sexta-feira, 23 de julho de 2021

60 anos de Espiritismo: - Jaci Régis ao completar 60 anos dedicados ao Espiritismo

 

60 anos de Espiritismo:

Jaci Régis ao completar 60 anos dedicados ao Espiritismo

Este texto foi extraído da edição de novembro de 2007, Jaci Régis viria a desencarnar em dezembro de 2010, podemos perceber a tranquilidade e consciência que Jaci Régis tinha de seu papel e vida. Republicamos o texto, pois para muitos leitores, alguns detalhes da vida deste grande pensador podem ter passado despercebidos. O texto é escrito de próprio punho por Jaci Régis, vale a pena recordar.

Jaci Régis e Palmyra Coimbra Régis em Paris no túmulo de Allan Kardec – Cemitério Père-Lachaise.

“Neste mês de novembro completo 60 anos de atividades ininterruptas, diárias, no movimento espírita. Foi neste mês, em 1947, que comecei a participar da então Juventude Espírita de Santos, transformada em Mocidade Espírita Estudantes da Verdade. Sessenta anos é um tempo bastante expressivo na vida de cada um. Nesse longo período a existência se corporificou no casamento, nos 6 filhos, 11 netos e, agora, na primeira bisneta. O mundo em que reencarnei, era totalmente diferente do atual. Acompanhar a febril transformação política, social e tecnológica, foi tarefa de inteligência e flexibilidade. Penso que consegui. De um simples aparelho de rádio às poderosas transmissões via satélite, estabelecendo novas formas de comunicação. Do automóvel desprovido e raro, aos carrões que circulam e se tornaram o sonho de consumo da maioria, da máquina de escrever ao computador. Do telefone precário de então ao celular e, finalmente, à internet, deixamos a aldeia circunscrita de meus primeiros dias neste mundo, à aldeias globais, na qual, a despeito de nosso desejo, estamos imersos até as orelhas. Li a República de Platão, aos treze anos, na Biblioteca Pública de Florianópolis, onde reencarnei. Desde sempre estive com livros embora só tardiamente frequentasse a Universidade, obtendo três títulos, a partir dos 39 anos de idade. Dentro do movimento espírita as coisas também mudaram. Na mesma década de trinta do século passado em que reencarnei, começou a missão de Francisco Cândido Xavier, mudando o perfil do Espiritismo que, todavia, fortaleceu-se como uma religião menor. Primeiramente a iniciação num Espiritismo crítico, mas, sem dúvida, religioso, cristão.

Embora a influência do líder naqueles primeiros dias, sempre segui um caminho próprio e nunca fiquei atrelado a um ídolo ou ícone. Essa independência me rendeu, no tempo, muitos dissabores, se assim posso referir-me aos entraves, incompreensões e agressões que recebi. Todavia, jamais me tiraram o ânimo. Tinha algo a fazer e fiz. Sem missão ou coisa parecida. Os desafios marcaram os passos. O ideal, a inovação, a criatividade estabeleceram novos caminhos. Mas o que mais me satisfaz, em termos de doutrina espírita, foi a liberdade de pensar fora do esquema religioso. Só quem libertou-se dos estritos caminhos do pensar religioso pode avaliar o que significa essa liberdade. Não é ser antirreligioso, maldizer as crenças. Nada disso. É ser livre para analisar os fatos sem preconceitos, aceitar ou rejeitar, duvidar e prosseguir. Um jogo fascinante na busca de um centro de referência e reflexão. O fato de ser kardecista, de ter em Kardec a base do pensar, nunca me tolheu, nem me cerceou. A crença é um direito e deve ser respeitada. Só que, na minha visão, não cabe no Espiritismo, se ele quiser ser livre pensador, aberto, progressista.

