos, envelhecem e deixam de receber considerações.

PERSONALIDADE “MARIPOSA”. Esse tipo se caracteriza por possuir uma baixa definição da  própria identidade. Isso significa que vive mais ou menos como apêndice de outras personalidades que, para elas, representam um ponto de irresistível atração. A sexualidade é difusa e não raro pervertida.

Possuem o  “complexo de mariposa”. Não tendo encontrado, ainda, seu próprio caminho, temerosas talvez de exercitar a própria independência, voejam, como as mariposas, em torno dos que brilham. São atraídas pelo sucesso dos outros, tentando compensar a inveja e projetar fantasias sobre quem estiver no momento no topo da fama ou do prestígio.

Na vida profissional , política, social e econômica se tornam os conhecidos puxa-sacos, os subservientes, que odeiam os superiores, mas que os servem como condição de falsa auto-estima. Na vida comum, são os que criam fãs-clubes, colecionam fotos e relíquias de artistas famosos, identificam-se com eles,  tomando-os como membros de sua família e se considerando como tal em relação a eles, o que lhes garante gratificação íntima, disfarçando o tédio e o vazio existencial.


 De modo geral são personalidades doentias, insatisfeitas, minadas pela inveja, pelo medo e pelo ódio, uma vez que escoam sua energia interior sem contrapartida satisfatória.