“Comunismo é uma religião igualzinha às
outras. Pra quem acredita, não precisa explicação. Pra quem não acredita, não
adianta explicação“ Millôr Fernandes
“ Precisamos odiar. O ódio
é a base do comunismo. As crianças devem ser ensinadas a odiar seus pais se
eles não são comunistas“ Lênin
Daqui
há dois anos, ou seja, em 2017, mais especificamente em outubro fará 100 anos
da instalação do primeiro regime comunista baseado na doutrina do pensador
alemão Karl Marx. Na Rússia de Lênin e seus partidários bolcheviques foi
estabelecida a famigerada “ditadura do proletariado“. Na verdade foi o primeiro
sistema econômico a desafiar o capitalismo. A tal ditadura citada foi
implementada a custo de milhões de vítimas entre seus opositores. Esse regime
sucedia a outro regime muito corrupto e despótico dominado pelos czares. Stalin,
que sucedeu a Lênin, não mediu esforços para exportar a ideologia mundo afora,
chegando num determinado momento do século XX a contaminar um terço do planeta.
O
seu ideal de igualdade, temos que admitir, era apaixonante, a tal ponto que um
grande número de intelectuais da época se entregaram de corpo e alma em sua
defesa. Sempre digo que o problema dos intelectuais não é no atacado, onde
geralmente são muito úteis; trata-se do varejo, onde tomam posições muitas
vezes delirantes. Martin Heidegger, Céline, Ezra Pound, Le Corbisier abraçaram
o fascismo e ou o nazismo com muita satisfação. Até mesmo um intelectual do
porte de Noam Chomsky, que admiro pelas críticas pertinentes que faz ao
comportamento indecente dos EUA em suas guerras estúpidas, não se sentiu nem um
pouco constrangido em elogiar o regime do Kmer Vermelho no Camboja. Hoje alega
não ter conhecimento prévio do número de assassinatos cometidos pelo ditador
Pol Pot. Não acredito nessa desculpa insustentável, pois repito, os
intelectuais no varejo costumam ser um grande desastre.
Quanto
ao Manifesto Comunista de 1848, Allan Kardec, nos poucos comentários que
fez sobre o assunto, enxergou nele o perigo do coletivismo ante a
necessidade da evolução espiritual de cada espírito em particular.
O ideal socialista não estava preocupado com esse assunto, pois se preconizava
ateu. Fosse o Espiritismo uma doutrina consolidada plenamente em 1917 quando eclode a revolução comunista na Rússia,
teria necessariamente que se opor ao controle absoluto de todos os aspectos da
vida individual e coletiva pelo Estado. O livre-arbítrio estaria correndo
riscos, como acabou se comprovando com a sustentação pela força dos regimes do
Leste Europeu. Essa ideologia se espalhou pela China com Mao Tsé-Tung
instaurando um regime sustentado por um grande terror político.
Foto de Roberto Rufo no XIX SBPE em Santos - SP
Tive
um colega pertencente ao PCdoB, que ao contra argumentar os números por mim
apresentados de vítimas da coletivização forçada na União Soviética (cerca de
20 milhões de pessoas), dizia serem “apenas“ 4 milhões, ou seja, julgava ele ser este um número aceitável
de vítimas. É risível. Convivi muitos anos com um tio comunista, irmão do
meu pai, que colocado diante de qualquer argumento do gênero, se saía com
aquela famosa frase que não serve pra nada: “o seu discurso é de pequeno
burguês“. Sabe-se lá o que quer dizer isso.
Ou
quando o pensador Luckácz apresentado ao existencialismo de Albert Camus
afirmou: “essa corrente filosófica está a serviço da ideologia capitalista“.
Eles se julgavam os donos do modus
operandi da história. Eu sempre
considerei um grande embuste que exista uma razão histórica, ou um determinismo
espiritual que fará com que as coisas aconteçam independentes da nossa vontade.
Vejo
hoje que existiram na história da humanidade dois grandes sonhadores em se
tratando de como deva ser o comportamento ideal das pessoas numa sociedade. São
eles Jesus e Karl Marx. O problema maior não são os sonhadores e sim seus
discípulos e seguidores, que não são sonhadores. Como diz um personagem do
último livro de Amós Oz – Judas - os
discípulos e seguidores são ávidos de poder e autoridade. Que o digam os que
quiseram implantar o cristianismo à força e os cúmplices que julgavam ser o
comunismo uma doutrina científica infalível. Os discípulos e seguidores se
transformaram em derramadores de sangue.
Uns
diziam falar em nome de Deus. E quem é que pode ser contra Deus? Outros diziam
falar em nome do povo. E quem é que pode ser contra o povo? O Espiritismo
apresenta uma serenidade no trato das coisas humanas muito peculiar e
profundamente humanista, o que o diferencia sobremaneira de qualquer corrente
ideológica onde o ser humano é desprezível diante de um futuro radiante no
paraíso ou para a coletividade.
NR - Publicado originalmente no Jornal Abertura de Setembro de 2015
Nenhum comentário:
Postar um comentário