Na verdade, minha existência terrena se pautou pelo trabalho no movimento espírita. Por ele, aderi ao Lar Veneranda, onde permaneço há 47 anos e que, posso dizer sem vaidade, solidifiquei sua estrutura, seu trabalho assistencial, sua destinação. Uma obra de minha vida. Formatei, também, o pensamento da Mocidade Espírita Estudantes da Verdade e, consequentemente, do Centro Espírita Allan Kardec em cuja direção trabalhei muitos anos, estabelecendo seu rumo doutrinário. Há também o desenvolvimento do gosto de escrever. Dirigi o jornal Espiritismo e Unificação, da União Municipal Espírita, por mais de 20 anos. Depois, devido a ruptura, fundei o ABERTURA, em 1987 e continua. Embora, tenha publicado folhetos e pequeno livreto, foi a partir de 1975, que me tornei um escritor, publicando oito livros que tiveram, a princípio, muita boa saída, contabilizando mais de 100 mil livros vendidos.

Desde 1986, o movimento espírita bloqueou-me. Fiquei na lista dos indesejáveis, as vendas tiveram uma queda muito grande e milhares de livros estão estocados. No meio das confusões da ruptura com o movimento religioso, fundei a LICESPE, - Livraria Cultural Espírita Editora, dentro do Lar Veneranda, em substituição à Dicesp que criei e presidi no esquema unificador.

E, enfim o ICKS - Instituto Cultural Kardecista de Santos, uma iniciativa que se encaminha vitoriosa, abrigando o SBPE, Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita, iniciado em 1989, como ousada reação ao fechamento imposto pelo sistema unificado do movimento. Um balanço bastante positivo pelo que vejo.

Na vida econômica ganho o suficiente para ter uma vida tranquila. Não dependo de ninguém, casa vazia, só eu e a esposa, enquanto filhos e netos seguem suas vidas dentro de padrões moralmente muito bons e economicamente satisfatórios. Não sei quanto tempo ainda estarei por aqui, mas reconheço um grande ganho para minha alma ao longo de setenta e cinco anos vividos com cardiopatia crônica, duas cirurgias para colocar pontes de safena, edema pulmonar, angioplastias, cateterismo, alguns pólipos na bexiga, gastrite crônica, mas assim mesmo relativamente sadio, pois permaneço ativo.

Essa pequena síntese que faço ao sabor da memória me remete a todo um caminho no qual perfilei com pessoas de variadas expressões emotivas e intelectuais, com as quais aprendi a conviver, a superar impulsos e perdoar atritos. A maioria foi. Eu fiquei. Ao completar sessenta anos de trabalho doutrinário me sinto feliz. Meu olhar prossegue atento e mantenho alto meu estandarte de trabalho. Tenho objetivos. É o que vale”.

Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.

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terça-feira, 6 de julho de 2021

Curiosidade: jornal digital é ecológico - por Alexandre Cardia Machado

 

Curiosidade: jornal digital é ecológico.

Você sabia que para produzir uma tonelada de papel é necessário derrubar de 2 a 4 toneladas de madeira?

Veja a conta abaixo – a soma do peso de todos os jornais Abertura produzidos desde a primeira edição em 1989 chega a aproximadamente 2,5 toneladas.


 

g

kg

ton

1 jornal

16

0,016

 

1 edição

6528

6,528

 

374 edições

2441472

2441,472

2,44



Ou seja -foi necessário derrubar 10 toneladas de madeira para produzir estes jornais. Antes era a única forma de produzir um jornal, mas agora podemos tê-lo em forma digital! Isto equivale a dizer que cerca de 30 pinheiros foram derrubados, processados, branqueados, para virar celulose e finalmente papel, só para produzir o nosso Abertura, pois bem, a partir de 2022 nem mais uma árvore será derrubada para este propósito!

E o melhor de tudo - o nosso Abertura, colorido, será totalmente grátis a partir de 2022, claro que somente na versão digital e com acesso livre em qualquer parte do mundo.

 

Você já pode baixar o Jornal Abertura digital diretamente, basta clicar sobre a foto no Blog do ICKS à direita nesta ágina do blog do ICKS.

Você poderá acessar todos os Aberturas de 2021, coloridos no site da CEPA -Confederação Espírita Internacional.



Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.

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sexta-feira, 25 de junho de 2021

16 IDEIAS FUNDAMENTAIS PARA UM PENSAMENTO SOCIAL ESPÍRITA CONTEMPORÂNEO - por Ricardo de Morais Nunes

 

16 IDEIAS FUNDAMENTAIS PARA UM PENSAMENTO SOCIAL ESPÍRITA CONTEMPORÂNEO

“Os homens se entenderão quando praticarem a lei da justiça” –Livro dos Espíritos 812a


Ricardo de Morais Nunes


Ante as controvérsias políticas e sociais dos últimos tempos, no Brasil e no mundo, um amigo questionou nas redes sociais se haveria um conjunto de princípios básicos ou ideias, de índole política, que constituam um pensamento social espírita contemporâneo com vistas a nortear a práxis dos espíritas no mundo. Trata-se, a meu ver, de um questionamento muito pertinente para os espíritas da atualidade. Nas linhas abaixo, descrevo aquelas ideias que, segundo penso, são fundamentais, imprescindíveis, para a formação um pensamento social espírita neste início do século XXI. Um pensamento social espírita compatível com as generosas propostas humanistas contidas na filosofia espírita. O pressuposto da presente reflexão é a crença na possibilidade de construção de uma nova arquitetura social, a partir das lições da história, das ciências sociais e da política, sem desprezar a contribuição do espiritualismo espírita a esta tarefa:

1-       Defesa da democracia. Entenda-se democracia não apenas em um sentido formal, de igualdade de todos perante a lei, mas em sentido material, como possibilidade de todos os cidadãos acessarem aos bens materiais, educacionais, culturais e serviços sociais fundamentais à vida. E também na forma da mais ampla participação popular possível nas decisões da coletividade. Nesse sentido, a expressão “aristocracia intelecto –moral” contida em “Obras póstumas” de Allan Kardec deve ser superada. Tal expressão, apesar de indicar corretamente a necessidade dos governantes serem dotados de aptidão intelectual e ética para lidar com os assuntos de Estado e governo, na contemporaneidade, época em que se valoriza a participação popular, apresenta-se com um caráter elitista incompatível com os nossos tempos que aspiram à mais ampla democracia.

2-       Desenvolvimento de um pensamento crítico em relação ao capitalismo.  O capitalismo, enquanto sistema econômico, se por um lado teve aspectos revolucionários em relação ao mundo feudal no sentido do desenvolvimento econômico, social, científico e tecnológico, por outro, tem falhado em diminuir os abismos econômicos entre pessoas e classes sociais, favorecendo, dessa forma, uma enorme concentração de riqueza nas mãos de uns poucos eleitos do grupo social em detrimento da grande maioria da população. Essa crítica deve ser realizada sem meias palavras pelos espíritas, uma vez que essa desigualdade econômica e social profunda coloca em risco o exercício da política e a própria ideia de democracia. Neste tema é necessário não ignorar o que muitos teóricos das ciências sociais, de Marx a Piketty, entre tantos outros, do passado e do presente, já reconheceram na análise do referido sistema econômico.

3-       Compreensão que o mundo não é algo dado definitivamente, pronto e acabado. O mundo, indivíduo e sociedade, está em transformação permanente. Nesse sentido, é imprescindível não abandonarmos a utopia da possibilidade da transformação do mundo para melhor. Sempre acreditando que o futuro poderá ser melhor que o passado e que a construção desse futuro está em nossas mãos a cada dia do presente. Em nossa história, já passamos pelo escravismo na antiguidade e também na modernidade, pelo feudalismo na Idade Média, pelo capitalismo na modernidade e contemporaneidade e por tentativas socialistas no século XX e nada indica que chegamos ao “fim da história”. Aliás, a filosofia espírita nos ensina que a humanidade está submetida a uma lei de progresso. Como será nomeada essa nova etapa da humanidade? Quais as formas econômicas e institucionais que constituirão essa nova fase da humanidade? Nesse momento histórico não sabemos, o que importa agora é a esperança e a possibilidade de um novo tempo.

