Era respeitado pela sabedoria. Morava numa casa no alto de uma pequena colina de frente para o mar. De sua larga janela via o mar ao longe, como a perder-se no infinito das ondas. Mas assim que Ahmed entrou ele voltou-se e sorriu. -Mestre o que estavas fazendo, perguntou Ahmed. -Ouvindo o silêncio respondeu ele O aprendiz mirou-o admirado e surpreso. Como se pode ouvir o silêncio? Na sua mente havia a surpresa, porque ouvir é uma ação de escutar sons, vozes. Teria o silêncio um som? -Sim, disse Aghan, adivinhando a perplexidade do jovem discípulo. O silêncio é provido do som sem ruído, de musica sem sonoridade, de imagens sem imagens. -Oh! Mestre recamou Ahmed, assim como posso aprender. -Aghan passou a mão delicadamente na cabeça do jovem e permaneceu silencioso. Depois, disse,ouvimos no silencio da noite o piar de passarinhos e sons controversos. Ouvimos no silêncio de nossas preces o leve rumor da túnica do Senhor roçando docemente nossa cabeça, sem vê-lo. A pausa seguiu-se de um silencio doce. -Sobretudo, continuou Aghan, após tomar um gole de água, ouvimos nossa alma. Quando sabemos ouvir nossa alma, é como houvesse um estouro sem som, uma erupção sem ruído, mas que nos desperta para as realidades de nosso coração. -Ah! Mestre, interrompeu Ahmed, é uma ação difícil. Quando fico em silêncio minha cabeça estoura é de pensamentos diversos, imagens difusas, sensações esquisitas. Raramente saem emoções suaves, pensamentos serenos. -Não se aflija meu amigo, respondeu Aghan, no seu silêncio você ouve o vento e não o silencio, E o veno pode ser uma brisa suave, refrescante, como um vendaval destruidor. O vento é um mensageiro, com mensagens boas e mensagens más. Ahmed era um jovem de pouco mais de vinte anos. Era um rapaz bonito, de olhos claros, altura mediana e que se decidira buscar a sabedoria. Entre seus colegas destacava-se pelo pensamento diferente, pela procura do que seria a verdade. Conhecera Aghan e se afeiçoara a ele e dele recebeu carinho e atenção. Pelo menos uma vez por semana ia até sua casa e ali ficavam horas ouvindo o mestre. Aghan ofereceu-lhe água fresca. O rapaz aceitou com alegria pois fazia calor e a subida na colina provocara suor e sede. -Mestre, fala-me mais sobre o silêncio. Para mim, ficar em silêncio é calar a boca, não emitir som, mas não impede que meu pensamento voe. Não articulo a palavra mas discurso em mim mesmo. -É natural Ahmed que seja esquisito eu dizer que ouço o silêncio. Mas devemos aprender a buscar no interior de nós mesmos respostas sem palavras e decisões sem articular pensamentos. E prosseguiu -Há formas de comunicação sutis, além da palavra e da imagem. São ondas espontâneas que invadem o silêncio de nossa mente, com surpreendentes soluções que nos inundam, nos capturam, com respostas de antigas questões. -Seria a meditação profunda que muitos conseguem realiza/ -Certamente que sim. Mas também podemos ouvir o silêncio na multidão, dentro do vozerio externo. É uma questão de postura, não de falsa superioridade. Ahmed ficou pensativo. Ainda não penetrara no ensinamento do mestre. -Ahmed, continuou Aghan, o pensamento é uma onda que oscila, ondula no espaço, em nos e em torno de nós. É uma fonte inesgotável de sensações sem palavras, sem som. Claro que podemos povoá-lo de sons e imagens. Mas de comum, ele é um dialogo mudo da alma consigo mesma. -Continue mestre, pediu o rapaz. -Veja. Um casal de amantes, falo amantes como resultado do amor, comunica-se silêncio das expressões do olhar. Muitos se fazem entender sem palavras pelo simples franzir da testa, quando essa mensagem muda é compreendida por aqueles que a conhecem. Sinalizo com isso que todos nós temos uma vida íntima, indevassável onde construímos as idéias os sonhos. Estes sim, cheios de ação, cor, movimento e até palavras, Mas são produto do silêncio em busca de expressões visuais nas reentrâncias de nosso cérebro. Ahmed ficou pensativo e depois falou -Mestre compreendo que ouvir o silêncio é esse momento solitário mas não penoso de se aconchegar íntimo. Nesse momento embora integrado no mundo esterno, vivemos um mundo diferente, sem limites, sem fronteiras. Vou aprender a ouvir o silêncio. Ahmed e Aghan ficaram m silêncio. Depois sorriram mutuamente e se despediram
quinta-feira, 17 de maio de 2012
Ouvir o Silêncio - conto de Jaci Régis
Quando Ahmed chegou à casa de Aghan, seu mestre, encontrou-o sentado, braços largados, cabeça ereta e olhos fechados.
A principio Ahmed pensou que seu mestre dormia e temeu acorda-lo. Agahan era um homem de pouco mais de sessenta anos, alto, olhos castanhos penetrantes. Usava o turbante tradicional de sua tribo.
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