segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

O caminho e o Caminhante – por Jaci Régis

O caminho é estático. O caminhante é dinâmico. Move-se, percorre, caminha sobre o caminho. Isso veio-me à mente porque o homem, de sotaque estrangeiro, confuso e sob certa medida amedrontado, perguntara qual o caminho a seguir para superar seus problemas.

Problemas da alma, do coração são especiais, específicos. Angústias sufocam, represam a emoção pressionando a vida, destruindo a alegria, a esperança. Leves se tornam pesados. Subjetivos, transformam-se em fardos concretos, exaurindo energias, levantando questões que como são formuladas, não encontram respostas.

À minha frente, o jovem era um amargo espelho de aflição. Perguntei-lhe como se sentia aos 27 anos e ele disse que não se sentia bem. Às vezes, disse, esses poucos anos pareciam demais. Às vezes, sugeriam-lhe inexperiência.

De um lado, via aberturas para criar, para avançar. De outro, uma desilusão, tomava vulto, porque parecia que perdera tempo, oportunidades e muito poderia ter sido feito e não fora.

- “Não, não me sinto feliz”, disse. A barba que lhe cobria o rosto jovem, tendia a esconder os olhos tristes, orbitando em paragens, em sonhos, em desejos que, controversos, vetores opostos, impunham imobilidade, como se as forças concorrentes se equivalessem em esperança e desilusão.

O caminho é estático. É opção a desdobrar-se diante de nós, indicando rumos que devemos eleger.
O caminhante é o agente de seu caminhar. A direção de seus pés, segue a diretriz de sua alma. Alma confusa, andar sem rumo. Alma exultante, andar saltitante. Alegria no coração, pés leves. Tristeza íntima, sulcos marcados, pés sangrando.

A encolher-se diante da realidade, a jovem mulher consumia-se em angustiante conflito interior, inteligente, educação superior, profissional competente, defrontava-se com sua sexualidade, emoção não resolvida, impondo-lhe temores e tremores.

Jaci Régis


Como resolver essa angustiante questão? De que maneira ajudar a superar barreiras erguidas por deprimentes experiências infantis, fruto de sutis relações afetivas.

O caminho é uma expectativa, uma perspectiva. O caminhante é um ser, uma criatura em busca de si mesma. A margem do caminho, caminhando encontrará tropeços, abismos, desvios, obstáculos. Mas também flores.

A solução para os problemas da alma, na sequência da vida, é encontrar o caminho que na liga ao outro. Parece fácil, à primeira vista. Percorre-lo, contudo é viagem tão perigosa quanto a dos velhos navegantes em suas naus, enfrentando os mares desconhecidos.

Esse é o caminho curto ou longo, conforme os fatores que armazenamos na alma. Pois, difícil é sair de nós mesmos. Só é possível quando aprendemos diuturnamente as lições dos sentimentos e aspirações e nos libertamos de laços fortes, mas sutis, de fantasmas criados no interior de nós mesmos.
Qualquer caminhada, por mais longa, começa pelo primeiro passo. Se queremos respostas, soluções, aprendamos a caminhar, a ser caminhantes, dispostos a aprender, a mudar, a retomar a lição não aprendida

Dar o primeiro passo é decidir expor-se aos riscos da paixão.  

Artigo re-publicado em outubro de 2014 no jornal ABERTURA

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