4-      Defesa da liberdade de crença, opinião e manifestação. Repudio a qualquer forma de silenciamento. Nesse sentido, faz se necessário defender a ampliação ao máximo dos meios de comunicação para que as diversas classes sociais possam se manifestar, com especial atenção, no entanto, para as classes menos favorecidas no grupo social, pois são as que mais sofrem as agruras de uma sociedade injusta e precisam ter sua voz assegurada.

5-      Defesa da bandeira ecológica reconhecendo que as ações individuais de preservação do meio ambiente são necessárias, porém insuficientes caso não se mude o modelo de exploração atual da natureza de feitio predatório. Tendo claro que a questão ecológica é uma das questões mais urgentes no mundo contemporâneo, pois corremos o risco real de desequilibramos o ecossistema do planeta, prejudicando, portanto, a vida em sua globalidade.

6-      Defesa dos valores da espiritualidade no sentido de valorização da vida terrena, sem perder de vista a perspectiva imortalista e reencarnacionista ensinada pela filosofia espírita, que ensina que o ser humano transcende a morte biológica em um processo infinito de aperfeiçoamento intelecto-moral que inclui o retorno ao planeta terra várias vezes, ocasião em que encontrará em seu retorno tudo aquilo que plantou em existências anteriores tanto no aspecto positivo quanto negativo.

7-       Defesa do princípio da fraternidade como orientador supremo da vida social, compreendendo que os princípios da liberdade e da igualdade só se realizarão efetivamente dentro de uma ideia maior de fraternidade entre os homens. A defesa do princípio da fraternidade não significa ignorar ou fechar os olhos para a dinâmica sociológica da luta de classes e para a violência estrutural do sistema econômico capitalista em relação as classes sociais não detentoras dos meios de produção, violência que se reflete em vários níveis de exploração social. Essa defesa do princípio da fraternidade significa uma aposta na possibilidade do diálogo entre as classes sociais. Não se desconhecendo, de forma ingênua, porém, as enormes barreiras ideológicas e de interesses que impedem frequentemente esse necessário diálogo.

8-      Enaltecimento por parte dos espiritas dos ideais de liberdade e igualdade. Enquanto por um lado os ideais de liberdade favorecem à construção de sociedades mais livres, que não menosprezem a importância dos deveres sociais de cada um. Por outro lado, os ideais da igualdade devem favorecer a compreensão que igualdade não é nivelação, massificação, de todos os seres humanos desconhecendo as diferenças individuais. Porém, sempre dentro do princípio que as diferenças individuais nunca deverão chegar ao nível que haja seres humanos que não tenham o fundamental para a existência material, educacional e cultural.

 

9 - Reconhecimento da dialética indivíduo-sociedade a partir da compreensão que o indivíduo influencia a sociedade, mas a sociedade e suas instituições também influenciam o indivíduo. Nesse sentido, é necessário rompermos com concepções individualistas, idealistas, verdadeiramente metafísicas, que imaginam o indivíduo distante de influências ideológicas heterônomas, como se os homens e mulheres no mundo estivessem em uma bolha de proteção em pleno exercício de autonomia, sem a influência consciente ou inconsciente de fatores externos na formação de sua subjetividade. Portanto, devemos superar a falsa ideia de que ideologia se escolhe. Na verdade, desde o nascimento bebemos os valores ideológicos predominantes em uma determinada sociedade e é necessário muito pensamento crítico para escapar dessa influência. Nesse sentido, os espíritas devem refletir sobre as possibilidades da autonomia sem desprezar o problema da ideologia. E sem ignorar que, a ideologia predominante formadora das mentalidades no mundo contemporâneo, a que possui uma infinidade de aparelhos ideológicos a disseminar por todos os meios seus valores, é a ideologia capitalista, que aponta para a valorização do ter em detrimento do ser, para a concorrência individualista ao invés da solidariedade. Na atualidade, mesmo a ideologia religiosa tem sido cada vez mais colocada a serviço dos valores do capitalismo. O paraíso no céu tem sido cada vez mais substituído pela busca do paraíso na terra. Deus passou a intervir no sucesso material das pessoas.

