A verdade ilusória - por Alexandre Cardia Machado
No mundo em
que vivemos, onde somos bombardeados por todos os lados por fatos e versões,
fica cada vez mais difícil diferenciar o que é verdade do que é informação
enganosa (fake news).
Talvez o
maior problema esteja relacionado à forma como imaginamos que a verdade seja,
me explicando, idealizamos que exista uma e só uma verdade e que ela seja
absoluta. Isto está no imaginário coletivo, impulsionado pelas religiões e
milênios de tradição oral.
Trabalhamos
constantemente em resolução de problemas
técnicos há pelo menos 8 anos. Realizamos análise de falhas e investigação de
acidentes e posso afirmar: as coisas nunca são da maneira que uma pessoa relata
ou imagina que passou, falhas, problemas, acidentes acontecem sempre onde
multiplos fatores agem em conjunto.
Destes anos
de investigação de acidentes, posso declarar quatro pontos fundamentais:
1. Causa e efeito são a mesma coisa.
2. Causa e efeito são parte de um
contínuo infinito.
3. Cada efeito tem pelo menos duas
causas , quando não muito mais.
4. Um efeito só acontece se suas causas
existem no mesmo tempo e espaço.
No
espiritismo estamos acostumados com esta questão de um contínuo infinito, até
chegarmos ao ponto ontológico de que Deus é a causa primeira, mas esqueçamos
isto um pouco e nos foquemos na forma como enxergamos as coisas.
Talvez o
ponto que mais possa causar espanto é a afirmação de que causa e efeito são a
mesma coisa, a explicação é simples: para sabermos se algo é causa ou
consequência devemos perguntar por que? Sempre haverão duas respostas pelo
menos, que serão duas causas, se perguntarmos mais uma vez a cada causa
encontrada, haverão também pelo menos duas causas e assim por diante, ou seja a
causa de um foi o efeito de outra causa.
Este Artigo foi publicado no jornal Abertura de abril de 2018 - disponível online no link abaixo:
Um exemplo
bem claro: alguém foi ferido a bala: causa1 – condição existência de uma arma
carregada, causa 2: alguém puxou o gatilho, as duas coisas precisam acontecer
no mesmo tempo, um a condição ( arma carregada) e segundo a ação ( apertar o
gatilho); Para entender o que aconteceu, precisamos perguntar novamente, por
que a arma estava carregada (causa 3), por que alguém puxou o gatilho (causa
4). Uma vez respondido, vemos que a arma carregada é o efeito da causa 3 e
assim por diante.
Todos nós
vemos os fatos e as outras pessoas através de um filtro, filtro este criado
através de longas existências, na nossa bagagem espiritual, a cada encarnação,
temos a oportunidade de refinar este filtro, mas nossas idiossíncrasias estão
aqui, nos acompanhando, no nosso caso, estão dando o contorno ao que estamos escrevendo.
É parte do que somos. Temos a tendência de classificarmos as coisas que vemos
em bem e mal, mais um exemplo: a leoa mata a gazela, pensamos a leoa é má, mas
se observarmos a leoa irá alimentar a sua prole, para os leãozinhos a leoa é
boa, pensem nisto.
Uma rede de
televisão repete sempre uma frase “ a realidade (mostrada num documentário) é
sempre um recorte, um filme não é uma vida é um retrato”. O testemunho de uma
pessoa, com todo o valor que ele tem , é uma observação um recorte da
realidade. Nem sempre esta observação é objetiva, os relatos em geral não se
atem ao fato. São vistos sob uma lente própria e sob um ponto de vista pessoal.
É sempre
útil e aconselhável seguirmos a tradição dos bons jornalístas, já que nos dias
de hoje, todos nós temos o poder de divulgar rapidamente uma informação mas não
agimos como jornalistas. Precisamos verificar se uma notícia que nos chega pode
ser encontrada, comparada em várias fontes, antes de darmos uma opinião, para
que nossa opinião seja a mais independente possível, com o menor viés
opinatório possível.
Sendo então
o acima afirmado uma teoria aceitável, como saber como agir, como inerpretar as
informações que nos chegam? Primeiro é aceitar que a vida é assim mesmo e
escolhermos o caminho do equilíbrio, ter mais dúvidas que certezas, pois a
certeza cega e a dúvida nos faz pensar.
Em
investigações, como por exemplo, acidentes de aviões, os investigadores levam
em consideração todos os potenciais causadores de um resultado igual à queda do
avião, analisam todos os testemunhos e dados disponíveis e uma vez que uma
teoria é desenvolvida, testam a mesma em simuladores, para só então determinar
as causas do acidente. Os investigadores não escrevem, no primeiro momento qual
foi a causa, quem foi o culpado, primeiro é preciso entender o que aconteceu.
No nosso
dia a dia, não fazemos isto, escutamos uma versão e se ela é simpática (bate
com o que pensamos) em geral a adotamos. Com o advento das redes socias, muitas
vezes replicamos, enviamos aos nossos amigos, tudo isto sem parar para pensar
muito.
O que
aconteceu nos EUA com o Facebook e a empresa de consultoria inglesa Cambridge
Analythics, entra nesta conta, em uma eleição acirrada, só é preciso convencer
alguns indecisos para vencer a eleição. O marketing explora os nossos gostos,
hábitos, curiosidades, todas eles armazenadas nestas midias, e tentam nos
convencer ou nos direcionar, mandam notícias boas daqueles que eles ajudam e
ruíns dos que estão contra.
Portanto tenhamos
atenção e crítica sempre!
Alexandre
Cardia Machado
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