10 - Defesa de uma educação emancipadora, humanista, que vise ao bem geral da humanidade, não apenas instrumentalizada para servir aos interesses do mercado de trabalho. Nós, adeptos da filosofia espírita, somos discípulos de um educador humanista. A educação é um dos caminhos para a construção de um novo ser humano e de um novo mundo. Neste tema mais importante do que o ensino religioso nas escolas, é a reflexão sobre os valores universais da espiritualidade que apontam para o respeito à vida, às diferenças, para compaixão, altruísmo, desprendimento dos bens materiais, respeito a natureza, etc. E que favorecem a ideia de que o ser humano é um ser cósmico dotado de dignidade intrínseca.

11 - Abandono da ideia de neutralidade em questões políticas e sociais. Se por um lado não devemos descer ao nível da criação de um “partido espírita” ou da indicação de candidatos ou partidos dentro dos centros espíritas, por outro, não devemos esquecer jamais que somos seres sociais e que a política, em seu melhor sentido, quer queiramos ou não, se entrelaça em nossa vida individual e, portanto, nos interessa e constitui. Sempre levando em conta que o espiritismo, enquanto filosofia, se desdobra na possibilidade de um pensamento sociológico, uma sociologia, como queria o pensador espírita argentino Manuel Porteiro.

12 - Compreender que se o espiritismo possui uma dimensão política, humanista, sociológica, no entanto, também é, em específico, uma filosofia espiritualista que aponta para a dimensão metafisica do ser humano, sendo seu principal objetivo, conforme seu fundador, o combate ao materialismo. Nesse sentido, política e metafisica são duas dimensões do espiritismo. O espiritismo não é um espiritualismo alienante como os do passado que prometiam o céu a partir da renúncia da terra, no entanto, os espíritas não devem ser absorvidos apenas pelas questões políticas, sendo necessário alcançar um equilíbrio neste tema.

13- No que diz respeito a atuação política, à práxis do espírita no mundo, é necessário lembrar que o compromisso do espiritismo com a ética universal de Jesus aponta para os princípios da não violência. Esta postura de não violência deve ser encarada sem ilusões. Os exemplos de Gandhi, Martin Luther King, Dom Hélder e tantos outros, conhecidos e não conhecidos, nos mostram que, mesmo os não violentos, quando tratam de assuntos políticos, acabam por se expor à possibilidade de algum tipo de violência física ou moral.

14 - Defesa do Estado laico. Os espíritas, desde o auto de fé de Barcelona, compreendem que Estado e Religião não devem se misturar. Nesse sentido, as guerras e perseguições religiosas que fizeram tantas vítimas na história serão sempre lembradas pelos espíritas, sendo o Estado laico, portanto, uma conquista civilizatória da modernidade que deve ser defendido.

 

15 - Defesa das atividades e conquistas da ciência. O espiritismo, filho tardio do iluminismo, valoriza a ciência que é uma das expressões da razão. Defender a ciência em tempos de “terra plana” e de negacionismos de variada natureza é um verdadeiro ato político que deve ser realizado com coragem pelos espíritas. Obviamente que esta postura de defesa das atividades científicas não significa ignorar os grandes problemas éticos que o desenvolvimento desta atividade enfrenta na contemporaneidade.

16 - Criação, nas instituições espíritas, de cursos de política e cidadania. Obviamente que uma sociedade espírita tem compromisso principal com os cursos introdutórios e avançados de espiritismo e com os cursos de teoria e prática mediúnica, sendo o estudo e divulgação do espiritismo a tarefa fundamental dos centros espíritas. Se uma sociedade espírita apenas tiver esses cursos já estará cumprindo seus objetivos, pois essa tarefa só pode ser realizada pelos espíritas. Porém, nos centros espíritas existem atividades complementares que também podem ser realizadas, como as de assistência e solidariedade social ou atividades de caráter cultural. No campo das atividades de caráter cultural, podem ter lugar cursos de política e cidadania. Justifica-se esse tipo de curso porque, nós, espíritas, devemos estar conscientes dos problemas políticos e sociais. Desnecessário repetir que tais cursos devem ser realizados de forma não partidária, com vistas a conhecer, do ponto de vista da história, da sociologia, da filosofia e do espiritismo o que é a sociedade, suas dinâmicas e conflitos dialéticos, visando, por fim, refletir sobre as possibilidades de melhoria da mesma. Esta medida favorecerá a formação de espíritas conscientes dos problemas do mundo, preparando-os para uma atuação humanista e critica na vida social. Esta ideia não é nova, Manuel Porteiro já havia imaginado nas instituições espíritas o que ele chamou de “cátedras de sociologia”. Normalmente, os adversários desta ideia referem-se à interdição de Kardec no artigo primeiro do regulamento da sociedade parisiense. Porém, é inegável que os temas políticos e sociais, de um ponto de vista filosófico e humanista, são tratados ao longo de toda a obra de Allan Kardec, o que enseja o desenvolvimento de um verdadeiro pensamento social espírita. Geralmente o espírita apressa-se a fazer juízos morais sobre a política e a história. É necessário, porém, conhecer e reconhecer a complexidade dos problemas sociais e políticos antes de julgar de maneira simplista ou maniqueísta. Há muito o que aprender com a história das ideias políticas. De Platão a Noam Chomsky há uma reflexão política e social profunda, a qual os espíritas kardecistas não podem e não devem ignorar, sob pena de não participarem do debate do mundo contemporâneo, o que os colocaria à margem dos processos de evolução social.

 Ricardo de Morais Nunes - artigo publicado nos Jornais Abertura de maio e junho de 2021

 Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.

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Acesse: CEPA Internacional

Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.

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quarta-feira, 2 de junho de 2021

Livros e CDs a venda na Livraria Virtual do ICKS

 

Livros e CDs a venda na Livraria Virtual do ICKS

Tabela de Preços inclui frete no Brasil

Para pedir envie um e-mail para ickardecista1@terra.com.br

 

A Delicada Questão do Sexo e do Amor– Jaci Régis

12,00

A Mulher na Dimensão Espírita– Jaci Régis

13,00

Anais do SBPE – V e VI em livros ou CDs à partir do VII SBPE

12,00

Caderno Cultural V - Análise da evolução do conceito de reencarnação - ICKS

12,00

Caderno Cultural – Reencarnação - ICKS

16,00

Caminhos da Liberdade– Jaci Régis

12,00

Caderno Cultural – 1ª edição

10,00

Comportamento Espírita - português

10,00

Comportamiento Espírita - espanhol

10,00

Curaciones Energeticas- Raúl Drubich - espanhol

10,00

Espíritus que han partido - Alícia Ristorto e Raúl Drubich - espanhol

10,00

Desafios do Kadu – Cláudia Régis Machado – tipo coquetel

10,00

Introdução à Doutrina Kardecista– Jaci Régis

12,00

Kadu e o Espírito Imortal - Cláudia Régis Machado

12,00

Doutrina Kardecista - Modelo Conceitual – Jaci Régis

10,00

Muralhas do passado – romance – Jaci Régis

12,00

Novo Pensar - Deus, Homem e Mundo – Jaci Régis

20,00

O Espírito de um tempo-– Milton Medran

20,00

O Laço e o Culto – CD – Krisnamurti de Carvalho Dias

15,00

Rivail y Freud – Matias Quintana - espanhol

10,00

Se fossem todos iguais-– Milton Medran

20,00

Túnel de Relacionamentos – Marcelo Henrique

20,00

Último Véu – Henrique Ventura Régis - romance

20,00

Uma nova visão do homem do mundo – Ed Nova – Jaci Régis

16,00

Una Nueva visión del hombre y del mundo – espanhol -– Jaci Régis

16,00

Uma nova visão do homem do mundo - Licespe– Jaci Régis

12,00

Livro dos Espíritos (Capa Plástico) - grande

15,00

Livro dos Espíritos (Capa Plástico) - bolso

10,00

Allan Kardec - Obras Básicas (outras à exceção de O Livro dos Médiuns) Papel Branco

12,00

Obras Básicas (outras) Papel Jornal

8,00

Evangelho Segundo o Espiritismo – francês

10,00

 

 

domingo, 30 de maio de 2021

Novo Pensar Espírita - por Jaci Régis

 

Novo pensar espírita – por Jaci Régis

 

Trazemos este texto, obtido dos arquivos pessoais de Jaci, que não tenho certeza se foi publicado na forma que estou trazendo aqui. Resolvi fazê-lo, pois passados 11 anos, pois este texto é de fevereiro de 2009, acredito que algumas coisas aconteceram, dentre elas destaco a série que está sendo lançada “coleção Livre-Pensar: Espiritismo para o século XXI” organizada e lançada pela CEPA – Associação espírita Internacional.

Jaci era um desbravador, havia lançado o panfleto “Doutrina Kardecista – Modelo Conceitual e preparava-se para lançar seu último livro novo Pensar – Deus, Homem e Mundo.

 

Com vocês Jaci Régis:

 


 

“Faz um ano que terminei de elaborar o Novo Modelo Conceitual Espírita, Ficou pronto para ser impresso e distribuído em português e espanhol. Levei trinta exemplares em espanhol e distribui no Congresso Pan.-Americano em Porto Rico.

Quando apresentei o meu trabalho no Congresso esperava uma repercussão qualquer. Que alguém viesse discutir comigo.

Entretanto nada aconteceu. No ano de 2008 prossegui convidando amigos para debater comigo. Isso aconteceu duas vezes.

Soube que alguns fizeram download do texto no nosso site. Mandei muitos exemplares para centros locais e de fora filiado à CEPA. Espero fazer outras reuniões provocativas com amigos de outras cidades. Registro alguns pedidos via internet.

Posso fazer um balanço do que aconteceu nesse primeiro ano.

Quanto à idéia, que chamo de novo pensar espírita, analisando-a continuo acreditando que traz realmente inovação e provocação ao pensamento.

O problema é vencer a inércia.

Somos uma doutrina cujo fundador afirmou que não podia se imobilizar sob o perigo de suicidar-se.

Pertencemos a um movimento de idéias que se assume, como progressista, progressivo.

Todavia propostas como a que apresentei podem morrer no silêncio, não porque seja improváveis ou irrelevantes, mas porque é difícil mobiliar energias, pensamento e reflexão para mudar.

O Novo Conceito é um instrumento para refletir e pensar a vida e a estrutura do pensamento espírita. Ele é tão mais urgente quando vimos, por exemplo, o segmento religioso do espiritismo aliar-se ao catolicismo em campanhas que, no fundo, são no mínimo questionáveis sob uma visão dinâmica.

Não podemos mudar esse procedimento que parece cada vez mais sedimentado na organização majoritária, mas podemos apresentar e aplicar uma diretriz diferente, até oposta, renovando as bases de nosso raciocínio.

O Espiritismo tem uma base sólida, evidentemente limitada. Mas projeta-se por caminhos infinitos.

O que estamos propondo é nos libertar do deus Jeová que a Igreja impôs e que os textos do Espiritismo reproduzem, principalmente sobre a atuação de Deus, a evolução e a moral.

Não podemos deixar de pensar nesse rumo, devido ao nome “doutrina kardecista” que pode ser substituído por novo pensar espírita. Não podemos deixar de pensar porque alguns se apegam a reflexões imobilizadoras.

Breve lançarei um livro “Novo pensar sobre Deus, Homem e Mundo”, onde os fundamentos da proposta do Novo Conceito são repassados.

Aviso que não tenho qualquer veleidade de ser um revelador, codificador ou fundador de doutrina.

Sigo o que me parece o rumo possível das conclusões básicas do Espiritismo.

Pode-se dizer que o Novo Conceito desvirtua o pensamento exposto no O Livro dos Espíritos. Concordo, mas apenas na semântica, no linguajar, mas permaneço fiel ao miolo da doutrina inclusive sobre o papel de Deus que se fixou na cultura através dos tempos, da forma como se apresenta na bíblia, referendado pelo catolicismo e em parte pelos Espíritos.

Lembro-me de que certa vez fui convidado para faze uma palestra para jovens. Fi-lo e provoquei revolta dos adultos perguntando quem pensava que eu era para discordar de André Luiz, por exemplo.

Allan Kardec pergunta em A Gênese “Que autoridade tem a revelação espírita, uma vez que emana de seres de limitadas luzes e não infalíveis? A objeção seria poderosa se essa revelação consistisse apenas no ensino dos Espíritos, se deles exclusivamente a devêssemos receber e movêssemos de aceitá-la de olhos fechados. Perde, porém, todo o valor, desde que o homem concorre e o seu critério para a revelação com o seu raciocínio e o seu critério, desde que os Espíritos se limitam a po-lo no caminho das deduções que ele pode tirar da observação dos fatos” (item 57, Capitulo I).

Essa observação não é levada a sério porque se investiu na superioridade dos Espíritos (de luzes limitadas e não infalíveis).

É notório que a sucessão dos fatos mostra que se criou uma série de mitos sobre Deus, a vida, a dor, a moral e o futuro que se incorporaram culturalmente no Espiritismo.

Meu propósito é apresentar uma versão diferente dos fatos que o raciocínio e a historia mostram seguir um fluxo diferente e até contrário ao que se propôs.

O Espírito Emmanuel, por exemplo, no prefácio do livro O Consolador admitiu que “os Espíritos da minha esfera não possuem....” Não obstante ele foi eleito como o que tira sido enviado por Jesus para estruturar o Espiritismo, tomado como portador de verdades insuperáveis, tanto que aquele livro chegou a ser considerado uma continuação de O Livro dos Espíritos.. Isso acontece também com qualquer Espírito-guia de médium famosos.

Não podemos seguir esse caminho.

Cento e cinqüenta anos depois do O Livro dos Espíritos, o mundo conheceu revolucionários conhecimentos científicos e tecnológicos. Raciocinar em termos desse tempo é negar o desenvolvimento da humanidade.

Certo que não é por apenas um século e pouco de mudanças profundas no cenário que tudo está perdido e jogado. Mas tudo precisa passar sob o crivo de novos entendimentos e compreensão dos fatos.

A minha proposta é o rompimento com o modelo judáico-cristão no que se chocar com os fundamentos dinâmicos iniciados por Allan Kardec.

Digo iniciado no sentido de que são dinamicamente progressivos modificáveis e renovados.

Essa é uma empresa difícil porque, como disse Freud, todos gostamos ouvir o que já sabemos. Novos princípios, ensinamentos e idéias são difíceis de aceitar porque desestruturam a cultura, a mente, o modo de pensar estereotipado.

Porque também existe um modo estereotipado de pensar espírita.

Um amigo de muitos anos deixou-me porque minhas idéias criavam nele uma confusão mental, porque o que antes era certo passou a não ser e vice-versa.

Mas esse é o caminho do crescimento. Existirá outro?”



Da redação: Doutrina Kardecista – Modelo Conceitual - pode ser encontrado na livraria do     ICKS - mande um e-mail para ickardecista1@terra.com.br.  

Ou ainda a versão digital em pdf e gratuita.

https://cepainternacional.org/site/pt/cepa-downloads/category/27-icks-colecao-abrindo-a-mente?download=223:novo-pensar-deus-homem-e-mundo

Quer saber mais:

Sobre o Doutrina Kardecista - Modelo Conceitual:

https://www.blogger.com/blog/post/edit/8190435979242028935/1805259799422676000

Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.

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